k^F? mm, *o^ w 1 i*Ml J *r« .^ lA \Of Vc %i^^ V* í % y -$**&. 6 //'/M r v- ^■^^•5 fcw " -ir : ' r ^wníí^V. r^S^fV-" ^ Jl V% ,*-- jcc «Ji >f OO \c — A PRIMAVERA. T7 V CANTATA POR FRANCISCO VILLELA BARBOSA. Impressa no Tomo VI Parte 1 das Memorias da Academia das S ciências de Lisboa em 1819. LISBOA NA TYPOGRAPIA DA MESMA ACADEMIA. I 8 2 1. ■tí\ o (3 ) A PRIMAVERA. CANTATA. Meleagro Idyll. á Primav. Porque não cantará também o Vate A risonha , a formosa Primavera ? Trad. por J. B. A. S. JLá 'A onde em tuas margens, pátrio Rio, Uye do primeiro mez tomaste o nome Pasce o sidéreo Capro o verde esmalte, fc de teus crystaes bebe a onda pura , (Meta antiga do Sol , centro hoje de Outro Cujo lúcido Império abrange os pólos) Com providente mão a Natureza O asylo preparou da Primavera. Alh não murcha a rosa : alJí os troncos JJe flores sempre novas se atavião. Ali; (em quanto as negras Tempestades òobrejis azas de Boreas carrancudo Arripião do Inverno a hirsuta grenha , Nos Ceos rola o trovão , cae o diluvio , ( 4) E do Septentrião alaga as plagas) Se acolhe a Deusa com as Graças todas : Mas apenas viçosa a amendoeira Dá signal de acordar ás nuas plantas, No pressuroso carro Phebo a toma : Dalli volta com elle alegre e rindo, Quam doce he vela então com mão curiosa Toucar a densa coma do arvoredo , E sobre o verde dos macios valles Desdobrar a cheirosa bordadura , Em que arte e mimo dispendêra Flora ! Quam doce he vela do sanhudo Inverno Triumphante correr em róseo carro Os tapizados campos ! Vão ante Ella Os capripedes Satyros dançando : Fazem-lhe corte as Graças prazenteiras: Namorados de vela os bosques cantão : Os arbustos, os plátanos florescem Com seu hálito doce perfumados: E os virgineos botões, abrindo os lábios, Com pudibundo riso se franqueiao Ao pranto creador da madre Aurora. Cantai , ó Pastoras ? A Deusa da selva , Que veste de relva As vossas campinas, E os valles matiza De soltas boninas. E Tu, que a natureza estudas e amas, Andrada , escuta o canto : ser-te-hão gratos Os sons da pátria Musa , e o nobre assumpto. Com a lyra nas mãos , na bocca os hymnos , E no peito a virtude , ella te acena , E te convida para os flóreos valles .__. A A (0 A saudar as matutinas graças Da formosa Estação, Aurora do anfio. Venturoso o mortal , que contemplala Pode longe da Corte estrepitosa, E se apraz de trocar os áureos tectos Pelos verdes docéis da umbrosa selva » JJas symmetricas praças abhorrido , Corre estas veigas plácidas, sem ordem, Habitadas da franca Singeleza. Das flores pelo calyce orvalhado iJo tranquilJo prazer o néctar gosta • £ se adornado de virentes folhas No curvo ramo amadurece o Ouro • Encetado sem crime, então lhe deixa A fragrância nas mãos , o mel nos lábios. Mas que augusto espectáculo se ostenta' Eis das moças Titaes a Primogenia, Que do primeiro Sol dourara o berço, E o fulgido Oriente assignalára Com acceso rubim sobre o horizonte I Ve brincado lavor vistosas galas Trajão os Ceos; e os campos a esmeralda; E as montanhas de pérolas se toucao. laes do Éden os jardins se nos pintarão, Que a innocencia enflorou , murchou a culpa - Ue cujos restos sempre preciosos Saudosa a Natureza , de anno a anno , Com p,„ C el immortal reforma o quadro ; £ao de teus camarins, Mortal vaidoso, Para ornar as paredes ociosas: £o Sanctuario está da Natureza, E mui longe de vós , Homens vulgares , Fará quem sobre os valles esmaltados Nao tem cor a tulipa , ou cheiro a rosa. (O Salve pois, Estação linda, Que alma nova dás ao mundo! Tua vinda , Teu jucundo Riso alegra a terra e ar. Ta dos igneos horizontes Desce á terra alma scentelha : Sobre as fontes Ja se espelha O verdejante pomar. Ta não muge o trovão rouco Nas profundas cavidades: Nem tam pouco Tempestades Sobre a costa ouço roncar. Ja cÓ os sóccos quebra a neve O corado Lavrador: Ja se atreve Sem pavor A seus campos visitar. Sob o jugo os bois mettendo Canta a amor ; mas sem apego Descrevendo Torto rego, Que hade breve semear. Rejeitando o tojo bravo, Tenros prados tosa a ovelha : Vai o