(xastào da Fonseca John Cárter Brown Library Acquired with the assistance of the Richard and Carola Wormser Memorial Book Fund o COMPILADOR O u MISCELLANEA UNIVERSAL. Vé^i \GK^C?% ^S?i MAIO DE 2822. iLV segetes illic veniunt Jeliclits uvàs : Arborei t foetus álibi atíjuc i ijussa virescimt Gramina . Virgi?. Georg. I. NAÔ TO DIZIA EU ? • ' all(juls disse Merciano , a suspensão do Habeas Cor?us , que na Inglaterra algumas vezes sè concede ao Ministério em grandes crizes , fazendo-se responsável este á pònto ^ que lhe he preciso alcançar por fim o Blll of Indemnitij 9 isto he , uma Carta de Indemnisaçaõ para naõ poder ser demandado pelos Cidadãos , que foraõ arrestados injus- tamente , e a quem naõ se provar 9 que estavaõ incur- sos. Naõ to diúü eu} Exclamou Nicoiáô , que, algums vez a)!i se havia de chegar. Os Senhores servis teern agora um meZ de correcçáÓ 5 e penitencia de seus pec» cados ; e se este nao fôr bastante , terão mais alguma dose de disciplina. Possa o nosso Ministério Constitua cionai expurgar por uma vez este bando de sevandijas de entre o seio de Cidadãos pacíficos ! E possa elle sei* só guiado pelo acerto da justiça , que a Naçaó tem jus a esperar desta forte , mas necessária medida ! Assim seja 3 gritámos todos 5 e que nunca mais se precise em- pregar este meio, o qual nas mãos de outro Ministério 9 qua naõ seja iaó illuminado é sincero como o nô$s$ actual , pode causar terríveis calamidades. Nicoláo continuou ainda a ímprovizar , e como foi elle , que compoz o Juizo Critico do nosso ultimo Nü» mero 9 vang!orea-se de allí ter dito bocadinhos d’oiro ; as- severando 3 que aguas mornas naõ curaó as chagas velhas do Corpo Político. Pretende elle haver profetizado to- das estas coisas , quando vio deixarem-se por ahí prégar nas Igrejas , nos Escritos , e nas Gazas particulares ser«= rrões inconstitucionaes , e que tinhaó por alvo minar o nos 'O systema ; porque os Padres-Mestres 5 e uns cei> tos chamados Nobres naõ se daõ bem ccm die. B R A Z I L. Reflexões sobre a apparente tendencia dos Brazilesros a separarem-se da Mãi Patria. Nm tonvivere lie et , «ee urbe tota Qiàsqmm est tam prxfpe , tam prçculque mbi$ Mfu*. Epigr. .LXXXV.IL 9 I, Tendo por caracter a imparcialidade > e por habito a franqueia s se algumas vezes a verdade se nos enco- brir em trajos de mentira com tal arte 9 que naô este- ja em nossas forças levantar-lhe a mascara; nem por is- so devemos ser taxados de menos imparciaes , ou de menos francos; pois que a franqueza» ainda quando as- sentada sobre bases pouco solidas 5 naô deixa de ser franqueza 3 e imparcialidade , ainda quando illudida por falsas conjecturas 9 he com tudo imparcialidade. Inten- tando o Compilador 5 propozémo-nos a nunca impor á nossa consciência s nem a publicar opiniões de que nad estivássemos convencidos. Se alguma vez nos Hiurfirmos será culpa do nosso entendimento — este póde ser (e o he) mesquinho e acanhado ; a vontade quer a rectidaô — vai para a verdade em direitura. Contem- plações , politicazinhas naô nos assogeitaô o espirito — inveterados prejuízos só nos dominaráó 5 em quanto os raios da razaó naô poderem penetrar atravez de suas de- beis , inda que intrincadas raizes — chegados aquelles t desfazem-se estas — a razaô predomina 5 e os prejuí- zos esvaecem-se. Livres em nossas pessoas queremos ser livres em nossos espíritos» E quem 5 com algum vislumbre de senso 3 nos poderá criminar esta liberda- de ? confiados em nossas consciências , naô tememos patentear nossas idéas. Se ellas se desviarem do trilho commum , nem por isso deixaráô de ir acompanhadas com as das almas temperadas como a nossa — se naô condisserem ao seu objecto, he culpa da nossa errada A z ( 4 ) convicçaó , € nunca da nossa decidida resoluçaÓ. Prornet- temos em nosso ultimo N,° desenvolve-las agora no que toca ao Brazil ; neis a quanto nos compremettemos f nao he possível subtrairmo-nos a esta promessa ; e naó obs-. jante a circunspecção , tino, e conhecimentos com que os Campeaó 9 e Sociedade Patriótica teem depois trata» do es"a matéria , faltariamos a nossos deveres se nao cumpríssemos á risca nossa palavra, Nao devemos esconde-ló t Portugal , com o des- membramento do Brazil perde bastante ; e iU-ino quan- do estas perdas naó passassem da inutilisaçaó dos meios 9 çiie um Pai emprega na educaçaó do filho de quem es- pera a futura susteotaçaô da família, ninguém negará, que estes meios esperdiçados com um filho ingrato , saó uma perda real — naó què a ingratidaó , ou abandono deste filho cause a ruína total da família; pois que es- ta sustentada por uma rígida economia, pela força da uniaó dos outros membros , que todos se deraõ as m aos para segurar-se , e sustentar-se uniformemente, ainda que experimente desfalque pela aberraçaó daquelle em cuja criaçaó tinha empregado todos os desvélos $ t sa- crificios » por vêr suas esperanças mallogradas 9 mô se segue que toque o termo da sua desorganisaçaó , antes peio contrario dando mais concentraçaó ás suas forças e possibilidades, por mais descaídas que estas sejaó , os membos restantes dao-se um ponto de apoio mais limi- tado , e operaó com vigor — • e a dignidade da família exaltada pelas recordações das façanhas de seus Maiores a conserva-se iHesa e sem mancha, Se um filho prodigo , levado pelos impulsos de uma inquieta imaginaçaó , e entregando-se demasiado ás injudiciosas verduras de uma mocidade cega e inexperiente e jHudido por falíazes con- selhos dos que, naó lhes importando a sua ruina , só teem em vistas tirar partido de seus delírios , e ex^ra- vagandas , para á sombra de seus desperdícios cevarem desenfreadas paixóes , o malvado egoísmo, a sórdida cu- biça 5 a tresloucada ambiçaõ : — Se este filho prodigo * dizemos „ aüucirmdo , e seduzido * em vez de coopersf para o adiantamento , e prosperidade da caza paterna ? abusando das faculdades que lhe grangeara , e conferira aquelle mesmo de quem agora intenta separar-se , le- vando em partilha o quinhaó 9 que os desvelos do res- to da família tinhao feito avultar ; surdo ás vozes da razaõ e da experiência , insensível aos dictames da gra- fcidaó , pretender despejadamente abandonar os carinhos de sevis proprios irmãos, seguir se-á por isso a queda inteira da grande familia ? Perdem-se , como dissemos , os cuidados e sacrifícios que se empregarão em sua cna- çaó , e, se o querem, as esperanças das vantagens , que poderia adquirir na sua maturidade Mas a perda de um filho ingrato , naó he perda ruinosa, Quando instruído pefa adversidade , e convencido de seus devangos pro- curasse, o abrigo e o seio da caza paterna, que impru- dentemente abandonara; — - quando, havendo provado as amargura das desgraças , envergonhado de seus loucos desvarios 5 naó achasse outro recurso , que o de volver ao caminho de seus deveres , e encher a medida de seus altos destinos , então sim , empregado já em utilidade e pró commum, então he que perdendo-se na occasiaó em que toda a cômrruoidade tinha confiado nelle seu repouso e ventura , poderia causar a ruina irrepaiavel da familia. O Brazi? e Portugal estão neste caso. O Brazil in- fante , sem força moral que dirija as faculdades physi- c as, sem força physica que desempenhe os mandados da vontade , naó pode por ora ter uma existência po- lítica firme e socegada , senaõ como membro da Fami- lia Portugueza , á qual reunido , (forçoso he confessa- lo ) ao passo que elle mesmo vai adquirindo robustez, genio , e virilidade , aug menta muito ''as forças , e fa- cilita os movimentos do grande todo; mas por se des- membrar naó se segue que este todo pereça. Portugal operando com o resto de seus membros , que naõ per- derão ainda a vitalidade 9 senhor de suas faculdades mo- ( 6 ) raes , que bem dirijaô aqueíles , pode viver muito bem 3 e com muito vigor e saúde, He um corpo a quem se mutilara o braqo direito , mas que conserva todos os outros membros 2 seu coraçaó , e sua cabeça. Antes de conhecer-se o Brazil 7 na.o éramos Pcrtuguezes ? E bem temidos , e bem valentes , e bem moraiisados que nós éramos. Antes de termos o Brazil escravo a trabalhar para nós , deixavamos por ventura de commerciar 9 de viver na abundanciá* e nas riquezas? Fomos por om tempo os mais abastados * e ricos da Europa. Deo-se já a liberdade ao Brazil , passou-se-lhe carta de alforria-*® ainda mais 3 convidou-se agora para o grêmio da Famí- lia , fez-se-Jhe o consorcio com todas as outras Provín- cias Portuguezas ; e he agora que elie se deixa enttegá* ás quiméricas idéas de uma coisa a que chama indepen- dência ? E he agora que embaído por um punhado de faccioso^ , inquietos, e âmotinadores accusa a Mãi Pa- t ria de iniifferença e òppressâó ? Agora que èllé pódè legislar para si , e para Portugal 1 Agora , que tem â faculdade administrativa em suas mãos ! què tem os Deputados a fazerem leis no Congresso Nacíofsal ! Què tem existência, que tem figura , que fceifi influencia 3 que tem representação ! . . . O Bràzil he o filho pródi- go. Xaó nrao nome tem ó regímen de nossa Fsmiüa 3 que naó induza mesmo os Estrangeiros a pretendérêtfi unir-se á sorte dos Portuguezes ! Vejaó-se os de Monte- Video. Cancados , atrènnados por uma guerra desola- dora , saciados de desgraças , fartos de mortes Oaó acha- raó outra taboa de salváçaó , outro remedio senaó o dè procurarem o nosso acolhimento. E quantas Naçóes da Europa se aprestariaó , se podessem , a seguir o exem- plo dos Montevideanos ! Com quanta satisfação diriao os Sardos e Napolitanos , — Nós somos da Naçaó Por- tugueza. Com quanta gloria diriao os Francèzes , e õ$ Ingíezes , e os Allemães •, e todos os Povos que amao a liberdade, — As íeis que nos regem sao feitas pelo modelo das de Portugal. Os Brazileiros porém sao mais rijos dos nervos paô querem sugeiçaó , naó querem leis. Lemhrao-se do tempo anterior á chegada de Pedro Alvares Cabral. Cont- ei uz idos cegamente por homens , que de certo naó sao nenhuns Vieiras Portuguezes , nem Camarões Brazileiro3 , por Ifomens que teem por lei o interesse , por caracter a versatilidade, e por habito a insubordinação, chega# talvez a olhar com odio seus irmãos Europeos , que lhes deraõ a emancipaça© , que lhes levaraõ a existência mo- ral , e política , e que teem d"ha muito, e especial- mente por estes últimos quatorze annos , esgotado todos os recursos em seu favor , — - que se teem sacribcado por eiles. Üns pouco de desorganidores trabaihaó por plantar entre eiles e os Portuguezes , isto he entre irr mãos, da mesma Família, das mesmas faculdades , o germen da má vontade com que os conquistados oibaó os Conquistadores; ou talvez por fazer reviver, naqueUa um pouco culta regiad , a raiva das tribus selvagens , qu® a possuiao antes de descoberta peígs nossos Navegado- res , para como ellas devorarem os que lhes caírem prir zioneiros na mao. Inculcaõ-lbes uma independencia qui- mérica , para os fazerem abandonar uma í iípei bade real — - e apontad-lhes para a America Ingleza. Como se os Br a- zilciros estivessem agpra nas circunstançías daquçllçs Americanos , quando se declararao independentes ! Esmiucemos o estado actuai dos Brazileiros ; — pro- curemos saber em que fundaõ suas pretenqões de indepen^ dencia , e de corpo de Naçaò separada ; — esquadrinhe- mos o que he o Brazil , naó para que á vista de nos- sas descripçoes , e arrazoados se convenção os nossos ir- mãos de bom senso , e de boa-fé , ou se alliciem os mais emperrados ; — - naó para dar-mos importância i sua reunião de agora , pois que naó sendo esta .feita de boa-rtiente , e com inqlteravel segurança e constância 9 isto he , effectuaodo- se mesmo geral e espontaneamen- te, mas só para ganhar tempo, e com vistas políticas de se desunir quando poder , como esta possibilidade nao será talvez adquirida senão com defrrudaçad do res- to da Monarchia , he nossa opiniaõ que se da-de des- membrasse ao tarde, quando tenha impregnadas todas as forças da Naçaó , e que haja absorvido todas as fa- xilidades da Famiba, — desmembre-se ao cedo, quan- do esta Família, a pezar de cançada e enfraquecida-, tem ainda á sua disposição commodidades , que lhe per- tencem , tem vigor e forças suas próprias que póde col- iigir, e restaurar seu cançaço e dibilidade. Rsta idea mais ao diante a desenvolveremos : agora vamos a vér o que he o Brazil. O Brazil lie uma vastíssima região , que desde a embocadura do Amazonas até á do Rio da Prata , em praias e enseadas tem mais de mil e duzentas Jegoas de costa ; seu comprimento entre os mesmos Rios de Nor- te a Sul, he de quasi novecentas legoas, e sua maior ^argura de Leste a Oeste, a de quasi setecentas • legoas. Este immenso território he cortado por differentes cau- deiosos Rios , dos quaes uns va o despejar-se no Ama- zonas 9 outros desembocar no Oceano. Suas margens sao bordadas de arvores frutíferas e úteis , próprias pa- ta o alimento e commercio. Suas ribeiras regaõ exten- sos vicejantes prados , accessíveis á cultura , e capazes de abraçar e fazer produzir quasi todos os generos que se lhes semeao , e quasi todas as arvores que se lhes transplantam