m*m » « ♦#* The John Cárter Brown Library •$• ® 7 ® •#• Brown University *$• © © ♦#• Purchased from the 4» ^ Louisa D. Sharpe Metcalf Fund ^ «MHMMMm / é QUINTA PARTE D O THESOURO DESCOBERTO N O RIO MÁXIMO AMAZONAS. CONTEM Hum novo methodo para a sua agricultura, utilissima praxe para a sua povoação, navegação , augmento , e commercie , .assim dos índios como dos Eurqpèos* RIO DE J A N E I Br O. NA IMPE E S S 'hO RE G I A. M. DGCC. XX. Com Licença da Meza do Desembargo do Paço* JJ II] ADVERTENCI A. JlLxiste «tf Real Bibliotheca desta Corte hum precioso Mariuscripío intitulado =? The- soura descoberto no Máximo Rio Amazonas =, o qual foi escripto pelo celebre Jesuíta João Daniel, durante a sua prizão nos Cárceres *da Fortaleza de S. Julião em Lisboa, onde morrera : como este Missionário residio, pou- co mais ou menos , dezoito annos naquella vastíssima Região ., he de grande pêzo a sua ^uthoridade ., e torna mui precioso o referido Manuscripto , como facilmente reconhecerás os seus Leitores. No anno 1767, o sobre- dito Padre João Daniel aproveitou occasiao opportuna de remetter a seus Parentes a quinta , c a sexta parte d© referido Thesou- ,ro descoberto m Máximo Rio Amazonas por ficar persuadido de que lhes fazia grande serviço. He para notar haver elle julgado conveniente dar nova forma á quinta parte, eme remettêra , a qual , assim como a sexta (autographos daquelle Missionário ) existem felizmente na escolhida Bibliotheca do Ex. m0 e Rev. mo Arcebispo deEvora ; d' onde alcan- çámos extrahir huma fíel copia , que hoje com a maior satisfação , appresentâmos ao Publico , por julgarmos utilíssima a sua pu« blkacão. 2 ii %■ w DA-SE NOTICIA DA OBRA. E sta quinta parte do Thesouro descober- to ao Mundo no Rio Amazonas lie todo o Escopo das mais partes, e todas as mais partes atéagóra são hum mero preambulo para esta quinta, porque nas mais dei hurna abre- viada noticia deste Thesouro , quanto basta a informar os leitores das suas muitas e gran- des riquezas , e nesta pertendo insinuar aos seus habitantes o melhor, e o mais fácil me- thodo de se poderem approveitar, e utilizar das grandes riquezas, que Deos lhes depo- sitou no seu Thesouro , porque de pouco serve saber de hum Thesouro aos que delíe se não sabem utilizar : são thesouros escon- didos as riquezas encobertas. Nas quatro partes descobri este thesouro ; na primeira dei noticia em hum, como abbreviado, Map- pa-Geografico-Historico do Rio Amazonas , o máximo doa Rios ; na segunda descobri os seus habitantes índios, despresadores das suas riquezas; na terceira recopilei as suas gran- des riquezas nos muitos, e preciosos haveres de seus matos x que são orico thesouro, que Deos entregou nas mãos dos Portuguezes , e Hespanhoes ; na quarta apontei a sua prati- cada agricultura ; nesta quinta finalmente^ descobrirei o melhor methodo de se poderem povoar aquellas vastas , e férteis terras , na- vegar com facilidade as suas inimensas agoas , desfrutar as suas grandes riquezas, e utilizar de ião grande thesouro , que Deos depositou naquelJe mineral do Amazonas. He certo que a muitos tem já enrique- cido aquellas terras , ainda assim com esta- rem brutas, e incultas; mas tãobem he cer- to que, se no principio da sua povoação pelos Europêos entrassem logo a ser mais bem cultivadas , seria ja hoje o Amazonas delicias dos homens, regalo da vida, e in- veja do Mundo, como. eu claramente perten- do mostrar nesta quinta parte, propondo ou- tro melhor cultivo , e nova agricultura para os seus habitantes, se bera muito uzada e velha no mais Mun-Jo, porque he digno de lastima ver que hum Rio, o maior do Mun- do, e o mais rico , esteja tão despovoado „ que apenas conta quatro Cidades em toda a sua longitude de mil legoas para cima, e tão inculto que tudo nas suas margens são matas, tão bravas como as creou a Nature- za, e ao mesmo tempo que as terras, como vimos na primeira parte, são o mais fértil Torrão de todo o Mundo. Bastava para ser o Amazonas o maior, e o mais rico Império, o Império de todo o Mundo, que só tivesse de dez em dez léguas huraa Cidade ! mas apenas se vê de quinze em quinze dias alguma pequena Al- deia ! que digo ! de quinze dias, se ha ! e tem rios collateráes de trinta e mais dias de navegação, onde ainda não M hum sitio de brancos ; como he o caudaloso Rio dos Pu- rús , o formidável Rio Japurá, o Rio Bran- co ; e outros muitos ; e os mais apenas tern nas bocas algumas poucas Missões de ín- dios , e tudo . o mais para o centro tão des- povoados, que nem ainda são descobertos : mas como hão de povoar-se os collateraes, se ainda o Amazonas, e suas margens estão despovoadas ? , he pois todo o meu empenho persuadir aos Senhores Portuguezes, e Hes- panhoe», em cujas mãos entregou Deos es- te thesouro , a sua povoação ; e , para que não se desanimem á vista de tantos males , lhes pertendo ensinuar o methodo o mais fá- cil para não sò se poderem estabelecer, mas para com muita facilidade , e utilidade , po- derem cultivar terras , tão fecundas , e des- froctar riquezas tão grandes. Darei principio: ].° expondo dois requisitos, os principacs , para a sua povoação, e sem elles huma im- possibilidade do seu augmento; 2.° declaran- do o meio mais fácil , /e seguro para a erec- ção das suas povoações ; 3.° ensinuando hum novo methodo para a sua agricultura; 4.°* dando huma fácil industria de fazer horíen- ses as riquezas das suas matas; 5.° incul- cando a praxe dos plantamentos do cacáo r café, e mais haveres do Amazonas ; 0.° alen- tando os habitantes com © modo de se fa- zerem ricos em poucos annos, ainda sem a precisão de escravos ; 7.° expondo nova pra- xe para a factura das smas embarcações; TI II 8.° exhortando aos Missionários evitar ns ca-* noas do sertão com mais útil providencia ; D.° apontando os meios para se metterera em uzo os mercados públicos, e feiras em to- das as povoações ; J0.° declarando a indus- tria de conservar os fructos da terra de huns para outros atines , sem perigo de corrupção/ como atéagóra se daranificavão. Parece-me que ninguém duvidará da possibilidade da proposta, sendo primeiro bem informado da- quella região , pelo contheúdo nas mais par- tes , e muito mais tendo exemplares nas mais Colónias Americanas; em que os Francezes, Inglezes, e Holandez^s , e outras Nações* deixando o bruto costume, que tinhão os índios na sua agricultura , e introduzindo o cultivo do mais Mundo, se tem apoderado, estendido, -e estabelecido, desorte que pare- cem humas Colónias Européas, bem povoadas ; e das terras do Amazonas muito mais se po- dem prometter semelhantes augmentos pela preferencia da sua fertilidade ás mais regiões, e. fecundo regadio de seus muitos rios, e bellas agoas , como testem unhão muitos prá- ticos , que nelles viverão trinta, quarenta, e mais annos. Hum Missionário, que vivêo, e missionou quazi toda a sua vida nas Mis- sões daquelle Rio , lendo este meu parecer ; além de outros, me confessou s: que, sen- do dle consultado pelo Governo quaes se- rião as idéas, e meios mais proporcionados para povoar , e augmentar aquellas Colónias, çlle dissera o que então llie occorrera ; mas IX que , se de novo podesse renovar ò sen pa^ recer, diria que não havia outro meio, nem mais proporcionado , nem mais fácil , que es- te , que aponto : =s o mesmo me assegurou outro, cujo parecer talvez ajuntarei no fim deste tratado : /não encarecêo menos F. . que, além da pratica, que teve muitos ân- uos daquellas terras , tem a lição de lodos os historiadores , que as tem descrevido , e muitas outras noticias particulares, que quer deixar aos vindouros em hum curioso tomo , que intitulou = Atlas Americano >=£, o quah fôzendo-me a graça de tãobem me dar nes- tes escriptos o seu parecer, o expressou nes- gas poucas palavras = V. R. guarde estes papeis, porque o seu parecer em quasi tudo se conforma com omeujuizo, &c. &c. &c. Sendo que escusados são apoios aonde se ve clara a razão ! basta ter noticias da bonda- de daquellas terras, que foi o meu argumen- to nas quatro partes antecedentes , para lo- go se eonheeer a precizão do novo cultivo, nova agricultura , e melhor economia para o seu augmento ; e bastava só , para conhecer a desproporção da antiga economia, ver que, era cento e tantos annos, que se tem pra- ticado , não só não mostra augmento, mas huma grande decadência do seu eommercio : uos annos antigos não ebegavão as frotas pa- ra transportar a carga, pois só de cacáo pas- sava algumas vezes de oitenta mil arrobas , é ficava muita carga «m terra por não ter lugar nos barcos , e agora , além de serem as frotas e barcos a metade menos, ainda não chega a carga, sendo necessário carregar os barcos de madeira , por não terem outra car- ga ; prescindo agora das mais causas desta tão grande decadência, e só digo, que huma, e talvez a principal, he pelo uso, ou abuso , que observavão na agricultura ao uso dos Ín- dios, nados no serviço dos mesmos índios, e, como estes lhes vão faltando cada vez mais , por isso os fructos tem hido a tanta di- minuição. Com o novo Methodo se não pre- cizão tanta os índios; e ainda sem escravos poderáõ os moradores ter abundância de vi- veres e fructos ; e tanto crescerá o augmen- to , que, em seis, ou pouco maisannos, ape- nas lhes poderáo dar extracção as maiores frotas; e, para que o vcjão os Senhores seus habitantes , vou já a descrever o novo me- thodo. (11) QUINTA PARTE DO THESQURO DESCOBERTO NO RIO MÁXIMO AMAZONAS. «*<*«*@^»*>*^ CAPITULO I. ' De dois requisitos , ou meios necessários para a povoação, e augmento do Rio Amazonas. M3 ous princípios hão de ser a base , em que se ha de estribar todo o argumento : 1 . ° desterrar do Ama- zonas a farinha de páo , como mais perniciosa, que útil aos seus habitantes-^ %.° prover a sua navegação de barcos communs para a fácil communicação dos seus jnoradores: com o primeiro se ha de attender a me- lhorar o sustento das primeiras necessidades , qual he o pão quotidiano; com o segundo se ha de facilitar a preciza comunicação de todos , porque , na praxe uzada atéagora, só os que tem gente de serviço, e escrava- tura , podem lavrar , e cultivar as terras para ter pão , c quem não tem servos para o trabalho , ainda que tenha muita terra , não pode ter de casa o sustento : o mesmo se segue da navegação antiga , era que so quem tem rendeiros , e canoas se pode servir , e quem 2 ii ( »J os não tem não pôde navegar: pondo porém estas duas- precizas providencias das mais fáceis searas, para o pão quotidiano, e barcos commims , ou de akguel ,. todos igualmente (ricos, e pobres) se poderáõ bem servir. Reservando, pois para adiante- o requizito. precizo da navegação, vamos. já a mostrar o primeiro fundamento. r • J* 6 / Ste ' COm ° disse, dest8rrar *> Amazonas a farinha de pao , por ser mais perniciosa, que útil a sua agricultura: segue-se ejta máxima necessariamente das muitas circunstancias, que requer a farinha de páo no sen cultivo, de que temos fallado ja na agricultura praticada, e tornarei a apontar aqui, para que os lei- tores possão formar o cabal conceito da melhoria do novo methodo ; que propomos. j 1.° Para. o uzo da mandioca ,_ e farinha de pá© sao. necessários aos moradores multiplicadas terras , ou grande extensão das terras para cada anno fazer novos roçados, e avançar para diante os plantamentos , sobpe- na de se verem obrigados, de poucos em poucos an« nos, a pedir novas terras, e principiar novos sitios e perderem todas as bemfeitorias dos sitios antigos com notável prejuízo. 2.° Com- a praxe da mandioca, não ha , nem po- de haver no Amazonas bens> ou terras estáveis, como se segue da mudança supra annual de novos matos , è novas terras para fazer os roçados , porque só depois de muitos annos de descanço , e quando já as matas são; altas, e bem crescidas , tornão- a ser capazes as primeiras terras para roçar; e assim ninguém tem ter* ras estáveis, de agricultara no Amazonas. 3.° Se requer para o uso da mandioca terra tão especial que muitas vezes , de huma data de três le* goas a hum morador, apenas huma legoa se pode ro- çar capazmente para plantar mandioca , porque nem to- da a terra he capaz para esta planta, que não só requer matas crescidas, e antigas, mas tãobem terra tirme, sêcca , e boa , e não quer alagadiços, ou para- gens muito húmidas, e, como estas são a maior parte nas margens do Amazonas, fica a maior parte inútil para o roçado da mandioca , sendo por outra parte a mais excellente para outras searas: e daqui nasce --a- (13) *azão de se não cultivarem as muitas, grandes, e de- liciosas Ilhas , que tem semeadas ' o Amazonas , porque quazi todas são alagadas na occasião das cheias r e por issso desprezadas para a cultura da farinha. 4..° Porque os seus plantamentos são tão vagoro- sos , que ordinariamente se não pòem capazes de co- lheita menos de hum anno , e em algumas paragens he necessário mais de anno para se porem capazes , e , quando por necessidade se vêm precizados os moradores a desfazellos , -era 5 ou 10 mezes ,- he tão, diminuta a colheita, que apenas cubrirá os gastos: mais me affir- mou hum pratico , ja nascido , e envelhecido naquelle Estado, que as searas, e colheitas da farinha de pao t por mais bem succedidas que fossem , fazendo bem as contas da receita , e despeza , não chegavão a cobrir os gastos, e que nunca vira enriquecer , nem medrar casa alguma pelo trato , e contracto das farinhas , que la- vravão de casa; e na verdade assim me parece^ porque conheci muitos dos seus moradores, que querião antes comprar farinhas para comerem do que cultivallas : eo que posto, qual será a ganância destes roçados > colhi-? dos antes do tempo , e antes do anno £ 5.° Inconveniente da Maniba he , ou são os mui- tos riscos , que tem até ao tempo da sua colheita : to- das as searas tem perigos , mas a Maniba muitos mais , porque, se lhe não corre favorável o tempo, nada pro- duz , e succede muitas e muitas vezes achar-se nas co* lheitas perdida toda h«ma roça, e nella o trabalho in- sano de 20, ou 30% ou mais trabalhadores; e ainda succede aos moradores , que por maior providencia se não contentão no anno com huma roça , mas fazem duas ou mais em diversas paragens, porque algumas vezes todas sahem perdidas , de sorte que para vive- rem empenhão as suas casas , eomprando-a por alto prê- ço , onde a achão ; e ainda \ assim ha annos , que se não acha por preço algum: tem mais contratempos que as mais searas, em razão do mais tempo, que requer a se fazer, e em razão das formigas, e mais bichos-, que a comem. 6.° Inconveniente he o insano trabalho , e multi- plicados trabalhadores, que requer o cultivo da msafr- ( H) ba para cortar , e deitar abaixo matas inteira, , quei- mar e encovarar, e mais diligencias, que dissemos, em que , alem da muita gente , e insano trabalho se con- somem muitos mezes; razões todas, que bem mostrão que so os moradores , que tem muitos 1 fâmulos ou et cravos, podem cultivar estes roçados; e quem não tem esta gente para tanto serviço não pôde Cultivar estai searas, ainda que seja senhor de muitas, e fert»is ter- ras ; mas ordinariamente quem não tem escravos , que «pHíÍT ° S r °S ados y e Plantamentos , não se eança a pedir terras; e, quando muito, só tem aipim pequeno sitio, ou retiro, quanto baste para fazer algum bocado de roça para remédio , e não para lucro; e, ainda as- ilo; hade ser trabalhando por suas mãos, como os ne- nZ \L ''' qUe h t° que mais ab ° ; ™So os brancos , que ^ tem por summa baixeza o trabalharem como In- 7.° Inconveniente he a necessidade , e conservação ta toda a reg,ao do Amazonas, e nunca com o cultivo mais Muni" deSCubriráõ - '-rãs , como se faz no mais Mundo; nunca parecerá região cultivada, mas sem- pre humas brenhas, e matas bravas, expostas a mil insultos; habitações de feras, sem caminhos sem com municaçao, e sem utilidade mais do que para se co™. rem, de ânuos a annos , para hum só plantamento e depois delle mata brava como d' antes. p e Todos estes inconvenientes , e muitos outros que de es se seguem, tem o cultivo da Maniba , e a ' a 2£ ru sto TtVu^ ° U,ra Pa j te he hum -stentolão não D0 ',l ff ab " d0 ' a qUe ° S El,r °P êos ordinariamente se nao podem afazer, e acostumar a ella só por si como confessao todos os religiosos e Missionara, q,é .pas- sando aquellas terras em meninos , e vivendo JuL TZT' DUnC V e POderã ° *** a farinha de^" rldl. L 6 qUand ° T' a ai = uma mais bem labo- nara'sl,!. P t eC,al< T a ' gUm * ,orador mailde f ^r, não nenL ""T' ' maS P ara al ? llma *»* , ou em- U ar l?™ tó ° rdmarÍa -' 01 ' d í nariame «'e. *e 'não pôde levar por si so ; e por isso só a uzão em escaldados < com ella molhada, inchada, e bem abobrada cV (15 ) xnem as viandas , e por isso a molhão sempre primeiro , e a escaldão para se poder comer ás colheres como pa- pas , e desta sorte ajuda os mais guizados , ou seja peixe, ou carne; e, quando são legumes, ou viveres, que não tem caldo sufficiente a fazer à parte os escal- dados ,. os comem , misturando-lhe . na mesa alguma fa- rinha T em que os revolvem , porque sôcca, só por neç- cessidade se pode levar , e comer ; e ainda os índios , e brancos, criados com a, farinha de páo , ordinariamen- te assim a comem , ou cozinhando-a nos bolos , que cha- mão meapêz , ou molhando-a em agua fria , quando não tem outro medo. i V T ejão agora lá os habitantes do Amazonas , se o uzo , e praxe da farinha ■•de- pà-o não he mais perni- cioso, que útil!; vejão bem os seus inconvenientes, e, contrapondo-os com os seus préstimos , vêjão se não merece a farinha de páo huma total deixação para sus- tento ordinário; e , quando muito , o conservar alguma amostra para alguns escaldados,, e alguns outros uzo« extraordinários t Bastava paTa se julgar mais perniciosa , que útil, de- pender de tantos trabalhadores, e tão insano trabalho , porque assim só quem tiver muitos escravos poderá fazer os seus roçados , e quem os não tem andará sempre mendigando , e nunca poderá povoar-se , e augmentar-se o estado , porque , onde só podem cultivar os que tem copia de escravos , bem se vê que vnão pode ter aug- mento ; pelo contrario a fácil agricultura dos grãos po- de ser igualmente de todos uzada , não depender de muita gente, como suecede na Europa, e mais Mun- do ; de sorte que no Amazonas , ao uso antigo ,. só quem tem muitos escravos pôde cultivar a terra , e fa- zer o serviço; e na Europa basta para ser rico hum lavrador o ter terras, que cultive, e por isso , havendo na Europa tão poucos escravos , ha muita gente rica, e , havendo no Amazonas tanta terra , há tanta gente pobre. - . Parece pois inevitável, e obrigavel i,o buscar outra providencia, e mais fácil economia, como he metter-se a uzo a farinha da Europa, e searas do grão , com que , podendo todos ser abastados com muita facilida- ( 16 > de , se evitão todos os inconvenientes supra da farinha de páo, como hirei mostrando ; e parece-me que còní fundamentos sólidos, que não tem outra contra mais que o uzo. Evita-se com as searas do grão o í.° inconveniente da Maniba na extensão das terras , porque / como sem- pre servem para o grão as mesmas, bastão só as que cada morador pode cultivar; todos os annos se podem cultivar as mesmas ; mas , quando fossa necessário al- gum anno de descanço , ninguém duvidará , tendo cabai noticia da saa fertilidade , que ao menos se podem reve- zar de dois em dois annos, e já então ficão bens es- táveis , è propriamente bens de raiz , sem os gravíssimos damnos , de desamparar os sitios , e perder as bemfeito- rias , que nelles costumão fazer ; ficão assim mais pre- ciosas huma , ou duas legoas de terra , que vinte ou trmta legoas na agricultura praticada , como bem pon- derou aquelle Ministro , que no Conselho disse = que va- lia mais na Europa meia legoa de boá terra , do que no Brazil trinta ou quarenta, porque na Europa as sea- ras são estáveis , e lá sempre variáveis na Maniba. = Eyita-se o 2.° inconveniente de buscar sernpre para a Mamba matas crecidas , e terras firmes, altas , e sêc- cas ; porque as searas do grão produzem, bem em toda a parte ; e , quanto mais esta he húmida , e alagada com as enchentes do Amazonas, tanto mais apta, e própria pa- ra as searas do gr£o , como sabem todos os lavradores, e mostra a experiência; e daqui vem a grande fartura do Egypto , porque as suas terras todos os annos são regadas , e alagadas com ás grandes enchentes do Rio Nilo , e , quanto este mais enche , e alaga , tanto mais abuntahtes são as colheitas; desorte que da maior en- chente das suas 'aguas inferem \ e conhecem os Egípci- os a maior fartura', que hão' de ter no anno ; e esti- n>ão tanto os/ seus ; milhos, e grão, de que naquellas leiras alagadiças fazem grandes searas ,' e 'copiosas co- lheitas , que agradecem a Deos todos os annos a- fartu- ra , que lhes dá, offereeendo-lhe no Templo huma vara de ouro, medida conforme a enchente ào Nilo; e, quan- to mais alteião as enchentes , tanto níais comprida he a Vara. ' ( 17 ) Besta noticia podem inferir os habitantes do Ama- aonas a grande abundância , e fartura , que perdem nes- tas searas , e no desprezo , em que tem as margens , e terras, que todos os annos regão , e alagão as suas aguas ; pois , sendo inúteis estes alagadiços para a JUandioca , de que uzão , são os mais accomodados pa- ra as searas dos milhos ; e com elles , postos em uzo , não so ficarão destas margens as terras mais fecundas, mas tãobem a? das Ilhas , que tem semeadas pelo meio aquelle gigante dos Rios ; darão todos os annos em milho muitos cabedaes , e cada ilha será hum , ou mui- tos Morgados, conforme a sua grandeza , sendo atè a-, gora tão desprezadas , que ninguém as queria por se- rem regadas com as enchentes : \ que fartura de milhos não dará a Ilha grande de Marajó nas suas sessenta^ 911. mais legoas de comprimento ^ e muitas de largura , alagada , e regada na maior parte com as enchentes! mas , quando seja mais conveniente reservalla para pas- tos do muito gado que cria , tem tantas outras Ilhas, até agora todas inúteis , que cultivadas bastarão a fa- zer ricos os seus povoadores , porque ficão tão fecun- das, e pingues estas Ilhas peio muito Iodo, e estrume, que trazem as enchentes do Amazonas , que se pode duvidar se haverá no Mundo semelhantes terras na bon- dade. E com isto se evita até o 3.° impedimento , por- que , se bastão , e são as melhores terras para , as pearas de pão os alagadiços , segue-se que não neces- sltão de matas especiaes , como a Maniha ; porém , pos- to que as terras , quanto mais húmidas , tanto mais ap- tas sejão para os milhos, tãobem estes se dão bella- mente nas matas , e terras firmes , e nellas ordinariamen- te os semeião as que delle fazem searas; com esta di- ferença porém entre os milhos, e a Maniba, que esta tanto ma*s medra, quanto mais antigas, e crescidas são as matas , em que se planta , e aquelles porém pelo contrario , quanto mais novas são as matas v. g. de Iuib ou dois annos , tanto mais fructifica era a- ímndantes colheitas; e por isso todas as terras são óp- timas ás searas dos milhos , de cuja abundância já Rís- semos na 3. a parte, e sirva do exemplo a colheita, que 3 ( M 1 confessou ter feito hum morador , em hum anuo , de 30 boas carradas de milho grosso, fóra o muito, que co* roerão as aves, e macacos-, o mesmo outro, que ti- nhão comido em verde os seus escravos , tendo lei meado só dois alqueires e meio, quasi todo damnifica- do do gorgulho; e onde se verá tanta abimdam-ia! Evita-se o 4.°' inconveniente de ser tão ÇâgWoáf a colheita da Maniba ; porque, em quanto se faz "e pôe capaz hum plantamento da Maniba , se fazem bem três searas de milhos ; e a razão he porque as searas dos milhos se &zcm no' Amazonas cm' tres^mèzes , desde a sua semeadura ate a sua colheita; logo bem se vê que, em quanto se pôe capaz huma róçu de farinha de páo , que necessita de hum anno , se podem fazer três sementeiras de grão, em quanto ao tempo; e por con- seguinte, correnáo a Mandioca tantos riscos na diutur* nidade do tempo todos es-tes se evitão na brevidade dos milhos ; mas , caso que alguma seara de grão tenha tãobem seu contratempo , e avaria , logo se pode remediar com outra seara. ; em fim antes , 'ou em quanto se pôe ca- paz huma roça- para se plantar a Maniba , he tempo bas- tante para se fazerem, e colherem as searas, e colhei- tas, de grão ;.. cuja circunstancia se deve muito notar en- fre hum e outro cultivo. Evitão-se finalmente todos os inconvenientes da ma- niba com, a nossa agricultura de grão; e os principaes f£o _ a- multidão de operários , e o insano trabalho' do' cultivo da maniba, porque assearas dos milhos , poden- do fazerem-se nas marg ns dos rios , quando desagôão , è nos campos razos , e dcscob rtos , ja se vê que qual-' quer pessoa com toda a f^ciHdade pode ir mettendo ó grão na terra-, sem rJrecfeáo de mais operários , e fazer, no fim de três mCzes , a colheita , dèsorte que o maior trabalho, que têm/ he dár-lrns huma, ou duas mundas da herva, que dte§cer\ em quanto não fecharem a*< searas; rêto- exp-rimnitão os -crTtancjos , que dissemos na : parte 4.» nas feitorias do eaeáo ; porque, em quanto ándão embrenhados pelas matas os índios na 'busca- dotf seus fruetos, se divertem os brancos em hirem enter- rando milho pelas margens, que a vagante das agoas w. deitando descobertas , e fazem óptimas &áras ; coraf «Hjas colheitas fazem muita, cr^ão de galkilias , com que se regala© , e. , quando se faç&o , ou queira© fazer nas JlhaSfl e mais teimas do mato , -a© custará© a fazer a primeira vez, porque será preeiz© alimpar o terreno, cortando, e queimando as matas; mas, huma vez cor- tadas e limpas, tição campinas, se nellas se continua© - as searas todos os annos , e por isso já sen» trabalho para os annos seguintes. Esta verdade, além de ser tão clara pela razão?, e experiência de todo o mais Mundo, a. quero mostrar evidente no mesmo Amazonas com a experiência de hum grande Missionário; o qnal , mandando alimpar do .muito arvoredo, que tinha hum alagadiço bello, todos os annos mambava nelle fazer huma grande seara, sem mais trabalho que metter o grão na" terra , assim que ficava desalagada, e só, em quanto na© - fechava , era precizo mundar .alguma herya , que crescia , e depois de três mezes fazia as colheitas , não so de milhos*, mas tãobem de legumes , e verduras , que semeava© ■, como eu mesmo por vezes vi, e observei; pois ■ o mes» mo suceecle, e sueeederá nas mais ilhas, e alagadiços.;, a terras, em que só Haverá o trabalho precizo de se alimpar a I.a vez, continuando as sementeiras nos inms annos. Na terra firme mais hão de custar a conservar limpas as terras , nps primeiros annos, pela razão de que , feitas as suas colheitas, logo torna© ã arrebentar 4m arbustos; mas, como são arbustosv/com pouco trabar Ah© # antes com muita brevídadeí, ;ê facilidade ©s pó# cortar, e alimpar qualquer morador, ainda qne- seja só?, e não tenha escravos j antes , evitando nesse- pouco tra- jfealho as lavouras , que se uzão - nas mais terças ,; ser- virão as cinzas dos arbustos Queimados para melhor fe- cundar o te?ren©, e fertilizar as searas , que nèlle se.