favo Loura abelha Fabricando a susurrar. ^f (7) Cobre povo de mil flores Todo o valle, e monte agreste: Traja as cores , Que o celeste Arco em chuvas lhe vem dar. Salve pois, Estação linda, Que alma nova- dás ao mundo! Tua vinda , Teu jucundo Riso alegra a terra e ar. Mas que fogo divino, que ar mais puro Me inflamma o coração , me esperta o sangue? Quam formosa Manha coroa os montes I espargindo ouro e lírios se annuncia U Kci dos Astros. Como alegre surge fcm pompa conduzindo a Primavera! òoa nos bosques emplumada Orchestra: Ardem aromas sobre o altar de Flora : k adora ao Sol alvoroçada a Terra I O tu, fonte de luz, Alma do mundo, Inncipio omniparente , e bemfazejo , iu, que fazes volver a roda ingente XJa carbunclea carroça luminosa, Onde as quatro Estações gyrão perennes , dentado no teu Sólio de diamantes, Os meus hymnos protege , agora que alto J-a do animal lanígero celeste Ambos os pólos ves equidistantes, £ igualmente nos dás a luz e as trevas. foste de adoração o digno objecto p as £ rof f as , N ^ÇÕes , que te incensarão ! Recebendo de ti alento e vida , ÉÊÊ mBÊtÊtaíaittlÊÊlÊm (8) Gratidão lhes dictou calcos ^sacros* Levantárão-te altar teus benefícios. Louvai pois , viventes , O lúcido Nume, Que próvido lume Reparte entre os entes: E o frouxo embrião Na madre profunda Anima e fecunda^ Da térrea extensão. Ja no árctico pólo Com jasmins e ouro Do celeste Touro Orna o fulvo collo: Que submisso humilha , Em amor acceso , Ao formoso peso Da Agenoria filha» E a terra , a que dera Nome a gentil Moça , Com graças remoça, E folga na sphera. Depois ledo mora^ CÔ os Lumes irmãos, E os fructos louçãos Nos ramos colora. Para elles copeia Da tenra Donzela A cor da tez. bella , Que o pejo afogueia. 1 __ ( 9 ) Mas eis a Tarde de primores rica! Em mimos co a Manhã rivalizando Da creadora Estação varia o, ornato' Com diversos painéis vestindo o Templo. Seguida dos Favonios innocentes Desce do Phebeo carro, e a par cõ a Deusa Jim floridos vergéis passeia e brinca, A Amizade a entretém , Amor a encanta. Aqui tece grinaldas ; la sem ordem Labyrinthos enreda , enleia sombras : Entre o myrto cheiroso o arroio escuta E em cochins de verdura afaga os Somnos. engolfada em taes lidas não receia A paz da Natureza ver turbada .... Quando do Occaso súbito negrume Surge; e sobre o horizonte a Névoa pousa; Do Inverno fugitivo Austro junctando CJs dispersos destroços , a reforça : Cresce , as azas extende , avulta , e voa. He cerrado Esquadrão de feias Nuvens: Cobre parte dos Ceos : feroz ameaça Disputar do hemispherio a posse á Deusa. Ai dos encantos seus ! Quem os defende ? Dá signal o Trovão: começa a lucta. Quanto me agrada ver estes combates ! ludo he bello nos Ceos, té seus furores: Inda entre elles reluz da Deusa a imagem I ^m seu auxilio Phebo acode prompto • Ardente setta rápido dardeja, Que o seio rasga da assombrosa Treva. IJissipa-se a tormenta : as Nuvens fogem , Dando em tributo aljôfares á terra. Venceu a Deusa emfim , e a luz resurge. <-omo he mimosa então a Natureza ( IO ) •™ P a* faces orvalhadas '. CÓ a bocca em riso , e as taceb Tal a Donzela , que travesso amante ~o Krinros magoara, [a) Em amorosos brinco « » 8 ixosa Ch ° ra ' t t na alm divinaes delicias! T he embebe na arma u** . , De pavoneas plumagens guarneado Ue enreudi k n0S bosques E das aves , que attonitas w 4 Pela densa ramagem se esconderão , Harmonioso bando os ares (W, Celebrando a Victona, a Paz , e Os ledos pastores De tantos Encantos , E ricos primores , D as frautas nos sons Com hymnos Divinos Descantáo os dons. E tu , Eco , as phrases , Que escutas, A> s grutas Ensinas loquazes. Nas azas então Os Ventos j Attentos , Suspensos estão. — T^Ti^Tiòi do incauto amante C ii ) Porem ja lança languido surriso Phebo sobre os outeiros empinados. Augusta sombra a Natureza jnvolve, E doce luz a escuridão prateia. Eis no theatro da Noite a scena posta, E nocturnos Festins tecendo encantos. Seus mysterios então Amor celebra. Do ethereo pavilhão se extende o panno Bordado da mais