Seus bosques povoados das arvores indíge- nas fornecem as melhores tintas , as mais seguras e ageUadas madeiras para a construccaõ de Navios, e as ma-s polidas e duradoiras para obras de marcenaria. A§ suas praias , ou seus Rios ssd abundantíssimos de pei- xe. Suas Serras criáó diamantes, topázios , safyras , 8tc. suas minas produzem o obo o ferro , e o cobre. Pare- ce que a natureza se empenhara em prodigalizar ao Bra® zil seus thesobos , e esgotar a!li seus primores , sua pom- pa , e magn ; hcencia ;• ou antes he elle um Paiz virgem que a maó destructora do homem civilizado nad tem ^inda podido penetrar e devastar, havendo-o modelado ( 9 ) e Afeiçoado imperfeitamente só em alguns pontos ao longo da costa , ou em algumas poucas paragens ao pé dos grandes Rios , que por centenares de legoas atravessaó sua extensissima superfície. Ainda hoje nume* rosas Nações selvagens , guerreiras e antropophagas , resen- tidas da qcieda da liberdade , indignadas pela idéa da op- pressão que lhes acarretara um punhado de homens , senhores do trovaó e do raio , espoliadas de suas habi- ações primeiras , reconce ntradas ern bosques impenetrá- veis , ou acolhidas em serras inaccessiveis , contendem pqr uma grande parte deste terreno immenso com seus Inveterados oppressores , e sustaó a execução de planos de civiüsaçaõ. Ainda agora a onça, a hyena , o saratú 9 e o jaguar dísputaò ao homem a possessão dos Certões brutos & incultos — e a giboia e jacaré a das vargens e ribeiras* A atmosfera impregnada de miasmas , que a exhalaçaó de terrenos encharcados e pantanosos necessa- riamente produz, ainda naó exhibe a salubridade, de que o clima he susceptível , e carrega com pezada lan- guidez sobre os corpos e sobre os espiritos. Para modi- ficar estes males , e aproveitar as facilidades que off®- rece o Brazi! seria preciso uma poptdaçaó de muitos mi- lhões de homens, e o Brazif naó a tem. O calculo que se julga mais approximado he o de oito centos mil Eu- ropeos , um milhão e quinhentos mil negros escravos 9 e menos de dois milhões de índios e Crioilos , forman- do ao todo menos de quatro milhões e trezentos mil habitantes. Esta população , 'mesmo assim diminuta co- mo he para um território taô extenso , e formada de fcaó diíferentes raças , cujas opinióes , cujos usos , e cujo modo de julgar e sentir saó tao diversos , está es- palhada a mui grandes distancias 9 de sorte que naó tem um centro conimum onde collija guas forças, e donde Opere com elias reunidas. Aqui ha vinte mil almas « por exemplo em S. Paulo , que querem ou ÍVIonarehia ab- soluta , ou Anarchia , ou naó sabem o que querem — daqui a cem legoas , ou a duzentas ou írezensas ha trin- < w ) t* mi! almas , que querem Constituição Portugueza , quç querem fazer parte de Portuga) : outros poucos mi! , mas sempre a grandes distancias , vizaõ a independem? cia ou republicanismo : outros mil escolhem Côrte , empregados públicos-, Relações Tribunaes , Desembar-r gos , e Desembargadores : e todos estes depois qu$ juraraõ muito desafogadamente , muito ex corde a Cons- tituição que fizessem as Cortes Porcugue2as ; de sorte que os seus desejos, nem estaõ muito seguros de mu- dar-se, nem de encontrar-se, e seus juramentos iivres , espontâneos , e sinceros naõ podem passar por artigos de fé. Se entre os Brazileiros ha pessoas de muita fir- meza , probidade , caracter , e juizo , como estas naõ tra« fcaõ dé adular as paixões da multidão naõ teem infiuen^ cia alguma sobre um Poro , /que composto de escravos Africanos , ou descendentes dos Tapuyas , e Cahetes f avezado aos gravames de um jugo de ferro , chega até a invejar a liberdade insocial , e feroz das tribus selvagens , seus progenitores 3 e que ainda vagaõ desenfreadas , $ carniceiras por muitos recantos daquella inrmíensa, e in- culta regiaõ. Esta multidão pois exaltada, e allucinada pelos venenosos artifícios de malévolos instigadores 9 perversos , deshumanbs , e corruptos , naõ escuta a voz razoavel s e branda do homem socegado e pacifico, do Cidadaõ honrado, desinteresseiro e humano, que traba- lharia em vaõ , ou se sacrificaria , se intentasse recondu- zi-los ao caminho de seus deveres, e persuadi-los ao império da razaõ , da prudência , e do verdadeito inte- resse. Eis-aqui , a nosso vêr , o estado a, tua! do firaziL (*) He este um empenho , que seriamos de opinião se lhes satisfizesse. Nós temos cá demais : naõ he gran- de sacrifício remedear aos nossos irmãos com o que nos he supérfluo. Mandem-se-lhes para lá a maior parte dos nossos Tribunaes, e' Tribunantes ; contentaõ-se assim, e tiraõ-se-lhes esses motivos de queixa 3 e de des- gOStOc ( lí ) X T ma façaõ desorganízadora , guiada pelos delírios de uma imaginaçaó desconcertada e voicanica , acostumada á mol- 3eza , ao mando, e á intriga, exacerba as tnais abjectas paixões da multidão, escalda-ihe os espiritos com a voz da liberdade , para por meio desta escandecencia , firmar o império da desordem , com que esperaó repoltrear-se Ba inacçaõ do desmazelo , e fartar suas almas’ interessei- las dos despojos de suas victimas desenfreadas. Em quan- to pois os Brazileiros estiverem ao alcance de serem as- sim illudidos , e excitados naÓ será grande perda para uma Naçaõ pacata, e que deve fazer consistir toda a Ventura , e forca na execução da lei , e no desempenho restricto dos deveres de cada um de seus respectivos membros , nao será certamence grande perda a sua falta de cooperação e uniaô ao corpo desta Naçaò. Como pode sim um Povo que he a preza das fac- ções f que he a péla e ludibrio de quantos o querem mo* ver; que uma hora nega obediência e prestaçaò ás mais legitimas autoridades , por elle mesme proclamadas e escolhidas, outra hora roja com abjecto servilismo perante os ídolos da ambiçaô , e da discórdia ; sem estabilidade em suas opinioes , sem firmeza em sua conductà , sem caracter moral em seus procederes ; capaz de se lhe introduzirem sementes de desuniaâ* que avidamente abraça , e que cultiva e faz pros- perar; desconfiado e vertiginoso , fracô e enthusiasta, 3 m maturo e exaltado , cpmo pode este Povo , em quanto sugeito a taes delírios , a taes inconsidera- ções , a taes verduras , e criancices , trazer com a sua união grande utilidade , grande força á confederacao de outros Povos , formados , robustos , prudentes 9 e bem regidos ! (^) Nao foi sobre vertigens , nem sobre , (&) Considerando bem as ' ocçurencias que desde o faiar da Constituição tèem tido logar entre os Brazilei- ros ; os seus encontrados dezejos , a sua prontidão e n quererem e nao querereín , em abraçarem e regeitarem o ( I*') abalas f nem inconformidades * nem melindrezinbof que Se firmou, e effectuou a confederação das Províncias- Unidas de lá , e das Previncias-Unidas de cá. Os Ho!- Jande?es , e os Americanos Ingiezes marcharaÓ mais co- hei entes, mais accordados , mais firmes , mais maduros. Nao juraraó a Coástituiçaô , para quererem lá o sen cmcd° prijcipe , nem as suas Relações e Desembargos ; nem prestarao obediência ás Côrtes , e Decretos que ^ei- las promulgassem para naó assentirem ás suas medidas , ou encontraren suas determinações. Naô abraçaraó con afferro as Bases da Constituição que lhes faziaõ conta , dizendo-as iegitimamente saídas do centro da Autorida- de Nacional , para ao depois , em Decretos que encon- travaõ as vistas ambiciosas, e descomedidas de meia du- jia de Demagogos , negarem a mesma legitimidade aog Representantes da Naçaó. Em fim os Hollandezes e Americanos uniraô-se de boa fé f prestaraó-se todos í causa ;da Uniaó , nao infringirão os princípios e as ba**» ses da sua convenção — nao quebrantaraó seus mutuos juramentos , naó divergirão do seu centro de unidade. Se uma Província tem a reclamar alguma coisa da Com- imunidade vai jicolá ao Congresso Nacional fazer a s-ua recíamaçaó: tem lá os seus Representantes que advo- gaõ a sua causa ; se as razoes destes prevalecem , conce- de-se i Província a sua pretençaó , se naó prevalecem ? se a Totalidade delibera em contrario , nega-se o pe- ditório á Província , e esta sujeita-se de bom grado á deliberação tomada por todo o Congresso. Naó diz lá nunca : C< Nao queremos estar por aquilio que Vossas IVIer- que se determina no Congresso Nacional , o Brazil as- semelha-se á mulher caprichosa, de um marido con- descendente , que, andando pejada, naó ha delicadeza que naó appeteça , nem phantas’a que naó queira satis- fazer 7 induzindo o bom do homem a prestar- se a tu- do para bem do feto: corre o tempo, appa^ece a cria * e quando o pai contava ter um filho bem conformado e gentil , a Senhora felicita-o com um aborto. ( 13 ) ces determinarão ; porque nós somos uma Província da Confederaçsô , e por consequência se legislardes á nossa vontade , acceitaremos trT vossas legislações ; mas se estas naô forem a nosso geito , naõ nos conten- taremos com cilas , ainda que lá tenhamos os nossos Representantes , porque uns poucos de nossos Satrapps dos dizem que naó presíaõ % Naõ , lá pêfr Ame-ica do Norte , naô se diz isso : naó se quebra o laço da Con- venção , porque meia duzia de pygmeos po!it»cos ándaô coni palavras emphaticas a dispor a seu grado da sor* ite do Povo que jfjudem e desmoralisaõ. Fascinados Bra- sileiros ! Quando vos convencerdes de que a vossa f*u* ça e ventura social se firma 3 naô em terdes íá o Prin® cipe P^eal , que p~de elie /n esmo ser embaido, e sem querer ^ ou que pode ser ambicioso, e, querendo , es* cravizár-vos — Naô em vos encherem de Tnbunaes, que podem acaso administrar-vos justiça, mas que pó- dem rnaís provavelmente vende-la , e eogordar-se com os vossos despojos : Quando vos persuadirdes de que a vossa liberdade civil naó consiste em amotinações e dis- córdias * — naó em rebel Üóes aos iegifcimos mandados c disposições dos vossos Representantes , que* teem pela força de vossas Procurações, o direito inquestionável de legislar sobre vos ; — quando sentirdes que a vossa dis- sidência da grande Confederação do Reino-Unido h® mais prejudicial a vós mesmos , que taõ aptos vos mos- tfaes a ser seduzidos , do que ao resto da Grande Famí- lia Portugueza , que conservando o seú principio de Uniaõ, que ; marchando sempre conforme com este principio , firme , quieta , e bem regulada póde muito bem prosperar, e quando naõ avulte em oiro, ha- de engrossar em fortuna e liberdade : — quando conhecer- des tudo isto, ensinados pelas vossas mesmas desgraças , açoitados das vossas mesmas commoçóes , envergonha- dos da vossa inconsistência e versatilidade , vierdes sin- ceramente cooperar para o bem estar da vossa Fatria s que depois de livre s tanto tem tornado a peito a vos- ( H ) s* fortuna ; que vos tem deixado operar sem constran- gimento , e que «nagoada das vossas inconsiderações , naõ poupa meio algum para vos chamar com brandura á prá- tica dos vossos deveres ; entad sim, podereis gloriar-vos de serdes uteis a toda a vossa Faraiiia , e a vós mes- mos ; então caminhando dignam ente pela estrada do ver- dadeiro civismo , Federados pacíficos , honestos , e ri- cos podereis dar forca , consistência , e esplendor á Fe- deraçaó: entaõ muito ganharia esta com a vossa reu- •niaõ. Porém , cm quanto inquietos , turbulentos , e amo- tinados , fluctuardes em um mar de dissenções , sem freio a vossas paixões , sem assentimento aos laços da convenção que -vós mesmos apertastes , sem vos consi- derardes obrigados a nada, senaõ á satisfaçao de vossos «•erios caprichos , de vossos dearrazoados dezejos , e de vossas esquentadas imaginações , naõ se perderá no vos- so desmembramento senaõ os desvelos que a Mãi Pa- Iria tiver empregado em vos fazer homens, e as espe- janças que ella tivesre em vossa virilidade. Conservai lá o vosso oiro , os vossos diamantes as vossas madeiras , vosso algodaõ , o vosso assucar — o vosso amado iPriticipe (ha pouco tempo que o he , segundo oqueel- le mesmo disse ) os vossos dezejados Tribunaes; e nós os outros Portuguezes cá iremos vivendo cançados mas homens , pequenos mas fortes , poucos mas apreciados ; e o que he mais contentes com o nosso modo de Go- verno, e esperançados em que ha- de elle ir cada vez a tnelhor. Quando vos aborrecerdes do que agora vos fa- iem appetecer ; qlrandü com o vosso sangue tiverdes enchido essas sanguexugas , que vos prégaó Independên- cia , Império , e desobediencia ás Autoridades legitimas *d*a Naçaõ , já exaustos , debilitados , e escarmentados de infortúnios , achareis o azrlo da cata paterna que deixas- tes á força de loucura , e encontrareis o resto da vossa "Família tranquiíla, socegada , digna , e venturosa ; e só penalizada das vossas passadas faltas. Cá vireis parar ; porque o nosso Governo he o mais bem constituído ( *5 ) que hoje existe rso Mundo; e se ainda se resente das pretéritas influencias, o .tempo ha-de limpar-lhe todas as fezes , tirar-lhe toda a ferrugem , e fazedo apparecer brilhante e lustroso entre as mais polidas Nações* Este pequeno esboço , que , attendidos os succes* sos, ninguém poderá taxar de exagerado, ou parcial „ mostra claramente , que , em quanto durar no Brazil $aí