-rl- «aerem. •iob Está ;<&>utrina , que dig© »para as sementeiras d® g rao , se deve tãobem entender, as&im de. legumes, ae®? alcanção , nem podem alcançar os E#- ropêos , onde as Terras sáo táo poucas , que*,, sobejandé os homens , fáltao as terras-, e por isso quem* alcança algum pequeno torrão, ainda que seja. fcao estéril, co- mo- os montei, se dá por afortunado, embora que os fiructos do seu trabalho* apenas lhe possào grangear ai L guma broa para viver !' pois nas vastas solidões do Ama- zonas se offérece a todos- hum copioso- fchesouro de vive- res , só com a condição de nellas se praticarem as sea- ras da Europa, e se desterrar, por huma vez, o labo^- riôso cultivo da farinha de páo ; mas , eontihuando-se o sustento da farinha de páo, conio só quem tem es- cravos a pôde cultivar, nunea aquella região se poderá cultivar, nem mesmo poderá ter algum augmento aquela le Estado, por mais idêas-, % arbítrios, que busquem os seus magistrados. Esta verdade conhecem muito ; bem as mais Poten*- cias; e por isso nas Colónias, que fórão formando na America , logo forão pondo em praxe estas máximas nos. viveres do grão , e searas da Europa ; e por isso tem crescido a tanta povoçaa as suas Colónias , que só na* Colónias , e Conquistas da America tem os Fnglezes doin milhões de moradores Europêos , além de huma grande multidão de índios naturaes ; e rrao poderiáo subir a tanto augmento , se só se aceomodassem ao uzo doa índios na agricultura das terras , as quaes cultivão a# uzo- da Europa, porque não acharão os obstáculos, qu« os nossos Portuguez fingem «as terras do Amazonas t i«l ) dizendo que. as muitas raízes , que deixão as matas nas ; terras , não pèrmittem a lavoura da Europa ; assim he na verdade nos primeiros annos , mas depois ja vão perdendo este impedimento , como ja o experimentâo 0& Hespanhoes, índios, e Brancos no Paraguay , onde ja vzão do arado, e agricultura EurOpêa, que os Missioná- rios lhes forão ensinando , não obstante serem as suas matas semelhantes ás do Amazonas , com as quaes se Tão continuando ate o Rio da Prata , onde vai deza> goar o Paraguay. Mas, ainda no cazo do dito impedir mento , não* ha desculpa para os extensos campos des- cobertos de arvoredo, e. nas margens do Rio, onde não ha obstáculo algum para o uzo do arado, e eomtudd amda atéagóra se não rezolveráo a pôllo em pratica; nem na verdade he muito precizo, porque , para serem as searas mui rendosas , basta ir deitando o grão na terra , como temo® dito ; ainda que , mettendo-se em praxe as- searas da Europa, mais conveniente seria o uzo do arado para revolver a terra;- menos na banhada da* enchentes, porque sempre conserva a mesma fertili- dade; de sorte que daria duas a três- colheitas no an*- no», se as enchentes dessem lugar a tantas searas. Em fim todo o ponto» está em fazer estáveis as mesmas terras, o que não pode ser com o cultivo da manibà, mas sa com as- searas èo trigo* , & milho, , que ca-da hum morador possa com muita facilidade cultivar, porque só assim hirão^ em crescimento as swas povoações havendo grande, e faeil fartura de viveres.. Nem basta a razão, que dão alguns de que as terras ,* depois; de alguns annos, ficarião menos férteis, por lhes Jaltar as «mza& das mata», que a* aquentao, porque ja eu disse que bastavão só as terras das mui- tas, e grandes Ilha&, que todos os aanosr alagão, e fecundao as terras , t tf o lô"dó das enchentes para dar searas abundantíssimas , sem à precizâo de se aquenta^ rem; e^ quando as terras firmes não fossem tão fecun-. das todos os annos , conforme mostrasse a experiência, que ainda até agora se não experimentou , descançando hum anno por outro , bastarião as cinzas dos arbustos , que no anno de descarião produzisse, para as fecundar; quanda não,, se poderião aquentar com. a ramada das (22) arvores, e matas vizinhas, como fazem em -muitas par- les da mesma America, dando-lhe fogo, depois de bera .«ôccas: que este he muito mais fácil remédio, e traba- lho, do que o insano de cortar, e roçar matas toados p$ annos , como se faz para o cultivo da Maniba. Ainda que fosse necessária tanta diligencia para conservar sempre as mesmas terras, como se costuma na Europa , lavrando , estercando , regando , mundan- _do .&c. ainda assim ficarão as terras, e seu cultivo ma- is fácil e utii do que da roçaria das matas; e se pro- .va bem com a experiência , porque , cultivando-se as terras da Europa cora todo este trabalho, basta -qual- quer lavrador com a sua família, para cultivar qualque* grande campo, e para hum campo das matas do Amazo r mm v. g. de só duzentas braças além de muitos mezes , que .aielle se gastao.de -trabalho, |ào necessários vinte ou roais trabalhadores; e, se fòrém matas virgens, ou bem cres- cidas , ainda gera necessário muito mais tempo , e muitos .mais operários , e isto com a circunstancia de, só servir hum anno , e todos os annos com igual trabalho ; o que posto, sempre ficão dé grande ventagem as terras cultivadas ao uso da Europa ; mas na verdade nem tanto he necessário, supposta a fertilidade grande daqueí- las terras, .como dissemos aa l,a parte, e basta dizer que huma só sementeira, dá muita vezes duas e três co- lheitas, como suecede ás searas do arroz, e algumas castas de ; Jmiihos, que alguns cultivão, só por curiosi- dade. Quaes sejão. ; as searas, que devãp cultiva*?. respow- {\o\ que todas aquellas , que -se cosfcjtfmão.ym*> JWp*$, e fruetificão bem no Amazonas ; como são varias ef*peci§s de milho grosso ,e muitas j mais de milho miúdo , eomp dissemos na 3.» parte , ainda, quando não se possa" cul- tivar oí trigo, como dizem lalguns, posto que outros af- fírmão , que lãobèm os trigos ; se -dão b astán temente , e ■eu mesmo o vi bem criado na Cidade do Pará p e nas cabeceiras do Amazonas : no Império do Peru ha searas óptimas de bello trigo; porém, ainda que , este se n|o podesse cultivar naqueli as terras , como os milhos se Eódem mesmo bem supprir, porque, nao obstante dar-ge em lio «osso Portugal o trigo, a. maior parte dos sey* ,• ... #*t Moradores vive dos milhos , óii broa, que delíes fâz 9 especialmente no interior do Reino, e apenas nas Cida-i de se dá mais gasto ao trigo , mas a maior parte vive de broa, ainda os ricos, e cavalheiros; e, quando a podem ter das suas lavouras, se dão por bem afortu- nados , não obstante ser mui custôzo o seu cultivo , e muito arriscada a sua colheita, segundo o que ja dis- semos, quando delia falíamos na 3.* parte , porque, a- lém das lavouras ordinárias , está 8 ou 9 mezes na ter-* ra , irrigando-a amiudamente e depois fazendo-se a sua colheita no rigor do Inverno r em que se perde muito das suas colheitas , por não se poder seecar da humi* dade. Vejao agora os de Amazonas a vantagem da sua maior fortuna ; porque , se , com tanto custo , tempo , ô trabalho , e perigosas colheitas , se dão por bem afortu- nados os da Europa, que podem ter broa de mil lio , quanto mais felizes- são- os do Amazonas , que , serri penção, nem trabalho do que o lançar o grão na ter* ra , e mundallo alguma vez sem necessidade- de lavrar | nem achar , nem regar aos três mezes , fazem as suas colheitas mui copiosas ; podendo em todo o anno fazer sementeiras, porque todo o anno tem verão; e, para que melhor veiao a vantagem , que levão os milhos â Maniba , ou farinha de páo , além das grandes conve^ meneias , que acima propuzemos , na brevidade das co*- Iheitas , na facilidade das mesmas terras &c. &c. lhes a- pontarei aqui os muitos outros préstimos dos milhos , com que muito melhórão os seus agricultores , porque dos milhos se faz não só abrôa , que como dissemos he o pao ordinário em a maior parte do nosso Portu- gal , Castella , e muitas outras Províncias, mas taobem. se rjcdena fazer, e de facto" se fazem todos os mais guizalos, que " se fazem da farinha de páo; e os Mi- neiros, para maior fartura das suas famílias , e pela maior facilidade , e conveniência; , que achão na farinha de milho mais que na farinha de páo , não uzão de outra , e tãobern se faz com menos custo ; e , para que os apaixonados da farinha mais que da broa se possão utilizar destas farinhas , lhes ensinarei a sua factura : não Mo aqui da farinha de milho, que fazem alguns no* (24) Maranhão, pizando -cm pilões grossamente o milho, e 9em mais outro beneficio o comem ás colheres em lu- gar de pão, porque semelhante farinha na verdade só por grande necessidade se pôde uzar, e eonuer; e des- ta tãobem eu digo que he muito inferior á farinha de páo ; outra he a farinha , que do milho fazem t e uzão ja os Mineiros , a qual fazem desta sorte : dei ta o os mi- lhos em tanques , ou graides «ôxos , couza de três dias , ou quanto baste a humedecer , abrandar , e inchar o grão , mas que não chegue a apodrecer ; depois o tirão da agoa , e pizão , e como ia chamão sócSo em grandes pilões the o fazerem em massa, o que fazem com muife*. facilidade , e brevidade ; assim feito em farinha , o pe- neirão por goropêmas finas , que são as suas mais uza- das peneiras, ficando em cima a casca, ou farello , e descendo abaixo só a farinha perfeita; assim peneirada, a secção ou cozem no forno, como fazem a farinha da páo, e, segundo -o maior, ou menor beneficio dos benv feitores, sahe mais, ou menos perfeita a farinha; e com os mesmos uzos da farinha de páo, porém tanto mais gostoza, que me affirmou hum Missionário, ja ve- iho , e de muita experiência daquellas terras , donde era natural , e criado sempre com a farinha de pào , que á sua vista não era para apetecer a farinha de páo; /lesorte que , havendo alguma pouca de hum Mineiro , que teve por hospede na sua Missão , em quanto lhe durou a farinha de milho , nunca quiz comer a de páo ; semelhante testemunho me dèo outro Missionário: diz el- le, que fazendo hum Missionário seu vizinho huma vez esta farinha de milho peja noticia , que ja delia tinha , era tão gostoza que , expedindo huma canoa a certa di- ligencia , e mettendolhe por matalotagem a costumada farinha de páo com alguns alqueires de farinha de mi- lho , os índios, em quanto durou esta, não quizerão bolir naquella , sendo elles criados , e nascidos com ella. O que posto , sendo a farinha de milho tão fácil * e a farinha de pào tão custosa, quem duvidará regei- tar esta , e uzar daquella , no caso que rião queira uzar da broa? e ja em algumas povoações do mesmo Ama- zonas a beneficião algumas padeiras com grande gosto (25-) áos moradores, posto que nenhum se resolve a largar o' nzo da mariiba, só por estar era uzo : fora esta broa, se faz outra mais excellente com outras misturas, a que chamão de toda a farinha, tão excellente , que na Eu- ropa a estimão, e preferem muitos ao mais bem labora- ndo pão de trigo ; para isso ja disse as muitas outras castas do milho miúdo, que se dão nobremente nas ter- ras do Amazonas , para onde as levarão alguns Cafres , hidos da Africa , e alguma delias, mais estimada por elles, faz hum pão tão gostozo , e tão alvo como a ne- ve , segundo o que me affirmou hum Missionário , que foi muitos annos nos Rios de Senna em Africa; -e não he tão miúdo , como o que chamamos milho miúdo na Europa , mas do tamanho 4a munição. Além das searas dos milhos, ainda tem outro re- fugio os nossos Americanos , muito mais proveitoso que a farinha de páo , e he o Arroz; porque o arroz serve em muitos Reinos , e Provindas de pão ordinário , co^ rno he no Império da China , no do Japão , nos Reinos da Cochinchina-, em 4oda a cindia., e quasi em toda a Ásia ; uzão lá Áo Arroz , e da sua farinha , tiom© uzâ® na Europa da farinha do trigo , mas o mais ordinário he comêrem-no cosida -em lugar do pão. He certo que tão- bem naquelles Reinos , ou em algumas das Suas Pro- víncias, se uzão alguns trigos, como tãobem na índia, depois que alguns curiozos lá o introduzirão , por mais que clamava© outros , que lá se não logravão as suas saaras, por causa dos muitos calores da Zona tórrida , em que está a índia, mas a experiência mostrou , que era por falta de curiozidade aios seus naturaes ; porque, experimentando alguns Europêos as Estações do anno , vierão finalmente a acertar com o tempo dos trigos: a mesma diligencia fizerão em Africa nos Rios de Senna com bom sucesso , fazendo as sementeiras no tempo , em que principiarão os orvalhos , e, desde então para cá, ja em Sênna , ena índia, ha alguns trigos.; mas o ordinário he arroz. Não . quero , persuadir com estas noticias aos habi- tantes do Amazonas ,, que tãobem mettão ( em uzo , em lugar do pão quotidiano, o Arroz, porque na t>rôa dos jíúlhos, e muito mais do trigo, em lá se mettendo , 4 (26) tem melhor sustento, e melhor pão; mas quero dizer que , ainda na> caso em que se não lograssem nas suas terras as sementeiras- dos milhos, terião mais útil sus- tento no Arroz ,.. do que na farinha de páo ,. em razão de que terão sempre estáveis, as mesmas terras-, e de evitarem o insano trabalho , e multidão de operários , e precizão de novas matas todos os annos ,.. porque a pri- meira couza, que buseão os homens , he terem terras firmes , e estáveis ,. que possão cultivar; o que não po- de ser com o uzo da mandioca , que todos os annos- quer matasv novas ,. e novas terras, e muitos operários para as cortarem, e disporem; o que he hum grande impedimento para se poderem povoar , . e augmentar. Nem obsta a, razão , que alguns podem, dar , de que , ainda com todos os inconvenientes supra da farinha de páo , pode o Amazonas ser muito, povoado, e- aug- mentado ,. porque antigamente r antes> v e quando entrarão-, nelle os Europeos, erão tantos os índios ,. tantas, e tão» povoadas ,. e tão numerosas , as suas povoações, que feasta dizer que só em lium pequeno Rio dos' seus col- kteraes , qual he o Rb Anibá , havião 700 Aldeias , tão. populosas y que- cada huma se podia chamar Cidade; e o mesmo se via pelos^ mais Rios,, e pelas suas margens ; e todos vivião só com a farinha de páo; ao que res- pondo que, se, não obstante tantos inconvenientes da.Ma- Jiiba , ainda assim poude ser tão povoado, muito mais G pôde ser com a facilidade das mais searas; poréirn respondo directamente que com os índios pode ser benv povoado com a farinha de páo , mas não com Euro- peos ; e a razão he porque os índios são gente sem am- bição , andão nús, e, tendo farinha, peixe, ou caça ,_ í[ue comer, estão contentes, e regalados , e por isso co- íbo não tem mais que fazer, nem querem mais, todo o anno só cuidão , e trabalhão nas suas roças ; os bran- cos porém, e Europeos, que, alem do comer, lhes he fcecessario o vestir, e tem muita ambição, ja se vê que se não podem contentar, nem occupar todo o anno só no cultivo da maniba , e por isso lhes he necessário outras searas, e outro modo de vida. (*7> CAPITULO II. De huma nova praxe parei a cultura 4a Maniba, a _y-ENDO tantas as conveniências dos milhos sobre a fa-r rinha de páo, parece que não haverá quem no Amazo* nas não lance mão de nova agricultura; com tudo, co- mo dos costumes antigos sempre ha apaixonados , não duvido que haja tãobem quem ainda propugne pela fa* rinha de páo ; semelhantes áquelles rústicos, que, cos- tumados a hir a Igreja pelo aviso, e som de huma Cor- neta , repudiarão o sino , que compadecido lhes tinha dado hum devoto-, dizendo-lhe que era melhor o som da sua antiga corneta; o que supposto, a esses taes lhes darei outros meios, com que a possão cultivar com mais -utilidade do que costumão ; e direi dois modos, que sne occorrem ; hum para os que não tem escravos , fa* mulos , ou operários , e outro para os que os tem; e , prin- cipiando com o 1.°, digo = Que , em tal caso, mais fácil, e conveniente he aos que não tem escravos, co- mo serão a maior parte dos que para lá vão mudando os domicílios , cultivar as terras , e fazer os plantamen* tos da Maniba, como fazião , antes de lá entrarem os Europêos , os índios naturaes , e ainda hoje faiem no mato os selvagens ., que não tem uso , nem instrumento de ferro ; que he não cortarem as matas , nem lançar por terra o arvoredo, porque isso he hum trabalho in- sano , que pede muita gente , e leva muito tempo , mas .he só dar hum golpe em redondo a cada arvore só á superfície , ou machucar-ihes a casca , desorte que sequem as arvores : ^os Tapuias para isso só usã© de machados ■4.e pedra,, ou de ossos aguçados; só pizão , ou machu- *cão a casca á roda, e basta isto para logo seccarem as arvores: os brancos porém, que na ferro tem mais Raptos instrumentos, o podem faz@r com mais facilidade^ 4 ii r*8> e brevidade; e só os arbustos, cipós, e ma ! s virguU tas, que ha por baixo das arvores, se devem cortar primeiro. Este modo, que he o que uzão os índios he muito mais fácil , que o que uzão os brancos , cor- tando todo o arvoredo; porque limpar só a mata por baixo dos arbustos , e golpear , ou machucar a cortiça das arvores a roda,, he trabalho tão suave, que qual- quer branco o pódfe fazer, e tãòbem se livrão deste modo das molestissimas covarras dos ramos , e troncos mal queimados; porque, dado o tempo suficiente a séc- carem as arvores , se lhes lança o fogo , e sem mais requisitos , depois do fogo apagado, se faz pelo, terre- no, e_por entre o arvoredo sêceo, semelhante aos mas* tros dos Navios-, se faz o piantamento de Maniba, ou farinha de- pao, e se colhe a seu tempo: esta he a praxe dos Tapuias selvagens, e como tão, fácil a per- suado a todos os apaixonados- de farinha de páo ; so tem o inconveniente de serem menos rendosas as suas colheitas, em razão do muito terreno, que occupão os paos levantados, mas se pôde bem supprir com faze* num roçado mais extenso 5 porque se do modo ordiná- rio bastarão cem braças para a colheita sufficiente de hum morador, deste modo se pode extender a duzen- tas braças, que sempre fica muito mais suave o trabalhos Deste modo podem fazer-se as mais searas de al- godão, milhos, tabacos, e quaesquer outros^, que queir rao, arroz, legumes, eanaviaes , melancias, &c. que tudo se» clà nobremente ; e, fora as mais grandes con- veniências- de pouparem tantos trabalhos, e multidão d« operários, terão a outra de conservar assim em pé a madeira de tanto arvoredo*, que lhes pôde servir pelo tempo adiante, huma por muito grossa para a factura «as canoas, outra por precioza para as obras de esti* mação, e ainda para o interesse do taboado,; porque > na praxe das roças ordinárias, consome a fogo madei- ra tão preciosa, que aproveitada valeria, mais do qua o dobrado, os plantamentos de maniba. Das bellas searas, que assim fazem os índios sel- vagens, são testemunhas muitos Missionários, que en- trarão nas povoações dos selvagens., e as virão, dos quaes he hum o meu amantissimo companheiro ; esto (59) íie o 1.° meio, que pode servir para os que não tem escravos , e quizerem continuar cora a farinha de páo. O 2.° meio para os ditos apaixonados da farinha de páo, que tem gente, e escravos para fazerem as ro- ças , e plantamentos da maniba , como costumão , está só em huma melhor economia dos moradores, aprovei- tando-se de tão insano trabalho para os mais annos, e não só para hum plantamento de hum só anno, como fazem; ? seria pois mui óptima economia , se , conservando os roçados limpos das colheitas das mambas , e não querendo convertêllos em terras estáveis para searas de grão, como dissemos no 1.° Capitulo, ao menos fa- aendo-as estáveis com estáveis cacoáes , cafezáes , e mais plantamentos dos mais preciozos géneros do Ama- zonas , porque , só assim , poderáÕ as colheitas annuaes pagar o insano trabalho dos roçados; quanto a deixai- los perder no fim do anno, só com huma colheita de farinha de páo , he querer que a receita nunca chegue a cobrir , nem a redizima da despeza , posto que nisto não reparem, nem aquelles moradores por terem de caza os operários nos seus fâmulos , e escravos , mas o ve- rão bem claramente se ajustarem as contas ; e , se querem que eu de facto as mostre , vejão : em huma herdade , que possuía a minha amada Religião nas vi- zinhanças da Cidadã do Pará , onde se seguia a praxe ordinária , e praticada nos roçados , e plantamentos da Maniba , e outros , nas visitas anniversarias dos superio- res sahia ordinariamente a receita pela despeza com pouca diversidade ; de sorte que , algum anno , apenas excedia a receita em hum cruzado novo ; e quasi o mes- mo succedia nas mais herdades , com a circunstancia de que a dita herdade, além de ter todas as Officinas, que lá se costuma , e fazem mais . afamada huma fa- zenda , como são Olaria em que se fabricava muita lou- ça , ferraria , tecelões , e factura de Canoas &c. tinha tãobem huma engenhoca , e fabrica de Agoas ardentes , que são os mais rendosos haveres daquelle Estado ; ti- nha também estáveis alguns cacoáes , e algum café , e com tudo , no fim do anno , apenas excedia a receita em quatrocentos e oitenta réis , que se não tivesse o cacáo, café, e as officinas ja enumeradas/ e só eulti* (30) vasse o roçado da Maniba a "semelhantes ', onde ficaria a receita , e onde subiria a despeza ? mas não reparão Risto os moradores i porque tem de casa os operários. Muitos outros exemplos lhes poderia dar nesta «ateria; mas como esta obra só he huma Memoria de aponta- mentos , basta esta para mostrar aos Senhores Pertu- guezes o pouco aproveitamento, que tem, e podem ter no cultivo antigo. Tornando pois ao nosso sistema , digo que , visto usar -se da cultura antiga da farinha de páo , ao menos não deixem perder , em hum só anno , o insano traba- lho dos roçados ; mas , tirada , e colhida no fim do an- no a Mandioca , convertão o seu terreno em cacoaes , ou cousas semelhantes, com que, pelos annos adiante, possão cobrir com grandes avanços o grande trabalho, que nelles tiverão; e, para melhor os persuadir, lhes mostrarei tãobem a experiência no mesmo Amazonas em huma fazenda visinha , e em huma povoação de ín- dios , chamada antes a Missão do Cornará e agora a Villa de ...... na margem occidental da foz do grande Rio Topajoz : quiz o seu Missionário alliviar os seus Neophitos do grande trabalho , riscos , e peri- gos das Canoas do Sertão ; e para suprir os seus pro- ductos, e ter algum modo de fazer os precizos annuaes gastos, e provimentos, usou desta industria: Em huma ■lingoa de terra , que corre da margem do Rio Amazo- nas para o Tapajoz , despresada dos índios pelas en- chentes annuaes , hum anno , passada a enchente , man- dou fazer hum pequeno roçado para milho, e algodão, que se dèo nobremente , e quando , dalli a poucos me- zes , mandou fazer a colheita no seu lugar ou terreno limpo , mandou plantar oitocentos pés de cacáo , e ao pé mandou, na vazante seguinte, fazer semelhante ro- çado ; e foi continuando os outros annos , e , no fim das colheitas , aproveitando os seus terrenos com cacáo , com tão boa fortuna , que o primeiro plantamento dos primeiros oitocentos pés , que primeiro principiou a fruc- tiflcar, no 3.° para o 4.° anno, já no principio dêo para cima de cincoenta arrobas de cacáo , e no seguin- te se esperava o dobro ; porém pondo-se nesse anno era execução a expulsão do dito Missionário , e cfce (31) tortos os mais daquelle Estado , não sei o mais qué succedêo : sei porém que , com esta facillima economia , ja tinha muitos mil pés , entre maiores , e menores ; e teria em dobro , se as cheias do Amazonas era dois an- nos successivos , que forão extraordinárias em grandeza , lhe não matassem huma grande parte das tenras plan- tas , mas ; fructiíicando todas as que escaparão , ja su- pririão bem os productos da canoa do sertão ; e , se todos os Missionários , e tãobem os brancos , imitassem esta boa economia, em muitos mais augmentos estaria ja aquelle Estado : o que supposto , vamos ao ponto , cuja praxe pode ser assim. Acabado o anno , e colhida a mandioca do roçado , não deixem perder o terreno , que tanto lhes custou; mas , assim que for limpo da. mandioca , e queimada toda a sua ramada , e folhagem , logo no terreno limpo disponhão as plantas pacoveiras , como costumão de facto fazer todos os que plantão , ou querem plantar os ea- coáes hortenses, como necessárias a ampararem do sol as tenras plantas do eacáo , dispostas em distancia de dez a dez palmos em bem direitas ruas ad amussim, isto he , direitas á corda , arruadas , e compassadas , e por baixo delias com a mesma boa disposição , e logo semeando , ou plantando ; porque se pode fazer , ou co- mo costumão que he ter semeado de antemão em al- gum canteiro o caeào , e arrancadas as plantas dispôllas debaixo das pacoveiras , como quem dispõe cebolinho ; ou podem fazer, semeando só as ditas pevides, porque a experiência tem mostrado que basta isso, porque, quando vão arrebentando , e sahindo da terra , ja as pacoveiras estão arrebentadas , ou se vão enramando , e assombrando o terreno. Nem cuidem que he isto hum grande trabalho , porque alguns moradores o fazem so com a sua familia em hum dia , tendo de casa as pa- coveiras , e , não as tendo , como suceederá nos princí- pios dos sitios , levara mais alguns dias* Nos seguintes annos podem continuar a mesma in- dustria continuando sempre os mesmos roçados na mes- ma paragem , immediata aos passados , e , depois de cin- co ou seis annos , eu lhes seguro que ja se dêm os parabéns de mui copiosas colheitas , que hão de fazes (-32 ) de cacáo f e desta sorte aproveita© bem o terreno, e bem logrão o insano trabalho dos roçados , convertendo os seus sitios em ricas fazendas de raiz , e estáveis , com a circunstancia de que, no segundo e mais annos', se faz com mais facilidade, em razão de terem mais á. mão as pacoveiras , pelo muito que muítiplieão, e tãobem com a grande conveniência , que terão nos fructos das pacoveiras , e nos vinhos do caeáo ; e com os grandes productos desta , em poucos annos , escusão mandar ca- noas ao sertão , com tanto risco dos remeiros , e da for- tuna ; e ainda escusarão a multidão de escravos , e ope- rários , dos quaes se pôde questionar se são maiores os seus damnos, que os seus proveitos, como em outra parte lhes mostrámos. A mesma industria, que digo nos roçados de ma- niba , se pode uzar nos mais roçados , e terrenos que servirão a primeira vez para outros plantamentos , ou searas das que costumão, como são milhos, algodões, tabacos , arroz &c. porque todos estes roçados se podem fazer estáveis com os plantamentos do cacáo , da mes- ma sorte procedendo na praxe costumada dos roçados annuaes, que, segundo a nova praxe, e methodo do Ca- pitulo primeiro , melhor , e mais acertado me parece conservar limpos os terrenos , huma vez feitos , e nelles continuar todos os annos as mesmas sementeiras para maior commodidade ; porém , no caso que os não queirão cultivar, como na Europa, ao menos podem aproveitar- se dos roçados para plantamentos de cacáo &c, a mes- ma economia podem ter os que não tem escravos, do que falíamos no primeiro meio , ou industria ; porque por baixo , e por entre os páos , levantados sêccos , podem f depois de colherem a Maniba lançando-lhe fogo, e lim* pando-o , semear cacáo , e hir continuando os mais an- nos da mesma sorte : só assim he que se poderão cul- tivar aquellas matas , e terras , convertendo-as ou em terras de semeadura .estáveis, ou em boas, e estáveis fazendas de cacáo; e parecerão não ja matas bravas, e incultas , como até agora tem sido , mas terras cultiva- das , e rendozas aos moradores ; os sitios mais vistosos ; as povoações mais ricas; e todo aquelle Estado aug- anentado bem; e será para todos hum bom thesouro, e (33) -se nao vejão : dado que cada anno facão de roçado du- zentas braças para os plantamentos , que se costumão , ida mandioca, arroz, milho, tabaco &c. convertidos o» seus terrenos depois em pkmtamentos de cacáo , dispôs- vto , como costumão , de dêz em dez palmos , fazem o numero de quarenta mil pés ; fallo de duzentas braças era , quadro ; e ja «estes quarenta mil ficão quarenta mil ani- sados de capital , segundo a estimação de cada planta áe cacào de quatrocentos reis r , em que se. costuma avaliar; basta que continue assim por dez annos cada morador, que só em ícaeáo terá cada tuim , no fim delles , qua- trocentos mil cruzados de fundo; mas podem continuar, em quanto achão terras nos iseus sítios , segundo a ex- tensão das suas datas.. • Advertiado que , posto que as tetras mais próprias para os cacuáes sejão as terras húmidas , alagadiças , e pântanos , segundo . a experiência dos naturaes , e se vê bem nos dilatados eacuáes da natureza , que todos el- les alagão «com_ as enchentes -dos Rios , porque gosta muito esta planta de ter as raizes na agoa ao menos algum tempo do anuo., tãobem fructiíica bem na terra firme; e ainda em terras altas, como ja tãobem expe-* rimentão alguns , e . eu vf , por isso não tenhão receio de © plantarem nas ditas terras , antes lhes posso affirmar que de todos os cacuáes , que eu vi nas terras d© Ama- zonas , o mais carregado , que vi , foi hum «m terra bem alta. Com tudo adiante apontaremos algumas fáceis in- dustrias para tãobem lhe poderem metter agoa dentro todas as vezes , e quando quiserem ; e , quando as ter- ras não sejão todas aptas para a planta do cacáo, co- mo na verdade o não são as que tem por baixo o -bar- ro tabatinga, como affirmão os práticos, se podem as ditas terras occupar com outras plantas preciosas como café, cravo , salsa parrilha , puxeris , guaraná, canel- la , &c. ou algumas nutras das muitas , que se dão na- quellas matas, como em terra própria; com tts quaes se pôde uzar da mesma industria í e melhor he poder fa- zer de todos , ou ao menos das principaes , como sâo cacáo , café , cravo , e salsa iguaes plantamentos : v. g* ibspondo era duzentas braças quarenta mil pés de cacáo > 5 Í34> e em outras duzentas quarenta mil pés de café,, e em ou* trás tantas cravo , e canella &c. e fazendo assim hor- tenses os- mais preciosos haveres do sertão y sem a pre- cisão de expedirem, a etíes as canoas com muitos gas- tos., e riscos. As. mesmas searas do algodão se podem fazer está- veis como as mais , e não occupar cada anno novas terras , e roçados y segundo o que costumão ; porque no primeiro roçado ,. e paragem , em que o semearem huma vez, o- podem conservar por toda a vida,, sem mais tra* fealho do que conservar limpo de arbusto aquelle terre- no , e hir decotando os ramos supérfluos , que tem pro- duzido , e podando v como se faa ás vides ;: mas não com tanta exacção ,. como, nas vides ,. porque basta cor- tar-lhes algumas pontas dos ramos , que tem dado suas. colheitas, e exprimentaráõ os que assim o conservarem huma notável conveniência, e he que,, alem das copio- sas colheitas annuaes, todos os dias colheràõ,. ou pode» ráõ colher huma porção ; não fallo sem certo fundamen- to da experiência, porque assim o vi fazer a hum mo- rador , que em hum bocado de terreno tinha humas plantas de algodão r de dezanove ,.. ou vinte aamos de se- meadura , feitas arvores r . como, as nossas Pereiras ; e # posto que não tratava delias ,. nem as decotava , ou lhes dava algum cultivo ,. estaváo sempre viçosas , e fruetiá- cando; e todos os- dias apanhava- delias algum algodão, hum dia de hum ramo , outro de outro.. Dizem os Asiáticos , o^ue são os melhores officiaes. de algodão, que este he tanto mais fino, quanto mais »ova he a sua planta „ e por isso todos- os annos reno- va o as suas searas sempre era terras estáveis, como as mais searas,, de que vivem , para sempre h terem fino ; © que não devo disputar, porque isso só deve decidir a experiência , posto que , o que vi no Amazonas ,„ e ain* da nas plantas , ou arvores supra de vinte annos., sem- pre me parecerão os mesmos sem differeaça alguma; mas, no caso que assim seja,, pouco importa para os habitantes ,. e moradores do Amazonas ,. que só o fiáo grosseiramente , e não tratão dessas finezas , excepto os Judios de algumas Nações Hespanholas , cujas telas não tem ia veja ás da Índia; porisso pouco vai em que seja ( 35 } fnais ,• rcu menos 'fino o algodão das plantas anfigas r com tanto que evitem o trabalho dos roçados annuáes^ e seja fácil a sua conservação, ilsto he o que me occorre., e tenho colhido de ou* *tros Missionários antigos , e da muka experiência, e ò que no mesmo Amazonas vi em alguns particulares : nem tem outro meio aquelle Estado , e aqueilas matas de s& fazerem bens estáveis, e de raiz, senão convertendo-as , ,ou em searas ao modo do mais Mundo., ou em fazen* das rendosas M para os conservar , como dizia o dito , que não paga* vão o trabalho a seus donos de só os vigiar e -conser* yar, ou que era mais o trabalho que o lucro. 