rica pedraria. Do centro pende do suberbo tecto Argênteo Lustre, que illumina a sccna. Eu vos saúdo, ó Noite, ó Lua, ó Astros, Qye da Quadra gentil sois ornamento ! Nos festejos cÕ a Terra o Ceo compete, £ fulgores disputa a Noite ao Dia. Em áureo e vasto circulo os Planetas Formão attentos nitido cortejo A* formosa Estação reconhecidos. Nella o primevo impulso receberão, Quando do mundo na mimosa infância As prescriptas carreiras ensaiando, Pela abobada azul promptos rodarão. Veneranda memoria , anciã , sagrada , Que repetem fieis á voz do Eterno ! Fervem mil lumes No Ceo sereno , Que ao brilho ameno Fazem ciúmes Do verde prado , Também bordado De seus fulgores : São estrellas no ceo, no campo flores. ** ( »*) Ventos mais doces sobre m «Mpf ^gas , IZ as verdes searas se derramao, BrincÓes Favonios , estes se Ora levando ás sequiosas plantas Neptuno brando As vagas doma. . ; Dos mares toma Zephyro o mando, Que Euro excessivo , E Africo altivo , Exercitavão „, Nas salgadas eampanhas, que guardavao. Então desperta Gyra a ambição. Oh como vão Por via incerta Gravidas quilhas, Das Mais e Filhas Sempre choradas; Das recentes Esposas detestadas! C t? ) Ja a novos portos A frota aborda : •A industria acorda Nos Génios mortos : E ao mutuo bem Correndo vem , Inda singelas , Firmes dando-se as mãos as Artes bellas. Porem quem como Tu, Illustre Anafada, iNa malfadada , ingrata Edade nossa , Ha que assim possa sempre estudioso , b proveitoso dispender da vida Em mçlhor lida o seu melhor thesouro : Wa Lyra de ouro ora alros sons tangendo , Ura regendo os Lusitanos choros, Donde sonoros alvos Cysnes voao , Que o mundo atroão com eterno brado, V 1 empo, o Fado, ameaçando, e a Inveja, que em vao, pragueja vendo a luz Phebea. fcalve , Assemblea de VarÓes Sapientes Astros luzentes sois da Lusa Sphera : b , Va de era em era vossa fama e gloria. *iel Historia .pôe a salvo os que amão, £> a latna afamão por trabalhos nobres. Uue nao descobres , ó sagaz Talento f <-ada elemento subraettendo a normas As artes formas , e dás leis aos usos. ' J^m vao reclusos seus thesouros tinha Com mão mesquinha a Natureza ignava. industria cava as preciosas minas: Cria cfficinas pertinaz trabalho : Ketinne o malho , range a lima , e ruge £o,o , e muge a lavareda ondeando. De quando em quando geme a selva; e ás praias ( 14) Batóo as faias das &-*•"£■£•£ WtaS* ° filh ° 3S t%'es frendo as «£- P^^CS" Carnal repartes, capnchosaSort 6 . £ reI „ importe para o bem de «do pormosa e pu cU dados , A* consciência , que des P lu ., ' Por livres prados «tendendo a vida. E contJipUndo a universa bell - ? Que a Natureza tem tao rica om , g? seu don^oodigo ,«««£, Cante embebido na lição celeste V L nne veste á Primavera as flores, A mao que \este a pr i m ores. E á Aurora as galas de gentis p No palácio da Riqueza Não habita a sâ Ventura^ So a encontra o que a procura No seio da Natureza. Lê pois, Jndrada ditoso, No grande livro do mundo , Em quanto o somno profundo Cerca o leito do ocioso. ■Nas puras manhans suaves, Quando o Sábio o campo estuda , V Kouxinol o saúda, E ledas cantio-lhe as aves. Nas longas tardes calmosas JJ abriga docel frondoso , & brincar no leito nervoso Ve as sombras buliçosas. Logo enlevado o diviso GÔ os olhos nos horizontes Quando o Sol dnnranrU f> i , , . aourando os montes i-nes da o ultimo surriso. Depois no nocturno veo Em caracteres brilhantes Eem os seus olhos errantes As maravilhas do Ceo. F I M. fX-tof .-.-.>;,-. .... .J,; ^ ( I ) DISCURSO HISTÓRICO o RECITADO NA SESSÃO PUBLICA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA NO DIA 24 DE JUNHO DE 1821 PELO VICE-SECRETARIO FRANCISCO VILLELA BARBOSA. Penhores : Eu vejo a Piuva de Carneaâes , exclamou Cí- cero , vendo em Athenas a Cadeira , donde aquelle Philosopho dictava as suas lições. Tal a imagem , que esta hoje repre- senta, despertando a nossa saudade, por quem tam dignamen- te , (*) Impresso no Tomo VIIL Parte I. das Memorias da Academia Meai das Sciencias de Lisòoa. m C9KI ÔkSt í m. ■mmh n ~~