estado de turbulência e desarmonia, sua desunião d® resto da Monarchía Portugueza , naõ pode acarretar sa- bre esta a miséria e a desgraça ; be um membro febril citantê, e com aptidaõ a corromper-se, cuja separação do resto do Corpo , causa um violento abalo aos ou- tros membros , dôr e sensibilidade , e cuja scísSaõ mo- tiva uma copiosa perda de sangue, que os enfraquece e debilita, porém ? que lhes naõ traz a morte Pjopn- aémo-nos a faze-lo palpavelmente ver; porquê lemos por ahi ouvido dizer, que , separado o BraziJ fica pei> dida a Naçaõ : naõ o entendemos assim , e por isso aventurámos nossas ideas em contrario a esta opinião* Ainda nos cumpre mostrar, que, mesmo no caso ds estarem os Brazileiros maduros, e de trazerem com a sua união força e agilidade , que permitia ao Corpo da Naçaõ movimentos mais fáceis , e menos peados , se es- ta união naõ fôr permanente , e que tenha íogar só em quanto eiles precisarem do todo para adquirirem robus- tez e energia , e que depois de adqukírkk esta , queí- raõ operar sobre si, e independentemêote , poderáõ tia- quelle caso arruinar inteiramente a Monarchía., Dissemos já que quando a um filho tivesse ioda a família confiado seu repouso e ventura , se eISe entaó a abandonasse, poderia causar-lhe -a dissolução e desgra- ça. Párece-nos impossível que assim oaõ aconteça com Portugal e Brazi! , separando-se este depois de forma- do, Nós somos poucos : as nossas Províncias naõ feem a mó t ade da populaçaõ , que lhes seria necessária; o nos- *'° Além-Tójo está quasi deserto, e esta parte da Lu- que tatuo cuidado mereceo aos Romanos, ( lí ) nhum desvelo tem experimentado dós Fortuguezes. Ó gosto cavalieiresco das aventuras nos levava sempre a procurar Conquistas em terras estranhas , sem attender- mos ás nossas necessidades cazeiras. Tudo se perdeo cá, tudo se abandonou , depois das nossas brilhantes , e yuinosas expedições marítimas. Acabou-se a nossa indus- tria , a nossa actividade ; a ociosidade veio entorpecer o animo laborioso e masculino dos Porfuguezes , as ri- quezas desregrar sua economia , o oiro estragar sua mo* ya] : de sorte que até a liberdade d de que tanto nos ap« plaudiamos , e que ainda hoje abrilhanta a nossa histo- ria , succumbio a este pezo de riquezas , e passámos £ condição de escravos. Sacudimos agora a escravidão : so- mos mais livres do que nunca; he preciso naó nos pôr- mos em circunstancias de tornar a ser escravos ; he pre- ciso naó nos deixarmos levar de fortunas apparentes pa- ra perdermos commodidades reaes. Nao nos pareçamos com os nossos Fidalgos t que projectao edifícios de vas- tas dimensões , e que naó os podendo acabar , formão uns paredões muito grandes , e alli fícaó. Nada : he sue* ]hor uma caza pequena, mas bem construida , bem com- moda , e bem acabada. Temos terreno para esta caza s c temos possibilidades para a concluir. O chaó he deci- didamente nosso j os operários saó nossos. Para que ha- vemos pois ir edificar a um terreno precário , e de que, a todo o tempo nos pode esbulhar um litígio , tendo nós alli consumido as nossas possibilidades, empregado alli a maior parte dos nossos operários , e deixando por Concluir, e ornar a nossa necessária habitaçaó ? Nao nos ponhâmos a edificar grandes palacios , em que esgotemos inossos haveres , sem a segurança de que este terrenp , e es- te edifício ha-de ser sempre inalienável da nossa famjjia. JV. B , Quando nos proporemos a este artigo , assenta** jnos (jue poderiamos exhibir nossas idéas em muito menos papel ; porém , ou ellas saô muito difusas , ou umas tecm acarretado as outras ; de sorte que achamos agora impossz* vel , por falia de espaço , conclui-las neste N»° 7 e efwr*+ pos no do próxima futuro Junho . í *7 ) PERSEGUIQAÕ DOS PROTESTANTES 'Mo Sal da Frjmça , e mais especialmente no Departamento de Gard , durante os aimos j 8 s 4 , l 8 1 5 . , e 1 g j 6„ Continuada de pag . 504, ífo Volume í» Nada temos dito das penas contra os Protestantes por occasiao de prégarem , ou acharem-se em reuniòes religiosas. Qualquer seu Ministro, convencido de. pre- gar , dar benção nupcial, ou administrar Sacramentos t era punido de morte , e todos os seus ouvintes e com- municantes , sem excepçaó , mandados ás Galés , e cap- turados por toda a vida. — Ultirnamente , verdade he , que estas tyrannicas leis cumpriaò-se raríssimas vezes , — - graças ao espirito de Toierancia e Filosofia, hoje tad desacreditado ; porém nada disto era culpa do Clero, se lhe naó fosse dado impulso por meio de um rigor extraordinário ; porque em todas as cOmmunhões , nun- ca elles deixaraò de exhibir os mais amargos protestos contra a maléfica brandura com que se tratavao os he- réticos, Todavia , no anno de 17 6a, Le Rochet , Pa- dre Protestante, foi condernnado, e executado por sen- tença do Parlamento de TouJouse , por motivo de te r prégado , e preenchido suas obrígaçoes Pastoraes au de~ sent- e em 1767 , um EccJesiastico foi condemnado pe- lo Parlamenta de Grenoble por causa das mesmas of- fensas, e executado em effigie. Desde 1740 até 17625 houve frequentes exemplos da inflação de penas capi- tães por semelhantes crimes. Dezoito mezes antes da Revolução he que este monstruoso systema foi em parte corrigido. Por um Edicto de Luiz XVI. em 1787, registrado pelo Parla- mento de Paris em Janeiro de 1788 , os Calvinistas, e outros dessidentes da Igreja de Roma obtiveraó uma existência legal em França , sob o nome de naã Caiho- Hcos 9 e tinhaó a permissão de cazar sem a intervanq ao Vol. II. Num,, I. * jg ( >8 ) de um Padre CathaKco , de assentarem nos arrolamen- tos públicos o nascimento de seus filhos , e de enterra- rem os mortos nos Cemitérios garantidos pelas leis. Pe* lo mesmo Edicto era-lhes permittido exercer certo nú- mero de tráficos e profissões , de que os havia antiga- mente exciuido a necessidade de obterem certificados de Catbofipsmo. Negava-se-lhes ainda com tudo o publico exercício de seu Culto, e excluiao-se de todos os offi- cios judiciaes, e todos os cargos que fossem connexos com a educação da mocidade. Estas franquezas , mesmo assim imperfeitas como eraò , deviao-nas especialmente ao Baraò de Bretueil s e a M. de Maksherbes. — M. de la Fsyette contribuio também para este acto de mercê 9 por uma representação em favor dos Protestantes , le- vada . i Assembléa dos Notahks ; e vários membros dó alto Clero , na discussão ácerca desta medida , mostrá- raõ um espirito de tolerância 5 que muito os acreditou. Neste Parlamento de Paris , ninguém se negou a votar a favor do Edicto 5 senaô o Arcebispo t dois Bispos * e cinco Conselheiros , dos quaes dois eraõ Abbades, Tem sido assumpto de arguição amarga contra os Protestantes 2 que deslembrados deste favor de Luiz XVI. se tornassem decididos partidários da Revolução ; e pa- ra aggravar sua jngratídaõ tem-se asseverado ? que o Edicto de 3787 lhes restituía todos V>§ privilégios, de que haviao sido privados pela revogaçaé do Edicto de Nantes. Porém esta asserçaó , como muitas outras avan- çadas para .paliar , ou desculpar a perseguição de 181$* he inteiramente destituída dè, fundamento. O Edicto de 1787 expressamente declara St Que nos Sujets noa Ca- » thollqaes ne tleadront de la hl que ce que le droit nata - )*) rei ne noas permef pas de leur refuter 5 de Jaire coas* » tater leurs naissances , leurs tnariages , e hitrs morts 9 á » fia de jouir ccmme toas nos autres Sujets , des ejfets ci - $ vlles qui en resultent . (#-) (*) Q ue nossos Vassallos^ naó Catholicos só obterá^ ( *9 )  Revolução conferio aos Protestantes todos os di- reitos civis e políticos , gozados pelos outros Franceze.s , e permittio-Ihes o livre e público exercício da sua re- JigiaÔ, A concordata de concedeo-lhes o estabele- cimento público da sua Igreja 5 que lhes foi Confirma* do pela Carta d© Luiz XVílI. 9 e que ainda agora he observado na França, Sob os Governos Revolucionários 9 soffrerao os Protestantes como indivíduos o mesmo que os outros Qdadlos.; © durante o Governo Imperial de Napolead foraé eIJes reduzidos á mesma implícita sugeiç&ô i sua vontade» como toda a outra sorte de pessoas da Fran- ca* Todavia 5 até o restabelecimento dos Bourbons 3 nad tiver? " que sofFrer perseguição alguma por conta da sua religk» ; — nenhumas injurias que supportar por serem" Protestantes ; — nenhumas apprehensocs que recear de que Seriaô escoinidos como victimas t por serem lieretí» cos ; «— nenhuns fundamentos para temerem que se for- masse o desígnio de se lhes negar a protecção das leis , e compelli-los . , corno no tempo de Luiz XIV., a ab- jurarem sua crença » e fazerem-se conversos ao Catholi- cismo , em ordem a. preservarem suas vidas e fortunas 9 e livrarem suas mulheres e filhos do insulto e dó ul- traje. Os excessos a que alludimos iimitavao-se , verdade he 5 ao Departamento de Gard, e a certos Districtos da sua vizinhança ; e he esta lrmitaçaó que póde exculpar o governo Frahcez de algum plano fixo e geral para o p- primír seus VassaUos Protestantes 9 ou priva-los dos di- reitos sanccionados pela Carta. Porém ainda rica em pé a questão (( De que motivos procederiad estes ex- da lei aquifío que o direito natural na6 nos permítte re- cusar-lhes ; de fazer constatar seus nascimentos 9 seus ca- •zamentos ? e suas mortes , a fim de gozarem a par de todos os outros nossos Vassallos dos effeitos civis que daqui resultao* B % ( ao) cessos ? — * (( Porque razaõ tinhao logar em cettof Bis® trictos , e nao em outros ? )) — e ainda mais , — (( Por- que reem ficado ate hoje impunidos? )) Para responder á primeira destas questões , tem-se dito , que os Protestantes do Sul da França estavaõ ex- postos a seus vizinhos Realistas , sendo os primeiros Pro* motores , e os mais íirmes esteios da Revolução ; e que , estando restabelecido o Governo Real »elles soffriaõ nao como Protestantes , mas como Revolueionistas. A falsidade da geral asserçaõ „ de que os Protestan- tes na França fotaõ os autores da Revolução, he mui- to notaria , e a imputaçaõ de si mesma muito ridícula para merecer uma refutaçaó séria Os Protestantes na6 eraõ em suíficíente niimero , nem tinhao propriedade s influencia , ou talentos , que dessem impulso ao resto da França. Seguirão o movimento gera! ; mas naõ ti- nhao forcas para o excitar ou dirigjrlo* Particuiar«ienta no Depaftamento de Gard, foraõ elles muito menos ar- didos que os Cathoücos , no princípio da Revolução,, Os nomes mais eminentes da banda popular naquella parte, forad Vida!, Calviéres, Froment, e outros Ca- tholicos s que -adquirirão depois ignominiosa celebridade, pela parte que tiveraõ nos horrores suecessivos á segun- da Revolução. M. Wiiks mostra, que naõ obstante ser natural aos Protestantes sustentarem a Revolução * a qual tantas vantagens civis e políticas lhes tinha con- ferido s naõ seguirão estes, com tudo, um plano uni- forme , nem operaraõ em Corpo 5 durante a sua mar- cha. Lauze de Peret (■*) publicou uma H??ta authentics dos padecentes sob o Tribunal revolucionário de Gard ; donde se vê, que das 138 victimas , 46 eraó Protestan- tes, 91 Cathoücos * e um Judeo : — formando os Pft>- testantes (que andaõ quasi por um terço da populaçao do Departamento) exactamente um terço dos padecentes» (*) Eciaircissemeiis Historiqaes , 3 * Livrai son 9 103 , 10$ - C 21 ) Seria fora de logar , n’uma discussaõ a respeito dos m eritos^ e soífrimeníos dos Protestantes, alargar- sno-nos sobre as causas da Revolução Franceza. Bastan- te conhecidos sao os factos geraes , e as circunstancias c-ue a elles conduzirão. Memórias particulares pódetn lançar alguma luz em successos particulares ; porem as causas geraes que produzirão a Revolução ? e que lhe deraò o desastroso turno que depois ássumio , saõ ob- jecto da historia , da qual se poderá obter mais alguma informação, A propagaçaõ de novos interesses , e o pro- gresso das o.pinióes überaes na França 5 exigia alguma reforma no Estado; todavia a causa da Revolução uma serie de despropositos da parte do Governo. A indi- cisaõ e versatilidade do Rei 5 sua imprudente escolha de Ministros , e sua ainda maior imprudência em descon- fiar das pessoas ostensivamente encarregadas dos negó- cios ; suas vergonhosas querélas com os Parlamentos , e a mistura de violência c fraqueza na sua conducta para com estas Assembléas ; a pertinácia das ordens privile- giadas em manterem seus particulares direitos e uimui- nidades , os pequeninos ciúmes e inimizades de Palacio; as fraudulentas e mal concertadas medidas que precede- rão o dia 14 de Julho de 17S9, escudadas, ligeiramen- te t pelas ambiciosas maquinações de um partido des- prezível por seu Chefe , e execrável por seu objeceo , — « foraõ os immediatos precursores da Revoluçap* A fuga dos Príncipes ; — as interesseiras e machia ve! licas intri- gas do Clero; — > a audaciosa e altiva imbecilidade dos Nobres; — a variavel e velhaca política da Côrte # — conduzirão a desconfiança e confusão que se seguirão. Ainda a cooperaçaõ de homens de bem e de bons prin- cipies poderia salvar o Estado ; porém os Anarchistas e Cortezãos se