3.* Que , em algumas paragens do Amazonas , ésteri* Hsarião os Cacuáes , depois de alguns annos, por chega* rem com as raizes ao barro tabatinga., que tem alguma* qualidades de cal; é, quando não as esterelize de todo/ P sempre os deteriora muito no pouco, que frUetificão. > Estas j e semelhantes objecções me pozerão alguns Curiosos, fundadas mais ém espirites contradictorios dô que em rasões Solidas , e fundamentaes , e propriamente gubministradas da grande preguiça do Brâzil; e do usoj, 4>u abuzo. ' < 5 ii (36) Por isso todas se desvanecem mui facilmente, como o sal na agoa ,. em poucas palavras. i ** Respondo á l. a de que faltarião as matas , e terras para os plantamentos da Maniba &c. que- se não pode temer esse perigo no Amazonas , cuja, vastidão de terras he tao grande que, mudando-se para lá Reinos inteiros da Europa, e se cada morador se apossasse de quanta terra podesse cultivar, ainda assim não chegarião sécu- los inteiros a cultivar , e povoar a minima parte daquel- la região,; quando muito, se acabarião as matas por numa, duas, ou três legoas nas visinhancas das povoa- ções; mas, como as viagens do Amazonas, e caminhos sao todos por agoa, pouco vai em hirem mais, ou me* nos huma legoa distante fazer roçados novos, quando de presente o estão fazendo , despresando, as matas mais •visinhas, e buscando as mais distantes , sem outra ra- zão mais do que pela maior distancia serem menos bus- cadas; porem, dêmos que na verdade se convertessem as matas visinhas em muitas, e bem cultivadas fazendas de cacoaes, cravos, e salsas &c.^ quantos- mais cabe- daes recebenão disso , do que dos roçados insanos da lannha de pao? com os productos terião bem com que a comprar, e ainda ncarião com muita^ riqueza: além do que ,. eu não digo que toda a terra se converta em cacoaes, mas que toda, quanta podes,, seja cultivada parte em cacoaes; parte em cafezáes; e parte em searas de milho, arroz &c. estáveis, e annuaes ; e com estas searas suprirão com grandes vantagens acarinha de páo> €, no cazo^ que antes a. queirão que o outro pão, ainda tem dois meios com que a poder, cultivar; 1> buscan- do novas terras; &9 não querendo buscar novas terras, se haviao roçar outras matas , rocem os cacuáes mais antigos , que tãobem são matas , e jà tem em. que fa- zerem os. roçados:^ mas quem quererá destruir hum ca- cua , ou outra fazenda, que todos os arnios dá certo rendimento para fazer hum roçado de maniba, só para hum anno?^ mais „ se os moradores do presente es- tão buscando novas terras para a, Maniba , deixando lazer matas bravas os primeiros sitios, quanta maior con- &2£ tT en \ buscar novas «latas, desfructando grandes cabedaes. dos mesmos primeiros sitios, feitos (37) grossas fazendas? em fim parece muito frívola esta ©b- E por isso vou responder á segunda , que ainda he mais frívola. Tem ella dois membros: 1.° de que neces- sitarião os seus moradores de muita gente y e de mui- tos operários, não só para se fazerem semelhantes fa- zendas , mas tãobem paia se conservarem , e desfructa- rem; 2.° que seria mais o trabalho que o lucro. Em quanto ao primeiro ponto, ou membro, respondo, que, no que toca á sua conservação, e desfruetação , ou co- lheitas , basta cada morador com a sua família , como succede na Europa nas quintas y e pomares , porque he o mesmo , ou com pouca diíFerença ; e , quando as co~ lheitas necessitem de mais gente, como he trabalho ale- gre , e suave , não faltará quem queira ajudar , porque juntamente se vão saboreando ; no que toca á sua con- servação , basta dizer , que os que ja tem cacoáes man- sos os conserva© só com algum negro, que nelles as- siste, mais para o* vigiar, do que para os trabalhar, porque, depois do plantados, apenas necessita© de al- guma capinação , ou munda çao da herva T que fôr nas<- eendo , ou de algum arbusto ,. que vá. arrebentando , o jque se faz em hum dia; depois de fechar, basta para decotar as pacoveiras com hum cutelo na mão com tan r ta facilidade r ou pouco mais, como se cortasse espada- nas ; pelo tempo adiante r basta r para o livrar da her- va do passarinho,, e lagarta© , o mesmo dono passeállo , de quando em quando,, e dar com o seu bordão algu r ma bordoada onde vir algum destes inimigos do cacáo; o que se faz mais por divertimento,, do que por canç is- so: o trabalho está só no principio, quando se prepara o terreno , e se fazem, os plantamentos ; mas ,. neste ca- so, não se augmenta ©trabalho, mas se applica melhor, porque toda esta industria não depende de mais traba- lho , mas sé da melhor economia. O trabalho dos roça- dos , e da preparação do terreno he o mesmo r que cos- tumão fazer para os roçados da Maniba; está sô o pon- to na conservação do dito terreno , he o mesmo , que costumão fazer para os roçados; e fazerem no terreno ©s plantamentos; e assim »ão necessitão de mais gente > ie de mais operários , que os costumados.. A razão de < 38 ) q«e dáo mais trabalho que lucro fce tad fútil, como $e ■dissessem que o lucro de huma quinta he menor do ^ue o trabalho, que nella tem o quinteiro. Porque dê- mos que feum cacuál v. g. de mil pés só dà no anno cem probas de caeao ( ha annos , em que dará para cima de seiscentas ; ) ^ he pouco lucro para hum mora- dor,, gue cora eUe não gasta nada?j he pouco sim nao a respeito do trabalho, mas a respeito da ambição" com que logo os habitantes do Amazonas querem ser ricos no primeiro anno,, embora que na Europa pedissem imma esmola para viver! As plantas 4o café ainda tem «nenos trabalho a se plantarem, e se conservarem, por- <íue, a principio,, basta só fazer a sua semeadura ou plantamento., sem precisão de Pacoveiras , nem vigilância para diante do iagartão., ou hervas de passarinho, for- que não tem esses inimigos.; só sim tem mais alguma impertinência as suas colheitas, em razão de ser mais miúda a sua iructa, e ser necessário deseascalla ; o que costumão fazer em pilões; mas tãobem he trabalho de pouca monta „ que ninguém regeita pelo custo, especial- mente attendendo ao muito ., que fruetifiea 4 pois sempre está com frueto , hum ja maduro , outro verde y outro em botão, outro em J&ór; em fim tudo vai da bôa, ou má economia. j A' 3.a objecção de que os cacoáes , em algumas pa* ragens, se fazem pelo tempo adiante, ou pouco ren- dosos , ou totalmente estéreis por causa de chegarem com as raízes ao barro Tabatinga, respondo: 1.° que, por pouco que rendão , sempre rendem mais do que as matas bravas ^ que não tem mais serventia, que servirem para o fogo; 2.° que, quando cheguem a esses termos, o que só succede v, g. de vinte, trinta, ou mais annos, ja tem enriquecido muito bem a seus donos; além de que, se os trazem limpos, sempre fructiheão, por mais velhos que sejão. A razão de alguns se fazerem estéreis por causa do barro Tabatinga tãobem tem bella respostas: l.a he que o terreno, se se presume ter este barro, não servindo para cacoáes, sirva para as plantas do café; sirva para as arvores do cravo; ©u sirva para as silvas bravas da salsa parrilha; ou para canella ; ou quasquer eutras plantas, a quem não laça dama* a Tabatinga, cm qtíe todas são preciózas , talvez mais que o cacâo; m sirva para as searas, que dêni o sustento precizo , e nao se deixem tornar matas bravas; a 2.a resposta he r que, quando isso succede , he tãobem depois de muitos an- nos, depois de terem dado grandes colheitas;^ e, se para huma só colheita estão os homens cançando-se no cultivo dos trigos , e mais searas , que muito he^ que tãobem se eultivem os cacuáes, embora que seja só pa- ra a colheita de alguns annos? a 3> resposta he que' depois de doze ou quinze annos v. g. podem renovar os mesmos cacuáes com muita facilidade ,, o que pôde fazer huma só pessoa em hum só dia , mettendo ao pé das- plantas antigas novas sementes , ou novas plantai, d es* íructando ,. em quanto ellas se põem capases ,. as antigas > © cortando, estas, quando ja aquellas fruçtifiquem; indus- tria, com que se podem fazer eternos todos os cacuáes» no caso de esterilidade „ ou menor rendimento ãos mais velhos» He para admirar a summa preguiça daquellas gení^ tes , que , podendo todos terem nos seus aitios hum the- souro de riquezas ,. visto terem tanta extensão de bel?- Ias, e fructiferas- terras r s® por preguiça,, e falta de economia , vera a experimentar o mesmo , que se as nã« tivessem ;^ porque que mais vale ter legoas, e legoas de terras, feitas matas- bravas- e perdidas,, do que não as ter? tudo he o mesmo: i o seu ponto, e empenho he tod^ em amontoar escravos r e mais escravos para se eha* liiarem senhores; de tantos escravos,, e ter nelies operá- rios para quebrarem os braços a cortar matas ,, e depois tornarem dahi a hum anno a< deixallas crescer, e fazer matas bravas,, como d*ante&! | em fim tão preguiçosos, que,, como disia hum,, deixavão de comer bellas laran* jãs, ou outras fruetas ,. que tinhão ao pé,, e estavão vendo aos olhos , só por preguiça de as mandar apa- nhar!; apenas ha huns poucos cacuáes ,. qne alguns mor radores, levados da ambição quando o caca© valia duas„ ©u mais moedas de ouro nos annos antigos , mandarão fazer, e continuarão a conservar íi ha tãobem alguns ca* fezáes , mas muito poucos ; e sendo a eanella , o cra^ •wo , a salsa , as baunilhas , e outras riquezas daquellas toas tão estimadas, aaa me consta, que morador sk- gum, até agora, se íesolvêsse a cultivallas , e fazêllx hortenses , e apenas se vê em algum sitio alguma òâ- nele.ra ma.s para ostentação, do que para Sade contentes com só as terem pelas matas bLL ett' darem a ellas as canoas do sertão com tamVris™ Po.s saibao que não sé o cacáo , e o café mas todas as- ma,s riquezas, q„ e produzem aquellaT matai se podem cultivar nos titios f e /arèrem-se hortense^ ' porque a .canela nasce como em terra própria" cr V vo bem sabem iodos os práticos do paTz/que p r * mesmo se multiplica em extensas matas: a salsa L co mo a madre sdva, ,que basta chegar á terra a sna has ^'nf i P T rJ0g ?' e . «e multiplicar, e .crescer a hum grande SI l V ado; a baunilha , tão preciosa, m,da tem dê melindrosa, pega, cresce, e se augmenta como^al- quer outro «pó; a planta do puxeri, tão estímadá 1 pt a sua mu.to medicinal fructa, tãobém faz sua toda P a terra , como bem mostrou hum missionário , qne me u tendo na .terra em hum vaso , lá uo centro Yo' Ama" aonas mumas bolotas, quando .chegou á Cidade, ia vi- nhao plantas, que mettidas na terra logo crescerão as arvores; e assim as mais preciosidades:: falta só cu- nosidade nos seus .moradores, que com ella podem con- verter em grandes thesouros es sítios! ™ Humanas providencias anais costumadas na Euro- pa, eno Mundo, são as hortaliças -. todas as pessoas que tem modo de cultivar huma horta, se tem por tnuí afortunadas; tanto que dizia hum pratico no nosso Rei- no, que, quem tinha huma boa horta, tinha nella hum bom morgado , ou Condado ; e fallava com a experien» cia porque hum dos viveres, que tem mais gosto são as hortaliças, e legumes;; sendo assim como he na ver- dade, quão digno he de estranhar a deseunosidade dos habitantes do Amazonas , CAP I TULO IIL ■*►**■ JD« providencia, com que se hão de prover de operário* os habitantes do Amazonas. V^omo no Estado do Amazonas não na gente de ser- vir , nem vulgo , que sirva ( este adjutorio , tão necessá- rio aos forasteiros no principio para se poderem estabe* íecer ) podem fazer com elles algum género de contra- cto, com que se obriguem a mostrar-lhes , pelos annos adiante, algum género de gratidão, ou agradecimento , com a condição de lhes darem algum principio do sitio , que consiste em hum roçado com hurtia ligeira cazinha, ou tijupár , em que se possão recolher com a sua fa- mília; e, para que mais depressa se possa utilizar delle, pode ser a seara do dito roçado huma boa sementeira de milhos, de cuja colheita ja se aproveita ao terceiro mez , e para continuar para diante basta elle com sua familia, ou uzando das searas ao uzo dos índios bravos, como ja dissemos; ou valendo-se dos índios 4 a reparti- ção , como ha pouco dissemos ; ou elles mesmos por si trabalhando; e assim fazem ja muitos moradores, e fa- zem todos os índios, sem adjutorio huns dos outros: porque se ha de advertir que toda , ou a maior , diíE* culdade está no principio dos brancos , especialmente no- vatos , que , chegando áquellas terras esmorecem á vis- ta de tantas e tão crescidas matas; e isto, junto com a preguiça, que infunde o seu grande calor, e clima > os desanima a meterem mão á t>bra. O que supposto, grande fortuna terião se, achassem nos Cidadãos este subsidio de lhes principiar os sítios ou s6 com obrigação me nt ri, FeSt í f J 0bse<1UÍ0 * «alidade, como propria- mente he feudo ;; ôu pôde ser como 'hum quaVi fêu- í»tU t emphyteosts, sendo nào nas suas , mas em outras terras; ou por qualquer outro modo, que ajustar. ouer » mu,tas Províncias dão os Senhorios aos que q«erem povoar, e cultivar as suas ter™ todos os ins- (45) trumentos principaes , e necessários a principiar a vida , como huma vaca , huma egoa , e cousas semelhantes , porque tudo lhes faz conta a huns , e a outros : aos ca- zeiros, para principiarem a sua vida; aos Senhorios , pe- lo ajuste , com -que, pelo tempo adiante, não só se re- compensão , mas se enriquecem : tudo vai do ajuste * e contracto, que celebrão. Seja porém qual fôr , he hum dos melhores meios , com que o -Amazonas se pode po- voar , muito accomodado para os cazeiros , e muito útil para os Senhorios, ou nas suas próprias terras-, -ou em diversas. ' , . Quarto meio pode ser o de que ja uzao , em mui- tas terras , e províncias da America , os Francezes , Inglezes , e Hollandezes ; comprão estes aos índios os seus sitios , ou sejão depois ou antes das suas colhei- tas , e facilmente os vendem por mui diminutos preços , v. g. pelo rolo de panno da terra, que tem cem va- ras, por alguns machados, facas , e bolorios; e, mu dando-se para outras paragens , largão aquellas aos bran- cos ; e , como ja nelles achão humas Casas mui ' suffi- cientes para suas moradias, e de suas familias com al- guma área á roda, e varias terras capoeiras, que as- sim chamão ás matas pequenas , ou arbustos , em que nos annos antecedentes ficarão os plantamentos de Ma- niba , e talvez algumas mais bemfeitorias de arvores fructiferas, achão ja o comer feito, porque com muita facilidade cortão aquelles pequenos arbustos , ahmpãô o terreno, e nelles fazem as sementeiras do grãV, ou plantamentos do cacáo 7 café, e outras plantas preciosas: mas sobre tudo huma grande fartura de viveres , que he o principal empenho. He facillimo este meio para qualquer Europêo novato principiar no Amazonas o seu modo de vida: he certo que nâo poderá ser nas. vjsi- nhanças das povoações , e Missões de índios , se esti- ver no seu vigor a ley, que prohibe aos brancos o fa- zerem sitios nas suas visinhancas por circuito de duas legoas , attendendo a nâo defraudar os índios de matas para roçarem , porem facilmente eonviráõ os mesmos ín- dios por algum ajuste com os ditos brancos em lhes hirem fazer mais distante hum semelhante sitio ao que eostumão fazer, ou ao menos algum principio era algum ' ( 46 ) roçado , e clioupâna , o aual oorunAi*. «s^ W com pl.antamentosV 3" m 7 coT^™ de milhos,.. cujo. productahe certo f*U\ 1 k v,nt,io S a he «TH^^:^;^;^ zendo-lhes conveniência , assim na passado * N^ vios como em terra, mas com alguma obrigação da parte delias, para não faltarem da sua parte !ohriÍ çâo do trabalho pelos annos do a just e P Não ÍSEl .»*_ alguma hvdnT de sete cabeçasTw aslals Nações, aind a sem estas obrigações de serviço e™ío fazendo summos g astos com LI copiosas Companhias de Europeos, a quem não só pagão a passagem mas ~?m S ás e su: 0d Co, deVÍda ' ' Ó P 6la --~iaT povoaiem as suas Colónias, e por sso se vem hoie tão augmentadas, e populosas: logo menos se deve rena! de tol o 2 F^ teS g T S ' < > Uand0 se ^o r ; de todo o Estado , e o bem commum. E com semelhan Euroía 0mpanhiaS "° ^ Se "' das as Cid *«" ^lida Tãobem não seri a difficultoso ac har na Europa estes JO nafe.ros : que se offereção promptos á viaTm se attender-mos á multidão de pobres, que há na Èuró pa, e nao achão Patrões, í quem slrvir nem qu™»" os occupe no seu serviço , sem* mais remédio d» 9 quê pedir huma esmola, e padecem muitas misérias \Z lhes perguntar = quid statis hic tota die otiotfV quid íhTh^ C ° nd " Xlt -^PoMe^o: muito mais dandó- lhe boas esperanças de lhes repartirem as terVas mui óptimas e quantas possão cultivar, no fim do? annos esUpulados.no caso que nellas qúeirão ficar, e esta- belecer donuciho, como ordinariamente fazem It vL?- AmMonas - '«««geados do seu clima, sempre Verão, e das suas . terras fertilissimas ; e ja he provei b,o naquelle Estado = quem vai ao Pará , parou - 1 que «ao he peque» a circunstancia para a s„'a P povoaçãa tav, f£„nY, a P™POsição destas conveniências, bas- tava flanquear a todos, os q ue quisessem embarcar, (47) a passagem para se offerecèrem á víagem muitos > jor- naleiros , que só os detém a falta de licença , e liber- dade de se poderem embarcar;; quanto mais, promet- tendo-lha de graça, e animando- os para o futuro com a promessa de boas terras ! ' 6.° Meio para prover de operários as terras do Amazonas, são os presos do Limoeiro, e mais Cidades pelos seus crimes, commutando-lhes as penas em tan- tos annos de serviço , conforme a maioria , e gravidade de seus crimes; e parece que seria bem aceita aos presos esta proposta, especialmente com a mesma espe- rança de terem terras; e poucos senão os que a nao ellegessem , por se livrarem das misérias , que padecem nas prisões; onde morrem huns a fome, outros ao frio, outros por outras misérias, além do susto , que os ac- companha da sentença, que hão de ter. Sena pois ópti- ma para todos esta providencia : para os presos , para se livrarem assim de tantas misérias, e para os Ultra- mares , onde tanto se desejão os jornaleiros , e operá- rios • deverião porém os Magistrados vigiar sobre o com- plemento do seu serviço, a quem devenao presentar certidão , e para se não eximirem do serviço antes do tempo do seu complemento : ja outras Nações usao desta providencia. J Aos mesmos criminosos índios se lhes podem com» mutar as penas dos seus crimes em serviço dos brancos; he certo que com mais promptidão havião de acceitar este castigo, do que as çurras dos açoutes. Lembra-me «obre isso o successo de huns índios em huma Missão : convocou hum Principal , ou Cacique, alguns índios as- sassinos, seus vassallos, e com elles fez duas mortes, e posto que elle com outros se foi refugiar aos ma- tos , a outros poude segurar o seu Missionário; talvez não quiserão fugir por se suppôrem menos criminosos t a todos se lhes dêo algum castigo , e foi o de alguns o serem por toda a vida pescadores da Missão: amda alcancei hum, no tempo, em que alli fui Missionário, ia muito velho, mas cumpria tãobem a sua pena, e cas* tiffo , ainda estando ás vezes tão doente , que eu lhe receava a morte, que não< deixava, do modo que po- dia, k pescar, desorte que parecia ja nelle propensão: ( 48 );. assim se podem commutar as penas de outros crimino- sos, pois tudo cede em bem commum , e nem por isso ??™. dm ,5 devid a satisfação dos seus crimes. , /. Meio pode ser a repartição dos índios das Mis- sões , convertendo^ para este serviço dos brancos, em lugar das canoas do sertão, desorte que ia se lhes não conceda índios para hirem ao sertão, mas sim para principiar, e augmentar seus sitios, que, como adiante ponderarei, mais augmentados estarião aquelles Estados se, desde o principio, se tivesse ordenado esta econo- mia, do que com aa ditas canoas ao sertão; porque as ditas viagens so tem servido para muitas mortes, que tetfL havido, e nada tem ajudado a povoação das ter- ras \ e os sítios sim , ainda que diremos outra melhor apphcação dos índios da repartição para novas Povoa- ções ; mas , no caso que para isso se nao applique . mais conveniente he a apphcação para os sitios , do quê para as canoas ; porque todo o empenho deve ser em adjutono aos novos povoadores a principiar os seus si- tios , e a sua vida, em lugar dos escravos, que não tem. L Eu bem sei que , se os brancos na America se des- sem as mãos huns aos outros, ajudando-se mutuamente, como fazem na Europa, não seria necessário andarem' lhes buscando mais adjutorio; porem, como todos se fazem a ao grave , e não querem trabalhar , precizo he darem-lhes ajudas para viver. Vêm-se na Europa Cida- des , Vilias, e Povoações mui populosas, sem haver hum so escravo, nem delles necessitão, porque para o cultivo das terras se ajustão, e ajudáo huns aos ou- tros trabalhando hum dia para hum morador, só com a obrigação de este lhes dar de comer e beber ; outro dia este mesmo- lhes paga na mesma moeda trabalhan- do para elles; e deste modo todos sao servidos Os mesmos índios se valem desta boa economia muitas ve- zes ; i pois porque não poderão os brancos da America viver com a mesma boa Irmandade? pois saibão que esta he a boa economia, e costume de todos os lavra- dores, e agricultores; e só aquelles, que em razão do estado o nao podem fazer , o satisfazem com a bolça. • Todo o empenho dos ; Europêos nos Ultramares he (493 possuir escravos , e mais escravos , cuidando que só , quem tem muita escravatura , he gente grave , he rico '. na verdade, segundo o procedimento ordinário do Ama- zonas , sim lhes são precizos , assim para os trabalhos das roças, e matos, como para se poderem servir em canoas próprias , e com barqueiros , e remeiros de caza. Pois me empenho tãobem em lhes mostrar que mais perdem do que ganhão, com tanta escravatura, e que mais lhes vale hum jornaleiro, que meia dúzia de es- cravos. No novo methodo, que aqui lhes ensmúo , não ha duvida nenhuma, bem ponderadas as circunstancias; mas eu digo que, ainda na praxe antiga, são mais os clamnos dos muitos escravos do que os seus proveitos: não quero dizer que são escuzados , não: antes digo que, ponderados bem os seus inconvenientes, só por necessidade se devem ter , e não. por ganância, perten- clendo mostrar-lhes a todos o quanto mais interessão nos jornaleiros supra, de qualquer modo, e meio que os possão haver, do que em terem escravos próprios (excepto para algum serviço de caza, não havendo ou- tros fâmulos ) porque assim são mais bem servidos do que tendo muitos escravos, e o mostro pelas razões se- guintes. 1 . a Porque os escravos , posto que trabalhão , tão* bem gastão , e mais que o que trabalhão, porque o trabalho que fazem , he só trabalho de algumas tem- poradas v. g. na occasião de roçar matas , remar ca- noas, &c. e os gastos são continuos de todo o anno, no sustento , no vestido , nas doenças , nos filhos , e nos seus desmanchos; sustentão-nos todo o anno para só os occuparem alguns tempos , bem como sustentar todo o anno huma, ou mais cavalgaduras, para só fa- zer com ellas alguma jornada: pelo contrario são os jor- naleiros , que , sustentados só nos dias precizos do tra- balho , e pagando-se-lhas o seu jornal-, livrão de cui- . dados para todo o mais tempo, e, feita a conta dos operários só no tempo precizo , e dos gastos arinuaes da escravatura, parece-me que estes serão tanto maiores,, quanto mais forem os escravos, porque importa muito íuim gasto diário e vitalicio. -' 7 (50) 2. a razão he, porque nos jornaleiros só pagão o sustento ,< por tempo determinado , aos precizos para o trabalho , e nos escravos não só sustentão os que tra- balhão , mas tãobem os seus filhinhos, que só comem e não trabalhão. 3.a Porque avulta mais o trabalho de hum jorna- leiro do que, de meia dúzia áe escravos; não porque não possão com todo o trabalho, e talvez mais que os mesmos jornaleiros , mas porque não querem; o que faz hum jornaleiro em hum dia, não o faz hum escra- vo em muitos dias; muitas provas podia agora trazer para persuadir esta verdade ; mas sempre contarei algu- mas : no nosso Portugal ouvi dizer que hum oleiro dei- tava por dia, com o adjutorio de algum servente, que lhe submmistrava agoa, três mil e duzentos, ou mais ladrilhos; no Amazonas me contou hum fazendeiro, que se dava por contente, quando hum escravo lhe fazia por dia até duzentos, dando a entender, que la não chegavão: ora vejão agora quanto vai de duzentos, acima de três mil! mais se admirará o pouco lucro que rendem as officinas , trabalhadas com escravos próprios; e , jà que falíamos nos oleiros , ponhamos o exemplo em offieina de olaria; já eu disse que os moradores, que tem muitos escravos, tem nos seus si- tios muitas officinas ; huma das que costumão ter, he olaria com esta circunstancia, que tem de casa tudo para ella , porque tem o barro de casa, tem agoa (sempre ao pé dos rios) e tem a lenha, e fornos, e até tem de casa , e seus os escravos oleiros ; outra circun- stancia mais he que a louça, que nelles se fabrica, custa mais que o dobrado da da Europa, v. g. hum pote na Europa custa trinta réis, ou pouco mais, lá tem o seu preço 100 réis, e ás vezes tem subido a 200 réis, e assim a proporção as mais vazilhas ; pois dizem que ordinariamente não dao lucro a seus donos taes olarias; e esta foi a razão, que dêo hum mora- dor , que , tendo já mettido na sua olaria o vidrar a louça, se tornou a deixar disso, dizendo que vinha a dar em mais a despeza que a receita; pelo contrario vemos na nossa Europa , a maior parte das olarias, que apenas tem de casa os fornos, e comprão tudo o ( .613 mais , e vendem a sua louça mais bar ata que nas do Amazonas; e com tudo he tal o lucro , que com eile comprão todos os materiaes , pagão os officiaes , co- mem, e vestem elles, e suas famílias, e em pouco* annos ajuntão grandes cabedaes ; \ e que he isto senão , que vale mais o trabalho de hum jornaleiro branco do que o de muitos escravos, ao modo que elles costuma® trabalhar? lembra-me o reparo, que huma vez fizerão alguns de que huma grande multidão de escravos gas- tassem sete para oito mezes em fazer hum roçado, e plantamento de cànna , que , a trabalharem como de- vião, podião aviar em menos de hum mez; ao que respondêo hum pratico ser a razão porque, chegando á paragem, huns , nao se contentando com o peixe sêcco, ou carnes sêccas, que levao para viandas, o deitão ao mar , e se põem a pescar peixe fresco , ou- tros se põe a caçar, outros a dormir, e finalmente ca- da hum faz o que quer, e os Senhores não tem mais remédio que o disfarçarem, se os querem conservar,, porque, se querem obriga-los por força, fogem huns , outros se fazem doentes, outros se levantão com os capatazes, desorte que, se os donos , e Senhores po- dessem assistir-lhes , ou pòr-lhes algum fiel capataz , que os vigiassem , poderia o serviço avultar mais ; mas, como isso não pôde ser, apenas o Senhor, ou Feitor dá as costas , ja elles põem de parte o trabalho dos Senhores, e ou se põem ociosos , ou a trabalharem em alguma obra sua , que vendem aos brancos estra- nhos : foi a experiência , que fez hum Religioso muitas vezes , passando junto a huns oííiciaes imaginários , quan- do hia cumprir com a obrigação de ensinar grammati- ca aos meninos ; cada vez , que passava , reparava q;ae sempre algum se punha virado para a parte, donde podião ser visitados, e a final todos os mais, fingindo que buscavão entre os cavacos alguma cousa, escon- dião nelles as imagens, que fazião cada hum em par- ticular, e se mostravão muito diligentes no serviço da obrigação. O mesmo fazião os pintores, que tinhão a •seu cargo pintar as ditas imagens , furtando não só o tempo, e trabalho a seus Senhores, mas tãobem a madeira, as tintas, e instrumentos: este he geralmen^ 7 ii (5J2) te o costume dos escravos em todo o seu serviço" *• por isso dao tao pouco lucro a seus Senhores , que 'co- nheço moradores que , possuindo para cima de mil i e as C -Tn-o na ° tmhâo . < l ue «orner, e P a„davão ás esmo- las ! (nao os nomeio porque poderáõ ainda ser vi- l n ::""'' aem ° P nraeiro sustento de farinha, vin- do-se a suprir a falta, ou com empréstimos de fó a e ™: k0 sucado , e picado crú P em bocadinhos' zes "-J* J*™»**** ™ Podião levar. Vi outras ve l zes por nao haver, nem se achar hum bocado L peixe, com que se podesse remediar, com muita Ja lanaria, que nestas occasiões se regalão os mesmo^ escravos com estas cousas. Vio huma vez hum Fdto" a hum escravo que atirou a hum monturo a porio Ql ^ e¥a ;:rínt b a a ndf.he qUe "? ° PeÍXe ^ ' ^avao"* ra 2!! razão porque deitava o comer fó- '?' "l d ° ° meSmo _ T e lbe Gavião dado, respondeo S« 1 * GaSa - havia bom P e «e fresco e que la nao se comia neixe «spp™ t?