combinarão com diífefentes vistas e es- peranças , para apressarem sua destruição. Tem-se também dito, que, desde 1790 até 1 8 2 4 > Os Protestantes de Gard tinhaó abarcado iodos os oíü- cíos públicos 3 e autoridade no Departamento ; e que s ( ^ > reacçaò a que depois fícaraô expostos , foi natural con- sequência dos esforços dos Catholicos para reassumirem a influencia e re-alcançarem a autoridade que haviaõ per- dido. M. Wüks e M. Lauze de Peret teem mostrado s que esta explanaçad he iaó malfundada como a primei- ra. (&) Tendo cu idadosamentè consultado as listas dos Deputados 9 Prefeitos 3 Concelhos dos Departamentos „ Juizes civis e criminaes 3 IVkíres , Gfüciaes municipass Cobradores das rendas * e outros Empregados Públicos do Departamento 5 e havendo publicado o resultado* “Vê-se 3 que os Protestantes de Gard , mettendo em con- ta seu número e comparativa riqueza , teem tido menor parte de taes cargos do que lhes pertenceria. De 54 6 Funccionarios Públicos , que tinhaó no Departamento ôfÜcios judiciários ou administrativos desde 1791 até 28143 havia 381 Catholicos, e sómente 165 Protestan- tes ; e de 43 Deputados 5 inclusos os das Assembléas Constituinte e Legislativa, 31 eraó Catholicos e só 12 Protestantes. He digno de notar-se, que durante òs maio- res excessos da Revolução* a influencia dos Protestan- tes no Departamento parece ter sido muito diminuta. Na Convenção havia seis Deputados Catholicos , e só dois Protestantes. O Tribunal revolucionário era com- posto de cinco Catholicos e só um Protestante. Os Pre- feitos de Departamento sob Napolçaó eraó uniforme- mente Catholicos ; e assim o erao também os "Procarcurs Generaux , e os Presidentes da Coar d'J.ppeí. Em seguida tem-se al legado , que quando os Bour- bons forao restabelecidos , os Protestantes de Gard naó podiaó oecultar sua dissatisfaçaó , nem disfarçar seu afer- ro a Napoleaõ , ou sua pena pela que dl deste. Porém tal aberta para a perseguição naó tem melhor funda- mento do que as outras. Os Protestantes de toda â Wtiks 3 77 3 89. — L bem que Protestante ; e quando de- pois se lhe íizeraõ allusões , como para extenuarem ou diminuírem os horrores subsequentemente commettidos pelos Realistas , (*) M. St. Aulaire , Catholico , sogro de JV1. Decazes , e Deputado de Gard , declarou da Tribuna — • ii Puisque Von persiste dans d’injustes recriininations 5 je » dircti y (jue non seuJement les crimes commis aprés lá se - » conde Restatiraúon ont étè atroces 5 mais encore qiiils » ont été gratuits ; f en appelle a mes Collegues de depie - » tations , à tons ceux qui connaissenf le Departament da » Gard ? je declare en leur npm comme au mien ? qui pas » une goutte de sang nã coulê a Nimes pendant les cent » jours. A Arpai liar gue s deux volontaires roijaux ont étè » frappês les armes á la main ? mais c’êtoit en coinbat » contre d’autres hommes armés. QNO Nem um só repli- cou , ou se atreveo a negar as verdades affirmadas por (%') Abril 2$ de 1S20. Já que se persiste em recriminações injustas, direi , que os crimes commettidos depois da segunda Restauraçao, naó sómente forao atrozes, mas também gratuitos : appello para meus Collegas de deputaçaò , para todos os que conhecem o Departamento de Gard , e declaro em nome deiles e em meu nome que nem uma só gota de sangue se derramou em Nismes rio es- paço dos cem dias. Em Arpaillargues forao feridos dois voluntários reaes com as armas na maó ? mas foi com- batendo contra outros homens armados* c (26 ) lu. St. Aulaire. Mesmo M. de Ia Eourdonnaye st calou. A historia dos 10:000 federados , compostos de soldados debandados , e de paisanos Protestantes de Ce-* vennes , e oceupados durante os cem dias em commet- terem excessos contra os Realistas 5 he igualmente destí- tuida de fundamento. He. verdade que houve em Nismes unia federaçaó « Para a conservação da ordem , a protecçaé » das pessoas e propriedade; e para a sustentaçaõ das leis » e autoridades públicas » «— * e se designaraó commissiona- dos, para levarem a efFeito esta judiciosa medida. Os prín- cipaes habitantes do logar , tanto Catholícos como Protes- tantes , fcraó subscritores para esta associaçaó ; e seu Presi- dente era um Cathoüco e Magistrado Mas , em vez de exer- cerem severidades contra os Realistas, os membros da As- sociaçao nunca se reunirão 9 tendo a federaçaó sido dissol- vida como desnecessária ? por consentimento comnium 9 antes cfue uma só vez se convocasse para operar. Quaesquer que tenhaó sido as medidas de precau- ção e severidade empregadas contra os Realistas de Gard 9 durante os cem dias ( nem eraõ mais rigorosas do que Pas outras partes da França) naÕ devem ellas ser im- putadas aos Protestantes , mas sim ás autoridades cons- tituídas sob Napoleaõ. O Prefeito do Departamento ers Cathoüco 3 o Sub-Prefeito de Nismes, Protestante» resi- gnou seu cargo, O Commandante das tropas era Catho- lico. Todos os membros da Cour Imperiale eraó Catho- 3tcos » excepto um , que se negou a cooperar , ou da? juramento de fidelidade ao Imperador. Os Directores dos dráts reunis , dos Terrenos nacionaes , do Correio , erao Catholícos. Nenhum Protestante havia em posto eleva- do 3 seoaó M, D’Aunaut , Maire de Nismes # cuja fi- delidade a Napoleaò era taó duvidosa , que foi denun- ciado como Realista , e cujos filhos eraó notoria e des- cobertamente addidos aos Bourbons, Para explanar a Perseguição de- 181$ , havemos re- verter ao tempo em que principiou a Revolução. De» ( 37 ) pois da qudda da Bastilha 5 e successos subsequentes 9 a autoridade de Luiz XVI. tinha fíndado ? e todo o po- der do Estado se achava concentrado na Assembléa Na- cional, Por algum tempo , naó houve dentro do Reino partido algum contra-revolucionario ; mas em breve re- bentarão divisões que ameaçarao a subversão da nova ordem de coisas. Os Parlamentos naõ podiaó ver com Indiíferença sua imminente mina. Os Nobres estavao desgostosos põr causa da extincçao de seus direitos ter- ritoriaes 3 e perda de seus privilégios 5 e izenções pes- soaes. O Clero achava-se ainda mais offendido pela sup- pressao dos Conventos 9 aboliçao dos dizimas, e pelas declarações feitas a respeito da propriedade Ecclesiatica. O Terceiro Estado, constituindo o grande corpo da Náçaò , era a unica porção de Povo que havia recebi- do só benefícios da Assembléa , e que estava» portan- to , universaimente inclinada a manter-lhe a autoridade. Quebrar esta adliesaó , introduzir divisões no Terceiro Estado , e attrahir ao menos uma parte aos seus projec- tos , foi a obvia politica dos contra-revoíucionistas 3 e 3 para alcançarem aquelle fím , nenhum methodo lhes pa~ receo mais plausível , ou mais provável de sortir etfeí- to 5 do que excitar o fanatismo religioso da multidão, representando-lhe a Igreja em perigo , e a fé Catholi- ca em grande risco. Com estas vistas circularao-se memórias do alto Clero por toda a parte França * inflammando o zelo dos ignorantes# excitando as ap~ prehençôes dos timoratos , exaggerando as deliberações tomadas , e mal-representando as intenções da Assem- bléa. Seria difficultoso que a prudência ou o dever re- conciliasse naquella occasiaó a conducta da Igreja da França. Havendo separado seus interesses da Revolu- qao 5 o Clero attrahio sobre si a severidade de que de- pois teve de queixar-se ; ao mesmo tempo que tpahia a religião que pretendia defender, arriscando sua estabili- dade , e existência , em os incertos azares de tuna con- tra-revolução. ( * 8 ) Fm parte alguma foi esta empreza de despertar o fanatismo e intolerância proseguida com maior assidui- dade , ou acompanhada de maior successo , do que no Departamento de Gard. Logo em Outubro de 1789 % se formou em Nismes uma conjuraçaõ entre os mais violentos do Clero, e certos indivíduos que haviaó de- sertado da causa da Revolução , porque naó tinhaõ dei- la tirado as vantagens que esperavaô ; sendo seu objec* to armar a populaça contra a Assembléa , para fazerem reviver o antigo odio contra os Calvinistas. Foraò por este Partido espalhadas as mais incendiarias publicações, dirigidas ás mais rasteiras e odiosas paixões da multidão. €onvocaraÓ-se os Catholicos para se unirem contra os Protestantes , como inveterados e implacáveis inimigos do seu Cuho. Celebraraõ~se reuniões, propagaraõ-se de- clarações , e fizeraõ-se representações á Assembléa , pe- dindo que os hereticos fossem excluídos de todos os car- gos civis e militares , e inhibidos do público exercício da sua religião. Um tal Froment, natural de Nismes 9 e naqueÜe período activo intrígador , que sobre-viveo á segunda Restauraçaõ 9 publicou uma conta das intrigas que se praticaraõ , e pelas quaes se queixa de õaõ ter sido sufücientemente remunerado pelo seu partido. Vê- $e pelas revelações deste homem que elle se communi- cava com o actual Monsieur , e o ultimo Príncipe de Condé , desde o mais novo periodo da Revolução 5 e que era honrado com a sua confiança e estima; que foi era missaõ secreta a Turim no mez de Janeiro de 17909 com cartas de recommendaçaõ dos Nobres descontentes de Languedoc ; que entaõ revelou aos Príncipes seu pla- no de excitar uma guerra religiosa no Sul da França, cujo plano achou da parte delies concurrencia e appro- vaçaõ ; e que regressou a Nismes com dinheiro e cre- dencíaes para o complemento de seus desígnios. — (C Sem plano , nos diz elle, era unir os partidários do Altar e do Throno ; seus princípios eraõ , que sendo necessária uma paixaò forte para supplantar outra, sómente o zelo ( 29 ) religioso podia reagir o enthusiasmo Republicano; )3 c ô seu systema de operaçaõ era despeitar o antigo odio contra os Protestantes , e empregar o espirito fanatico para se effectuar a contra-revoluçaô. Forte com as cre- denciaes que troussera de Turim , e secundado pelos Frades , e alguns do Clero , foraõ suas maquinações em demasia bem succedidas. Rebentou em Nismes uma in- surreição , que naô foi Supprimida sem se derramar san- gue. (*) Neste negocio, chamado, a Bagarre de Numes y os Protestantes do Departamento tomaraõ partido pela As- sem, bica Nacional ; nias naõ he verdade ter sido a po«* pulâçaõ Cath dica universalmente , ou mesmo pela maior parte , empenhada para o outro lado. M. Lacretelle^ cOm sua usual disposição para dizer o que he agrada- vel aos poderes dominantes , emprehendeo insinuar na sua ultima historia da Assembléa Constituinte , que is- to era meramente uma disputa local entre os Catholi- cos e Protestantes. Porém foi pelos pommissíonados , áquelle tempo designados para investigarem esta transac- çaó , dada diversa conta deste objecto. Ainda que in- scientes das revelações feitas depois por Froment , as quaes explicaõ todo o andamento e direcção do nego- cio , imputaò o distúrbio , naô sómente a fanatismo , mas também aos esforços do partido, que tinha por objecto a cohtra-revoluçaõ. A fu ria que inspirou a po- pulaça era religiosa ; mas os motivos dos seus chefes eraõ políticos. Muitos dos cabeças da insurreição perecerão na ac- çaõ ; mas Froment, Vida!, e outros, escapataô ; e a até á primeira Restauraçaô , Froment de concerto com As importantes revelações de Froment teetn - sido supprimidas em Paris com ta! cuidado e successo , que he impossível achar a sua obra. Remettemos por tanto nossos Leitores a Wilks 42 , §5 7 e a Lauze de Peret r Segunda Ediçaõ * 194 , 2 ©ju ( 30 ) os Príncipes desterrados , andou contínuamente promo« vesdo maquinações para preservar no Sui da França o partido Realista, e faoatico, Elle se gloria do seu *suc- cesso; e representa o excellente espirito de 1 8 f $ 5 co- mo resultado da sua correspondência e publicações. Até que ponto elle tenha jus em reclamar este mérito, na© podemos nós certificar. Seus trabalhos foraõ em segre- do , e so nos sao conhecidos pelas suas próprias con« fissões. Elle poderia ter lançado a semente ás escondi- das no tempo de Napoleaô; porém, até á Restauraçao ficou eila dormente. O que he todavia certo, he que ei- le continuou a corresponder-se com os Principes ; que foi empregado por elles em missões coiifidenciaes ; que em 179$ recebeo do Rei actual a nomeaçaõ de Secre- tario privado , e que , da mesma sorte que muitos ou- tros seus Collegas , tinha uma pensaõ do Governo In- glez , o qual nunca deixou de vilipendiar e insultar. — * Na primeira Re^auraçaõ regressou dle com outros Emi- grados a Nismes , e renovou as connecções com seus antigos associados. A chegada destes estranhos foi em breve seguida pela mudança dos costumes e amigo tra- to que allí havia. Deitou-se uma linha de demarcação entr® os Protestantes .e Catholicos. A profissap de leal- dade da parte dos primeiros foi regeitada como insince- ra; e o ser Catholico 5 e furioso inimigo dos Protestan- tes , foi um Passaporte necessário para 0 favor* Talvez alli havia muita hypocrisia religiosa, no odi© que os Emigrados tínhaõ a seus antigos inimigos ; e naõ peque- no resenti mento , pela lembrança do seu destroço em I790. Havin também uma porçaõ de inveja misturada com as outras sensações 5 ao verem a riqueza, e pros- peridade adquirida pelos Protestantes , durante tantos annos de pacifica industria , e protecção igual das leis ; e á esperança do saque , he que elles certamente de- verão muitos dos seus mais vís, e desregrados adheren- tes. Porém seu principal objecto era, como em 1789, ganhar partidários á sua causa dentre a massa do Po- (30 vo. Para inspirarem a multidão com lealdade, reaccen-* derad as animosidades religiosas que estavao quasi ex- tinctas ; e representando os Protestantes como inimigos comtnuns do Throno e do Áltar , aliiaraõ ao Throno lodo aquelle que professava ser amigo do Altar* Em consequência deste espirito ultra-realista , dif- fundido em Nismes pelos Padres e Emigrados , erao os Protestantes , quando quer que apparôciad cm pú- blico , recebidos peia populaça com injurias , e execra- ções, Terrificos grupos, escandecidos com vinho, e ammados por seus Superiores , reunidos nas Ruas e Ppaças públicas, em multidões de $ ou 4:000 pessoas, andavaõ cantando trovas sanguinarias, cujo estribilho na fatêU do Paiz , era como se segue: havaren nostri mans Din loa sang dl proutestans , Duon sang deis enftuis de Calvin 9 Faren de boitdin. üuviraó-se pessoas de consideração dizer nos Pa§* seios públicos — Ç( Devem matar-se todos os Hugoootes r e por esta vez naó se deixar algum de seus filhos , pa- ra que nenhum fique da raça maldita. » Subiraô ao Go- verno queixas deste tratamento , e de algum modo se tentou dar remedio a estes abusos. Mas parece que o Systema de insulto e perseguição tinha seus -Apologis- tas e Advogados ao pé do Throno. Quando Monsieur visitou Nismes em Outubro de 1814, suas declarações aos Protestantes for ao lisonjeiras e satisfactonas ; porém necessariamente havia ú roda delle , pessoas que em par- ticular tinhaõ differente lingoagem ; porque depois da QO Em Portuguez pode traduzir-se assim; No sangue dos Protestantes As nossas ínaòs lavaremos , E dos filhos de Calvino Boas xxiorcellas faremos» ( 3 2 ) sua partida, fízerao-se os inimigos dos Protestantes mais fu riosos e audazes que dantes. Tudo annunciava immi- nente violência , quando Napoleao re-appareceo, Já rela- támos a conducta e comedimento dos Protestantes na- quella occasiaõ. Antes de se effectuar a segunda restauraçao , havia- se reunido um Exercito Catholico e Realista em Beau- caire , quasi dezeseis milhas de Nismes , composto pe- la maior parte da mais baixa e vil populaça , inflamma- da do fanatismo religioso , e conduzida por Chefes en- thusiastas e ambiciosos, prontos a envolverem a sua Pa- tria na guerra civil, a pezar de haver em Nismes o Exercito Imperial , capaz de dispersar num instante a ca- nalha sem disciplina que elles tinbaõ colllgido , e a pe- ; zar de lhes ter vindo informaçaõ de que a sorte da Fran- ça estava a ponto de decidir-se nos plainos de Flanares® Neste estado.de coisas, Madier de Montjau a Cathoiic© e Realista , e depois Presidente da Coar d* Assises em Nismes , foi induzido , por humanidade , a intervir , e negociar um armisticio entre as partes contendentes , o qual devia durar até chegar de Paris alguma íntelligen- cia decisiva. Depressa veio a noticia do regresso do Rei s e restauraçao da autoridade real ; com o que as Tropas ^ e Geoeraes de Napoleao que occupavao Nismes como ponto militar, inimediatamente se retirarão conforme o tratado. As autoridades civis do logar , quando se vi- rão sem obstáculos , por seu proprio accordo , sem re- sistência ou opposiçaõ alguma, alçaraó a bandeira bran- ca , e reconhecerão a autoridade dos Bourbons. Porém es- ta adherencia ao Governo real s ainda que executada qua- renta e oito horas antes da chegada do Exercito real a Nismes, nao satisfez o partido de Beaucaire. Naõ ha- via o pretexto de resistência , e com tudo tratarao aqpnsl- la mal-fadada Cidade como se tivesse sido uma Praça tomada por assalto Tocarao os Sinos a rebate; e de todas as Aldcas vizinhas, concorreo uma furiosa popu- laça , sem Chefes ou disciplina. À pequena guarniçao s ( 33 ) deixada no abarracamento para proteger a artiíheria e munição / foi f perfidamente assassinada, depois de se ha- ver rendido por capitulaçaó. A guarda Urbana , compos- ta. dos habitantes mais respeitáveis do Jogar, foi desar- mada, e suas armas e vestiduras destribuidas entre os mais ahjectos e fanaticos da populaça. Tomadas estas precauções deo-se começo á geral pilhagem e matança de Protestantes , sem distincçao de idade ou sexo , de Realistas ou Buonapartistas. As cazas dos que haviaó morto 5 ou compellido a fugir da Cidade 5 foraó saquea- das , e incendiadas , e seus haveres e propriedades arra- sadas- Muitos foraó forçados a resgatar suas vidas 9 e alguns assassinados depois de terem comprado a protec- ção dos assassinos. Poz-se em pratica tudo quanto po- dia aggravâr , e augmentar o horror destas scenas. Dei- xaraó~se os feridos , algumas veie s 5 morrer no meio das chammas , em quanto seus matadores dançavaõ em rcda da fogueira. Recusaraó^se aos mortos os ritos da sepultura , e seus cadaveres foraó tratados com toda a sorte de indignidade* Os corpos que haviaó sido enter- rados foraó escavados das sepulturas , submettjdos aos mais brutaes insultos , e expostos á vista do Público* Tanto mulheres , como homens foraó victimas destas atrocidades. Algumas foraó assassinadas immediatamen- te, outras morreraó em consequência do tratamento que haviaó recebido, Commetteraó-se os mais infames^e in- decentes ultrajes sobre suas pessoas , e praticou-se to- da a refínaçaó de crueldade , que se pode executar sem morte immediata. Fizeraó-se prizóes arbitrarias á descri- ção da plebe. Só em Nismes , se arrestaraó 1:100 pes- soas ; e até Setembro de 1815 , tres mezes depois que haviaó começado estes horrores , Madier de Montjau achou óoo Protestantes nas cadêas da Cidade , sem au- toridade legal , ou ordem por escrito para sua prizaó, Algu ns centenares ílcaraó por mezes naquella situaçaó ; e muitos foraó retidos quasi um anno em prizaó , sem possibilidade de obterem , ou seu processo , ou sua li- Vol. IL Num. í. C / herdade , ou mesmõ o registo da sua eaptbra, Iropoze- rao-se indifFerentemeote contribuições sobre os pobres e sobre os rico s. Naó houve mais de oito ou nove fa- mílias Protestantes em Nismes , que escapassem de pa- gar resgate por suas vidas. Por mais circunstanciados detalhes destas enormidades f remettemos nossos Lei- tores a Mr Wilks e M. Lauze de Peret 9 onde achará© cs nomes e designações das victimas , e 'as particular!* da des de todos os casos notáveis. Concluir-se-á no seguinte I\ 7 úmero* independência do homem. Todos os homens suspira 6 por a Independência t sem qtie at* g um jamais a gozasse : maldizem todos o jugo que os cur - va: re sentem-se tanto da impressão que foz sobre elle? 3 cansa a triste certeza em que estamos de o naõ ter jamais satisfeito. Na primeira de suas satiras , o enge- nhoso Horacio pergunta , porque razaõ ninguém está con- tente com a sua sorte? Este homem, taõ celebre co- rno elle he * tem dado bastantes razões desta extrava— gancia humana; mas elle tem-se, como me parece , es- quecido de indicar a mais satisfatória , como unica que se pode dar sem erro. Todos os homens estaõ descontentes , inquietos , atormentados ; ah, como o naõ estaráõ elíes ! Elles de- sejaõ todos ser livres , e nenhum delles o he. Se ha ( 5 ? ) nís , como o asseguraó Maiebranche e Descarte* ídéas in natas , a primeira he , sem contradkçaõ , a dl Independência. Com effeito , uma voz interior nos repete, sem cessar s que a natureza nos tem crea- do independentes ; e esta vo* poderosa , he tanto mais mortificante, quanto tudo na sociedade contraria » e proscreve esta brilhante e doce liberdade por a q Ua ! nós suspirámos de continuo, mas sempre em vaô. Os ho- mens nascem livres , elles o devem ser; e todavia p 0 " r íocla a parte elles saó escravos. Por toda a parte se lhes cuve reclamar a antiga Independencia , e em parte al- guma saó independentes; mesmo nos Paizes selvagens' onde os Povos se teem dado um Chefe, renunciando por esta eleiçaó, a igualdade, sem a qual. naõ póde havei verdadeira liberdade. Mas, as NaçÓes anti» a * sugeitas a leis , e senhoras sa5 menos livres aj n * da , pois que o espirito de toda , e qualquer lei he d» constranger a Independencia ; porque a autoridade d* um Superior suppóe necessariamente um jugo, mais ou menos mortificante. Eu naó examino se seria mais vantajoso aos ho- mens^o serem livres, do que viverem debaixo da pro- tecção^ das leis-; cu na obediência de um Chefe. Esta questaõ me empenharia em discussfíes muito possíveis e muito extensas. Mas eu encontrarei no gosto natural * universs! dos Il0mens i Por a liberdade , e na servidáá doce ou aviltante, á qual elles estaó por toda a parte sugei tos, traços maravilhosos de semeífaença mtre to- cos os mdividuos da família humana. Folheai^ os annaes históricos , voai de uma em outra regiaó , de um em outro continente, era to- nos os Paizes, por toda a parte ouvireis escravos fai- kr e^usiastas da felicidade , da Independên- cia , irlvoca-la sempre ; alguns gloriar-se falsamente de ser livres; e se vós nao vedes em parte, alguma a liberdade , vós ouvireis , e percebereis . ao menos em todos os Jogares , mesmo nos ferros do despotismo oriejj. C a ( 3 *) tal, os seus brilhantes simulacros. Ah, que Povo, que homem tem jamais sido livre ! £ Qual de entre elles tem conhecido a dcce liberdade ? Consultai-os , escutai- os ; e das ideas que elles se formaò filosóficas, ou es- cravas , julgai se ha entre elles um só que naò ignore seus direitos sagrados. Com etfeito , para fallar digna- mente dá Independencia , e para- ã definir, seria pre- ciso ser, a meu vér , Cidadaó de um estado onde os homens gozassem de uma liberdade inteira ; onde sua eondueta , e suas acçóes naõ fossem constrangidas por modo algum ; onde naó houvesse nem leis, nem Ma- gistrados , nem diversidade de logares , nem desigualda- de de condições , nem , em fim alguma sorte de snbor- dinaçaô , isto he , onde cada um fosse senhor de si , s seu proprío Legislador» Ora , quem naó vê que uma Kacaó assim naõ existe ; e mesmo quando fosse possí- vel ha ve- la , tal be a perversidade natural de nossa es- pecie , que uma tal sociedade seria barbara , medonha , mais feroz que a dos leopardos e tigres. A corrupção na- tinai dos, homens he tal, que reunidos em sociedade, elles teem essencialmeote precisão de Leis , de Magis- trados, de Superiores. Mas he também por isso mesmo que elles teem Leis 9 Chefes , e Magistrados 9 que ne- nhum de entre elles he livre , mesmo os que governaõ ; pois que esses mesmos saõ regidos por a lei. i Como pois se saberia O que be esta liberdade , de que se falia com tanto gosto , de que se fazem taõ seduetoras imagens , € que provavelmente jamais existio sobre a terra , nem no meio dos homens , nem mesmo entre os animaes , subordinados também uns aos outros, e todos sugeitos á lei do mais forte , lei que excliie a Independencia ? Assi n tenho sempre olhado os escritores modernos , que teem faHado sobre esta importante matéria, como um número de doentes que se teem penivelmente forçado por celebrar as vantagens da saude ; seus leitores mais enfermos ainda se teem apressado em adoptar suas ideas, de sorte que uns e outros naó conhecem senaõ o no- C 37 ) 0ie 5 e quando muito alguma brilhante s roas falsa idéa desta taõ appetecida , e sempre suspirada liberdade.  Independencia e a virtude , saó assumpto perpetuo das conversações , e dos escritos dos hdmens. As Assem- bléas públicas , as Sociedades particulares , as abobadas dos mesmos Templos , tudo , tudo retine com o nome e apologia da virtude: os homens todos a invocaó e a adoraõ, o Povo a respeita, os Magnates a honraõ 5 os Escritotes a definem, os Filosoíbs a aoalysaõ: mas em que consiste pois esta augusta virtude ? As opiniões es- 1 ■ taó divididas 5 e ha bastante apparencia de que se dis- putará por muito tempo ainda antes que os dissertado- f es estejaõ unanimemente de acôrdo sobre esta questão. Bem qtiizera eu saber porque incomprehensivel erro ja- mais se tem fallado das vantagens da liberdade , sem ci- tar os Romanos ? Será pois porque se pense que os Ro- manos tenhaõ nunca sido livres ? Aqueilés que teem sus- tentado este estranho paradoxo l teem acaso examinado os costumes desta Naçaõ , seja quando apenas formada ella obedeceo a Reis 9 seja quando injusta e conquista- dora elia faz do munda inteiro uma immensa R publi- ca , seja em fim quando froxa e tremula ella roja dian- te de seus Imperadores ? Parece-me que desde sua íun- daçaó até sua ultima ruina , Roma naô tem jamais ■go- mado da um instante de liberdade. Todavia, um Escri- tor francez , um dos mais celebres Filosofos modernos 5 Mr. Montesquieu falia frequentemente em seu Espirito das Leis , da liberdade Romana : mas cumpre observar que este immartai Autor nad falia desta liberdade senaõ re- lat ivamente á dura servidão dos Povos subjugados pelos Romanos, ou para se conformar com a insufficiencia de nossas idéas sobre este espinhoso e critico assumpto. Porque, e.n fim £ ern que época teem os Romanos si- do livres? Diz-se que eííes o tem sido depoi ; a ex- pulsão dos Tarquinos até ao Triunvirato; mas entaò es~ te Povo fero ; nap confunde elle uma Soberama barba 43 ?a mil vezes mais funesta a si mesmo , do que a mais ( 3 *) opprimida escravidaõ ? EntaÕ a sugeiqaõ das íeis sevc- ras, inflexíveis < nao governa ella os Magistrados, que naó saõ menos subordinados ao Povo por terem o tris- íe privilegio de velar sobre as acções des Cidadãos’ aos quaes urna lei sanguinaria dá sobre seus filhos o di- reito de vida e de morte ? ; SeriaÓ elles livres , estes Ro- manos perpetuamente sugeitos á subordinação a mais austera ? < Livres aqueiies a quem o incrivel rigor dos castigos fazia tornar ao jugo todas as vezes quê tratavaõ de sacudi-lo ? Esses Lictores inhumanos , executores fe. rozes das ordens dos Cônsules , e sempre prontos a de- ‘•epat as cabeças que se lhes designava, è provaõ acaso que os Romanos fossem um Povo livre? < Corno se po- de conciliar esta liberdade nacional com os horriveis al- |*Ozes que 9 com a machadinha enfeixada com as varas 3 marçhavao ante os Magistradôs , preparados para , ao menor signa! 