™ £~ ;, * seus Senhôret. P fim COmem melhor ^ A 4.a raz á: pol . que convem j jornaleiro* lenhôLTantr.ar^ 05 ' ** ^ -Ues Vm^fseu ^ennoies tantos ladroes quantos escravos ; he proposição cão »1™ «Penenc»., que cada dia a certifi- cao . por isso em huma seara , em que os Senhores o* t P X a0 le g mbra n e d ^^ ' "° fim S « achou ~ -- tacle , lembrando-me o que contava de si , e com as mãos na cabeça hum fazendeiro: esperava elle h»2 f eu n lntm Ita ^ mandÍÓCa ^ %™ de extensão do seu plantamento, mas, no fim de contas, apenas se P ra" ml d d UZent °f ^^ d « -rinha ,' quando es! mukls TZ m -' P ° rque ' ainda 1™ istosuccede muitas vezes por nao correr tempo propicio para a ma- nàquelle I™™ PÔdl " e a mandioca ' nada dist0 havi * bem andr^ fV 6 , 08 Plantamentos tinhão vingado bem andando lastimando a sua fortuna, soube, mas rinha fei' t n qUe ' ^ ° CCaS,a0 da colheita > cada escravo no rJ™ Se " P rovIment o, que deixarão escondido aor Zw ° me ™?í experimentarão os mais em me- W»> ou maior quantidade. (53) Alem destes damnos todos, que experimentarão nós seus escravos, apontarei outros, que s£© a destruição das- matas , e dos seus mesmos sitios : porque costu- mão os Senhores dos escja\os , para se livrarem da obrigação de darem a farinha, que he o pão quoti- diano , dar-lhes tempo, e licença para o- escravo , pai^ de familias , fazer taobem no mesmo sitio de seus Senhores o seu roçado, e plantamentos , e não só lhes dão as terras, mas na cccasião do roçado lhes dão algumas semanas livres , como tãobem em outras occasiões , co- mo no plantamento, na mundação, e todas as vezes mais , que elles o pedem para algum serviço , que que- rem fazer, ou fingem; e, fora estes tempos extraordiná- rios, lhes dá livres todos os sabbados, e, quando nei- les se vejão precizados de algum serviço, lho recom- pensão em outro dia da mesma semana: dois damnos graves se seguem daqui aos moradores; 1.° o da de- fraudação do seu serviço no mesmo tempo , que lhes dão livre, e, feito o computo do anno , muitas vezes he mais o tempo , que tem trabalhado para si , do que para os Senhores; o 2. 9 he que com estas roças, que faz cada escravo, muito á medida do seu desejo, e na melhor paragem, e terreno r que quer , se des- troem em poucos annos as matas dos sitios , e se vem obrigados os Senhores , ou a pedir novas terras , e mudar de sitio , ou , senão querem perder as bemfeito- rias do 1.° , se vêm obrigados a fazer o seu roçado nas capoeiras dos annos antecedentes, que, como ain- da impróprios para a maniba , não correspondem as colheitas ao trabalho , e só vão a remediar necessida- des , e quantos mais são os escravos mais são as ro- ças, e mais depressa se acabão os mates.;.-., de que succede que, se hum morador, que tem a data de .três legoas de terra, e por isso teria matas para roçar v. g. em 30- annos, e jà então as terras antecedentes terião tempo de tornarem a renascerem em matas ca- pazes, e se tornarem a repetir os roçados , tem terras de sobejo para toda a vida , apenas com os escravos lhe chegão a seis, ou menos annos; ainda tem outro inconveniente, que desconsola muito a estes moradores, e he que, mandando fazer hum roçado, no meio deL- (54) le, e jà com trabalho de muitos dias, se encontra com huma capoe.ra, que uo anno antecedente foi row de algum escravo, ou com o plantamento daquehe mesmo anno; e, quando se não veja obrigado a^mÚ! dar de paragem, e pnncipiar de novo o trabalho com semelhante n f o , jà aquelle roçado fica com o seu se- não dcxando no meio aquella ilha de pequeno m T roça P s C ° at0 daS f6raS ' * Ué C03tuma0 da ™-"fic« i vos E «J m S ?°JT? ° 3 inconTCnie »tes destes escra- I°!„'- q ' e na ? fosse a precisão delles para as se nolr r ™° h ? V6r VU1 S°> nem Jornaleiros , P á ql ^ ter. P f e y oraar ' s ?.P°r pura necessidade se deveriío Penhão aT a amb,Çã °' COm 1 ue os branc <« « «- escravos- \Zl *" ^ S ' tÍ0S P and » Povoações de escravos, sendo que , quantos mais tem , mais inimi! gos tem; ma ls depressa destroem as suas fazendas fe zem ma.s gastos no seu sustento, e mais ladroeíme? tem em casa; e todos estes damnos se eWta com t J Ainda C qUa ' q , Uer ?° d ° ^ 0S P°-*> ba -• °* Ainda no caso de na~o poderem haver os jornalei- pr cisos P s°e r r v ;: °' A 6 C ° ntí ™« as escravidões J paraÓ s precisos serviços das roças, e das canoas, aconselharia aos quedem 7 , C ° nSultasse > «•*> ™do' de ecoo"™ aos que tem muitos escravos v. s- assim • rat^A n casa meramente os mui precisos^ pirá o serWco X casa, e nos sítios da mesma sorte hum ou dZ ~ saes; todos os mais aldeallos em povoação á LT como são as povoações dos índios, e P com terra S P I Z ' outrwSêT : s r dêrem , cultivar; ™° ™7^ dar ,»í ' . m aS obr, g a Ções seguintes v. s . de dar cada casal por anno hum rolo de panno f <™ Senhor, tantos alqueires de farinha v. /fa „" cf a ' a ta°ntos de h mÍlh0 ' 2 ""T ' ' taes ° at ™ C^ ias, e tantos homens de traba ho v. e vinte tnH a „ vez que o Senhorio o pedir; emfim pôllos na mesma condição, q»e tem na Europa muitas Cidades Tpo voaçoes suje.tas com similhantes obrigações a seu, Pnncpes, e Senhorios ; no mais se goVernlm etra tem como forros com justiças, e governos óue 1- -omêem, e ponhão o, J metmjs S !ZZ, ' e 9 com a (55) condição de não poderem mudar de domicilio sem li- cença. ; ,. Remedeavão-se assim os muitos damnos que disse- mos , e fieavão os escravos mais contentes por ficarem como livres: remedeião-se os damnos , porque assim , só no tempo dos roçados , com avizo se mandavão vir os precizos para os trabalhos, e nada mais; o que acabado, voltem para a sua aldêa; o mesmo, quando são precizos para remarem em alguma viagem; e todas as vezes , que são precizos para algum serviço ; e h- vrão-se assim os Senhores dos muitos gastos, que fa- zem na economia praticada, no sustento, eura, e ves- tidos para os filhos , e familias , em todo o anno , e em toda a vida; livrão-se dos furtos contínuos, que costumão fazer nos sitios; livrão-se dos damnos, que costumão fazer nas suas terras,, e matas; e finalmente de todos os mais damnos supra, como cada hum poae\ eonsiderar. Até assim ha de avultar mais o trabalho , e servi- ço dos escravos , que , por estarem com o sentido nas suas familias ausentes, Mo de procurar expedir-se o mais breve, que puderem, para irem acudir a suas ca- sas, fazendo em quinze dias v. g.. o trabalho, que an- tes fazião em hum ou mais> annos; da mesma sorte se convocarião as suas mulheres para o serviço das ca- pinações, colheitas, e todos os mais , que são pró- prios de gente feminina. A, maior difficuldade seria pa- ra os engenhos de assucar , e agoardente ,. ou para cur- raleiros, e pastores do gado, nos que tem curraes; mas ainda estes podem usar da mesma economia, so com a differença, ou condição de ter sempre actual- mente os sujeitos precizos ao serviço, v. g. dos vinte operários , que dissemos, os quaes podem andar re- vezados de três em três mezes para abranger a todos o trabalho. Em fim serão Povoações , (ás que no mes- mo Estado chamão Aldêas dó serviço) como tem as Re- ligiões, só com a differença, que nas Aldêas do ser- viço pagão os Senhores o trabalho dos operários, e nas Aldêas, que se fizessem de escravos, só darião os Senhorios o preciso sustento aos trabalhadores actuaes. Tudo isto he mostrar aos habitantes da America o; (56) muito que melhorarião se, em luo-ar A. —i. vestem, ou buscassem operário s ou L n3 l • ' * o cultivo dos seus sítios, P ;Tnu tós meno Z™ Pa - 3 necessários, uzando da cultura T u, Ihes ser,ao «a Europa', . fazenda" a * su™ ''terra? 1°*° propuzemos no 1.» Caoitulo • nn „L J ' Como pri-neiro objecto dos Ste VLZj*™ T m ° qual nunca será povoado nem ,~4 ' e sem ° Estado, porque a 'agricultura d^ve 'Ter tólTcH ^'k possão uzar todos os moradores I T' 1 ue a Bó aos que tem mult^e ^cravor "^ ^^ ia Europa 5T«Í£Í£ ° "'2 d ° S mÍlh ° S ' e P 5 ° a farinha de páo „ "^'Z deStrulr P or «uma vez ÍFÍ£r&&# « ^-^r £níe (57) CAPITULO IV. Do modo mais fácil de se augmentarem as preciosas riquezas do Amazonas com grande conveniência, não só dos particulares , como de todo o js Estado. H _J e este Capitulo ò principal intento desta obra, e todo o objecto desta . quinta parte , como taobem o seguinte. Nelle havemos de suppôr três cousas , e de attender a três indicações, A l.a supposição he a pro- videncia de operários aos habitantes do Amazonas , cie que falíamos no Capitulo antecedente.; a 2.a he. a li- cença dos mesmos habitantes para mandarem canoas as -colheitas do Sertão com Índios da repartição das Mis- sões ; a 3.» he a contingência do bom, ou mao suc- cesso destas canoas. As três indicações , a que have- rmos attender, são; l.a obviar os damnos dos Indjos ^as- sim temporáes, como espirituáes , de semelhantes ca- noas ao Sertão; -.2.» mostrar que estas canoas sap, não só aos particulares que as mandão, mas tãobem ao bêm publico dó mesmo , Estado , mais perniciosas que úteis; 3.a, persuadir a todos hum meio mais fácil, e seguro de terem nos seus sítios. , sem- risco algum, as mesmas- riquezas y que com tantos riscos buscavão nos Sertões, com tanto augmento do ^Estado , que, se agora apenas tem. carga para ; seis navios » em seis an- nos apenas a poderião transportar para , a Europa quaren- ta , ou sincoenta Náos. ... - j- Tudo isto está na melhor applicação dos índios, e operários, com melhor providencia, e.mais bem re* guiada -economia. Appliquem os , índios, e operários, com melhor providencia,, e mais bem regulada econo- (58> ^JSsn os Ind: ?- - e operâr!os - ^ e '"pp 01 ""» ' ^partição-, aos moradores,, ou seia a antiga „„. »e fazm nas Missões-, ou de ' algum ^ £££" Z rs e se p „ r : p ~%r P api r'° plssado > - i-m taveis HÍ *•' e " d0 ' P iantam entos , e Fazendas es- «o. Sertões n^Tf ih qU6 «HE2 a " CÍa Vâ ° buscar bitavd „!' qTO eu lhe * asseguro com experiências indu- c os e S!í T Se ' S ann0S ' serâ0 tant ° 9 o» ^us- fru- »utc;didr^ U - t0S i V lheS domais que amais bem a í» "^ ' Smâ0 - Sirva P ara P™a a experien- de' q So'r JT d ° MÍSSÍOnari °. 1« e > em menos cacáo „,,? ' t " lha Já em ° siti0 de2 mil Pi» de orir ™ m q - 80 Sext0 anno «avião de fructificar, e su- aleear oJ" aS vanta ^ ns a eanôa do Sertão, e podia *Z Zz? ?~ l ex P. erienc ' as de moradores particulares,. 2 a m bem Ja u$and0 da mesma industria: pois esta mesma economia se deve observar em todos ; e wê*" 00 ! 3 "" teréõ hortenses , com muita paz, « n^ozas.' as n 9 uezas do Sertão, tão arriscadas , e pe- canôa^T^T",- 6 SS ° Kuma tenta Ç a0 àos brancos " *>» •cnrionLi, T°'' V ° r e muito mara se também no segumte, ou seguintes annos , lhes suc- ceae o mesmo, porque de semelhantes successos fica- rão muitos pòr portas. de dia aos raios do Sol, e de noute ao sereno, e as- faltados das modestíssimas pragas dos . mosquitos , que 8 ii (63) bastão a dar-ihes hum grande martírio , sem terem no d,Iatado tempo de 7 a 8 mezes , outro retardo mais que o seu propno cor P o, onde tãobem aparão as chu- vas, e mais inclemências do tempo, sem em todo ellc ere m huma so noute de socêgo , e de commodidade. Daqui nascem tantas mortes, ou ao menos doenças ha- bituaes , que padecem , e lhes abbrevião a vida e por conseguinte as muitas misérias das suas famiHas , mu- lheres, e filhos; estes ficando orfaons , aquellas viuvas. Psasce taobem daqui a grande decadência, que se vê nas Missões porque, se não fossem os repetidos desci- mentas dos índios selvagens , que fazem os seus Mis- sionários , ja dos fundadores não haveria huma só gera- ção , nem huma só Alclêa. 6 wíJT ^ SÓ Para ° S Mission arios, que estão no in- tonor do Amazonas e que tem ao pé as drogas, e p*. ra os Cabos Sertanejos, que vivem, e enriquecem neste orneio, serão boas estas viagens, mas não para os bran- cos , e Missionários distantes. São úteis áquelles , por- que tendo ao pé as matas fructiferas , as podem des- íructar sem mcommodo dos índios; mas estes são unica- mente os Missionários do Rio Madeira, e do Rio Soli- moes; porem o que melhorão na visinhança das matas , e haveres , peorão na conducção a Cidade do Pará na qual padecem muito os índios. São úteis para os Cabos ^T J °!' P°T e > como este * na <^ concorrem para semelhantes canoas e viagens, mais do que com a sua pessoa, comem e bebem, e se regalão sem custo de num ceitil ' e no fim da viagem se recolhem com os quin- tos; lucrarão muito, e nada perdem; e , ainda que as ca- noas nao achem carga, e voltem perdidas, nunca elles perdem , antes lucrao todos os gastos , que poupao nes- tes ; oi to mezes; e portanto só para elles são úteis as- canoas do Sertão, e não para os moradores, para contmgen^ ° ° S **** ^ ' ™ ° S P r ° duct0S mui v*m E ,' par t, que acabem de desenganarem-se destes incon- venientes, lhes quero mostrar bem aos olhos o pouco, In .n i°k C ° m , estas u canôas <» moradores, ainda quan- do ellas lhes voltao bem succedidas. O maior prodicto, W podem trazer estas canoas no seu melhor successo (61) quando sâo bem succedidas , são mil arrobas de cacáo , ou duzentas de cravo fino, ou cento e cincoenta de salsa , que são as cargas , que ordinariamente buscão , com algumas ajudas de peixes sêccos , bálsamo de Co- paiba, e cousas semelhantes, como cousas accessorias : qualquer destas cargas que seja, conforme o preço ordi- nário na Cidade , em que o cacáo vale mil reis , o Cravo fino cinco mil reis , e a salsa a . . . . , apenas sobe ( a primeira carga ) a hum conto de reis ; tirando deste computo o quinto do Cabo, que são duzentos mil reis , e abatendo os gastos das canoas , que chega- rão a quatrocentos mil reis , e ás vezes mais pelo alu- guel da Canoa, apenas lhe ficarão de lucro outros qua- trocentos mil reis; ainda lhes concedo nos accessorios dos peixes mais duzentos mil reis, que fazem por tudo seiscentos mil reis: he ordinariamente o maior prodi- cto , a que podem chegar estas canoas no seu melhor successo ; mas tãobem se dão ja os donos por bem con- tentes , quando chegão a cem mil reis , e muito mais , quando chegão a duzentos mil reis:! E por duzentos, ou cem mil reis arriscão huma canoa grande , que lhes cus- tou três dobrado , a vida , e saúde de trinta , ou quarenta índios , e consomem sete ou oito mezes ! muito mais lu- crarião com estes índios, e ainda só com metade; ainda digo que lucrarião mais de quatrocentos , ou seiscentos mfl reis , [se applicassem só metade em beneficio dos seus sitios ; e senão vejão. Com trinta Índios podião, em menos de dois me- zes , fazer no seu sitio hum roçado de quatrocentas , ou seiscentas braças para plantamento de maniba , milho , e algodão ; podião mais fazer hum plantamento de pacovei- ras , e de cacáo , de mil pés ou mais ; outro igual de café , e de^ semelhantes outras especiarias ; mas , deixa- das estas à parte , vamos só ao plantamento de maniba de quatrocentas braças em quadro; segundo o que cos- tumão estes render nas matas do Amazonas , onde não tem tantos riscos as suas colheitas, como no Maranhão e Pará , serião os seus productos para cima de dois mil alqueires de farinha de páo , .que , vendido pelo preço ínfimo de dois mil reis , faz a soma de quatrocentos mil reis; em pouco menos lhes deitaria o milho, e algodão , (62) qne costuna semear-se por dentro da maniba , com a circunstancia ma» de que todo este roçado, ê planta! mento, fatiao o 3 índios, em menos de dois mezes ê por conseguinte seria o pagamento muito mais diminuto Os mesmos avanços terião , ou talvez mais, se, em lutar demamba, fizessem hum canavial; digo talvez ma™, po" que, como os canav.aes durão cinco, seis, sete, ou maL annos, se bem lhes de.tarcm as contas , vem a suhTr õ seu lucro ao de cinco , ou mais canoas do Sertão /-odiao taobem , em lugar das canoas , occunallo. :iir n Sen a te de .h:f as i^ e '; m . sete — . *SE5 actualmente , lhes podenao fazer se s das maiores • e como estas cobrem o preço de quatrocentos ate «i^ tos m,l reis cada huma , vêjâo até onde sobem os Bem^mes 8 d°: e tav°a T ""^ daS Canôas d ° ^tão nnr iir f- 2 "S" COntas cert0 e C ^ melho°r trado , v ambição, e se querem os Maris- perL do T mi em P ° UC0S an ' l0S mais «"gmentado o ín - Ite pronAlT ^ 3 ' UZem da mdhor "economia, que W ^1°/' e f terrem P° r huma vez as canoas do tm oo; r f r o S 0apP CaÇa ° d ° S IndÍ0S > 0U 1 ua 'q«er ou- operanos para augmentarem seus sitios, e quintas, (63) -ê tomareni-nos em grandes Fazendas; facão hortenses as riquezas das matas; e verão como em seis annos serão tantos os fructos, e haveres do Amazonas, que lhes -não poderáõ dar transporte as maiores Frotas; acom- panhando esta riqueza corn quietação, paz, e socêgo r e augmento dos brancos, e índios, e do Estado; não empenhão as suas casas; não arriscSo os seus gastos: não padecem os índios; e não se despovoão as Mis- sões. A maior difftcuídade , que pede ter esta praxe es- tá nos Governos , e Ministros Régios , que lhes dimi- nuirão muito os seus intentos. Devem estes ser os mais empenhados promotores desta economia , , e do augmento de todo este Estado; mas, como os seus maiores empenhos são encher as suas bolças , e nas ca- noas do Sertão , posto que lhes são prohibidas , tem o maior complemento dos seus desejos , receio que não .queirão assentir ao novo método r que proponho ; porem nunca deixaria de persuadir a sua execução , porque deite , quando nao se queira pôr em máxima geral de todos, ao menos se approveitarão muitos de conselho, (muito mais depois que o virem por experiência bem suecedido) cuja praxe pode ser assim. Prohibidas, e desterradas as canoas do Sertão, e feita applicaçao dos índios- da repartição para augmento dos sitios , só aos- moradores que não tem escravos suf- icientes ; (porque os que os tem não necessitão , antes r se os pertendessem , prejudicarião aos que os nâo tem ) se repartão estes índios do mesmo modo, que mandão as Leis da Repartição aos moradores , que tiverem Por- tarias , e só quantos sejâo precizos para fazerem hum grande roçado nos seus sitios , para searas de milho , tabaco, arroz, e algodão , ; ( porque tãobem se deve des- terrar, como ja dissemos, o cultivo da maniba) v. g. de quatrocentas braças em quadro , o qual pod^em fazer em sessenta dias, pouco mais ou menos; e, como çâ páos gastão tempo em seccarem , e se disporem para o fogo , no entretanto ou voltem os índios para suas Al- deãs, ou a fazer o mesmo serviço a outro morador; ou o primeiro os oceupe em alguma outra cousa para ©s« ter promptos na oecazião das coiváras, no caso de que (64) as matas não ardessem bem, as quaes, feitas, e fei- tas tuobem as ditas sementeiras , podem voltar para as suas Aldeãs em cousa de quatro mezes. IS. o entretanto, que crescem, e se fazem as searas noTeZ/n bra " C0S á P" 16 m ^ randes canteiros o« por entie as mesmas searas, cacáo, café, canela ou cravo: no fim de três mezes, em que ja as' seara e 'stao de vez, façao acolheita, e basta pira ília o mesmo mc°- rador com sua família , quando não possa achar a°W no em coutraposiçSo das colheitas de mandioca, que ne- cessitao de bastante gente. Feita acolheita do^uilho arroz, por ba.xo do algodão ja o cacáo, alli semeado' Inésn:o e : Ce :, d °H COm maÍS deSafô S° « fo-ndo'-lhe slb" os mesmos algodoeiros; nem isso impede para que aos seis mezes, se vá ja fazendo a colheita d P algodão; nem he necessário ma,s cuidado, que conservar límpo t™ iei,o de hervas, e arbustos; e basta isso para crescer o cacao, sem a precisão das pacoveiras , nem de li! sombra , que a do algodão. e ODe I rarios SUÍ £ e - ann0 ' co . nvocand ° outra vêz os índios , ouaTrnrr,»* i Ça0 0Utr0 'S ual ' e semelhante roçado de s"cca edLt raÇaS -ST^Vpai em quanto elle se secça e dispõe para o fogo, com os mesmos índios dis- do no anrn Pri T ,r0 / OÇad0 3S P Iantas do cac á°, semea- praseZr e í' e '. P °T e J a enta0 esta ^^ para se plantar, e dispor; digo plantar e dispor por- . que cu ell. fosse semeado em inteiros á p^,^ Sem V ZT^ r™ 8 ' COm ° foi ^meado P sem' Z dem e . esta faz as Fazendas i mais vistosas, 'e alegres (e asim o tem . a observado., os antigos ) bom lêrl oléZ.' . de ° ,t0 6U de dez em dez Palmos cada sòrtc ;.,,L naS £ l uatrocenta3 b^Ças se accommodáb desta Põem dl oi^ SESSenta '"'í plantdS ' e mais se as di3 " precfzão „? ^ a r'°- Pa í m0S l )ara a sombra de "l«e ffi*&lKS£ ba r a r bra do alsodao '- tíieaJÚJ n i L P f ' na forma do. costume , ou se- "c a ò nnh", ' qUe l ° S ° cresoe > e assombra; e logo ,' annó l 8 ?™ ente '« de <*«ao para a terem prompla P meno ar ?;'f e ' , n ° Caso 1 ue não queirão fazer no pnme.ro atino logo huma sementeira tal , que lhes dê ( « )■ plantas para os roçados de dois ou três atmos , o que seria talvez melhor, se não houver inconveniente em dispôllas ao depois , sendo crescidas. Com esta industria podem continuar nos mais an- nos , em quanto tiverem terras ; mas dou-lhes que só o facão nos primeiros três annos , sendo tudo cacáo , e que reservem as mais terras para sementeiras, e sus- tento precizo: nos três annos, sendo tudo cacáo , fazem liuma Fazenda, que ja dá oinco contos de réife , ou mais de cacáo , e ja~ no 4.° , ou no &° para o 4.? hão de principiar a pagar as primeiras plantas c culti»- vo , e no 6.° ja todas as plantas dos primeiros ti es annos hão de fructifiear : facão isto todos os brancos do Rio Amazonas, que eu lhes seguro lium grande thesouro hortense , sem os grandes riscos , e inconvenientes das canoas do sertão; e que ja no 6.° anuo avultarão tanto as suas riquezas, que só lhes pcderàõ dar trans- porte numerosas Frotas : porém , para melhor segurarem essas riquezas , não seja só o seu cuidado para o cul- tivo do cacào, mas tãobem se extenda aos mais géne- ros do Amazonas v. g, occupando nas primeiras quatro- centas braças do primeiro unno só cacào; no seguinte socado do segundo armo café; no terceiro cravo; no quarto canela; no quinto salsa, &c e assim , pouco a pcuco , as mais riquezas do Sertão. Parece indubitável a melhoria ; mas para a sua boa observância deve -ser observada por quem pôde = 1.° prohibindo as canoas ao Sertão; 2.° repartindo terras com a condição de só assim serem beneficiadas , e augmentadas; 3.° concedendo aos moradores os ín- dios de Repartição, os 'que se julgarem precises v. g. vinte , e só por espaço de seis annos , cousa de três mezes , ou pelo tempo suficiente era cada hum destes seis annos; 4.° pôr algum Intendente, a quem incum- ba a diligencia de examinar , e promover a sua obser- vância ; 5.° excitando os moradores com premio , e es- peranças de mais terras , quantas possão cultivar, ja com searas dos milhos , e ja com as Fazendas ditas ; 6.° impondo penas de se tomarem por incultas todas as terras, e sitios, que , no fim de seis annos, não es- tiverem cultivados ==. Tãobem com isto se evitara a am~ 9 biçío de muitos, cujo empenho he terem terras e mau terras sem beneficio algum, dando-as a quem as cultive do modo supra. H E, quando as terras não sejâo aptas para todas estas agriculturas v g . por m J t0 J ã * ™£ muto baixas, e húmidas, sempre seráõ boas para Ti gunas; e ass.m as terras firmes , mais altas, e sèccas «mo para o cravo, para a salsa, e para a caneta.' e as mais hum.das para o cacáo , 'e a s ™Iagadica S pa ' ra as searas de tagos , milhos, legumes, como "são ? i !^\-T eSfâ ° Sem!ladas P el ° Amazonas, ainda q^ estas taobem são óptimas para as plantas do cacáo q o que se prova bem do muito, que nellas ha e nasce .C" SÈ f C , UltÍV ° a 'S um: «°bem são óptima es as »« ? Jt ff zer estaveis as suas searas , sem ma,s trabalho que as semear dois, ou três annos a fio Porque ja então se naturahza naquelle alagXo para sempre como mostrão os muitos, e grandes árrozaes que ha de sua natureza nos lagos d g Amazonas ' sêcca P è an ne t Cafe > e d ° S ^adicos, e quer terra secça, e he huma das mais estimadas plantas neln muito que carrega, e fructifica logo no segundo ou terceiro anno e por isso deve levar huma d?s primeiras attençoes aos lavradores do Amazonas; nem parT^ co- alhe L c nr n ,o , apanhall ° *■? Arvores - •*«• ~- *at lhe limpo o terreno , e , de quando em quando varrer, alimpar do chão as fructas cahidas : Tdeste' T>el aZem COm J maÍ . S faCÍ,,dade » *«™ «ottSSr Desta mesma mdustria, e applicação dos seus v,V te e cmco escravos deverião uzar nas suas Missões os seus Missionários , concertando com os seus neortitol algum terreno sufficiente, v. g. de mil braças ?K isKrjír °\ mes T p' a -~or ç Nem e te n £ faltem Z T ' "* fim de ties ou ^atro annos, lhes euT™ • / C ° m *" P° ssâo "»*« »*m faz^êr os sidad e P s ZT^ 6 aC ° dÍr ' COnK> costumSo > ^ necel lho? o„e «. ' P ° r - qUe r tes ° P° derao ««« me- sahèmm,?* aS Ca "° as do Sertao ' CU J 0S produetos «nZteT ^ ST a .°- S P ° breS Indi0s ' e *» m " ito con- tingentes; e ate então serão menos os gastos, coma (67) feem advertio hum zeloso Missionário , porque hum dos maiores gastos , que fazem os Missionários das Missões , são os pagamentos dos ditos índios, compra, ou fac- tura de canoa , e seus aviamentos : e , como desta sorte se evita a dita canoa, e viagem, e se faz desistência dos ditos índios, de que no terceiro ou quarto annoj a não necessitão , ahi poupão , e evitão todo esse dispêndio , e táobem os empenhos das suas Missões , ou pelo mao successo das ditas canoas, ou por nao as poderem mui- tas vezes expedir nas occasiões dos contágios , que cos- tumão padecer os índios, ou por outras causas, que podem succedêr» E tãobem assim r supposta nos brancos .esta eco- nomia , se conformão melhor com elles, e as colheitas do Sertão fiquem muito embora para os brancos , a Missionados, que 14 lhes ficão ao pé, e, tendc-as á mão, bem se podem utilisar delias, sem os inconve- nientes su£ra, ainda que tãobem farão melhor, se as fizerem hortenses, como as mais. Ora cortemos ja de hum golpe, visto termos este meio, e subterfúgio, tao fácil de termos as colheitas, que buscámos no centro das matas. Attendâmos tãobem aos filhos, e famílias dos ditos índios, a quem se po- dia chamar, com mais razão, orfaos, e viuvas, pela longa ausência dos maridos] tudo se remedeia com o cultivo supra; e até se provocão, e excitão os mesmos índios a terem mais curiosidade, e cultivar nos mes- mos sitios as riquezas do Sertão, visto serem macacos dos brancos , e fazerem o mesmo , que vêm fazer? e ainda a isso os devião exhortar , como tãobem á agri- cultura , e cultivo supra das searas dos milhos estáveis, pelo muito que tãobem nisso melhorão. Este he pois o meio mais apto, e accommodado pa- ra todos os habitantes , e moradores do Amazonas , não só para os que la ja são existentes, mas para todos os mais, que hajao brevemente de concorrer a sua po- voação, seguros da abundância, e fertilidade daquelias terras , e poderem cultivar as Herdades , que naqueUe Estado possuírem , convertendo as suas dilatadas matas em Fazendas estáveis de muitas riquezas, e suprindo som os índios da repartição das Aldèas a falta de 9 ii (6*) e?r.-a-Ds , sem mais requisitos do que a sua melhor an-. plieasao para o augmento dos sitios , no lugar das ca- noas do Sertão: advertindo 1.