5 desatar seus feixes * e açoitar ou cortar a cabeça dos Cidadaos ? i Como conciliar a idéa desta pretendida Independencia com estas palavras terríveis , e que os Magistrados jamais pronunciavaõ em vaõ : Liç- tür , coíltga mãnus • expedí virgas ; plecte securi ? i isto 9 o que se chama um Povo livre ? Com tudo, confesso, que a pezar de todas estas provas de humiliaçaó , os Romanos ornarao com tanta arte o simulacro da liberdade , qtíe chegaraô a fazer-se res - 1 peitar por seus contemporâneos a e pela posterida-* de , corno um Povo verdadeiramente independente. Nao me admirarei que a maior parte de entre elles se tenhao tido por muito livres , ainda que o te- nhaó sido taó pouco como se he entre o resto das Na- çoes f , onde a liberdade tem também Estatuas, Tem- plos, Altares, Poíque, { qual he o Raiz onde os homens nao teem procurado consôíar-se dos rigores da e.scravi- daò 5 rendendo culto público ú Independencia ? Os Ro- manos nao existiao ainda quando os Gregos já olhavao a liberdade como uma das mais veneráveis divindades* ^ eu respeito por esta Deosa foi tal , que pouco corjten- C 39 ) tes de fé lhe erigir Estatuas , e consagrar Templos * gravaraó seu nome e seus principaes attributos sobre as " moedas , isto he , sobre os signaes representativos das riquezas ; signaes que suppoem a desigualdade entre os homens , leis , logares , e subordinação ; que destroem necessariamente toda a apparencia de liberdade. O tem- po , e as revoluçóes íeem anniquilado estes Templos, estas Estatuas , e nao restaõ da Deosa outros vestígios mais do que os que se notaÕ sobre as antigas medalhas dos Junios.  Deosa tem a cabeça descoberta, os ca- bellos crespos , como os de Vénus ; o ar sereno , o ros- to exposto, os olhos alegres e scintilaotes Veem- na também sobre algumas outras medalhas ; mas coberta com um véo ; imaginaçaó muito .ridícula , quanto a mim , como he a de captivar assim a liberdade. Vê se em pé sobre a maior parte das medalhas dos Imperadores ; -e ha muitas sobre as quaes %e$tá esta Deosa assentada em uma cadeira, vestida com um manto grego , de borze- guins , tendo um barrete na mao direita , e uma lança na esquerda, ou mais antes uma varinha , para designar sem duvida a vara que o Pretor èxtendia sobre a ca- beça dos escravos que se queria libertar ; o que. me pa- rece ainda mais absurdo do que o véo debaixo do qual se tinha imaginado esconder a liberdade. De .resto con- vém observar , que foraõ precisamente os Imperadores os menos favoráveis á liberdade, que lhe renderão maio- res honras. Nas medalhas de Consraritino se lé estas pa- . lavras pelo exergo da medalha : libertas pública ? e so- bre o reverso, se vê uma vktoria nos ares , çom a fren- te cingida de loiro , os braços estendidos , e cobrindo com suas azas um vaso com tres ordens de ramos. Muito tempo antes de Constantjno ,, Nero tinha feito cunhar medalhas em nonra da liberdade ; he preciso crer , que este Príncipe feroz quiz por estas medalhas insultar ao infortúnio da Naçaò que elle opprimia. R estão -nos também algumas medalhas de Galba , rsas quaes elie está representado em pé , com o ar le- ( 4 ° ) ro 9 a cabeça levantada, o olhar impostor, e uma mu* lher moca prostrada a seus pés : seguramente ninguém jamais teria reconhecido a liberdade neste excesso de humdiaçaó , se a legenda podesse induzir a dúvida, No» tareis também , que naó tem jamais apparecido nem Templos , nem medalhas cunhadas em honra da li- berdade > imperando Tito nem Marco Aurélio ; e que estes monumentos teem quasi todos sido erigidos go« vernando Nero, Eiiogabalo , Caracalla s Cláudio, Ner- va 5 Vitelio , &c, i Como he possível qiíe estes mons- tros destructorês de toda a Independencia tenhaõ ajun- tado a seus crimes o de quererem passar pelos Restau- radores da liberdade pública ? Largarei , pois 5 este assumpto sem examinar por- que razaõ os homens , que em seu entusiasmo , teem tao loucamente deificado a liberdade , naõ sonharaó em dar lhe um chapéo , por attfrjbuto , senaó muito tem- po depois de a terem collocado no logar das divin- dades. Jamais tenho encontrado ern parte alguma o motivo deste uso ; penso porém que se deve attri® buir a um costume legal dos Romanos estabelecido mes- mo desde os primeiros tempos da Républica. Em Ro» ma s um Cidadaò que queria libertar o seu escravo , con- duzia o ao Pretor ; elle pegava no escravo , ou pela maó ou pela cabeça, e mostrando-o ao Magistrado, pronun- ciava estas palavras: Hwic hòminem liberam esse velo ^ e o deixava logo : então o Pretor estendendo a sua vara sobre a cabeça do escravo respondia gravemente: Dico eum liberam esse more cjuirititm ; e tornando-se para .o Lictor , ajuntava: Secundam tiiam causam , sicuti dixi , ecce tibi vindicta . A estas palavras , o Lictor tomava a vara das mãos do Pretor , e com a palma da maó , to® cava a cabeça , o rosto , e as costas do escravo, Para terminar esta ridícula scena , registava-se o nome do novo Liberto, e os motivos que tinhaó obrigado seu senhor a dedara-io livre. Entaó o novo Cidadaó cobiia sua cabeça com o cbapêo da liberdade, especie de bar- ( 4i ) rete de lãa de ura tecido muito espesso , i semelhan- ça de feitro , isto he , como os nossos chapéos ; e o desgraçado Liberto passava do serviço domestico , á for- çosa, e constrangida escravidaõ púbiica. Ora, pelo que fica dito; i que Povo foi menos livre que o Romano? Esta burlesca ceremonia naó he absolutamente de inven- ção Romana ; ella tira sua origem, dos Sparciatas que por serem infinitamente menos opprimidos , naõ formão to- davia uma Naçaò livre. Elles observavaõ , pelo menos , as mesmas formalidades quando iibertavaó os Ilhotes no Templo da Deosa Feronla. Todavia estas formalidades naõ tornaõ os Ilhotes mais livres que os senhores que os Iibertavaó, e que naõ podiaõ dar-lhes uma Indepen- dência de que elles mesmos naõ gozavaõ. Mas a solem- íiidade destas ceremonias impunha aos quererão liber- tados , e mesmo aos Cidadãos , que por ellas quesiaò real- mente exercer actos de homens livres, e este vaõ simu- lacro de Independencia os lisongeava , e ensoberbecia % ponto de lhes serem menos sensíveis os ferros de que esUvaõ carregados. Deixemos os Sparciatas , os Romanos, e todas as Nações antigas e modernas , e concluamos deitas refle- xões , que o gosto da liberdade he taó natural aos ho- mens, quanto a privaçaõ total delia he universal: de* sejo e privaçaõ que tornaô a estes i respeitos, os homens muito mais semelhantes uns aos outros, HISTORIA DOS QUAKERSo Tvadaúda de Voltaire , Os Quakers dizem, que a religião se corrorapeo de- pois da morte de Jesus Christo , e que nesta corrup- ção ficou quasi r.6oo anoos; mas que havia sempre al- guns Qjuakers disfarçados no Mundo s que tlnhaõ cui- dado de conservar o fogo sagrado , apagad® para todo o ( 4 Z ) festo dos homens, até que em fim , no anno de 1642 % se desenvolveo esta luz em Inglaterra. No tempo em que tres ou quatro seitas dilaceravao a Gram-Bertanha , por guerras civis, emprehendidas em nome de Deos , he que um tal George Fox, do Con- dado de Leicester , filho de um Fabricante de Sedas , se lembrou de pregar como verdadeiro Apostolo, segundo o que elle pretendia, isto he , sem saber lêr e escrever. Era elle um Mancebo de vinte e cinco annos , irreprehen- sive! de costumes , e santamente mentecapto. Andava ves- tido de coiro/desde os pés até á cabeça , gritando de Áldêa em Aldca contra a guerra , e contra o Clero. Se elle naó prégasse senão contra a Soldadesca t nada ti- nha a recear , porém atacava também a gente da Igre- ja. Depressa foi capturado, e conduzido a Derby pe- rante o Juiz de Paz Fox apresentou-se ao Juiz com seu barrete de coiro na cabeça. Um Belleguim lhe deo lima grande^bofetada , dizendo-lhe: <( Pobertaó » naõ sa- bes tu que he preciso appareçer ao Senhor Juiz com a cabeça descoberta ? » Fox offereceo a outra face , e pe- dio ao Belleguim que lhe desse outro bofetão por amor de Deos, O Juiz de Derby quiz-lhe fazer dar jura- mento antes de o interrogar, cc Has-de saber, Amigo, disse elle ao Juiz , que eu na5 tomo o nome de Deos em vaa. )) O Juiz vendo que este homem o tratava por tu, mandou-o para as Palhinhas de Derby para all ? ser açoitado, George Fox , dando louvores a Deos foi pa- ra o Hospital dos doidos , onde nao deixarao de execu- tar i risca a sentença do Juiz. Os que lhe applicar.aó a penitencia dos açoites , bem admirados ficaraõ , quando elle lhes pedio que lhe repetissem ainda mais algumas yergalhadas mra o bem da sua alma, Estes meus Senho- res nao se fizerao rogar duas vezes : Fox teve a sua du- plicada dose, que lhes agradeeeo muito cordialmente; depois pôz-se a prégar-Ihes. Primeiro rirão , depois es- cutarão no , e como o enthusiasmo he uma doença que se péga , houve muitos persuadidos , e os que o tinha© ( 43 ) açoitado * foraÕ os seus primeiros discípulos. Livre da prizaõ , foi correr os campos com a sua duzia de Prose- lytos 5 pregando sempre contra o Clero, e apanhando de tempos a tempos suas vergalhadas. Tendo um dia sido levado ao Pelourinho fez uma falia a todo o Po- vo , com tanta força que converteo uma cincoentada de Auditores » e de tal sorte interessou o resto em seu favor j que o tiraraõ em tumulto da Golilha onde es- tava ; foraó buscar o Cura Anglicano, que se tinha em- penhado em condemnar Fox a este supplicio , e goli- Iharaó-rto em seu logar. Âtréveo-se também a converter alguns Soldados de Cromwell, que deixarao a carreira das armas, .e recusa- rão dar o juraméntOe Cromwell naõ queria uma Seita onde se naõ desse pancada , do mesmo modo que Xis- to V. agoirava ínal de uma Seita dove mn si chiavava : Servio-se do seu poder, para perseguir os novos Religio- sos. Enchiaõ-se as cadêas 3 mas as perseguições nunca servirão senaõ para fazer Proselytos. Saíaõ dos cárceres mais firmes -na sua crença, e seguidos dos Carcereiros que tinhaõ convertido. Porém vejamos o que contribuiò rnais a propagar a Seita. Fox ju!gava-$e inspirado 5 as- sentou por consequência dever faliar de uma maneira differente do$ outròs homens, Pôz-se a tremer , a fazei? contorções e tregeitos , a reter a respiração e a lança- la com violência. A Sacerdatiza de Delphos naõ o faria com mais geito. Em pouco tempo adquírio um grande Fabifco de inspiraçaõ ; e dahi por diante já naõ estava na sua maõ faliar de outro modo. Foi o primeiro dom que communicou a seus discípulos. Estes fizeraõ de boa fé todos os tregeitos do Mestre, tremendo com toda a força no momento da inspiraçaõ. Daqui lhes veio o no- me de Quakers , que significa Tremedores. A popula- ça divertio-se em. os arremedar ? tremia-se , fallava-se pelo nariz , tinhaõ.-se convulsões, e julgava-se ter o Es- pírito Santo- Eráõ-lhes precisos alguns milagres ? fize- taõ-nos. ( 44 ) O Patriarca Fox disse publícamente a um Juiz de Paz , em presença de um grande auditorio : « Amigo 9 toma sentido em ti, Deos te punirá, por perseguires os Santos.» Este Juiz era um beberraõ , que se embebe- da todos os dias com má cerveja e aguardente ; mor- reo de Apoplexia dois dias depois , precisamente quan- do acabava de assinar uma ordem para metter na ca- déa alguns Quakers. Esta morte repentina naô Foi afc- Ifibuida á intemperança do Juiz: todo o Mundo a re- purou como effeito das predicçoes do Santo homem j só ef la (esta morte) fez mais Quarkers , do que po« deriaó fazer mil prédicas , e outras tantas convulsões. Cromweí! vendo que o seu número augmentava , todos os dias , quiz attraí ios ao seu partido, ofiferecendo-lhes dinheiro ; mas eíles foraõ incorruptíveis , e Cromweli disse um dia Cí que esta religião era a única em que na® ftinha podido predominar por meio dos guinéos. » Algumas vezes foraõ elles perseguidos no reinado de Carlos II. , naõ por causa da sua religião , mas por mõ quererem pagar os dizimos ao Clero , por tratarem os Magistrados por tu , e recusarem dar os juramentos prescriptos pela lei. Em fim Roberfc Barclay , Escocez , apresentou ao Rei em 8675 9 a sua apologia dos Quakers, obra iaõ boa como o podia ser* A Epistola dedicatória a Car- los II., contém , naõ baixas lisonjas, mas verdades ar- rojadas, e conselhos justos. «Tu tens provado, disse » eíle a Carlos no fim desta Epistola, doçura e azedu- X me, prosperidade , e as maiores infelicidades : tu X fo^te lançado fora do Paiz onde tu reinas , tu sentis- X te o pezo da oppressaõ , e tu deves saber quanto o X oppressor he detestável diante de Deos , e diante dos X homens: se depois de tantas provas e bênçãos teu X coraçao se endurecesse , e se esquecesse de Deos 5 X que se lembrou de ti nas tuas desgraças , teu crime X seria maior, e tua condemnaçaõ mais terrível. Em vez X pois de dar ouvidos aos lisonjeiros da tua Corte 3 es- ( 4? > 5) cuta a voz da tua consciência , que nunca te lisonjea* 38 r4. Sou teu fiel Amigo e Súbdito. — Barclay. » O que he mais de espantar, he , que esta Carta escrita a um Rei # por um particular obscuro , produzio seu effeito e a perseguição cessou. Quasi por este tempo appareceo o iíJustre Guilher- me Penn , que estabeleceo o poder dos Quakers na America, e que os teria feito respeitáveis na Europa se os homens podessem respeitar, a virtude debaixo de ri- dículas apparencias. Era elle filho unico do Cavalieiro Penn, Vice-Almirante de Inglaterra, e favorito do Du- que de York, depois Diogo II. Guilherme Penn , de idade de quinze annos en- controu um Quaker em Oxford , onde andava no estu- do : este Quaker persuadido-o * e o Mancebo, que era vivo , naturafinente eloquente , e que tinha na sua fi- sionomia e maneira?, um ar de ascendência , ganhou de* pressa alguns dos seus companheiras * estabeleceo in- sensivelmente uma Sociedade de jovens Quakers , que fa- 2 iao as reuniões em sua caza ; de sorte que da idade de dezeseis annos estava Chefe da Seita. Quando , ao sair do Coilegio » voltou a caza do Vice-Almirante seu Pai , em ve 2 de se pôr de joelhos diante delle, e de lhe pedir a benção , segundo o cos- tume dos inglezes , fallou-lhe com o cbapéo na cabe- ça , e lhe disse*. « Muito folgo, Amigo, de te vêr em feoa saude. » O Vice-AImirante julgou que seu filho es- lava doido 5 mas depressa conheceo que era Quaker. Servio-se de todos os meios , que a prudência humana pôde empregar , para o empenhar a viver como os ou- tros homens ; a resposta que o rapaz deo ao Pai , foi exhorta-lo a que se fizesse Quaker. O Pai se reduzio a já lhe naõ pedir outra coisa , senaõ que fosse apresentar- $q ao Rei e ao Duque de York com o chapéo debaixo do braço 8 e que naò os tratasse por tu Guilherme r es- pondeo que a sua consciência naõ lho permittia , e que valia mais obedecer a Deos que ao homens ; O Pai in- C 46 ) .digna-io e desesperado, lançou-o fóra de caza. O jcven Penn deo graças a Deos do quanto já soffria por sua causa; foi pregar na Cidade, e fez muitos Proselytos. As prédicas destes Missionários iaó brilhando todos cs dias , e como elle era moço , gentil , e bem feito 9 as mulheres da Gôrte , e da Cidade corriaS devotamen- te a ouvi-lo. O Patriarca George Fox veio do centro da Inglaterra a Londres , para o vér por causa da sua re- puuçao ; ambos resolverão fazer missões nos Paizes es- trangeiros; — embarcaraó para Hollanda , deixando gran- de número de Obreiros , a cultivarem a vinha de Loti» dres. 4 ^ eus trabalhos tiveraõ feliz successo em Amster* dam ; mas o que lhes fez roais honra , e que mais pôs em risco a sua humildade , foi o acolhimento da Prin- ceza Palatina Izabel , Tia de Jorge I. Rei da Inglater- tí. , Mulher illustre por seu espirito e saber, e a quem Descartes havia dedicado o seu romance da filosofia. Havia-se entaá elia retirado a Haia, onde vio os Jmigos , que assim se chamavaõ os Quakers em Hol- landa. Teve com elles muitas conferencias, elles prega- rao muitas vezes em sua caza , e senão a fizerad uma per- {feita Qiiakerina s confessarão ao menos que elia nao es- tava longe do Reino dos Ceos. Os Amigos semearaõ fcamoem em AlJemanha 9 mas alli jcolherao pouco ; naó pegou a moda de se tratar por tu, n'um Paiz onde he necessário ter sempre na boca os termos de Alteza e Escellenda. Penn repassou em breve a Inglaterra pela noticia da doença do Faí , e veio recolher o seu ulti- mo suspiro. O Vice-Aímirante reconciliou- se com elle ? e abraçou-o com ternura , nao obstante ser de differen- te religião. Guilherme exhortou-o em vaô a morrer Quaker , e o bom velho recommendou inutilmente 3 Guilherme que troussesse botões nas mangas , e prezilhas no chapéo. Gmlhenne herdou grandes bens, entre os quaes ha* via dívidas da Corôa 3 por avanços feitos pelo Vice-Al-? ( 47 ) mirante nas Expedições Marítimas, Nada entaõ era me- íios seguro do que o dinheiro devido pelo Rei Penn foi obr j gado mais de uma vez , a ir tratar por tu Carlos II» e seus Ministros , para lhe pagarem. O Governo deo- Ibe em só8o, em vez de dinheiro, a propriedade , e Soberania de uma Província da America ao Sul de Ma- ryland. Aqui temos um Quaker já Soberano. Partio pa- ta seus novos Estados com dois Navios carregados dos Quakers , que o seguirão. Desde entaõ chamou-se aquel- 10 Faiz Pennsylvanía , do nome de Penn; e fundou al- 11 a Cidade de Philadei phia , que he hoje muito flores- cente Principiou por fazer uma liga com os America- nos seus vizinhos. Ke este o unico Tratado entre aquel- les Povos e os Chmtãos , que naô fosse jurado , e que se naô quebrantasse. O novo Soberano foi também o Legislador de Pennsylvanía , fez leis muito sabias, e das quaes nenhuma tem sido alterada depois delle, A pri- meira he , naô maltratar ninguém por causa da religião , e considerar como irmãos todos aquelles que creem um Beos* Apenas tinha elle estabelecido o seu Governo ,, quando muitos Negociantes da America vieraõ povoar esta Colonia. Os naturaes do Paiz , em vez de fugirem para os bosques s foraô-se -acostumando insensivelmente com os pacíficos Quakers, e quanta detestavaô os ou- tros Christãos conquistadores e destructores da Ameri- ca , tanto estimaraó estes novos vindos. Em pouco tem- po aquelles pretendidos Selvagens , allidados da doçura dos seus vizinhos ? vieraô em multidão pedir a Guilher- me Penn que os recebesse em o numero de seus Vas- sallos. Era um espectáculo bem novo ver um Soberano que todo o Mundo tratava por tu , e a quem se falia- va com o chapeo na cabeça ; um Governo sem Padres, um Povo sem armas , Cidadãos todas íguaes , só difTe- rentes em quanto Magistrados , e vizinhos sem ciúmes* Guilherme Penn podia gloriar-se de ter trazido á ter- ra a idade de oiro, de , que tanto se falia, e que pro- vavelmente nunca existio senaô na Fennsylvania* Voltou á Inglaterra a negocios.de sua nova Naçaó , depois da morte de Carlos II. O Rei Diogo , que tinha.es* timado seu Pai , teve a mesma affeiçaó pelo filho , e naó o considerou já como um Sectário obscuro ; mas como um grandíssimo homem. A política do Rei conformava-se nes- te particular com seu gosto. Elle tinha em vistas lisonjear os Quakers, abolindo as leis feitas contra os naó-confor* mistas , a fim de poder introduzir a Religião Catboíica sob capa desta liberdade* Todas as Seitas de Inglaterra virão © laço , e naó se deixaraó cair. Penn assentou , que naó devia renunciar aos seus princípios para favorecer os Pro- testantes , que o aborreciaõ , contra um Rei que o amava» Elle havia estabelecido a liberdade de consciência na America , e naó tinha empenho de parecer que a que- ria destruir na Europa ; conservou-se por tanto fiel a .Diogo II. , a ponto de ser geralmente aecusado por Je- èuita. Esta caiumnia affiigio-o sensivelmente , e foi tebrigado a justificar-se por escritos públicos. Entre tan® to o infeliz Diogo II., que, como quasi todos os Stuarts , era um composto de grandeza e de pequenez , e que, como elles, fez muito e muito pouco, per« éeo seu Reino sem que se desembainhasse uma espa- da, e sein que se podesse dizer como isto acontecec* Todas as Seitas Inglezas receberão de Guilherme III., * do seu Parlamento * aquella roesrfia liberdade , que inaó tinhaó querido receber das máos de Diogo. Foi en- taó que os Quakers pela força das leis comeqaraõ a go- lar de todos os privilegies, de que ainda hoje estaõ de posse. Penn , depois de ter visto em fim sua Seita es- tabelecida sem contradicçaó no Paiz do seu nascimen- to, tornou para Pennsy Ivania. Gs seus 9 e os America** nos o receberão com lagrimas de prazer, como um Pai que voltava para o seio de seus filhos» Todas as suas leis haviaó sido religiosamente observadas na sua ausen- cia ; coisa que naó tinha acontecido a Legislador algum gntes delle* Demorou-se alguns annos em Philadelphia 3 c a seu pézar partio em fim para ir sol licitar em Loa- dres novas vantagens em favor do Commercio dos Penn- sylvanios. Nunca mais os tornou a vêr , morrendo em Londres no anno de 17 s8. Nao posso profetizar qual será a sorte da religião dos Quakers na America , mas vejo que vai todos os dias decaindo em Londres. Quando a religião dominan- te nao persegue , ella em todos os Paizes absorve por Bm todas as outras. Os Quakers nao pódem ser Membros do Parlamento 9 nem possuir Qfficio algum, porque se- ria preciso dar juramento, e elles nao querem jurar; veem-se por tanto reduzidos á necessidade de ganhar di- nheiro por meio do Commercio. Seus filhos enriqueci- dos pela industria dos Pais, querem gozar, ter honras, botões , e punhos , envergonbaõ-se de serem chamados Quakers, e se fazem Protestantes para irem com a moda» <^i> No° 4. VARIEDADES Sobre S ciências , Agricultura s Historia , Antiguidades , &c. França . — Academia das Scienclas. N’uma das ultimas Sessões desta Academia , M. Moreau de Jonnès íéo uma memória sobre o phenomeno e propagaçaõ da febre ama- rella , onde pretende mostrar que esta he de caracter contagioso, e que sempre se introduz n'üm Paiz pela communicaçaò marítima; — * que nao tem out**a ori- gem : — e que em firn , he uma doença sul gene ris, Madrid Febre amar ella. O Doutor R.omero Ve- lasquez escreveo uma menneria a respeito do contagio da febre amarelía, e obteve da Sociedada Rea! da Medeci- sia uma medalha de oiro. He curioso observar a diíTe- rença de opinião a respeito deste contagio , — - preten- dem uns que a febre amarelía he decisivamente conta- giosa , — outros , que nao he contagiosa 9 mas sim en- dêmica , e que nunca apparece senaõ por occasiaõ de Vol, II. Num» L D ( ro) causas Jocaes, M. Caseux de Nova York, que por do* ze annos tinha a expenencia delia na America, asseve- ra que be simplesmente epidemica e naõ contagiosa. As# severa mais , que ella naó ataca as pessoas , cujos orgáos mo estejaò primeiro preparados para a receberem em razaó de estarem expostos á Atmosfera em que se gera» Nos climas temperados sempre apparece pelos fins de Julho , ou meado de Agosto 5 e invariavelmente nos Por- tos do Mar , ou nas habitações próximas ao fluxo das marés , e perto dos Rios a estas accessiveis. Nao ha exemplo de apparecer febre amarella no interior do Paiz , ou cie atacar pessoas que naó tenhaó sido expostas aos si tios infectados durante o seu progresso. Quando as pessoas teem embebido a febre , òu já delia adoeceraõ , ou teem morrido fóra do circulo atmosférico da epide- mia , nunca communicaraÒ a infecçaò ás famílias onde foraó recebidas , aos Médicos que os trataraò , nem aos enfermeiros. Daqui se tira a conclusão, que a infecçaÓ nao se pode eommunicar ás pessoas no Paiz , que nao vivao^ ao pé dofr Portos onde fluem as marés. As pes- soas que tiverem passado a Primavera e o Verão distan- tes dos Portos do íVIar, e fóra da influencia mephitics das exhaiações das marés , que deixem em secco o leito dos Rios , podem communicãr impuoemente com os doentes , e atrevessarem sem receio os sitios infectados de febre® França. Estahefeceo-se recentemente em Paris uma Sociedade religiosa , com a Sancçaó do Governo , inti- tulada a (( Sociètè de la Moral Çhrèüerme . » — Seu ob- jecto he appticar os preceitos da Christandade ás rela- ções da vida social — Catholicos e Protestantes se acha© entre os seus Subscritores. Inglaterra. — StatUtica . Pelas relações de I&25 , a população da Gram-Bretanha y e Irlanda he como $© segue : C 5TI ) Vopul. Augm, Popul. Jtigm. Popul. em I 8 o I . por cent. em 1 8 1 1 . por cent. em 1821* fnglatem. 8:551:454 14^ 9:558:827 18 11:260:555 Gales. . , 542:546 15 611:788 17} 717:108 Escócia. . 1:599:068 15 1:805:688 15 < 2:092:014 10:472:048 14 11:956:505 íyf 14:069:677 Exerc, , &c. 470:598 640:500 510:009 10:942:646 12:596:805 14:579:686 írlanda 6:846:940 Ilhotas. 