° que todas essas. Fazen- das, que forem, fazendo , ou sejão de cacáo , café , ou &c. S3 vão amparando com algumas outras plantas de arvores fructiferas , como laranjeiras, abacateiros, biriba- zeiros ticombazeiros , e outras, pela grande utilidade que fazem nestas Fazendas, não só pelos, fructos, com que as fartão , mas tãobem pela sombra, com que am- parão. as ditas Fazendas , porque tem mostrado a espe- nancia que, quanto os cacuaes são mais sombrios com- esta-, arvores, tanto mais florecem, e fructificão; e ia os moradores antigos conhecerão esta verdade; o que posto sem perturbarem as direitas, fileiras, e vistosas ruas dos plaatameixtos , podem intrometter-se outras ar- vores ; de trmta a trinta palmos huma laranjeira; em outra fileira huma outra espécie; e assim nas demais. .Sei dehum morador, que, cuidando- melhorar muito huma Fazenda de cacáo, que tinha á sua administra- ção , mandou desassombralla de varias outras arvores que tinha pelo. meio; mas no effeito conhecêo o oran-. de damno, que lhe fez: advertindo 2 o que nas plantas do cravo, que tãobem devem fazer hortenses . se deve mudar do sistema, que tem introduzido o uzo., ou abu- zo ; he este não approveitar a sua flor, e cortar as. arvores para lhes despir a casca, que só. approveitão ; este abuzo he tão opposto ao bem, commum, e ao augmento da Estado , que por tempos o. ha de fazer totalmente estéril dessas tão nobres, e ricas plantas, como ja a experiência tem mostrado nos Rios., em cu' jas margens, erão todas as matas cravo, e mais cravo, e agora apenas com muita diligencia se acha ja huma planta , desorte que ja os Sertanejos o vão buscar muito ao centro, dos matos , com, muito custo , e risco. Devem pois tãobem. os que tem a, seu cargo o bem commum desterrar totalmente este abuso, e intro- duzir nova praxe: k° incitando os. moradores a apro- veitar a sua flor, que he o que tem de mais, precioso o cravo, e he o que só aproveitão os Asiáticos desta jxanta; o que no cravo hortense, e cultivado , será íacil ajuntar na terra. ; 2,° prohibindo o corte e (60) destruição das arvores , para lhes despirem a capa r vindo assim humas tão bellas arvores a servirem huma só vêz em sua vida , quando podem durar, e fructificar séculos : mas , sem as cortarem , e deita- rem por terra , com escadas proporcionadas lhes podem tirar a dita casca , de baixo até acima , posto que não seja com tanta facilidade , como se as deitassem por terra, porque assim farão as suas colheitas por muitos annos, e terão Fazendas estáveis por toda a vida; e, para que ellas não sequem , lhes deixem sempre algu- ma fita , ou tira da casca ,, debaixo até a cima , porque pela casca he que as plantas atrahem a humidade. B, se alguém estranhar o eonselho , peço-lhe que me nãó condemne antes de experimentar , porque julgo que sò tem contra os Sertanejos ; e saiba que , deste modo , he que na Ásia , e mais partes , onde ha a canela , lhe despem , e tirão a casca ; e bem aviados estarião os Hol- landezes, se na sua famosa Ilha de Ceilão estivessem com tanto cuidado , e ambição cultivando a canela para , ao depois de arvore , so delia se aproveitarem huma. vêz : não secção as plantas ordinariamente r senão quan- do as despem totalmente da cortiça , ou casca ; mas , se lhes delxão alguma tira , debaixo até acima, tornãa a criar nova camisa , e ja aos dous annos estarão ca- pases outra vêz de nova colheita. A mesma advertência serve pára a canela , assim, ordinária , como a chamada casca preciosa , ou canela de Tunkim ; e para a capa do pão Umeri , que , entre todas as referidas;, deverião ter a primeira estimação ; i mal empregada planta nos matos do Amazonas I * r grande, thesouro daria, cultivada nos sítios , a seus donos, e só no bálsamo, que distila II as Baunilhas , de que poderiãa os moradores fazer boas parreiras nos seus sitios , e quin- taes , com mais utilidade y e conveniência, do que as parreiras do Maracujá, que cuitivão, ao menos as po- dem plantar ao pé das arvores hortenses y a que se en- costem ; e finalmente podem fazer hortenses todas as ri- quezas do Sertã© , o puxerí h guaraná , anil , a eapiran- ga &c. ; e não devem estar atidos os moradores do Ama- zonas em as terem pelo* matos;, porque lhes podem fal- tar os índios para as hir buscar, canoas,,; e mais pre- (70) paros &c: alem de que, nas colheitas do Sertão só aproveitao os facto, maduros, que achão de vê7, e per- dem todos o, ma», q„ e aiuda não estão; nos si io. "pE rem aprove.tao todos sem dependência de ninguém! ^ Advirto 3.» que eu nesta applicação dos índios d. Xco Ça do S P r md<> S£ * P ° de ™' oa na0 obr £ -o serviço dos brancos , porque com isso me não metto S e naT o qU H he materÍa ' tã ° ° dÍ0Sa aos b™ do Ama ZOnas dizer que não se podem obrigar os índio. correm ST'^' f" ÍnjUrÍa de SUa liberdade ' 1« í* he não sóS.? qUm ° fc P ° r 1 ue ° ^«empenho rião Zí™ ° br 'S allos > m! * ta-obem, se podessem , os fa- emL H e ™ S ; e, como sei deste empenho , pres- ou voln„ t qUeSta ° ; d,g ° P? rém ' 1 ue > ouse J5o obrigado., Sertão como"' f ? hí ° de a PP licar nas can ^a S do Sertão como costumao, se appliquem antes para o be- oue Li"?,' de Cada branc °. Pd- grande P me!l°orb. que d,sso resultara aos mesmos brancos, a todo o Es- tado e aos índios ; até estão os índios menos tempo dem cl f SET*' • *«***, e, se adoecem?™»! dem com facl.dade remmetterem-se ás suas Aldêas , on- de serão assistidos pelos seus Missionários, não só com os remédios do corpo, mas até com os da alma? T e são os principaes : que esta praxe, e cultivo das terras e sítios de cada hum, se não pôde bem praticar ha-' vendo nos sifos mu ta gente, F e o costume antfJo de cada escravo fazer á parte, e separados os seus°roca- dos , porque tantos roçados serião impedimentos e gran- de obstáculo ao cultivo, e continuação das Fazendas- vah,rf er » H lZ6r C ° m T> qUe !, 1 Uem tem muita e *™-' vatura, a deixe, e despeça de sua casa, e serviço para poder com mais commodidade cultivar em boas Fai zendas os seus sítios; mas digo que, neste caso, me- lhor he apartallos em terra á parte . donde se posTão buscar no_ tempo do serviço, como dissemos acin/; o„ em^mT* ^ ? Ça jUnta P, ara t0d0s huma ^menteira em hum so roçado; mettendo-se em uso as searas da Europa; nao tem isso difficuldade alguma, fazendo e S - Ólntnn» r e u 3e T adura: mas > ainda no «=aso que í.um". U 6 roç^ô nKa ^ Pá0 ' " PÓde ** Para t0des (71) Advirto ultimo que, no caso de que algum morador nao queira , ou não possa adquirir , nem entrar na repar- tição dos índios , nem por isso deve deixar de usar a praxe , que lhes proponho , do cultivo , e augmento dos seus sitios , porque podem então usar da praxe , que atraz lhes ensinuei , e o modo dos tapuias selvagens, que he o fazer seccar o arvoredo , dando-lhe hum golpe á roda de cada tronco só na casca , depois de alimpar o terreno dos pequenos arbustos, porque isto he tão fá- cil que cada morador , só por si , pode fazer ; e sirva tãobem este aviso , para quanda em algum tempo faltar o refugio dos índios , e quaesquer outros operários. Nem esta tem outro inconveniente mais do que não disporem então as plantas , que plantarem , tão bem compassadas , como nos roçados, por lhes impedirem os páos, que fi* cão , posto que sêccos , levantados. Mas nisso vai pouco , e , pelo tempo adiante , hirão cahindo os madeiros , de sorte que , em poucos annos , lhes ficará o terreno ex* pedito. Basta de agricultura ; agora diremos o methodo s com que , supposta a praxe deste cultivo , e terras esta- Teis, se pode com facilidade povoar o Amazonas.. (72) CAPITULO V. Do mais fácil methodo de povoar o Rio Amazonas. acilitada , do modo que temos dito , a agricultu- povoacao"^ Ti inSÍnUar ° modo ■»« ftcil^d. sua EZTdJ S d 3 ' 3 matória hum dos maiores «*»- Ílí nossos Portugueses, e tem apontado para tem Si ' ri í, tn 9S '- maS tólveZ 0S mesmos "leios , Lê tem buscado lhes põem obstáculos ao fim, que perten- dem. De,xo de relatar alheios pareceres ; só proporei o SSVhST -° CCOrre ' 1 U6 a Vencia de muUos a», nos de hab.taçao.naquelle Estado me persuade ser o nta genumo, e fácil , ainda que não duvido que se possao uzar muitos outros, que lãobem ajudem ao mes! cultura' oT "* eStrÍbad ° S "° n0V0 methodo *• V- ía, 1 l q /° pUZemOS: assim na estabilidade das ter- farinha T^"™' COm0 D ° maÍS Mun<3 ° ' e «berrada a lannha de pao; como no subsidio dos índios e do, jornaleiro, para o augmento dos sitios; porque sem se por em uso o cultivo das searas com terreno Vstavel e llrTTZt: da - maUÍba ' eSCUSad ° he wEJíè. para a sua povoação , por mais quesecancem os arbitris- tas, porque tanto ma: S dificultosa será a povoação d do erãT e n ° m US ° ^ FarÍ , ha de P à °' <=omo P facil Ç »o uso prax! ; «„h S6araS d ° S mÍlh0S: e ' su PP° sta a •« para fi,L A^f parfc ' Ça ° dos Indios das Missões «ara a ,n„ "* ^t ■ pMA ° Servi ?° dos bra "«^ - e meio na?f Ua - d °? Ml33 ,' onarÍOS ' vou ja a propor hum a. rSciímtt: . se ter bem povoad °' ~ - Assim ap^lioar-32-hr^ os índios da Repartição , as* ( M ) «ira os dos Seculares, como os dos Missionários, «a foz$r Povoações, e searas, em que se recêbão 06 bran- cos , que de novo se transportem ao Amazonas ; e , quan- do os pertencentes aos Seculares se não possão escusar para o trabalho , e augmento dos sítios , que propuse- mos , por não serem sufficientes os mais meios de haver .operários , e jornaleiros públicos , basta então os 25 ín- dios da repartição dos Missionários , que ja suppômos «scusos pelo subsidio de alguma Fazenda estável, que lhes dê annualmente huma estável , e sufficiente côngrua, commutando-lhes os insanos trabalhos das canoas do Sertão era fazer huma Povoação nova para os brancos , quanto basta para principio , e\ agasalho , porque , para ^adiante , os mesmos novos povoadores , pouco a pouco , hirão levantando moradias mais vistosas e accommoda- das , conforme a sua vontade ; ao principio lhes basta humas ligeiras casas , semelhantes as que usão , e tem nas suas Missões os mesmos Índios , e ás que kvantao , no principio dos seus sitios, os brancos naturaes. Este pois he o meio mais genuíno de povoar as fertilissimas terras do Amazonas f só com fazer nova ap- licação dos índios da pertença dos Missionários em fun- dar Villas para os novos povoadores , tomando cada Missão á sua conta fundar com os vinte e cinco índios huma Povoação; e muito mais, se tãobem se applicarem aos mesmos effeitos os índios da repartição dos secula- res , porque deste modo em cada anno se augmentarão .no Amazonas tantas mais Povoações, quantas são as suas Aldêas. Eu bem vejo que não poderião ir logo de repente , em Jbuxn anno , tantas famílias , e moradores , que fos- sem sufficientes a fundar de repente tantas Villas, ou Povoações: mas digo que, se isso fosse possível, náo seria da parte dos índios das Missões impossível, por- que com faeil providencia lhes podião ter promptas mo- radias sufficiente* em bellas paragens, que se elegessem e os viveres os mais necessários , como são milhos , e legumes sufficientes para o primeiro anno , ou ao menos até as segundas colheitas; e deste modo da parte dos índios basta hum só anno para fundar" tantas novas Vil- )as 3 quantas são as Missões; e a lasão he porque bas~ 10 (74) tão vinte e cinco para, em quatro mezes, fazerem ftnth roçado de oitocentas braças, pouco mais ou meie? ™I",»r e | Cert .f C ° B hUm maÍ e *P eria * a ' a do Missionário' natural daquellas terras; mas bastão quatrocentas até quinhentas braças, o que farão em pouco mais de dos roçado J2 r^ 113 * f 6 Se ele ^ êrem ■ em ^^to o roçado sepoe capaz de se queimar, occupem-se os índios em buscar esteios, e mais materiáes, qChTo £ *£k p r n as t casas - ° r ihes p° derá '^ o"t ros d",: mezes, ou o tempo que for necessário até estar o mato : trtf paz f da qu , e, T : e,ie queiraad »> * «4^* do ' " 3 ' Se f f ne J le huma semeadura de milho grau- tumaT*' e . a, R° dÍ0 (l ue to^s estas cousas se^os- ÍZ! ra ? mear • ,Untas n0 Plantamento da maniba ) e no c~"e '.n " faz - a Seara > P° dem os índios app™ Hl a 0Utr0 servlco > congruente ao mesmo fim, ficando »r a M MM CaSaS a tratar das suas lavouras, cwf o !r m r v, ?; a . das searas > em *»>*> 5k cnega o tempo das colheitas. - roçado, S ! nd ° Sfi V0ltem os Indios a fazêrem «ovos lho ° 3 ' e '.. como *»semos que para as searas dos m i- Jhos sao optuna. as Ilhas, e terras alagadas, das Z». lhes ficarem ma.s visinhas podem fazer \stes 'novos To- W„ S ' I en J tretant0 ' q«e elles se secção para o fôeo Jazem os índios, e índias (que he lá annéxo ás mu' ÍSm%iSS^'' ° U P ar ' e d el.e) a colheita dos prl 3J« ados > oujos productos ja podem servir paraos fs nòtof ' V° qUe SObrar Se va J a ™ervand P o para acabadas W£?' *" "' *° ta Se * UÍnte se es P erem * acabadas as colheitas, se entra na diligencia de levan- neiro T" T u"™ ' ^ e * fica eXpedito > dos pri- t,ó ' 4 - end ° hl ' ma oomP^da correnteza á borda do Da°a'J U te para cineoe » ta ' on cem famílias, ou para a, que se esperão; e, como ja para elles tem pre- paradas as madeiras nos esteios, ripas" e folhas de £1 em bL7tlT r d ' e / r T S tem nos ma tos cipós à escolha, em breve tempo podem levantar as ligeiras moradias, por- que, sem mais petrêxos, assim o uzão , e fazem os In- o cenanêTof P ° VOa< ? Ses ' °s brancos nos seus sitias e nece^ a â J °nv na r\ SUaS Feit0rias : nem na verdad « •* »«c,saua n&Ss fabr.ca para a terra, que só necessita (?5> de coberta para a chuva, e de sombra para D sol; e, como para semelhantes fabricas todos os índios são prá- ticos , e mestres , não necessitão para a sua erecção ou- tros architectos, ou engenheiros, nem ainda carpinteiros mestres, porque todos os índios sabem buscar, e ae- commodar os esteios que tem nas matas á escolha, ou ripas dos troncos das palmeiras , e nas suas folhas as cobertas; e, em quanto andão nesta tarefa, ou acabada ella, como ja então estarão de vez os segundos roçados para o fogo, acabados elles de queimar, se facão ou- tras colheitas das mesmas searas , è se continuem ou- tros roçados, assim na visinhança da nova Povoação, que ao depois hajão de servir para área da \iila„ e desafogo dos ventos, e horta dos moradores, como tâo- b«m nas sobreditas Ilhas , até de todo as alimparem de matas , e ficarem campinas estáveis para searas perma- nentes. Advertindo que para todo este trabalho bastão os vinte e cinco índios , ja ditos , com algum capataz , quô os dirija só no tempo , que lhes fica desoccupado das suas lavouras , porque , como estas Povoações devem ser em pouca distancia das Missões vismhas , podem voltar , quando lhes seja necessário ás suas Missões , e rocas , e por isso lhes será o trabalho mais suave do que as canoas do Sertão, e dentro de hum anno , po- dem desta sorte fazer cada Missão huma nova Villa para cem famílias v. g. com moradias, e sustento suf- iciente para hum anno , ou seis mezes , e terras dis- postas para poderem continuar lavouras para os mais -annos. , . Com a mesma facilidade se podem levantar huma ramada , com a decência preciza , para servir de Capei- la aos Povoadores como remédio, em quanto se nao faz Igreja, mais capaz, e digna da Divina Magestade , com alguma accommodada moradia svo pé para a resi- dência do Parroco. t E quem duvidará que se possa, & ó em hum anno, sem perturbar os índios das suas lavouras , e só com vinte e cinco obreiros , fazer huma semelhante Povoação no Amazonas! saiba que eu o vi , por experiência, na Missão do Araticú, oi.de estive, porque, tendo-se queimado toda a Povoação , que Le (75) d Í S a í màÍS ^ merosas • 1 ue tem o Amenas, em hum ã:** a , DreSm !**■>'•■ q-" ainda eíSS- !!, a "^?, a P? rfe, 9oando, -pouco antes da rainha hida e nao obstante humâ grande fome e carestia d " fZ, t ' por nao poderem osSndios W/^X" d' ^vo de sorte que lhes foi necessário pedir 'e levar *» mSs t m to r°r ^ ^ nhaS ' -™ tudo em seis mezes )a tudo estava remedeado com casas feitas roçados, e plantameatos de maniba feitos. Igreja e ca-' te qtTa c e om' a f oH° Mis / ionario ' 1-si acabada de sor- OmdÓV e sá Z f u deCe " C ^ Se celeb ^^o os Divinos cS iitern^s - ? * Retábulos ' * algumas miu- nío traMhf aô H a C,rcunstanci * *» que os índio* £ST SFr? =; «tias s 5 rã S~ ~ '•=* "-»•= que he *SS£5' 6 C T/ e SObrad0 ' ao seu ™°°o. tírí, J ♦ L? °, s sobra<} ° s . e paredes, á roda dê £.e Má „£ ^ ' - f6Íta ? d ° tTODC0 das Palmeirastl por! ^commum P fl e r ra h,, Vmte ' """í ^ "^ando sás muito mJ T - Uma correntêza send ° es dos lhos ' al g°d3es, e legumes. ix>rt a r ITl ° 0m ° Serà mora l™ente impossível o trans- po oadCs eTnXr ' e ^ huroa * ™* . tantos pente tZ,! S raillas .' 1 ue cheguem a fazer fogo de re- não he n Po 7 oa Ç8es mais, quantas sao as Aldêas "a Po oaç e ã C o SSa basta qUe *? 2** «* ^ hu ™ ' °- cessarias 'ara os 1 q V" %ã ° " ó as 1 ue fôre ™ ™~ «nas para os povoadores, que commodameme po- ( 77 ) iterem ir em cada Frota , e assim mais commodamente se poderão fazer estas novas Villas , concorrendo para cada huma duas, ou três Missces juntamente; e assim podem três Missões, v. g. em três aimos , fazer três novas Povoações para Europêos , concorrendo todas três juntamente com os seus vinte e cinco índios cada anno, porque fazem ja então setenta e cinco operários , que são de sobejo para semelhantes erecções, e podem logo de huma vez fazer hum roçado de mil braças em três mezes, que sirva não só de área a Povoação, que.se pertende , mas tãobem de bons campos para as searas ; em quanto elle se sécea , tem tempo de levantar as mo- radias , e depois delias outro semelhante roçado , e eom o producto de suas searas, e colheitas , dão ja bastante* terreno , e sufficiente fundação para huma Villa , Xjue no depois se augmentará pelos seus mesmos povoadores. E para mais , e melhor mover , e excitar os índios á dita erecção se podem certificar , que nisso se lhes commuta o trabalho insano das canoas do Sertã©, e que só hao de erigir huma Villa cada Missão, e não mais: e, como nisso, interéssão tanto, facilmente se excitarão ao trabalho, e só os poderá intimidar o susto, que ao depois fiquem obrigados ao serviço dos novos povoado- res , pela experiência , que tem de que todas as Povoações de brancos , que há antigas , tem designada para o seu serviço alguma Povoação de índios , que lhes fica mais visinha; porem esta suspeita se lhes deveria tirar, as- segurando aos ditos brancos , de que elles mesmos se hão de servir a si, e nào he pouco o terem ja terras de sobejo, e todas óptimas , que as possào cultivar, quando na Europa, donde vão, não podião talvez al- cançar hum palmo de terra; e, se se pozerem por elles alguns apaixonados, dizendo que na Europa nâo ha ma- tos , que cortar , e que tem os campos diverso cultivo do que o Amazonas , respondemos brevemente que por isso se lhes dão ja expeditas de matos algumas terras , em que podem uzar da mesma agricultura , que na Eu- ropa ; antes se deverião transportar , e aldear só com esta condição de cultivar as terras com as searas de Europa , e não se acostumarem á farinha de páo , e já «ntão farão as terras estáveis , sem si precizao de todèa (78 ) os annos cortarem novas matas : e esta he , a meu vêr a causa, porque as Povoações antigas dos brancos nênho ™T nt ° S <' nem rÍ( ^ zas > P°^ 8 todo o em pênho, e todo o tempo se ihes vai em cortar matas « mais matas para o cultivo da maniba, e nunca por mais que trabalhem, tem terras estáveis. ' P * f a Í!f ,Xeín " Se ° S SSUS mora( i6res da farinha de páo L, « "5 SUaS tGrr f eStaveis com as seara * dos m^ lhos, e das mais da Europa; e logo terão fartum nao precisar õ do adjutorio dos índios, e lhes ficará SitarTm ^ I S "* 0CCU P^es : e, para « JtaTSS! ° S ° S n ° V0S P ov o^ôres, tãobem Síjyfíí ° P 1 ™?? 10 * se d ^em acostumar ao exer- aTescari, ° S0S í >ffiCÍ0S de Re P ublÍca > principalmente dação o ' CUJ ° ° ffiCI ° Será > no Principbde sua fun- aacao , o mais precizo , em razão de não acharem , nem poderem achar pelo Amazonas acima o sustento da vT lhA SP SE ridencia 1 S0 ha ™ Cidades; por i sso se lhes fará indispensável o uzo da pesca, e para isso logo que se aposentarem, deverão determinar os pescai destes P o mZ ° S ( ° S "? n , e ° fòrem ^ Profissã-o, em falta ™l* V qU8 Se J u % arem m ais idóneos para isso ) e para que mes não falte este subsidio, se lhe, devem ad r i a n?I° ÍIlpt i S - lg * UmaS canoinhas 5 e para o tempo adiant. poderão ou continuar semelhantes pescado- S^âSLS alg ' uma outra p rovidencia > de *■ A maior di fficuldade de semelhantes Povoações são os gastos precizos , assim dos índios operários , como no transporte, «onducçao , e alojamento dos novos po- voadores; mas para isso não duvidarão os Senhores ±íeis concorrer com os precizos gastos, visto que todos redundao em augmento do Estado, e, pelo tempo adian-: te taobsm augmentão a Fazenda Real. Em quanto aos Índios trabalhadores com seicentos mil réis ficão satis- feitos , porque o maior gasto será o pagamento dos seus jornaes, g o sustento basta-lhes o da farinha de pao ou da farinha de milho, o mais correrá por con- ta dos pescadores, que continuamente andarão no mar (os precizos ao numero dos trabalhadores), do mesmo «wdo que íaze.n nas Feitorias dos Sertões; o ponto es- ( 7-9 > tk que lhes dem a ferramenta , Ee instrumentos necessá- rios ao trabalho , que pedem ser dadcs , ou empresta>- dos , e consistem em machades , fouces , e outros mais. Para a boa execução da obra, se deve dar a sua. incumbência a homens práticos, que assistão aos traba- lhadores, que os saibao applicar, que mandem fazer as colheitas, e reservallas em paióes,&c, e, se julgas- sem mais conveniente dar esta incumbência aos mesmos Missionários, em tudo se veria o melhor acerto: iefr porque são os mais práticos da terra; 2.° porque nas suas Missões tem ja a experiência de semelhantes Po*- voaçoes; 3.° porque sabem applicar melhor os índios com suavidade , e Caridade ; .4.° porque ja tem os ins- trumentos ou parte delles, e officinas para es seus con- certos ; 5.° e principal porque . serão mais diminutos os gastos da Fazenda Real ; por cuja conta só deveria correr a despeza , porque os brancos só attendem à sua maior conveniência , e , com tanto que elles enchão as bolças , no mais da-se-lhes pouco que as ageas cor- rão para baixo , ou para cima ; do que ha provas evi- dentes a cada passo , como bem mostrava , em hum cu- rioso livro, hum grande Ministro de Portugal, pela ex~ periencia , que teve no Vice-Reinado da índia. Foi este o Exeellentissimo Conde da Ericeira, ò qual, vendo naquell as partes da índia, os grandes gas- tos, que fazião as Feitorias na direcção dos seculares., que avultavão no dobro de outras administradas pelos regulares , julgou devia , como fiel vassallo , noticiar â Magestade Fidelíssima do Senhor Rey D. João V. , de glo- riosa memoria, hum grande tratado, em que mostrava ad ceulum, com factos , e experiências, que a Fazenda Real lucrava o dobro , e mais , admnistrada nos Ultramares pelos regulares: hum dos factos era o concerto de al- gum Barco Real, que em administração dos Ministros Régios avançavão os gastos para cima de cincoenta mil xerafins ordinariamente , e varias vezes ,. que por razões particulares se pedio aos regulares de certa Religião to- massem à sua conta esta incumbência, nunca os gastos Eassavão de vinte mil, ou pouco mais: bem o expressou uma vez hum destes Ministros, que, entrando a visi- tar os ditos regulares > começou por galantarias a ex~ (80) clamar contra elles , de que lhe tinhão damnificado m 2a U nL e H aiW ° P"" ° im 5 de 20 mil ^rafi n r que t^ ganhado no concerto do Barco e ainda „„ f n galanteando, dizia a verdade ' qU6 fallava Minis^' 6 hVr ° traZÍ1 dS Indi1 ' °" de o c °«n>°*. o dito os seculares mteressados ; e não atlendendo ás suppl™ Douto «. tos regul T> p ara nSo fa "» fcrfi ponto tao pnncpal da sua obrigação, e fidelidade o S aP no e3e,lta t r a ° dÍt ° Senh0r Rei > o ^H Íuem P dên U ?l" temp ° : e « Sabend0 05 Ministros, a XsuadUlo .fi . r ' ? »«»*■*>., trabalharão por aissuadUIo, e finalmente, vendo-se por huma parte im- pedido a appresentallo, em rasão da grave P doeniã que oppnmia o dito Senhor Rei, e por e^par^im-' f os Sm* ir aç r dar F eLrr^ és dos «S a FaZeUda Rea1 ' P° r ^em ko plZ t dos M s S ?o'J 0m0 alheÍa ? ^regulares, especlalLní piritual sèn !T' ^ * Ó deV ^ m attónder a ° bem es " méramene L nr d3 ^ "^P 1 »'"*. e no temporal só bTm Tsniritua P n ' ' conducente a poderem faser o W. ? P > D,g0 P° rem 1 ue - se quisessem os resu- ltes tomarem à sua conta, em cada Missão , o funaar huma Villa para novos povoadores, serião sem compara íecularL? 9 °* men ° reS d ° < > ue na administração P dos «eculares; porem neste particular se decida o que se mé!tes ra a a 'DpT VenÍent f ' P °T e , ***** ha secuIa ^ es £ «Su ' e zelozos do bem commum; e, entre- gando-se a estes a incumbência, os Missionários da- ú?Ct£r" P"* a ro ^ aria das mata9 > plantamentos , ou semeadura das searas ou erecção das moradias, e ™J?L- f 83 '^' t50bem Im3ia3 P lra o S <=™Ç°> q«e ffiK fa * S1 ' daS ca P ina Ç5es, colheitas, &c. sem que para isto seja necessário estarem ausentes tanto tempo, eomo os qne de outras Aldeãs se costumão dar para a^ (8Í> farinhas, porque, acabada qualquer tarefa , podem volta* para suas casas, até serem outra vez necessárias: nem„^ acompanhando a seus maridos , terão difficuldade , prin- cipalmente sendo a fundação ao pé das Aldeias, como supponho. O Segundo meio , com que taobem se podem povoar as terras do Amazonas , he licenciando , e ainda exhortan- do com prémios os moradores ricos, e Senhores de muitas terras , e escravaturas , a que facão por sua conta as Povoações, que quiserem, e poderem, com a espe- rança de serem , pelo tempo adiante , seus Senhorios , Capitães Mores, ou semelhantes regalias; como tem na Europa, e mesmo no nosso Portugal-, os Senhores de terras , segurando neilas os seus Morgados , pois vemos que deste modo se fundou a Cidade de Olinda ou Per- nambuco v a villa de Tapuitapéra ( hoje Alcântara) no Maranhão, as Villas da Vigia e Camutá no Pará, e muitas outras ; e talvez que , levados da conveniência è regalia , que se contrahe com semelhantes fundações, ha- veria muitos Vassallos , assim do Reino como no mes- mo Brazil , e Para , que se empenharião neste projecto ; e por fim tudo vem a redundar em beneficio da po- voação, e utilidade publica. Lembra-me aqui a repulsa, que huma vez se dêo a hum Cidadão do Pará, que queria fazer à sua custa huma Igreja, de que muito se necessitava para Freguezia de todo hum Rio, só unica- camente por não gozar a regalia de a poder appresentar i condição única que pedia; sendo isto na Europa tão costumado. Que ditBculdades ha em conceder regalias, que não custão hum real , por serviços tão úteis ao publico? com tudo por semelhantes negativas carece o publico de muitos bens , e augmentos.. Quem tem muitos escravos, e gente de serviço, pouco trabalho , e difíiculdade pôde ter nestas funda- ções , pelo modo que ja dissemos , e só a terião . nof transporte, e condução dos povoadores, mas, como es* tes enteressão tanto na bondade ■•■ das terras, que vão povoar, mui pobres serão se não poderem ao menos pagar a passagem , porque o mais que he preciso para principio do seu estabelecimento , (de terras , e viveres) là o hão de achar , muito principalmente tendo ? e ha- H (82) vendo, como costumao, os bens moveis, e utensílios de casa. Tem pouca dificuldade os ditos Senhores de escra- vos e gente de serviço , porque basta só que apliquem os ditos escravos a fazerem os roçados , que costumao fazer para a mamba, dous ou três annos ( quando não possao ou nao queirao em hum só anno ) conservandc-os limpos de matos, e semeando nelles searas de milhos, cuias co- lheitas, e productos vão reservando em tulhas para ia terem meia obra feita, e meio caminho andado. Outra meio sao os tijupares para receber os novos hospedes; e isto podem íazer, ou nas suas muitas terras, ou em outras , que melhor se julguem. O terceiro modo de povoar o Amazonas he convi- dar com os prémios, e licencear no Reino a todos os que queirao povoar aquelle Estado, promettendo-lhes ter- ias óptimas, quantas possão-, e queirao cultivar; e só com esta esperança não duvido que hajão numerosas Companhias de Forasteiros,, que se convidem huns aos outros para se aproveitarem das terras. São estas Com- panhias huns aggregados de inteiras familias , que , con- correndo igualmente , ou como podem, para os gastos, e elegendo algum Capitão, que os governe, se resolvem a correr o Mundo, e buscar fortuna. São estas Com- panhias tão uzadas , que muita parte dos Ultramares com ellas se tem povoado ; e as nossas Minas do Bra- sil assim he que se tem descoberto, povoado, e auc- nientado; e tem lá a nome de Bandeiras, porque ca- da Companhia de quarenta , cincoenta , ou mais familias obedecem a hum Capitão, como soldados, eleitos de- baixo de huma só Bandeira. São mui frequentes estas bandeiras no Brasil , ainda que ordinariamente se fazem com o intento de descobrir ouro, e Minas , e, onde as achão^ ahi fazem alto, e se arranchão. y São como hum pequeno exercito, posto em marcha; ievao viveres , e todos os seus bens moveis ; todos os . dias tazem alto , e se arranchão para passar as noutes ; e , quando vão sentindo demaziada diminuição nos vi- veres , como tudo são desertos, e nào tem onde os comprar, se arranchão por alguma temporada em alguma paragem e nella fazem searas copiosas de milhos , em emas colheitas, e productos, no fim de três mezes, fa- < 83 ) zem novos provimentos, v. g. para seis mezes, e, aca- badas, tonio a fazer a mesma diligencia; e assim an- dão mezes inteiros, € as vezes annos , ate darem com al-uma Mina , onde finalmente se arrancbao primeiro em barracas, que levão na sua comitiva, e poroso se chamão estas Povoações Arraiáes : daqui vem o conser- varem nas Minas ainda muitas Povoares este nome, difíerencadas pelo nome dos seus Capitães , como o Ar- raval de Fuão, ou Bandeira de Fuão , e gosem privilé- gios especiâes por aventureiros, descobridores, e povoa- '""com semelhantes Companhias, ou Bandeiras se po- dem fazer no Amazonas muitas Povoações , nao com tan- tas demoras, e vagares, como as já ditas , mas com 30 as precizas na viagem, e transporte, havendo primei- ro aviso nas Frotas , e tendo-lhes ja la preparadas ter- ras , barracas , e viveres os mais precizos para a vida. Por estes , e muitos outros , modos se podem po- voar os Ultramares; e não duvido que houvessem^ nu- merosas famílias de ventureiros na Europa , que nao so acceitem, mas se offereçâo espontaneamente a navega- ção, debaixo das privilegiadas Bandeiras, porque ha na Europa muita gente necessitada, ainda gente de bem, Nobrêsasanihiladas, Officiaes descahidos , e muita outra gente, que se vê na ultima pobresa , e miserra, e se Sarifto os parabéns de acharem semelhante fortuna em terras óptimas, especialmente pagando4hes os gastos da viagem. 11 li ■T«0 CAPITULO VI. De alguns avisos importantes aos novos povoadores. c _ omo o meu intento he persuadir a todos os mu reuos a povoação do Rio Amazonas , me par/cêòl bom"! 6 d ? r - ,h, *. al = ,ms avisos . eonWnenfes ao Z do noa? P ' P °' S P ° r faUa de " es se co-trahem tanto doenças , e pengao tantas vidas em todo o Mundo por quanto he certo que vale muito para a vida e saud e d homens> conheeime P to a d a as ' da ra s do àu f ih« ' q < ue hab,tao para se sabêrem «««*& do que lhes convém; e, posto que para isso lhes bas ças, como taobem os bens moveis, e utensílios ,1* s.,£z ,rprovidos ' —«os à ten ^ o a :'q U : Seja pois o l.o aviso sobre o vestuário- spndn „ supérfluos todo^es^ Z^£, TSSi/ Ve âo°- P ri»L OS Ve f id0S à 'JP^ a n- cham °o SO dê t 85 t de a coarem , a deixão primeiro assentar antes que a bebao; e por modo nenhum bebem os práticos aooas de Jagos , enseadas , « pouco batidas ,: porque são mui expostas a corrupção, -em razão dos calores do Sol ■ O quinto Aviso he que não tenhão as Povoações junto , ou nas visiimanças , pântanos , ou lagos enxarca- clos , que no tempo do Verão não tenhão evasão nem communicação com o Rio corrente , porque semelhantes lagos corrompendo-se a agoâ detida, e cálida com os raios do sol , são tão doentios , e pestíferos , que delles nascem as carneiradas de eatarrões , dos canaviaes, porque só fazem os canaviaes, não em terra firme ( como usão no Brasil ) mas em alagadiços ^á margem dos Rios , e tão pequenos , que apenas o mais «xtenso será do tamanho de hum só canteiro dos ja ditos ; he certo que ordinariamente fazem algum outro , e sempre tem dois para, em quanto cresce hum, usa- rem de outro ; mas apenas dão cana ás Moendas algu- ma parte do anno; durão semelhantes canaviaes ordi- nariamente cinco até sete annos, attríbuindo os seus moradores esta pouca duração à qualidade das terras \ iplantão-nos à borda dos Rios pela conveniência da con- ducção aos Engenhos pela agoa, e em canoas; tãobem os Engenhos do Amazonas dão pouca evasão e avia- mento, em rasão de serem puxados por bois , que, alem -de serem vagarosos , logo canção, e he neecessario mu- dallos de tantas em tantas horas , e para isso lhes he necessária huma grande manada para revezarem huns aos outros,, alem de outros inconvenientes. Alguns sé servem com cavalios com alguma melhoria, mas tãobem «Qm seus inconvenientes* 14 ii ( icrs > isto posto , digo qwe podem ter no Amazonas En- grilos de assucar de tanto rendimento, como os do Brasil, no que -espeita aos canaviaes, porque os podem fazer no mesmo Amazonas de tanta duração como os do Brasil , porque nao vai das terras o serem cà de pouca, e no BmsiL de muita duração ; vai do melhor cultivo que la lhe dão. As terras , ou são as mesmas , ou melhores as do Amazonas : toda a diversidade está em saber fazer, e conservar os ditos canaviaes, porqu- a pouca duração d^lles no Amazonas vai de lhes não fa- zerem o mesmo beneficio, que fazem nas mais partes; deitem-lhes o fogo , depois de cortados ; e plantem on- de nao rebentarem as raizes ; não lhes- deixem crescer mato , e logo farão os canaviaes vitalícios , e perpétuos ; e, se os querem segurar melhor, não os facão em ala- gadiços, como costumão, mas em terra firme, o que pode ser deste modo. Feita a disposição dos Sítios , como ja dissemos; e levantada a Fabrica do Engenho em lugar accorm- modado , se façao canaviaes em terra firme por detraz da área do Sitio da grandeza sufficiente a dar cana todo o anuo ao Engenho v. g. de seiscentas- braças em quadro, repartidas- em quatro quartos, como disse» mos^ e vao-lhes fazendo o mesmo beneficio , one fazem no Brazi!, replantando nos lugares, em que 'os carros machucarem , ou o fogo queimar as raizes , e loo- te- rão canaviaes^ para toda a vida. E, para que vêjão que a sua duração não vai das terras serem na Bahia me- Jhores, que no Amazonas, basta dizer que, no Rio JWean, no Maranhão ha canaviaes que , huma vez , que íorao plantados, nunca mais se acabarão até agora com a duração de mais de quarenta ou sincoenta annos , e no Rio Mojú, mui perto da Cidade do Pará, moía Jium Engenho cana , que tinha ja para cima de dezoito annos de plantada, e se hia conservando desde o pri- meiro plantamento sem cultivo nenhum , que se o ti- vesse, repnmmdo-lhe a herva , e mato, seria ' perpetuo , e estável; logo não vai da diversidade da terra, vai da diversidade, do trato; he certo que, ainda que só durassem os canaviaes sinco ate sete annos, ainda as- sim pagão muito bem o trabalho, porque se para hm» ( 109 ) planta mettto da maniba só por hum anno , e para huma colheita se fazem roçados de tanto custo, e trabalho, muito mais para os canaviaes de sinco , seis , ou sete colheitas; mas na verdade se podem fazer estáveis, e vitalícios^ plantando-os em terra firme , como ja disser- mos : nem por isso ficará então mais custosa a sua condução ao Engenho , porque em carros mais facil- mente , e com menos gente se conduz do que por agoa em canoas , que dependem de muita gente para se pu- charem as canas para os barcos , e occasiões opportu- nas, caladas, e outras circunstancias, quando pura os carros todo o tempo he apto , e para os guiarem basta huma só pessoa > ou hum só menino ; por onde se v£ •que he engano cuidarem que por agoa tem mais fácil conducçao , e só por necessidade se pôde assim condu- zir, vindo de mais longe, em rasão de se occuparera. as terras dos Sitios em outras Fazendas de cacào, ca- fé, &c. que não he bom deitar a perder, estando j a feitos , por causa dos canaviaes , que podem fazçr-se em outras terras, ou da outra banda do Rio, como muitos costumão : tendo assim canaviaes perpétuos , e terras de semeaduras perpetuas , &e, ja se vê que os Engenhos hão de ser de muito maior rendimento , do que ao presente são ; e ja então , como não ha os laboriosos locados das manibas annua.es , não necessitão os Enge- nhos de tanta gente , de mais gente do que a preciza para o seu trafico. E, se quiserem que as terras, que dissemos de semeadura, dem não só huma , mas duas ou três co- lheitas r no anno , sem perigo de enfraquecerem , ou decahirem da sua fertilidade, lhes vão distribuindo, ou espalhando o bagaço da cana , que não terá melhor despejo , visto não se poder deitar no Rio pelos não esterilisar do peixe, segundo dizem; e tãobem as podem xegar todas as vezes , e quando quizerem , como logo diremos , posto que para serem férteis não necessitão destes benefícios ; e , para terem nos seus Sitios todo o regalo , tãobem podem fazer huma boa horta do es- paço , que sempre deixão entre as casas , e o Rio por todo o comprimento correspondente ás casas , Igreja , . Moendas , e mais Fabricas , que tiverem , onde podem ter toda a casta de hortaliças. «*. (HO ) Para maior expedição das Moendas he certo que tãobem devião os moradores do Pará buscar outra me- lhor industria, do que a que iisão nos bois, porque, além de serem vagarosos , he necessário grande mana- da , nem podem trabalhar sempre, porque se lhes deve dar tempo para pastarem; e quasi os mesmos inconve- nientes tem os cavallos, excepto serem mais ligeiros, e só , dando-lhes de comer em casa para os ter sem- pre promptos , se melhoraria o caso : o mais acertado será o fazer com agoa , como fazem na Bahia , e para isso fazem regatos de agoa excellente, que descem dos matos ; mas , quando estes não sejão suficientes , se podem suprir facilmente com assúdes, que se fazem commodamente no Amazonas , visto levantarem-se todos estes Engenhos à borda da agoa; os quaes , ainda que trabalhem, e moão só meia maré , nelle darão mais evasão do que o trabalho dos bois , ou cavallos todo o dia. Dizem - que tãobem se tem inventado Engenhos , a que chamâo de nova invenção , os quaes dão aviamen- to em dobro dos que se usão ordinariamente. Nao tive tempo de averiguar esta nova invenção; porém, na sexta parte deste Thesouro do Amazonas , dou noticia de al- guns Engenhos de assucar, que para qualquer delles será difficultoso fazer canavial tão extenso , que possa dar-Ihe sustento todo o anno : o 1.° Engenho , que proponho , ha de andar a impulsos da agoa das ma- rés , mas com tal industria , que sempre anda , e nun- kja ha de parar , senão de propósito , ou quebrando-se , e com tanta velocidade , que dará maior trabalho em temperallo , que em ligeirallo . e , havendo cana , que lhe dê sustento todo o anno , e gente que lha possa mi- nistrar , basta hum Engenho destes para carregar muitos Navios em cada anno , com a circunstancia de que tem , ou pode ter annexos muitos outros differentes En- genhos , como para serrar madeira, para elevar agoa, ou reja por Nora , ou por bombas , para a serventia dos lambiques , e para utilidade das terras ; Engenhos , ou Moendas para moer grão; outros para fazer farinha de páo ; outros para descascar arroz , moer tabaco , levan- tar pilões ; e talvez muitos outros , conforme a vontade de cada hum, impellindo-os todos por huma «o roda i farça da agoa. ( M ) "Fora este, que he engenhoso, proponho segundo , a que tãobem podemos chamar de nova invenção, € he th "os quê usão de bois ; ou cavallos , mas com tal Industria, que com muita facilidade se possa erigir , e trabalhar com os ditos bois, ou cavallos, trmta , ou cincoenta, ou quantos mais dobros quizerem e assim outros á escolha.: qualquer delles necessita de grandes canaviaes , e não he necessário a seus donos outras Fazendas para enriquecerem , mais do que as precr/as searas para sustento dos serventes do Engenho; e, pos- to que as Engenhocas de agoa ardente dèm mais lu- cro a seus donos do que a factura do assucar , com tudo não aconselharia eu que os canaviaes se consumis- sem em agoas ardentes , mas só em assucar , e que, em luo-ar da cana, se usasse para a factura de agoa ar- dente °de laranjas , visto ser a terra tão fecunda em la- ranjas , que se perdem pela terra , e podem para esse effeito ter laranjas de toda a casta, quando nao bas- tassem as que acima dissemos, dispostas á corda^ assim pelo pasto como pelas divisões das terras semeadas ; e por ventura que seus donos lucrarião muito mais , do que com a agoa ardente de cana , porque terá mais consu- mo , e dará menos trabalbo. Para as expremêr não será necessário ir ás Moendas como a cana; basta usar de imprensas, como se faz às vezes ; parece-me que será bem acceita esta advertência pelos moradores do Ama- zonas , em rasão de aproveitarem assim a ímmensidadô de laranjas, que tem , e perdem pelos seus Sítios: o mes- mo podem fazer da fruta Gajú , de. cujo sumo se faz não s® excellente vinho , mas tãobem agoa ardente pre- ciosa; e tãobem são estáveis os cajueiros, e prmcipião a dar frueto, ou com hum anno, ou com dois; e cai> regão muito , e são fáceis de expremêr ; tem , fora isso, a conveniência das castanhas. - (112) ■ CAPITULO IX. Do melhor methodo ■ para as facturas das canoas do Amazonas, N. «I. _ AO obstante a bisarria das embarcações do Amazo- nas , tãobem os seus moradores devem mudar de siste- ma , se querem melhor acerto , porque , segundo a fac- tura das canoas inteiriças , são tantos os seus inconve- nientes , que , bem ponderados , trazem comsigo mais dam- nos , que proveitos. Para melhor se conhecer esta ver- dade, se ha de trazer á memoria a praxe ordinária , que nsão, para sobre ella dizermos o nosso parecer , em que claramente conheção as maiores conveniências com o ou- tro methodo. As embarcações, de que usavão os índios na en- trada dos Europêos, e que ainda hoje u são os selvagens, erão grandes cascas de páo , e algum tronco de páo, aberto por dentro com fogo; nem tinhão instrumentos de ferro para mais fabrica; punhão-lhes alguma rodela na popa, e proa: e ficavão com a sua embarcação feita com poucos mais materiaes ; e com estes barcos viviâo , como ainda hoje vivem, contentes os selvagens , porque não necessitão de barcos de carga , mas só quanto lhea basta para navegar. ^ Como acharão este feitio de embarcações os Euro- pêos se apegarão a elle , assim como á farinha de páo , porque tãobem a usavão os índios; e, posto que, por terem instrumentos, as forão cada vez mais aperfeiçoan-" do, sempre ficarão com a mesma praxe de as fazer in- teiriças, assim pequenas, como grandes, fazendo de cada ( 113 ) pão huma canoa de oitenta, e cem palmos com admi- rável artificio, como todos os estranhos admirão , e nós ja descrevemos : alem do bello feitio , que lhes : forão dando , taobem forão escolhendo madeira a maia datá- vel para maior duração das canoas, e de tal sorte se apégão todos os Europêos a esta moda , que nao se usá em todo o Amazonas de outra casta de barcos , poupan- do assim muita pregaria. Isto supposto , digo que , não obstante todas as conveniências que de semelhantes embarcações alegão os práticos, bem consideradas, e contrapostas aos seus in- convenientes , não são de nenhuma utilidade a seus do- nos estas canoas , antes de maiores damnos que provei- tos ; e que melhores conveniências, sem comparação, terão fabricando-as ao modo da Europa com taboado, do que fazendo as inteiriças : e a rasão está clara , por- que , para as fazer inteiriças , alem dos outros mais in- convenientes , que logo diremos , necessitão de páos espe- ciaes , de muito trabalho , e de maiores riscos ; nada dis- so tem as embarcações feitas de taboado, porque bas- tão para o taboado quasquer madeiros , fazem-se com mais presteza , com menos perigos , e finalmente com mui- tos outros maiores avanços: o que melhor se confirma, recordando a sua laboriosa factura, e ponhamos exem- plo em hnma canoa de noventa , ou mais palmos , feita de hum madeiro , v. g. de trinta palmos em roda. Primeiramente hum semelhante madeiro, e semelhan- te canoa requer para a sua factura the trinta obreiros ao menos , se he que bastão estes , só para moverem , e menearem hum tal madeiro; 2.° de hum tal madeiro, e de qualquer outro por maior que seja , não se faz senão huma embarcação ; 3.° a grande demora na sua factura, em dois mezes pouco mais ou menos; 4.° o risco de se perder toda a obra, e trabalho , quando ja está mais de meia feita, na occasião da abertura com o fogo; 5.° as contingências de não abrir direita , e com igualdade , ficando com tortura , corcova , e inchaços , que , se não deitão a perder a obra , a desfeiào muito , e augmentão o trabalho do cavername ; 6.° novas fadi- gas para cortar novos madeiros, para lhes fazerem as falcas, que J8*mpre lhe accrescentão de huma e outra 15 ( 114} banda, e, como ' cada . huma \sk ve ser do mesmo áovs* primeato da casco , e se faz de hum sò páo , hão cu.v. tão pouco trabaiho ; 7. 9 outros páos do mesmo compri- mento para outros dois Talabardôes , que lhes põem por ciai a das faícàs , que se fazem de outros doía grandes madeiros; B. 9 outros madeiros de boa grossura, para lhes fazerem as conchas , e bochechas da proa ; da mes- ma sorte os bancos fazem cada bum de cada páo , o que tudo pede não só muita gente , que trabalhe, , mas muito trabalho, e muito tempos tudo porem ' se podia dar por bem empregado , se não tivesse outro inconve- niente maior de todos , que he ( e ainda prescindindo de. naufrágios , i alâgações ) O perigo de logo se perder com numa, ou duas viagens ao Sertão, antes de dois annoâ. como muitas vezes acontece por lhe entrar o bi- cho Turu ( minhoca de âgoa , a peste da madeira , por mais dura que seja , e traça das embarcações ) que logo por baixo trespassa, e faz como hum crivo sem mais remédio, que metter-lhô o machado, e fazerem delle le- nha para o fogo ; e só hum anno , ou dòís vem a ser todo o producto de tanta gente , de tanto trabalho , e de tanto tempo. i Todos estes inconvenientes se seguem das canoas inteiras, e, quem bem as ponderar, achará que são maiores os seus damnos que os seus productos; pelo contrario todos estes inconvenientes se evitao com as ca- noas de taboa , como logo mostrarei • quando muito , se observe o método antigo , e Be facão inteiriças as ca- noêtas pequenas , que mais facilmente se livrão' do f uru , porque as puchâo para terra, e fazem-se com brevidade, mas as grandes he querer arriscar em numa só viagem o valor de hum conto de reis , ou mais ; não quero po- rem dizer , que se facão de taboas ordinárias , como usao na Europa, posto que, ainda assim, serião muito mais convenientes , mas de outra casta de taboas , que sejão compridas , de popa a proa , a oitenta , noventa , ou cem palmos , e tão largas , que três , ou quatro , se- jao bastantes a fabricar huma canoa das maiores, e das mais potentes, que se nsão no -Amazonas, porque, des- te modo , evitando-se todos os inconvenientes supra , se .ganhão muitas outras mais utilidades : l.a He que do «««.) mesmo páo f de qus d'antes só se fabricava hum cascp para huma canoa, feito em tabòas, se podem fazer se- te, ou mais do mesmo tamanho, ou maiores que o di- to casco, e do - mesmo comprimento , e o provo com evidencia , pondo o exemplo em hum madeiro de trin- ta palmos em roda, e noventa no comprimento; porque huma canoa, feita inteiriça de hum tal pào , virá a ser de .... palmos no bocal, e tantos de ' circumíerencia , e bojo , v. g. . ... ; feito porem em taboas de todo o comprimento' do páo virá a deitar mais de trinta pal- mos com ' largura de note ate dez palmos, porque trin- ta palmos em roda deítão dez de, largo ; o que posto , se vê claramente que bastão quatro taboas destas a ca- da canoa, e vem a deitar as trinta taboas de hum tal pào sete canoas cie bom trabalho; e ainda ficão duas taboas para outra; mas basta que deite seis, em rasão de que as taboas não são todas da mesma largura; e quanto mais conveniente he , ou são seis canoas, que huma só do mesmo tamanho? Vejão quanto mais se lu- cra com este methodo , que com a praxe antiga! Os mesmos avanços se acharão era qualquer outro páo , pro- porcionando-o conforme a sua grossura; e, conforme a este , assim são os mais avanços , e utilidades , porque á segunda he os menos operários : de sorte . que , se para a factura da canoa ao modo antigo,, e para a construcção do seu madeiro , são necessários vinte até trinta operários , para se serrar e fazer em taboas , bas- tavão dez ou doze pessoas: a terceira conveniência he no tempo , porque se para a praxe antiga são necessá- rios dois mezes , para a nova fabrica bastarão quinze ate vinte para aperfeiçoar huma canoa de semelhantes ta- boões , e só poderia gastar mais algum tempo a serra- ção do pào, mas sempre com mais brevidade, d d que a laboriosa bole açâo , e a escavação de todo o madeiro', a mesma meneação , e conducçao das taboas ja se vê que he mais fácil , que menear todo o madeiro , ou o casco todo inteiriço: a quarta conveniência , e grande he que se evitão as falcas,, e talabardões , e por consequên- cia a custosa, e vagarosa laboreação de outros grandes madeiros, de que se costumão tirar: a quinta se evitão as conchas,, e bochechas , que , alem de laboriosas , são 15 ii (H6) huma* das maiores impertinências, que tem as cafi"as " Parque feitas rio taboado dito, ja não neces*n«o delias! podenr.o-se-lhes ítizer o mesmo feitio nas fites com i caio* rio fon;o j a a*tt conveniência «ío as cavernas , muito mms tacejs de accommodar ai taboas , que o cffs- co inteiriço imofam , como o casco raras vezes sahe d* fogo bem bolado, e ordinariamente sahe com corcovas, e inchaços he hum grande trabalho, e maior minei ti- nencia o adjêtivar as cavernas em semelhantes inchaços, «corcova.*; e n«o servem todas senão »s muito espe- ciaes, o que se evita na nova factura, em que alo' át cavernas aos cascos, mas as taboas se devem accommo- 'lar as cavernas: a sétima porque assim se evita toda a obra, e trabalho em rachar o casco, quando se abre ao logo, e se evita tãobem a multidão de eente; o grande cuidado, e fadiga, que ha na manobra dos fo- gos ; em hm se evitão tantos outros inconvenientes , que dizem ordinarimente os práticos, que antes querem com- prar semelhantes canoas por seiscentos mil reis, ou mars^ do que mandallas fazer, nao obstante terem os officiaes úe casa, e a madeira, e mais materiaes à sua revelia; e na verdade assim o fazião muitos : porem a oitava , e principal conveniência das canoas, feitas de semelhantes taboas, sobre as inteiriças, está na duração, porque nào tem o perigo de logo se perderem como as outras, an- tes podem aturar tanto , ou mais , que os mesmos Na- vios, e a rasão he porque, se lhe dà o Turú por bai- xo , como costuma , tirando a taboa damnificada , e, pon- do-lne outra em seu lugar, fica outra vez a canoa toda 3â, e da mesma sorte, damnificando-se qualquer outra taboa por podridão , eu qualquer outra causa , se pode renovar com outra; e finalmente se podem ir renovan- do todas ate durarem sans as cavernas; e, se estas fo- rem de bom pào, dos que mmea adoecem, nem se cor- rompem, com lhe hirem- renovando as taboas tem ca- noas para a vida de hum homem , porque , lhes não cus- ta renovar estas taboas , tendo tantas matas à sua or- dem, e tantos madeiros à escolha; e deste modo com menos gente , e com menos trabalho , aproveitâo melhor «3 grandes madeiros, do que fazendo delles hnra s* casco. • ( 117 ) Porem, como semelhantes pios são ifoaíá raros, e mais custosos de laborar , aconselhara eu ' que seria mais conveniente escolher para semelhante obra outros madei- ros mais accoramodadoa , e mais tratáveis v. g. de doze , quinze a vinte palmos em roda, ou ainda de menos; porque ainda deitào taboas de boa largura de quatro , cinco , ou mais palmos , e basta , porque embora levem mais taboas; computada a maior facilidade, com que se fazem , ainda fica a obra mais conveniente , porque semelhante* pàos se acháo facilmente , e de mais dura- ção , que os grandes madeiros, de vinte , trinta , ou mais palmos , que ordinariomente sao de pào angelim , o qual nem em toda a parte he de muita duraçS^ : e ha ou- tra muita casta de madeira, e de muito mais dsraeão, posto que os seus pàos sejao mais delgados Donde o v que dissemos em cima dos grandes madeiros he respec- tivo ao uso das canoas inteiriças, que se lucrão todas as conveniências supra, trabalhando-as do modo dito: porem aqui acerescento , que ainda he muito mais fácil , e útil , trabalhar em madeiros mais accommodados ; o pon- to está em que sejão do comprimento, que se requer; porque o levar mais ou menos taboas no Amazonas na» vale nada. • ., He engano cuidarem alguns que sftóslnantea ca- noas , feitas de taboas, serão menos fortes que as inteiriças de hum só pào , porque a fortiduo. das- ca- noas , e quaesquer outras embarcações , nao esta ^ no casco, ou taboas de fora, mas no espinhaço, e cavername de dentro ; das cavernas depende toda a sua fortidao ; e se vê bem esta verdade nos Navios , que , não obstan- te serem em taboados de pinho, que he pào de pouca monta, e dos mais brandos, são de muita fortaleza; além do que , se bem se advertir , não leva menos partes, huma canoa de casco, do que huma canoa dos taboões ditos: huma canoa de casco a melhor compo- sição, que leva he de nove partes, e são o casco, duas klcas, duas pranchas ou talabardões , duas con- chas duas bochechas , e às vezes leva mais ; e com menos se faz huma canoa de taboas , do mesmo tama- nho ou maior ; antes se pôde affirmar nestas maior frou- xidão, porque, se a sua fortaleza se toma do casco . ( "8) interno, nunca he tão inteiro, que não se acrescente na proa com as conchas, e bochechas; e as taboas que dosemos não necessitâo de accrescimos, porque el- las mesmo fazem a proa, e são mais inteiriças do que os cascos , que se charmto inteiriços , mas' na ver- qade o não são. . Ora isto hé em quanto ao comprimento ; e em quanto a roda tem a mesma fortaleza ., V mais queTs cascos os das. taboas, porque em roda levão as ca! noas de casco cmco partes ao menos, casco, duas fal- Zl° talabordões com outras tantas taboas, sejao largas como nos d,ssemos de sete atê nove ou dez pal- ZrU, ° C ° m a meSma fortaleza a res ?eito das partes; mas, se attendermos aos buracos, com que costumao fazer como hum crivo os ditos cascos, e ao depois tapao com tornos, he sem duvida maior a .for- taleza das canoas de taboas inteiriças, que as de cas- co, porque mu.to se enfraquecem em semelhantes cri- vos; donde se vê o grande engano em se cuidar mais fortaleza nas antiga.; antes he Ião pouca, q„e, quando succede assentar-se alguma semelhante canôa^ em\lgum pao dos muitos , que estuo por baixo da agoa nas praras, quebrão , cahem a proa para huma pSe , e a popa para outra, mas, ainda por outras rasóes, se p£ de provar a maior fortaleza das ditas taboas: ] a p P °-_ e^ba^iir^o^ 1 '^' "V^ das Corcóvas • '"+>**. e barrigas, com que ordinariamente sahem os cascos cadE ra ° " daPtar ^ r VemaS C ° m a mesma t0 "« a e e cortar ín* **% T ' preC ' Z ° tÍra " aS d ° seu natural > Ldf I *&.&*** e quem não vê que hum pàó eido? ™; S6U & % ãn T' e nat «™l, fica ml» enfraque- 'ZL P S6m duv,da 1 ue meIhOT fOTtaleza tem a. ca- rrL" aP ' aXe ' ^ 'amuamos, porque, como nella nao ha corcovas, seguem as cavernas o seu fio direito tòrteTJ^T ' - Sta Part6 ' fica ° P° risso muit ° mais' Z ™ embarca 9 5e s; 2-a porque os mesmos cascos são câscorL r r f- qUe aS tab ° aS P ela mesma razão; os cascos para sah,rem com feitio capaz de obra, primeiro lo tãohl; e SÊ t,ra ° d0 seu ">, e fio direito; o- antii ? P ° r 6Sta parte ficâ0 mais fracas na praxe o ã 'r. f f 6 °? " 0Va ' em 1 ue os Tab »Ses, segundo o seu natural, nada perdem da sua fortaleza. 5 ( 119 ) Por todas estas rasões se vè bem que he apprehen- sâo ■ • e engano , cuidar que na. praxe antiga ricão mais fortes as canoas; e todas geralmente persuadem que a praxe antiga traz mais damnos que proveitos , e he mais abuso que uso, semelhante ao uso da maniba , que aci-: ma propusemos. Mas, quando não houvessem outros pro- veitos nas embarcações de semelhantes taboas , alem do3 que- dissemos, bastavão para preferir a sua praxe à an- tiga fazerem da 'mesma madeira cinco, seis, ou mais canoas , em lugar de huma só , que se fazia , e fazerem- se todas com menos gente , e em menos tempo , com menos riscos do que só aquelia. Desorte que só para admiração , por galantaria , e cousa rara , se poderá al- gumas vezes fazer huma semelhante canoa , ou para as- sim poder approveitar alguns grandes madeiros ôccos por dentro, como são muitos angelins , e por isso incapazes para taboados : só se podem approveitar em cortiços , ou cascos; ate para isso se poupa tanto mais trabalho, quanto maior he o vão, que tem por dentro: e então tãobem eu digo que he bom approveitar semelhantes madei- ros; mas a quem estivesse pelo meu conselho diria, que, ainda nesse cazo , mais conveniente seria , e mais fácil bus- car outros páos macissos, e embora fossem mais delga- dos, e fazellos em taboas, do que approveitar aquelle ôcco, pela razão dos mais inconvenientes, que dissemos; vale mais deixar este madeiro de trinta palmos em ro- da v g. , e serrar hum só de quinze palmos , porque es- te de quinze me pôde dar duas, ou três canoas e aquelle huma só; estas são certas, e sem riscos, e la- ceis, e aquelia tem tudo ao contrario; para fazer aquel- ia he precizo muita gente , e muito tempo , e para ía- • zer estas basta menos gente , e menos tempo. A 'maior objecção da praxe antiga, alem do uso ou abuso, he não terem, nem necessitarem as canoas de quilha inteira; circunstancia, que para lá muito ponde- ra, especialmente no Amazonas, aonde as canoas tem muitas coroas, e seccos pelos quaes se vão puchando , e , quando se não possão assentar , flcão assentadas di- reitas, esperando pelas marés sem perigo &c. e dizem que as canoas das taboas devião ter quilha, e por isso menos capazes para os baixios; mas tem fácil reposta. ( 120 ) esta objeção , e he que , -não obstante terem teboaa podem ter ou não ter quilhas, comfonne a vontade de seus donos e dos seus officiaes , e ainda , tendo-a* podem ser tao chatas, e boleadas no fundo , que to! pando em baixos, não virem, e fiquem direitai, como succede aos Navios, que , ainda não obstante terem qui- lhas , ordinariamente ficão direitos , quando dão em sêc- co; antes as quilhas são de tanta conveniência ás em- barcações como o espinhaço, ou lombos nos viventes poye naoso fazem mais fortes as embarcações, mas" taobem ajudao muito para a sua maior segurança, e pa- ra darem, ou obedecerem mais facilmente ao leme • mas no caso que não queirão quilha, está na sua vontade. ' kupponhamos que queirão fazer sem quilha huma canoa grande, e que para elle tem cinco \aboões de oito palmos de largo cada huma, ponha-se hum destes no espinhaço, como se faz do casco; supponhamos que serve de casco arqueado com fogo, quanto^basta a fazer o boleado que he facillimo; pelas bandas se lhe vão accommodando as mais taboas , e ahi ficará a embarca- ção sem quilha, e sempre com as conveniências supra; conde nao he precizo que tenhão quilha , e só que sejão de taboas; mas na verdade são tao úteis as quilhas às embarcações, que ainda, sendo de casco, as deverião ter inteiriças, porque sempre .lhes põem huma tal, ou qual qmlha para a parte da proa, epopa, e so nomeio, ou barriga, lhe d Ç ixão o casco boleado Mais fútil he outra objecção, que põem outros, de que levanao mais pregos, e mais ferro, do que os cas- cos; mas, ainda que assim seja, quem náo vê que as conveniências supra avultão mais do que duas,' ou três dúzias mais de pregos, e ainda que duas, ou três dú- zias de quintaes de ferro? Mas eu lhes mostro que po- dem levar menos, que as antigas. Estas tem, como ha- vemos dito, na circumferencia cinco pessas, que sao , casco, duas falcas, e dois talabordões; outras tantas ta- boas ,• ou mais alguma levarão as nossas, ou só qua- tro , se foiem bem largas ; e para se segurarem nas ca- vernas nao serão necessários mais pregos que nas de casco; logo nçsta parte ficarão quasi o mesmo ; mas , co- 010 estas taboas vão a rematar no beque, o fazer aproa ( vn ) «afii poupãô toda a ferramenta , que levão de mais oe cascos com o accrescentamento das conchas., e boche- chas, enfesta parte levão as taboas menos prego3. As mais obras inteiriças são* o mesmo em humas, e outras, lEm fim por mais TasÕes , ^que se busquem , se ha de vir a concluir como na verdade ha em algumas madeiras, qual he o páo Itahiba , que, não obstante ser comparado ao ferro na daração , he «com tudo isso ?bo- yante , e não vai ao funde, esse so, ou principalmente se deveria escolher para as embarcações, e -na boa -es- timação devião apreciar-se em dobro as, canoas de Ita- fciba ,pola circunstancia de boyarem •, do que as canoas do , angelim í|Ut ei alagadas , fteão perdidas; 16 ( Í*J * «em * sè enganem com as esperanças de muita duraçã? no Angeíim , porque sei que algumas canoas apenas tem durado dois annos. Assim succedeo a hum Missionário , que , comprando por quinhentos mil reis huma canoa , de que tinha necessidade , com duas viagens ao Sertão , e em menos de dons ânuos ; * ficou incapaz de tornar a servir por podre; e^que lhe approveitou ser de Angelim? Outras pouco mais tem durado; e que? por mais leve que seja o pào durará menos de dois annosT-porem.de- mos-lhes que durem menos ; vaie mais a segurança , e vida dos donos p & navegantes , que as esperanças de maior duração. Outra advertência , que deverião ter os feitores das canoas , he a ma>or facilidade , e suavidade dos remei- ros ; pedem compaixão os pobres Judios remeiros nas ca- noas grandes , e de alto bordo , porque , não podendo- commodamente chegar com os remos 4 agoa , se vêm obrigados a dobrarem-se todos , ou com todo o corpo , para poderem chegar com o» remos á agoa; donde nas^ cem muitos inconvenientes , como são , o não poderem? fazer força nos remos , derrearem-se , e moérem-se , e eontrahirern dores , doenças. Eu , prescindindo aqui dos inventos faeillimos , que apontarei na sexta parte , acon- selharia oníra maia suave forma de remar, como são os remos de boga ; como usão na Europa; e, quando es- tes se não possão accommodar , em rasão das cobertas" das canoas segundo o< uso do Amazonas r ao menos bus- car outra melhor forma , que , sendo de maior lucro us canoas, seja de maior commodidade aos remeiros , v. g.. assim : ponha-se huma prancha cio comprimento necessá- rio nas bordas das canoas grandes com boa proporção na altura, para que os índios, assentados nellas, possão: remar com facilidade, e para poderem firmar os pés, como costumão , para fazerem impressão na agoa com os- remos se pode tãobem pôr huns pàos , ou pontalêtes , que deixão para baixo da dita prancha seguros no cos- tado, que pareção mais enfeite do que precisão; e as ditas taboas se podem segurar nas pontas dos bancos t que nesta praxe devem sahir fora, como tãobem podem as ditas taboas ou serem estáveis , ou postiças : nellas assentados , poderão ja os remeiros fazer melhor o seir ( m ) ©meio sem tanto damno da sua saúde , e com mais l>re* vidade das viagens, com a circunstancia áe que assim ficão os centros das canoas mais expeditos. Seguia-se agora responder aos que dizem que o* madeiros da marca maior, como são os de trinta, qua- renta , e mais palmos de roda ? dos que se costumâo fazer os cascos na praxe antiga ■, se nâo podem serrar, € fazerem taboas , para se poder pôr na praxe as ca- noas de taboas compridas , que propomos : porem a me- lhor reposta guardo para a sexta parte, e por agora respondo que estes grandes madeiros se serrão na mes- ma terra, em que sahem , fazendo cova na terra, que vão prolongando para diante , quanto mais avanção as serras. Tãobem se podem serrar para as bandas , como se faz, quando com serras se quer deitar abaixo alguma arvore, e, para descanço, ou encosto das serras, se podem pôr duas vigas nas ilhargas do madeiro do mes-, mo comprimento, que, servindo para descanço das ser- ras , se possão abaixar , ou levantar , quanto as serras, mais se levantem , ou abaixem ; e , ainda que sejão na verdade custosos de - serrar estes madeiros , nunca custa- rão tanto trabalho, nem tanto tempo , como os trabalho» para fazer os cascos das canoas. 16 U ( 126) guerra renhida de muitos annos , impedia com outra» Nações a boca do Amazonas, podendo acabar com as suas praticas em hum so. anno, o que não tinhao podi- do conseguir, em mais de vinte, as armas dos Portu- guezes , para que acabem de conhecer os homens , que vale mais hum Religioso exbortando , . que hum podero- so exercito matando; mas deixemos estas verdades , e vol- temos ao Amazonas , para cuja navegação , e necessária communicação , ja o grande Vieira julgou precizos. d^ís Barcos , e muitos mais se fazem precisos, crescendo a sua povoação. Devem estes Barcos não só estarem promptos , mas andar sempre encontrados, de sorte que, quando bum suba , desça o outro : hum para cima , e outro para bai- xo ; navegando junto ás Povoações para poder recolhes t)s passageiros , e carga de Cada morador; e para maior çommodidade trarão cOmsigo esquifes, nos quaes pode- rão chegar aos Sitios dos moradores , onde muitas ve- zes não poderão chegar os Barcos , sem perigos , nem demoras. Tãobem nas mesmas Povoações podem haver, e sempre haverá algumas canoas ligeiras , por meio das quaes se podem fazer as cargas , e descargas; e, no caso que , por serem compridas , e vagarosas as viagens dps Barcos, se julguem precizos mais , se podem multi- plicar, ou, quando não, podem ter limites, aonde, che- guem , e outros dalli para cima , como melhor for. JPara maior economia deveria haver em cada Rio hum Barco ao menos, para serventia dos seus morado- res , cuja carçeira fosse da Cidade para "o Rio , e de Rio para a Cidade, sendo perto; e, sendo mui dis- tante do Amazonas , basta que estes Barcos de cada hum Rio dos collateraes transporte as fazendas ás bo- cas dos Rios , onde com facilidade se possão baldear nos barcos de carreira , sem que a estes lhes seja ne- cessário .entrar por elles , ' com demoras, e prejuízo do eommum; e . com similhante economia se podem servir as Missões dos ;Jna, desça o outro: hum para cima, e outro para bai- xo; navegando junto ás Povoações para poder recolher W passageiros , e carga de cada morador; e para maior çomrnoaidade trarão cOmsigo esquifes, nos quaes pode- rão chegar aos Sitios dos moradores , onde muitas ve- zes não poderão chegar os Barcos , sem perigos , nem uemeras. Tãobem nas mesmas Povoações podem .haver, e sempre haverá algumas canoas ligeiras , por meio das quaes se podem fazer as cargas, e descargas; e, no caso que, por serem compridas, e vagarosas as viagens dos Barcos, se julguem precizos mais , se podem multi- plicar , ou , quando não , podem ter limites , aomie, che- guem e outros dalli para cima , como melhor fôr, r J^ara maior economia deveria haver em cada Rio hum Barco ao menos, para serventia dos seus morado- res , cuja carreira fosse da Cidade para o Rio , e do Rio para a Cidade, sendo perto; e, sendo mui dis- tante do Amazonas , basta que estes Barcos de cada hum Rio dos collateraes transporte as fazendas ás bo- cas dos Rios, onde com facilidade se possão baldear mos barcos de carreira , sem que a estes lhes seja ne- cessário entrar por elles , ' com demoras , e prejuízo do eommum; e com similhante economia se podem servir as Missões dos índios e cada Rio, sem se verem . os seus Missionários precizados a ter embarcações próprias, e precizão de mandar à Cidade : bastalhes terem na boca dos Rios , em que suppomos haver sempre algum* lovoação mais principal, procuradores por meio dos ( w? ) uuaes sejão servidos nos Barcos de passagem E talv^ mie com este exemplo se excitem muitos particulares ao modo de vida, tomando á sua conta fazerem mais Bar- cos , e tudo cederá em utilidade do bem commum ., e au emento do Estado. . Nem com a sua praxe se pôde prohibrr aos parti- culares poderem servirem-se nas canoas próprias, ecom escravos próprios, como até agora fazem; porque seme- lhantes providencias só se põem para supplemento das embarcações próprias , e falta de escravos, que nao te- rão os novos povoadores, sem obrigar, nem violentar aos que quizerem servir-se em canoas próprias. Mas sup- ponho que ninguém quererá occupar os seus escravos em . viaeens , principalmente dilatadas , tendo 9 ou podendo ter o mesmo effeito nos Barcos de passagem, com hum barato aluguel. Nestes Barcos pois,, e na sua providen- cia está o segundo requisiio ., o meio inevitável para & povoação do Amazonas; e sem ella sem pertender o fim sem pôr os meios. Quantas utilidades se sigao aos particulares moradores, e a todo o Estado em geral, facilmente se conhece; ainda que não houresse outras. couzas a notar, basta lembrar-nos de que sem estes barcos communs não pode povoar-se o Amazonas , nem por conseguinte augmentar-se o Estado: e pelo contra- rio com a sua providencia se pode povoar, e augmentar a hum grande Império , porque ja es Governos tem uos Barcos Correios promptes para neiles expedirem as Or- dens, tem embarcações para fazerem as virgens, e tem meio parai embarcarem as suas tropas a qualquer praça, e destacamento ,. que queirao , sem se verem precizadoa a comprar, ou mandar fabricar canoas próprias, e de- sacommodarem es índios das Missões pata qualquer ex- pedição , ou Serviço Real;, os Ministros Régios tem mo- do de executar as suas diligencias, sem mais despezas que o seu frete; os moradores ricos,, sem desaeommo- darem os seus fainulos , nem prejudicarem os seus Sítios, ten> a mesma serventia; e os pobres podem ser servi- dos como os ricos ; e da mesma sorte as Missões po- derão mandar á Cidade , quando lhes for preciso , por jmeio dos Barcos, sem se vetem precizados a desaecm- Eiodarem os seus neophitos nas prolongadas viagens a ' <:?28 ) Cidade, eom tanta utilidade dos índios, como sè pórfe ver do que succedia em algumas Missões, que todas as vezes, que mandavão à Cidade por precisão de provi- mento, sempre lhe morriao muitos índios, seis dez e mai8 : e houve oecasiões , em que., morrendo todos ' os -remeires., e pilotos , ;ficou ma- Cidade a - Canoa , por não àaver quem a remasse para cima, e basta este caso para delle se «inferirem os mais, e quantos inconvenien- tes seevitao com os Barcos da carreira, e no que , as- sim os índios , como os brancos, se podem servir sem mais dispêndio do que :alg>uma pequena porção do alu- Mas, além da serventia , e communioação , joue sao •o principal intento bestes Barcos, se segue outra grande utilidade as Povoações, e bem commum , que he a grande fartura de » viveres , e riquezas; porque as Mis- sões de índios, e -os brancos, que morão pelo Amazo- nas acima, poderàõ carregar os Barcos de Tartarugas peixes bois., arroz, do mesmo natural, que nasce, e se perde pelos lagos; e por. o*a o não fazem, nem podem os brancos , por mSo tirarem dos seus Sitios , e lavouras os seus escravos; os índios porque são todos sobre si , e so usao de canoinhas pequenas,, e insuficientes á largas, e pengozas Bahias ; e íinalmentg todos , porque íazem mais, gastos nas viagens, e transportes, do que o valor das remessas; de riquezas , porque os Índios, e farão viagem tanto mais breve quanto maiores forem as calmarias : não declaro aqui os inventos , porque com outros em outras matérias ficão rezervados para a sexta e ultima parte deste Thezouro ; e, posto que os tinha apontado em caderno á parte, por particulares razões os dei ao fogo , e só os publicarei , se Deos fôr servido. (Continuou , mas açha-se riscado sem se poder ler). ( 135 ) <%+r+T*>%'%y%>%r- CAPITULO XI Modo fácil par% se poder praticar gs Mercados, e Feiras no Rio Amazonas. Urna- da& grandes faltas, que ha nos Estados do Maranhão, Pará, Amazonas,, e talvez em muitas outr.s partes dos Ultramares v he a falta de Praças publicas.. Feiras,, e Mercados-, onde os moradores- podessem aco- dir com os seus haveres, e cada hum comprasse o ne- cessário, nào só por serem hum dos melhores meios para fomentar a communicação dos homens, mas pari melhor economia, e fartura das Povoações ; e porisso uzados em todo o Mundo em que as Republicas são bem, governadas.. Não*' ba^ em todo o vasto districto. do Araa^ zonas , nem ainda na sua Metropoli na. Cidade do Para huma só Feira, ou Mercado em forma, nem ainda as necessárias Praças dos viveres,, e fruetos da terra com damno notável assim dos Fazendeiros, que as . . deixão ■ perder nos Sitios:, como dos- moradores ,. que os não podem comprar : e para remediar todos estes damnos,, se dezeja alguma especial providenciai T@m-se empenhado alguns Ministros. Régios „ zelozes do bem commurn, para introduzir as Feiras, mas nada, se tem podido conseguir até agora por não acertarem cora o meio necessário a, este fim,, que he os Barcos du carreira do Amazonas , em que até agora: falámos , e ou- tras Embarcações publicas , que tenhsío por destino com- municar os Sitios com as Povoações, e Cidades , porque jà então poderàó os Fazendeiros remetter nelles os seus írttctos, e vendelios nas Praças com muita eon\omtuci'à I I 136 ) de todos : e a razão he porque , na falta de Embarca- ções publicas, não tem meio os Fazendeiros de faze- rem remessas senão com maiores prejuisos , porque co- mo a comrnunicação he toda, e sempre por agoa, c não ha Barcos públicos , para qualquer diligencia , que queirão , hão de tirar os serventes dos seus Sitios, para com elle3 em próprias canoas inândarem 'à Cidade , e isto lhes causa mais prejuízo que proveito; e por isso antes querem perder pela terra os seus fructos do que remetellos às Povoações com tantos damnos , especialmente sendo os Sitios distantes , dias inteiros-, e com a navegação perigoza. Esta he toda a causa,, è difficuldade de se pratica- rem os Mercados , que nunca até agora quizerão reme- diar os Magistrados , e por isso nunca poderão conse- guir sua execução. Lembra-me aqui a resposta , que dão muitos Fazendeiros aos Ministros Régios quando, véh- do-lhes-, nos seus Sitios , famozos pomares de varias fru- tas , especialmente de espinho , reputão os dizimos em grandes preços , e lhes promettem murtas riquezas , áêm-nos ■vv. mm. a avaliação , 'que nós lhes cedemos todos os pomares-, pois que impertão grandes pomares ^ se apenas se appro- veitão delles os que os tem junto a si? e quando muito fazem alguma remessa de obrigação ,., quando , por cauzi, de algum negocio , se vem obrigados a expedir alguma canoa á Cidade, e os da Cidade só por semelhantes vi- ^as , ou só por empenho podem conseguir alguma vez alguns fructos. . Não ha pois, para por em pratica ©s Mercados, e Praças estáveis, outro meio senão por .primeiramente na praxe a existência dos Barcos supra , e de muitos outros , que sejão públicos , e -tenhão por officio o frequentar os Sitios dos brancos , e delles transportar á Cidade e Por voações as remessas, que mandarem, levar e trazer os passageiros , que quizerem embarcar; e , para que isto se faça com boa regularidade , supponho hum Barco com destino para o Rio , e para cada Rio seu : v g. fallando da Cidade do Pará. , onde pelo seu muito povo são mais necessários os Mercados , os Rios, que tem mais vizi- nhos , e por onde os moradores tem as suas Quintas , e Herdades , são o Rio Guamá , o Rio Capim , o Rio Mojú ., o Esteiro Igarapé Merina , o Rio Gibrie , e ou- c m \ tros muitos: e para todos estes Rios, e seus Fazendeiro! serem bem servidos devem ter , ao menos , hum Barco , que ande só na sua carreira , da Cidade para aquelle^ Rio , e do Rio para a Cidade ; e , para que em todos os dias', e em todos os tempos possa haver sempre na Ci- dade a mesma fartura, devem ter os Barcos dias fixos, e determinados , em que cheguem á Cidade , quanto pos- sa ser; e se podem distribuir pelos dias da semana , as- signando a cada. Barco seu dia, para que andem aponto, e para que os Quinteiros tenhão promptas as remessas. E, como esta Cidade , por ser tão populosa , e Metropoli dos Estados Lusitanos no Rio Amazonas , tem os seus mais necessários víveres de carne , e peixe , só vindos de fora , e por mar, rião lhe bastando para cada parte des- tas hum só Barco , deve ter , ao menos , dois , sempre na carreira , para não haver falta em víveres tão necessá- rios, que são todo o sustento , e remédio dos povos. 'Esta mesma economia se observe em todas as mais Cidades ye Tílias com mais, ou menos canoas, ou Bar- cos, quantos bastem á sua serventia para as diversas pa- ragens , em que os seus moradores tiverem os Sítios ; e , taxando dias certos para venderem eia o Mercado publico todas as remessas, e fructos , haverá já , ou poderá ha- ver MercaHos estáveis , e grande fartura em todas as Po- voações. E também , vendo os Quinteiros que os seus fruc- tos tem assim boa sabida , sem mais custo que o frete , crescerá nelles a ambição Ho maior cultivo , e se empe- nharão mais no uso da agricultura; e , como se evitão assim es inconvenientes de canoas próprias ^ e próprios barqueiros , ou marinheiros , cada morador, ainda que se- ja só com a sua ifamilk , poderá já ter o seu Sitio , è cultivar as terras , seguro de que por meio dos Barcos terão boa sabida os seus _productos. Bem se podem desenganar os seus Magistrados que, èm quanto não pozerem este meio , nem Mercados pode- rão estabelecer , nem os povoadores se poderáõ servir , nem o Estado terá augmento , nem, as Povoações fartura, porque o servirem-se sempre com "canoas próprias, e ca- noas de casa, só o poderáõ fazer os que tiverem escra- vos ; e , como a maior parte os não tem , nem podem fer , ficarão como de cerco nos seus Sitios ; e para o aã& 18 — ( 135 ) ficarem , antes os não querem cultivar ; e aiArJã os que tem escravos nada servirão ao publico , por não perderem mais cio que ganhão na expedição das canoas» Torna acftfi a maior dificuldade de marinhagem , na falta que ha naquelies Estados do vulgo, e gente de'ser- vir; nem parece que todo o serviço li ai a de correr por conta dos' índios , e Missões , nem seria isso allivia-!os do insano trabalho, que antes tiniião na distribuição aos Brancos, mas antes augrnentar-se-lhes as. misérias: digo pois, que, correndo c^es Barcos por conta de Cidadãos particulares , -cios que tem multidão cie escravos, com os mesmos escravos os podem servir: e , , se me oppozerem, que então seria maior a despesa, que a receita , e que não teria conveniência, &c. respondo, que assim pode suecedi-r- na navegação ordinária, em que as canoas gran- des , quaes estas deyião ser , necessitão , para a sua neces- sária tripulação, de trinta, ou mais remeiros ; porém não, no novo methodo de navegar , que tenho insinuado, com . que lhes hástariao oito, ou menos serventes, porque não . ha 'de navegar a força de braços , mas á força cie enge- . nhos. _ Serião estes Mercados , ou Feiras de utilíssimas- con- veniências Mas Missões , e Povoações dos índios ; a duas principalmente se devem attender : primeira , para evitar , os muitos , e graves inconvenientes , que ha na correi- ção , que fazem os Brancos pelos Sitios dos índios , quan- do querem comprar algumas farinhas , ou outras drogas , de que já apontei algumas, como são muita dissolução nos vicios , para os quaes os convida muito a solidão das índias , pela ausência dos maridos , e. pais , que ordi- nariamente andão ausentes , ou no serviço dos Brancos , e canoas y ou no Serviço Real , ou pescando , ou caçan- do para sustentarem suas famib*s , pois se nas mesmas Povoações , e na presença dos Missionários , . e Parrocos , o estão fazendo , quanto mais no recôndito , dos matos , e na solidão dos Sitios , e com a propençao , e facilidade dvquella gente? Este ponto, como tanto do Serviço de Deos , he o primeiro, que se devia evitar com os Merca- dos nas suas Povoações , como também a injustiça , com que mais^ lhes arrancão ji do que comprao , ou como lá »e. explicita , resgatáo as farinhas ; e mais drogas , que ( m ) ttcliHO nas casas dos ditos índios --porque o . .ptm*o Jie w~ rS» alguma cousa que lhes- agrade , porque . queirao , ou náo qúliiáp os donos vendê-la , os Brancos logo a contao por sua , e , ainda quando ajustào , nao dao o que que- rem os índios vendedores, mas só o que lhes querem dar os mercadores; daVlhes hum annel de vidro, v. g. que apenas valerá hum seitil , por huma galmua , ou por hum alqueire de farinha , e ,• como aquella poore gente he mui tímida, e acanhada,- se calão: peior he quando .os Brancos levao agoas-ard entes , que sao a maior ten- tação dos índios , e com que u embebedao e depois ioíão as facadas , ficando perdidos , e dando trabalhos aos Missionários, assim no espiritual, como no temporal , po-que os compradores só atteodem á sua conveniência, que se matem , ou joguem as facadas não importa. To^os estes , e muitos outros inconvenientes tem es- tas correições dos Brancos pelos Sitios dos índios; todos elles ou a maior parte delles se evitão determinando- lhes Mercados em forma nas suas mesmas Povoações , 'aonde em dias determinados , que podem ser, v. g. hum 'dia em cada mez -accudão com os seus haveres e os vendão aos Brancos , que accudirem na presença dos seus Missionários, ou de algum outro Official , que tenha in- cumbência de taxar as cousas para evitar os enganos , que podem haver, e para a frequência dos Brancos po- dem também servir os Barcos da carreira do Amazonas aos próprios de cada Rio. E como as Missões são tan- tas repart-dos por ellas os dias do Mez, não haverá dia aWm , era que não haja Feira alguma no Amazonas , e podem haver muitas mais , depois que se augmentarem as Povoações. - . ■■ . A. «egunda , e utilíssima conveniência destas beiras, e Mercados em forma, dos índios he hum grande incita- mento , que nelles se hirá introduzindo do melhor cultivo nos seus Sitios, e mais diligentes no uso da agricultura, e também o buscarem , e aproveitarem as riquezas das matas , de que ninguém melhor do que elles se pode aproveitar , porque são fura-m itos , sabem bem as para- gens em que abundão no tempo das suas ••colneitas , &c ■ise acharáõ nestes Mercados as mais preciosas riquezas daquellas terras , assim em bálsamos , como em pedras ( 140 > ■ Bazares, Baunilhas, Puxerís , Guaranás, e outras, por- que, ainda que os índios tenhão por natureza ,e heran- ça a preguiça, com tudo, sempre ha alguns mais curio- sos , os quaes , vendo a estimação que os Brancos fazem.. das riquezas, as buscão pelo mato , ou ao menos apre- veitão , quando as acharem. Da mesma sorte nas Missões do Salgado, ou na Costa- Mar, em seus Mercados haverá muita tartaruga fina , âm- bar t e resinas r que ha pelas suas*, praias. De sorte que os Mercados em boa forma serão o melhor meio para in- citar os índios ao melhor cultivo das suas terras , e ò melhor meio de conseguir as riquezas dás, suas praias , e matas, e tudo ajudará ao maior augmento daquelfè Es- tado , que pôde vir a ser o mais rico Império do Mundo.. Huma advertência me parece. muito necessária nestas. Feiras , e Mercados,, e vem a ser a prudência necessá- ria dos Almotaceis na avaliação dais cousas. , porque não só devem attender á conveniência dcs que eomprão, mas^ também dos que vendem , porque , se attendem . só a , conveniência do Povo , e põem as cousas no preço Ínfimo , afugentão os vendedores , e resulta dá retirada maiox dam- .. no. Foi observação , que houve por vezes naquellas terras,, que, chegando algumas Embarcações dáquellas terras , carregadas de tartarugas , ,e outros víveres, aceudiao logo os Almotaceis a por-lhès o preço mais ínfimo, e favorá- vel ao povo : do> que irritados os donos , e outros , que • podião concorrer com semelhantes víveres , vendo, a pou- ca conveniência , que tiravam de semelhantes remessas , se esfriavão ,, e desistião de semelhantes negócios ; e, como desta faka resulta maior damno ao povo , . lhes fazem maior mal que bem v quando o quereriV favorecer ; quanto mais subido for o preço, haverá maior concurso, e re- sultará maior abundância , e fartura , porque mais vale que hajão víveres, embora mais caros, que os não ha- ver por preço algum. Assim evitão a queixa ordinária daquelles Povos , de que , tendo necessidade de víveres , e dinheiro para s comprar , os não acha o por preço algum ; de sorte que , quando ha algum morador, que necessita fazer banquete, ou celebrar alguma maior celebridade , lhe he necessário fazer multiplicados gastos , huns nas canoas, que ex <;141 ) pedem dias antes a busca-los pelos Sítios, e 'Faxenfks, outros no seu justo preço ; e por ventura que sã3 maio- res os primeiros, que os segundos : o mais admirável he que todos estranhão, e censurão ■ esta praxe ,. porém nunca se resolverão a pôr-lhe remédio. Avaliem- se as cousas com igual conveniência dos que comprão , e dos que vendem , e ■ logo haverá abundân- cia! Lembra-me aqui o que succedéo na mesma Metro - poli , Cidade do Pará , . em alguns- armos dó meu tempo : zelozo hum Governo dô bem coramum , lavrou , e mandou publicar, ordem que os fabricantes de assucar o, não ven- dessem para cima dè mH e duzentos réis a arroba , sendo dò mais puro, e por outros menores preços os de menor estimação, ,e foi muito ao «ontrario do que pertendia o seu efieit© 9 [ porque , pertendéndò com esta. ordem Usongear o povo , o poz em tal consternação , que não poclião achar assucar por preço- algum , e só por empenhos alcançavão pelo preço antigo , ,ou talvez mais -subido , alguma arroba e ás escondidas , origiriãndo-se ■ esta tão grande carestia dè cessarem as fabricas do- assucar , porque dizião lhes não fazia a conta o preço taxado , e a cana , que ha- viãò dè empregar; em . assucar , , a empregavuo em agoas- ardenteSi Semelhante carestia se temia nos tabacos, porque tam- bém se pertendia pôr por estanques , e preço intimo, e já os. Fazendeiros protestavão de o não cultivar , não obstante que muitas vezes o vendia©-- akidã muito, mais barato : donde he engano cuidar r , que , taxando as cousas a pre- ço mais < favorável, ao Povo.., mais o lisongêão. , porque antes succedé ao contrario, quanto mais subida fôr a Uxa ;„ mais abundância haverá , e , . havendo .muita abun- dância , ... os mesmos vendedores se verão obrigados a ac- commodarera-sè aos preços mais. Ínfimos. Nem., vale nes- tes casos- a força coactiva-., porque- só he conveniente .nas terras , onde os lavradores não. tem , nem,. podem ter i ou- tro modo de vida, . masinãõ na. Amazonas , : onde só cul- tiva quem quer, e< o que quer-; e querer obriga-los , he perder tudo , assim Como taxar-lhes> as- cousas por pre- ços Ínfimos he privar as^ Povoações do seu concurso. > Só se pódèríão ■ obrigar ao cultivo de algumas mais esquisitas preciosidades ;- d» Amazonas , como Baunilhas , ■ — tf 142 I Carieua," Puxeri '; Guaraná, e semelhantes outras, v. #, obrie ando-os a plantar cada* anno tantos pés , ao menos , sobpena de perclunento das terras , porque tudo isto cede em proveito seu , e augmento do Estado , mas não ta- xando-lhes preço intimo aos seus productos ; havendo grande concurso ás Praças , e muita abundância nos Mer- cados , elies mesmos se verão obrigados a vender barato , porque quem faz a barateza he a abundância. Estas providencias dos Barcos , e dos Mercados são o melhor , e mais conducente meio para esta abundância , -e barateza , e não a demasiada diligencia dos Almota- ceis fip preo ínfimo. No Estado , e destricto dos P^eis Catholicos (porque até agora propriamente failei do des- tricto dos Portuguezes , e Pará ) também se pôde prati- car a mesma industria dos Barcos , e Feiras, pondo no Rio Solimões hum, ou dois BarGOS , cujo destino seja na- vegar até á Cidade de Borja , ou até á VilJa de Braca- moios , e pondo outros nos Rios povoados , como são Napo., e outros para a boa communicacão das suas Mis- sões , e Povoações , constituindo também Mercados em cada Missão : e parece que só por este meio terão algum mais augmento aquelles tão grandes Estados , que ainda estão como em Embrião , pois , tiradas as Missões dos índios, apenas contão três Povoações de Castelhanos , huma Villa , e três Cidades , que quasi mais lhes he al- cunha o nome de Cidades , do que realidade ; e , introdu- zmdo-lhes a praxe dos Barcos , e Mercados , lhes Faci- ■litão a communicacão , e commercio, e por conseguinte , a povoação de Castelhanos , que hiráõ concorrendo. Só pondo em praxe os Barcos da carreira , poderáõ os ditos Castelhanos utiiisar-se das immensas riquezas , que tem , e perdem nas suas matas , conduzindo-as a Quito pelo Rio Napo , ou Rio Santiago; e, se ainda assim lhes não tem conta a sua condução , não lhes con- sidero outro meio para aproveitarem tantas riquezas , se- não o commercio com os Portuguezes do mesmo P~io. Eu não digo que o haja , porque joga çom rasões do Estado, que náo devemos averiguar: digo só que he o umco meio de se poderem utilisar das suas riquezas , e já. então , vendo que se podem utilisar os seus colonos dos seus Ca- cáos , Cravos, Salsa , Baunilha, Quina , e mais riquezas , que (143) para cima duo podem conduzir , concorreria© a povoar aq-ieí- las Uij boas , e ricas terras , Êommutando aos Portugàe- zes estas cousas pelas drbgaá da Etitopa , que , levadas pelo Amazonas acima , depois de fretes , e mais gastos, ainda asim lhes -Vem a ' sáliir mais baratas (meio por meio) do que havendo-as lá dos seus Portos, cuja condução yr Q carreto custa mais do que valem as drogas. Podião pois construir na Cidade de Javary , ou em outra Povoação das que fazem, raia entre Portuguezes , e Castelhanos , Mercados , e Feiras estáveis, em que com- merceassem as duas Nações , cujo commercio seria igual- mente útil , e conveniente , e- pouco a pouco hiria attra- hindo moradores, e se povoarião aqueíles Rios. Aos "Cas- telhanos , além do intuito da maior população ,. faria mui- ta conta por duas grandes conveniências , que deste com- mercio lhes viria : primeira , de poder utilisar-se das gran- des riquezas das suas matas ,, passando-as aos Portuguer zes ; segnndá , enfeirarem as drogas da Europa . mui to mais aecommodadas : aos Portuguezes também lhes serião convenientes, por lhes -ser .fácil o transporte Rio abaixo, e o desaguadouiX) da Europa Rio acima : ê parece que melhor he esta praxe do que perderem-se as riquezas nas suas matas. Havendo a mesma economia ? e com as mes- mas conveniências se deverião estabelecer entre as~mesmas duas Nações nó Rio Madeira, onde as. Missões .Caste- lhanas tem também dríScil ' recurso aos - seus Portos : , e podião haver os seus provimentos muito mais accommo- dadõs por via dos Portugnezes , se se licenciasse entre as "duas Nações a coram unicaçào , e commercio; e por falta dêlle se perdem as mesmas riquezas pelas matas ; poiém , ficando esta providencia ao exame dos mercado- res Hespánhòes , que querem, não haja outro ©anal senão ó das suas mãos , e por. nao requererem estes particula- res , padecem os Povos , que podião- ser mais felizes por outras vias : e as Companhias de Commercio não servem mais do que para enriquecer huns poucos , e empobrecer os mais. Tornemos aos Estados Portuguezes ; os quaes na- quelles Rios podem ter grandes augmentos por terem fa^ eeis os Portos ; e os meios mais proporcionados são, pôr t arcos da carreira , os Mercados introduzidos, e esti-be- cidòs nas Povoações. O que suuposto , passemos já a outra matéria. ■" (144) WW^VW-V^-V^-W^^V' C A P I T U LO «XII. ■Da Providencia necessária na Pesca do Amazonas o Utra cousa , que também pede especial providencia no Amazonas , he a Pesca : porque se Faz muito repara- vel que , havendo tantas , e "tao diversas castas de peixe jiaquelle Rio, e Mares, haja tanta penúria , e falta deite nas Povoações por causa dos pescadores de officio , e Ribeiras , ou Praças de peixe publicas , em que se ven- da , chegando a tanto esta falta de providencia , que , nos tempos reservados na Quaresma , muitas vezes soífrem os moradores da Cidade huma falta total de peixe : de sorte que ainda as Communidades Religiosas, por mais bem assis- tidas e reguladas , que sejão , padecem muitas vezes estas faltas , por nao acharem modo algum de as remediar , ain- da que seja com badejo , e peixe secco , que he o mais ordinário , e ainda que para remedear semelhantes faltas tem os particulares seus pescadores próprios , que trazem cada dia o preciso para as suas famílias; a maior parte, que não tem escravos , nem podem ter semelhantes pes- cadores., padecem -suas faltas, pois ainda os que os tem as padecem,, como já dissemos na quarta Parte, expondo a praxe , que nisto ha naquellas terras. De duas causas principalmente nasce esta tão grande falta : primeira , a falta de pescadores actuaes , que vivão , e tenhão esse officio; segunda, os grandes calores daquellas terras, qu* logo corrompem os corpos , e não dão tempo a conduzir são o peixe das pescarias ás Povoações , toda a vez que tem alguma maior distancia ; e por isso os escravos pes- cadores dos particulares, não s aliem ao largo, e, apenas pescão alguma porçaó ordinária , logo a yío conduzir a ( 145 > «asa, porque não se conserva sao de num dia para ©ti- tro , nem de manhã para a tarde, nem ainda de huma maré para a outra , senão á força de sal , e secco ao sol, ou , como fazem os índios , pondo-o sobre o fogo. Nasce, porém , esta falta de qualquer cousa , e he oerto que pede especial providencia o seu remédio 5 prin- cipalmente nas Povoações , e Missões Portuguezas , aon- de o peixe he ordinário sustento em todos os dias , e em todo o ánno , por falta do subsidio da Vacca , e açougues , que só ha nas Cidades Metropolis ; e para te- rem o peixe oecupão copia de índios. Antes de expor a providencia necessária para evitar estes damnos , quer» advertir aos Leitores a praxe que u são muitos Reinos, e Províncias, para o peixe; e he que gss pescadores , que "tem-, e vivem deste officio , não matão o peixe , que pes- cão, mas, assim que o peseão , o rnettem vivo em tinas, que trazem nas Embarcações , e vivo o conduzem aos Portos-, e Mercados , de sorte que não se vende naquelles Reinos , nem se compra peixe morto senão salgado \, e se admirão muito de que os Portuguezes , e mais Na- ções, o vendão , e comprem morto; assim se pratica no Império de Alemanha , no Reino de Irlanda ; dizia hum nacional, que talvez ainda seja Vivo, e assistente na Ci- dade do Pará -, que na sua terra ninguém compra o pei- xe morto , e isto se pratica não só nos Portos , onde com mais facilidade Se pôde conseguir vivo> ma3 até pa- ra o centro dos Reinos , aonde se pôde chegar por ca- minhos, e jornadas de terra : e quando não possa che- gar ao 'centro-, e Povoações mais distantes , ainda vivo., dos Portos, nem por isso então o comprão morto , por- que tem outra providencia , e economia > que deveriao imitar as outras Nações. Tem grandes tanques , e viveiros de peixe , do qué vendem ao Povo, e cada hum manda tirar o peixe , que quer, e está vendo nadar; e semelhantes viveiros, e tanques são a maior regalia , e a maior renda dos Mor- gados , donde nasce haver abundância de pescado vivo , e serem providos os Povos; e se o nosso Portugal, Cas- tella , e outros Reinos , em cujos centros he tanta a falta de peixe ., imitar esta boa economia , e providencia dos mais Reinos , faria bera ; nem se deve regeitar por serem 19 ■m í 146 ) custosos de fazer semelhantes tanques e viveiros , porqu* também nos mais Reinos são. custosos , e depois na abun- dância do peixe resarcem bem os gastos. - Eu bem sei que já alguns, particulares tem estes vU retrós nas suas Quintas , mas tãq pequenos, que só ser-. iem de regalia , e quando muito dão para gasto, de sua* casas , mas nao para servirem ao, Poyo. Isto supposto \ vamos agora ao Amazonas.. Be dois. modos se podem remediar as. faltas, de peixe nas Povoa-, ções do Amazonas : primeiro , pondo- pescadores actuaes ^ em cujas Embarcações coiíduzào o pescado vivo aos Mer-. çados , o que podem fazer, trazendo tinas com agoas ,. ou coches , em que o peixe venha nadando , e tão vivo. como n'agoa , e já então evitarão o. clamno da sua cor- rupção , trazendo-o morto. M poderão já os pescadores , sem o risco de damnificação , sahirem ao alto a fazerem gros? sas pescarias , que todas nas Cidades terão bom gasto ;- pois, se esta praxe se usa na Europa em terras frigidis-. simas, como são a Alemanha., Irlanda, e outros Reinos, onde por causa dos grandes frios podem os corpos mor- tos estarem muitos dias sãos , e frescos , muito mais se deve praticar nos climas cálidos do Amazonas , onde o, peixe morto, e mais corpos mortos lego se corrompem;, segundo modo e providencia , são os tanques , e viveiros,. em que podem haver tanta variedade , e abundância de- peixe, que cheguem a fartar as Povoações; e em ne- nhuma delias como no Amazonas se pôde praticar esta- economia , por serem as suas terras tão abundantes de agoa, e estarem fundadas nas. margens, dos. Rios todas as suas Povoações. , e por isso com muita, facilidade se podem praticar semelhantes viveiros de peixe , sem ser necessário busca? para isso fontes , e. ribeiras de agoá,,, como fazem na^ Europa com grandes gastos nos Canaes, e Aqueductos , por onde encaminhão a agoa ,: basta na» Povoações do Amazonas, fazerem, estes tanques nas mar- gens dos Rios , onde entrão , e sahem as mesmas agoaá., e onde com muita façilidaçle se pôde conduzir o peixe , para criação , e multiplicação , cujo produeto redundará em muita ganância de seus. donos , e em muita utilidadç dos povos; e também assim se podem utilisar muitos pau- tamos , e alagadiços , que ha nas visinhanças da» Pe- ( m ) %©áç6*es, d© peixe tenbão á roda algumas árvores , que lhes dêm sombra, porque o mesmo peixe, fugindo do calor d» Sol , que no Amazonas faz aquecer a mesma agoa., bus- ca o fresco da sombra , e as tartarugas não só que- rem o fresco da sombra, mas^ também arvores fructiferas*. porque comem e vivem dos seus fructo$, e especialmente dos fructos da arvore Arúnga ,, que nasce , e se ciia na mesma, agoa , e principalmente praias de lodo , porque e lodo. ou he o seu especial sustento., ou. parcial , porque observarão já alguns, curiosos nos viveiros , que delias tems, que nào comem , nem ainda as fructas Aningas -, que lhes dei tão , e suppõem que he por lhes faltar o lodo: por quanto nas praias, de lôdp he.que se acha© , e pescãa» ma>3 tarMrugaSé Talvez que , assim como ha animaes> terrestres , qus> só bebem,. e gostão das agoas enlodadas , assim. as tarta- rugas só coro ão o seu sustento em lodo,, e com Iodo* IS para que haja criação * e, multiplicação nas tartarugas fc também he necessário qué tenbão algum taboleiro de areia , onde ponhão os ovos , porque só os põem em terra , onde ha areia ,.. e onde com o calor tio Sol se chocão, e sa- hem.as crias. Os Igarapés- do mato são os mais próprios para viveiros destes r animaes, per serem sombrios , e con» servarem por isso sempre, frescas ,e sombrias as agoas ^ «em necessitão roais que tapaj-lhes as , bocas com pedra 6olta, que não empeça a-sahida das. agoas-, pôr-lhes eoà algumas partes tabôleiros de areia , c fazer-lhes pelas bor* das alguma pequena estacada para que não sáiac para fora; e, para com brevidade terem multidão desteâ animaes , , podem conduzir para alli oveirps, delias , tirados de outros areáes. Tud© isto he taò utrl , e-facil no Amazonas , que bastava que as Communidades Religiosas , e moradores , que tem muitos escravos, applicassem hum só anuo a estes bene- ficios os fâmulos,, que todos os annos applicão á Pesca * para terem pescado certo, e seguro para toda a vida. Estes são os meios mais próprios , e infalliveis para remediarem a penúria, que ha de peixe , e se aproveita- rem do óptimo, pescado do Amazonas; e, por vir aqui a ponto , accrescentarei agora duas providencias necessárias ftaqueUe Estada para , pelo tempo adiante , não exper*» (149) mentarem os darmi09 , que já experimentão em muita parte deite pela falta de pescado. Primeira , hiinia total prcscrip* ^ão do uso do Timbó , e mais venenos , com que lá cos- tumão matar o peixe , porque o seu uso faz os Rios tão estéreis de peixe , que , havendo antes immensidade delle , depois de muitos annos não tem nada , ou he muito ra- ro , como cxperimentão os moradores, e affirmão todos os naturaes ; e pela mesma rasão se deve proliibir lançar nos Rios os bagaços da cana do assucar ,. pois também dizem ser veneno para o peixe, e que pelo tempo fazem •s Rios estéreis ;: porque .semelhantes venenos , além do matarem todo > o peixe, envenenão as agoas ,. e náo deU> xão vingar as crias : tudo a experiência tem mostrado, A segunda, providencia necessária he sobre as manteiga» de tartaruga,, que se fazem todos os annos,, e se de-* vião prohibir , ou. totalmente, ou ao menos huns anno3 por outros , porque , continuando os moradores na sua fac- tura todos os annos > como costumão , e crescendo a Po- voação do Amazonas , virá tempo , em que não haverá huma tartaruga : he certo que ainda ha. multidão delias, mas, a respeito das que havião nos primeiros annos , são já muito poucas-, e ha paragens ,. onde apenas se acha alguma , sendo que antes erão tantas , que não podião navegar as canoas pela multidão, que delias havia, e, se em tão poucos annos, que tem o Amazonas de Euro* pêos , se vê tão sensivel diminuição , parece consequên- cia infallivel que virá tempo , em. que apenas se achará alguma tartaruga; e de que esta diminuição nasce das manteigas , que annualmente se fazem dos seus ovos , não ha duvida, e se prova porque antigamente estava o Ama- zonas mais povoado de índios do que hoje está de ín- dios , e Eurcpeos : toda- aquella immensidade de gente comia , e dava grande gasto ás tartarugas , e com tudo «nehião os Rios; agora comem-se muitas menos , porque he menos a gente , e ha já poucas: logo vem esta di- minuição de lhes destruírem os oveiros na multidão das manteigas,, que todos os annos se fazem a milhares de potes. Vião-se já tão augmentados estes damnos , que ja ,. nos annos 55 e 56 , se virão obrigados os Magistrados a atalha-lo», pi ohibindo a todos o uso dos Timbós paia ( 150 ) matar peise , e coarctando a liberdade das manteigas &e tartaruga de três a três annos ; publicárão-se as leis cona as solemnidades costumadas , porém pouco ou quasi ne- nhum eíFeito teve, porquanto, a respeito do peixe, so surtio o eífeito de não usar-se do Timbó claramente , mas ©ocultamente quem apanhava occasião não a perdia , £ado de que as solidões daquetlas terras , e Rios lhes dão li- cença para tudo : talvez quo já hoje haja maior obser- vância! A respeita das manteigas de tartaruga, além da solidão > em que se flão os transgressores, aliegao rasoet «te necessidade, e que não tem lá outras manteigas , com €|ue supprão as dos ovos -das tartarugas. Porém deveria» os Magistrados insistir na sua observância, porque toda» as rasões e necessidades , que áílegão , são frivolas ; por- quanto , para o tempero das viandas, quando não haja oa baste a manteiga ordinária , suppre muito bem , e muito melhor que a dos ovos , a manteiga, que costumao fa- zer das banhas das mesmas tartarugas; digo que suppre muito melhor , porque na verdade he mais estimada e preciosa, e basta para supprir muito bem á vontade; e, quando não baste , ou nao chegue para todos , tem mui- tos , e bons sapplementos , nos muitos e preciosos azei- tes das suas terras. Para a candeia , e luzes tem immensidade de azeites de Andiróba , Carrapato, Pinhão , e outros , de que mui- tos nsão com tão bom effeito nas luzes , como se fosse do bom da Europa ; e , para o tempero e prato , tam- bém os tem tão doces e excellentes , que lhes nao faz inveja o da Europa , como são o das Castanhas , e me- lhor o das Palmeiras, Itacábas , ou dos seus fructos; e ainda do azeite Gergelim se servem muitos, e de outros mais; e, se todos estes-, r e muitos outros , que podem ter, não bastão a saciar-lhes a ambição, saibão que, erà muitas outras Provindas , não lia , nem se remedeiao oom outros azeites mais do que com os que tirão dos caro- ços e pevides das fructas , e se darião por mui afYortu- nados, se tivessem nas suas terras metade dos que tem o Amazonas. Pela mesma rasão^ e com os mesmos fundamentos^ »e deverião prohibir as manteigas , que fazem Outros d» peixe b«i , ou boi marinhe, e ainda as suas carne» se»- ( 15! ) eaa ,. de que costumao os moradores , e principalmente ©s Sertanejos , fazer grandes salgas ; porque , se continua- rem com ellas todos os aunos , virá tempo, em que tal- vez senão ache no Amazonas hum boi marinho, e fal- tará o maior regallo daquelles Rios ; e a rasão de se te- mer este damno he porque o peixe boi não multiplica, como a multidão do mais peixe „. mas só pare. hum, co- mo as vaecas terrestres ;. e , sendo assim tao pouca a sua criação e multiplicação, e por outra parte maíando-se to- dos os annos tanta multidão , he sem duvida que hirào a acabar;, e de facto já em muitos Rios,, em. que antiga- mente havia multidão , se não acha* hum só.. Frohtbão-se pois as suas salgas tão copiosas ,. e annuaes , e só se conceda a sua- pesca para. sustento ,. e não para contrac- to , ao menos no triennai, como as tartarugas». Muitas outras providencias se podia© dar aos novos povoadores do Amazonas sobre a, mesma? matéria „ e me- thodo da melhor ,. e mais própria economia daquellas. ter- ras , e suas riquezas : porém , reservando-as ou para me- lhor tempo, se Deos fôr Servido da-lo , ou para outros, curiosos dos muitos, que tem vivido , e sabem muito bem. as suas melhores conveniências , acabo já esta 5. a 9 e ultima Parte do Thesouro descoberto, no Rio. Amazonas : chamo-lhe ultima, sendo a 5.** , porque ,. como a 6.» ,. não obstante ser a. principal, trata de vários Inventos ,. Engenhos ,, e Fabricas , mdiffereiíies a todo o Mundo , por- que a todo o Mundo são igualmente úteis?, fica reservada para, Tratado, á parte r, QU para, outra melhor occasião, sã í)eo$ a dér.. Por ultimo acabo com reeommendàr aos- Habitantes; do Amazonas , a praxe destes meios , coma. os mais próprios , c talvez os unieos de se poderem approveitar das gran- des riquezas daquelle Thesouro ,. e também com pedir aos Leitores- disfarcem os muitos erros , de que estes Cader- nos estão cheios, attendendo si : aliquid contra Ji d em aut, honos mores inventum fucrii , indictum volo , sendo o m^ jpncipal intento divertir o tempo. r i m* " ÍNDICE, INTRODUCCAO. Dá-se noticia da Obra. Pa&. vÇ CAPITULO I. De dois requisitos ^ ou meios necessários pa- ra ,a povoação , e aug mento do Rio Amazonas. 11. CAPITULO II. De huma nova praxe para a cultura da Maníba. 27. CAPITULO III. Da providencia , com que se hão de pro- ver de operários os Habitantes do Amazonas. 43. CAPÍTULO IV, Do modo mais fácil de se augmentarem as preciosas riquezas do Amazonas com grande conve- niência , não só -dos particulares y como de todo o Es- tado. 57, CAPÍTULO V, Do mais fácil Methodo de povoar o Rio Amazonas. 72. CAPITULO VI. De alguns avisos importantes aos novos Povoadores. 84» CAPITULO VIL Das paragens , que primeiro se devem povoar no Amazonas. 96. CAPITULO VIII. Curiosa disposição dos Sitio» do Ama- zonas. 1 04. CAPITULO IX. Do melhor Methodo para as facturas das Canoas do Rio Amazonas* \ 112, CAPITULO X, Providencia necessária, e utilíssima para a Navegação do Rio Amazonas. 124. CAPITULO XI. Modo fácil para se poderem praticar os Mercados, e Feiras -no Rio Amazonas. 135. CAPITULO XII. Da Providencia necessária na Pesca do Amazonas. 144. ERRATAS MAIS NOTÁVEIS. agin. Linh. Está. Deve estar. 13 3.0 suecede peiór suecede 21 34 as tei ras , e o Iodo as terras com o lodo das enchentes as enchentes , 23 21 achar sachar 61 40 dois mil reis duzentos rei-» 97 13 S. João S. José m #*&&* E M Novembro de 1818 , houvemos a sa- tisfação de lêr huma fiel cópia da Sexta Par- te , de que falíamos na Advertência, e por fal- ta de tempo, então, apenas copiámos os Ca- pítulos mais importantes. Julgámos útil inse- rir aqui o Titulo, o Antilôquio , e o Índice das matérias , contidas nos treze Capítulos , de que hé composta a referida Sexta Parte, TITULO. Parte Sexta do thesouro descoberto no Rio Máximo Amazonas. Contém "Inventos úteis , e curiosos para a melhor Na- vegação , fazendo prósperos todos os ventos , ainda ó$ mais ponteiros , e contrários; e para fazer nas calmaria» boas viagens; com a nova Invenção de reprezâr às ma- rés para moerem Fabricas , e Engenhos de mótu contínuo. Accrescem algumas outras ideias de Engenhos manuáes para serrar madeiras , iazèr' assucar , e ^muitos outros, não menos curiosos que úteis á vida humana. Offerecídos jpor hum curiôse aõs Navegantes. AN Til O y QUÍÒ. Por me vêr obrigado , pelas razões , que aponto na Pri- meira Parte deste Thesouro descoberto no Amazonas , a entreter o entendimento, na falta summa de- todos os divertimentos , e de livros ,' e por disfarçar a falta de somno , ainda dó necessário das noutes , e tomando para remédio argumento do Rio Máximo Amazonas , me faltão , para cumprimento da minha promessa de dar mé- thodo de fazer mui comraunicável a seus Habitadores aqnelle Rio , os Inventos da Sexta Parte ; que agora vou a propor , desejando saião na praxe , quáes me parecem na especulação. Esta he a razSo porque os appropvfõ ..... áquelle fa- moso Rio, não obstante que a sua conveniência he igual- mente útil a todo o Mundo , porque cem elles > postos ciai praxe, se 'íabrevíão as viagens; se encurtão as provi- sões; se diminuem os gastos; se evítuo nos víveres, e agoádas as corrupções ; e se remedêião muitas doenças, epidémicas , e mortandades., que nas dilatadas viagens , e perigosas calmarias ordinariamente* suecedem;- alem dé muitas outras óptimas conveniências , que ao Bem Com-» mura, e ao Commercio rezultão : mas., quaneío não fôs- sem de tanta utilidade a teclo o Mundo, , bastar-me-há. sêrem-no ao grande Rio Amazonas, e. outros semelhantes para já eu conseguir o meu intento , que he fazer fácil a sua Navegação,, e communicação em próprias. Embar-» cações , para se não verem obrigados os seus moradores a navegarem com grande prejuízo das suas lavouras , de que tirão os Operários para as esquiparem , por falta de Barcos communs ■ para serventia de todos* Suppônho que não serão censurados por novellàs es- tes novos Inventos , porque eu não pretendo louvores , ou elogios des Leitores ; nem dos Príncipes os prémios de Inventor ; nem certidões de serviços dos Magistrados-: basta-me o têrem-me servido de honesto devertimento em tanta mizéria, e na falta de outros, e de que venhão a servir.de utilidade aos mareantes os. que pertencem á Pilor tagem , e os mais de conveniência aos moradores do Amar zonas na facilidade dos seus Engenhos ; e tudQ para , maior gloria de Beos. Valete. . IN D IC E. CAPÍTULOS = I. Do primeiro Invento de fazer prósperos a toda a Navegação todos os ventos, e de converter ain- da os mais contrários em próspera bonança. II. Sobre a mesma matéria do primeiro Invento. III. Invento segundo para navegar nas calmarias. IV. De algumas outras . adver- tências sobre a Navegação. V. Do terceiro Invento de re- prezar as marés para fazer mótu contínuo» VI. Dá-se no- tícia de huma Fábrica para moer grão com o novo In- vento de reprezar as marés. VII. Segunda Fábrica , ou Engenho de assucar de mótu contínuo. VIII. Engenho de madeiras a impulso das marés com mótu perpetuo. IX. De alguns outros Inventos curiosos com rodas de awa *m fevenção. X. Engenho de assucar -por multiplicação. TI. Notícia de hum curioso Engenho de madeira portátil. Xll. Be outros três modos de serrar madeiras com o Engenho portátil. XIII. De algumas outras, curiosidades sobre as mesmas , e outras matérias, f? Desculpe se-nos concluir com a seguinte affcctuósa exclamação: " Oxalá que Portu- guezes, zelosos do seu e do Público Bem , procurem á porfia (quando não queirão,, * nem possão separados ) ? reunidos em Socie- " dades com Privilégios exclusivos por- pouquis- " simos annos> estabelecer,, e facilitar huma prompta , e indispensável commumcaçao en- tre as vastíssimas Costas , e os muitos Rios navegáveis do Brazil , por meio de Barcas de Vapor (já, ha.annos, tão justamente acre- ditadas entre todaa as Nações cultas), em quanto a experiência não comprovar a- pos- sibilidade-, e utilidade da Navegação , feita com os Inventos, acima mencionados, que tanta honra d ao ao seu authôr .! „ ?> -%%t Amâncio jeito na Gazeta JV. 87 {Sabbado 28 ãe Outubro de 1820). Está actualmente no Prelo hum Mamiscripto , efem-- posto de 140 paginas , pouco mais ou menos , das quaes as primeiras 10 são distribuídas gratuitamente com a Ga* &*&** zeta , para que por èllas' se possa fazer huma , tal e qual , idéa da sua grande utilidade. O seu preço será 1280 réis, descontando-se 320 réis a favor daquelías pessoas , que quizerem mandar subserver na Regia Impressão-; na loja da Gazeta ; na de Silva , rua da Quitanda ; na de Gui- marães , junto á Igreja da Candelária ; na de Saturnino , junto á Igreja da May dos Homens ; na de Mandillo , defronte da Igreja dos Terceiros do Carmo ; e na de San- tos , junto ao Correio; ate o fim de Janeiro próximo fu- turo , para que possa sahir impressa huma exacta Lista da Subscripção , sendo para advertir que o dinheiro será en- tregue nas referidas lojas , somente nò acto da entrega da Obra , depois do annuncio na Gazeta. »»®®45'®«9e Subscreverão nas referidas lojas os Senhores %^y Andido Lazaro de Moraes. José Manoel Plácido de Moraes. Monsenhor Pizarro. = António Rodrigues de An- drade. João António de Araújo d* Azevedo. Pedro Antó- nio. = Joaquim Pereira Leitão. Luiz Henriques de Moraes Garcez. = Jeronymo Gonçalves Guimarães. Joaquim José Gemes de Barros. José de Christo Moreira. Leão Cohn. = Cónego Vidigal. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho. Ignacio Maria de Olfers. Marianno José Pereira da Fonseca. = Aquilino Alvares Delgado. Bento José da Cunha Lima. João Caetano dos Santos. a= António Lopes de Calheiros , e Menezes. Bento Januário de Lima. Caeta- no Pinto de Miranda Montenegro. Conde de Cavalleiros. Domingos José da Silva. João Gomes Henriques. João Marcelino da Costa.. João da Silva Feijó. Joaquim Marce- ilino Teixeira de Barros. Jorge Aviiez jusarte. José Caeta- no de Andrade Camisão. José Francisco da Costa Velho. José Ribeiro de Carvalho. José Victorino dos Santos. Luiz Moutinho Lima Álvaro e Silva. Luiz Pinto de Mendoça Arraes. Manoel Gonçalves Barros. Veríssimo António Car- dozo. = Rio de Janeiro. 13 de Fevereiro de 1821. JM»