92:122 Total 21:518:748’ AcçaÓ chimlca io Magnete. M, Murry mostra que ob- tivera decompor pelo Magnete todo o sal a que o ap- plicara. Vamos cotar, por causa da soa tendencia prati- ca , um exemplo deste facto 3 taó interessante ás Scien* cias. - — (( Pelo Magnete foi uma soíuçaõ de permuria- » to de mercúrio , depressa reduzida a mercúrio liquido 5 ) ou metálico. Daqui a limalha de aço fino magnetiza- )) da e misturada em charope , he um admirave] antido- » to para o sublimado corrosivo. » Scrqfi .das. O Doutor Conidet de Gênova acaba de participar o grande successo que achou no tratamento da Scrofula pelo uso da lodina. Em casos de papada , ou glandulas scrofuiosas , combinado com hidriodato de potassa ou soda , parece ter sido muito efficaz este re- medío , administrado ou externa ou internamente. Livro do Profeta Enoch . Esta Obra Hebraica, que por muitos séculos se suppôz perdida , foi descoberta na Abyssinia por Bruce , que trousse tres copias á Eu- ropa. Fez presente de uma á Livraria Real de Paris , outra á Livraria Bodleana em Oxford , e ressrvou para si a terceira. Além do Doutor Lourenço que a publi- cou , Gesenius visitou ultimamente Paris e tirou uma copia daquelle manuscrito , e aésím veio á luz uma obra que provavelmente ficaria esquecida na Livraria. O Li- D 2 C 5» ) vro de Enoch he citado por $. Judas Cap. V. , XIV. , XV. % tro S. Clemente de Alexandria , por Tertuilianc , e ou* tros ; mas S. Jeronymo reputa-o apocryfo. Nada se sa- bia delle por muito tempo, excepto alguns fragmentos descobertos , e publicados por Scalígero nas suas notas sobre a Chronologia de Eusebius. Os Chrístãos Africa- nos tinbao , ao que eiíes pertendem , estado de posse dos escritos sagrados , desde a mais remota idade. O Dou- tor Lourenço , na introducçaô desta publicacao suppôe ter sido escrita naò muito antes da Era Chistãa no rei* nado de Herodes ; que o Autor era um Judeo levado ao cativeiro por Saimanasar , e que nunca mais voltou á terra da Judéa Este escritor parece ter sido algumas ve- zes confundido com o Patriarca Enoch. O Doutor Lou- renço hahíl e eruditamente se empenha em mostrar o verdadeiro estado dos factos , e o faz da maneira tao satisfactoria ao leitor , como he possível faze-lo sobre evidencia existente. Ao menos o Livro de Enoch me- rece üm Jogar entre os Apocryfos, e he bem digno de ser lido por pessoas curiosas da litteratura Bíblica , e de todos os crentes na Christandade. ^ Antiguidades. O celebrado Zodíaco de Dendera ou Tentyra , que, quando primeiro descoberto pelos Fran- cezes, durante a‘ sua expedição ao Egypto , foi causa de muitas discussões, acerca da antiguidade da Terra, che- gou uitímaoaente a Marselha, para ser conduzido a Pa- ris. O Courier Françez affirma, que o Cônsul Inglez n« Egypto se oppozera ao seu removimento , com o pre- texto de que estava dentro do districto em que elle hou- vera comprado o direito de ca^ar por curiosidades , e queria reclama-lo para o seu Governo. A disputa foi le- vada perante o Pacha que a terminou em favor dos Ex- ploradores Francezes , M. Sauínier e outro. Está para imprimir-se uma relaçao da sua viagem. População da França , A popuiaçaó dos oitenta e seis Departamentos da França , segundo os cálculos feitos em 1820, e os limites decretados peius tratados de 1814 ( 51 ) ç i8í$, montava durante o anno de 1820,3 50:407 927 indivíduos. |Em 1819 os nascimentos foraõ 990:025 , e cs obicos 736 55S ; sobra, 20^:685 nascimentos. Tolerância. Uma das ultimas folhas da Íris , Gaze- ta Aliemãa , contem o Breve Pontifício que admoestan- do M. Fesselles Professor em Praga , expressa indigna- ção e desgosto de S. Santidade, a que os Bispos, e Cleros de certas Dioceses pernfíttaò ler impunemente as Obras dos Autores naó Catholicos ; taes como por exemplo a Poesia amorosa , e romântica de Schiller 9 Goethe , Wieland , e outros í ! f ! Rússia. < — Jornaes em Moscow Publicaó-se em Moscow os seguintes Jornaes diários e omros. Primeiro a Gaze- ta de Moscow , publicada péla Universidade , contém ex- tractos dos papeis diários de S. Petesrburgo , e Avisos ; sáe duas vezes na semana em quarto , tem grande ven- da no interior do Império e imprimem-se naó menos de 7*000 copias. Segundo, o Correio Europeo s Jornal Litterario e Poli tico, começado no anno de 1802 s pu- blicado de quinze em quinze dias, em números de cin- co folhas em oitavo , e contendo grande informação a respeito da historia da antiga Rússia , e também exames críticos das antiguidades do Paíz. O actual Editor he JVÍ Katchenowski a Professor de Achíeoiogia na Univer- sidade de Moscow , e talvez o mais instruído de todos os Jornalistas Russianos. Terceiro, o Correio Russíana publicado por M. Serga Glinka , todos os quinze dias , desde 1808, em números de tres a cinco folhas de 12. He dedicado á Historia Russíana , e educaçaó. Distin- gue-se o Editor por seu ardente patriotismo , e decidi- do od?o a tudo que naó he Russiano. Quarto, o Jornal Uistorico , Estatístico e Político , que se tem publicado sem interrupção ha 2$ anhos ; porém que he só uma Iranslaçaó do Jornal Político de Hamburgo. Em íCasan publica-se um Jornai em lingua> Russíana , dado á luz pelos Professores daquella Universidade, Carruagem de Vapor e Um engenhoso Fabricante de C 54 ) de fazendas de Aígodaô de Ardwick , perto de Man- chescer, inventou uma carruagem de vapor, para a con- dução de fazendas, ou passageiros sem o auxilio de ca- vallos. Depois de muitas e repetidas experiencias por espaço destes últimos dois annos s chegou ao ponto de naõ deixar dúvida alguma de que corresponde ao fim proposto. Póde andar pelas estradas reaes , nas subidas ou descidas , nove ou dez milhas por hora; e póde ser levada com a maior facilidade pelas mais arduas es- tradas. Retrato de Laura . A Gazeta de Bolonha annuncia que se descobrio o Retrato original de Laura, feito por Simone Memini. Os mais autênticos documentos pro- vaó que o Retrato gravado e publicado por Morghen , he ideal ou ao menos de outra Laura , que viveo em 2500, isto he quasi dois Séculos depois da morte da- quella, que o amor, e os versos de Petrarcha fizeraó Saõ celebrada. '<£>, M A C H I N A ' Inventada para a facilidade da Lapidaçao, Srs. Redactores do Compilador. Se a noticia que tenho a honra de commnnicar- Ihes na presente carta merecer algum logar no seu ex- cellente Periodico , desejarei que por elle chegue ao co- nhecimento de todos „ para utilidade do público , e honra do Engenho» Portuguez, Vou fallar da invenção de uma machína, por meio da qual se póde, quasi que sem gastar tempo , aprender a lapidar todo o gen»ro de pedras com uma perfeiqaó a que nunca os melho- res Mestres poderáó chegar sem o soccorro da dita ma- chína. A historia da sua descoberta he a seguinte : Jozé Vicente Teixeira Coelho da Fonceca , mem- bro de nma distincta familia de Jogueiros > homem de ( 57 ) fitai rara habilidade para todo o genero de obras de ma- «shmismo, propondo-se faaer certa obra que em parte dependia do officio de Lapidario , mandou comprar os petrechos necessários > e tratou de lapidar as pedras, Como eile tinha visto trabalhar neste officio e exami- nado com a attençaó própria de tal homem o uso de cada um dos utensilios * foi dispondo tudo por sua or- dem sem dífficuldade alguma ; nlas no acto de lapidar achou uma ditficuldade , que , a pezar de todas as ( dili- gencias, naó lhe foi possivel vence-la Esta difficulda- de deo occasiaõ á descoberta da sua machina. Consistia a dífficuldade em que , depois de ter desgastado um pouco a pedra , sendo-lne necessário , como o he aos mestres daquelle officio, tirar a pedra de sobre a roda , e examinar com a vista se estava desgasta quanto con- vinha , ou se era necessário desgasta-la mais para for- mar uma face qualquer ; nunca lhe foi possivel applica- la de novo sobre a roda na mesma exacta posiçaõ em que ella tinha estado antes : de sorte que , quando que- ria formar o plano de uma face, ou continu'ar a for- mar uma face plana , formava uma face de tantos dif- ferentes planos , quantas fossem as vezes que tirasse e tornasse a pór de novo a pedra sobre a roda. Foi pois esta falta de certeza de mao a unica difficuldade que el- le encontrou , mas ella era invensível para quem naó queT gastar annos em a adquirir a força de habito ; por quanto (diz eiíe) pelas informações que daó os Mes- tres daquelle officio , esta certeza de maõ nao se adqui- re senão por habito contraído pelo exercício de muitos annos seguidos. O seu genio porem , fecundo em re- cursos 5 naó soffria que um obstáculo desta natureza o obrigasse a desistir do seu projecto. Naó affeito a en- contrar difficuldades que naó vencesse, meditou os meios de resolver esta, e logo imaginou e construio uma pe- quena machina , taõ simples como engenhosa , com o soccorro da qual im mediatamente lapidou todas as pedras que quiz , com mais perfeição que o melhor Mestre La- pidario o ( 5 *) Parece-me de grande interesse para as Artes mie o conhecimento e uso desta machina se vulgarise Por ir.eio delia se póde aprender em p„ UC o S dias o officio de Lapidario , e executa-lo no ultimo ponto possível de perteiçao : poupando aos que se quizerem appiicar ao dito officio o trabalho e perda de muitos annos de aprendizes , alem da outra grande vantagem de saífem as suas obras aperfeiçoadas a um ponto a que nunca sera possível chegar sem o soccorro da mencionada ma- chma ; por quanto por ella se regula tudo por uma es- cala^de graduações que dá á obra lapidada, senaóaexac- tidao mathematica , ao menos aquelia a que he possível chegar-se no estado physico. a endo me o Autor desta descoberta mostrado e ex* plicado a machina da sua invenção, lhe pedi o seu con- sentimento para? a publicar; no que elle conveio logo, e se oíFerece a mostrada e explicada a toda e qualquer pessoa que por ella queira fazer ou mandar fazer outra. Oíferece-se além disso a mandar aos Srs. Redactores 5 se assim o quizerem , um modelo feito de páo (porque a sua avançada idade naõ lhe permittè mais ) e com e!« le a explicaçaô do uso da machina toda , e de cada uma das suas partes , a fim de naò haver dúvida no modo de a formar e de trabalhar com ella. Esta machina tem , além das já referidas vantagens, a de ser taõ simples e taó pequena que qualquer Cerralheiro , ou Espingardeiro há- bil a púde aprontar por menos, e talvez bem menos de uma moeda d oiro de custo, «— Com permissão d & Autor O seu muito Venerador e Assignante Jogueiros 19 de Março de 1822. Manoel Joaquim Moreira» C 57 ) JOAd ABBADE DE LORVAÔo B igaó lá que naó ha fatal estrella, Que os homens leva como bem lhe agrada ! Vê-se a gente mettida na esparrella : Sua » pernêa .... sacudir-se , nada. Tinha eu jurado naô fallar de Frades , Nem Curas , nem Vigários , nem Abbades â E naó me metter mais a ser Poeta ^ Tinha minhas razoes , Porque diz o papel d'uma Secreta , Que ahi se vê borrado por Lisboa 9 Que todos saõ Mações 7 Os q’intentaõ mexer numa corôa ; E Maçaó quer dizer 8 muito maroto ; E Frade quer dizer , irmão , devoto , Humilde # santo, honesto, penitente; Quer dizer muita coisa. Eu , dTmandades , (Fique o Leitor sciente) De Pedreiros , ou Frades , Fugi sempre ; e a razaõ em que me fundo s Levem-mo embora a mal , He que a -minha família he todo o Mundo 9 Irmaõ , só Portugal. Fiquemos certos. Mas fugir da albarda, Quem póde , quando a tenha sobre o lombo Eu barafusto sim , tombo , e retombo , E vou tombar em vós , prole Bernarda. Ao Mundo quero dar uma legenda , Dos vossos Padres Mestres , sanra gente , Nem precisaes mandar-me algum presente, Que sei o careceis para a Tremenda. Do q’esta , quem tem visto Mais santa instituição Entre os servos de Ohristo? Pois vendo-se o irmão Montem mui viyo â agora já de borco , ( ;8 ) £ n^m prato a tremer sua gordura , Deve o Frade dizer: Meu irmaó porco, Que também era vivente criatura , Que pasmava como eu no chafurdeiro, Com a mesma razaó , mesma fadiga, O suspiro exalou já derradeiro g E vai chiar-me agora na barriga. Ha, por lá muitas destas, E he humildade comparar-se a bestas;' Sem que por isso alguém se mostre arisco , Que assim também o prega Sam Erancisco. Eu que de santo nunca fiz alardo , Direi humildemente, irmaõ Bernardo f Preste agora attençao ; Vou faliar de Joaò , Grande Santo da Ordem , Que em sentimentos seus pios , honrados k S e disse pai commuin dos engeitados : Nesta virtude ha muitos que lhe mordem; IVlas deixa-los morder , que nas profundas Do inferno o pagaráo .... maldita raça, Que por duas palavras de chalaça , Iraó té faliar mal de Sãos Corcundas ! Esta gente tao bôa , T^ó virtuosa, e honrada, Tao fiel á Corôa , E tao temente a Deos , Que deste Mundo naõ pertende nada, Salvo os empregos seus, E mais coisas annexas , bagatélas , Que lhes trágaô as caras amareltas : De beja mãos devota, e de zumbaias 9 E muito humilde até para as iacaias ; Gosta disto ; de resto só trabalha Na oraçaò , pedindo que a canalha Chamados Liberaes , esta semana , Vaõ dar todos no Campo de Sant-Anna ( J9) Contá de seus peccados : Tudo por caridade. ... He bôa asneira ! Ora lá me apartei já da carreira Da historia dos successos começados. He fado meu que os contos entremeia ; E quem os naó quizer ler que naó leia z Pois eu também sem pôr linhas de caza, Com historias naô quero fazer vaza: Tenho dito. Marchemos por diante; Faltava-me dizer , mas he constante t Que o irmaõ joaó B Abbade de Lorvaõ, Tendo dado nos Moiros muito ás claras , Em Viseu # Monte-Mór , e em toda a parte» Sendo alli um pequeno Buonaparte, Por fim vio-se em camiza d onze varas. He o caso, que um tal engeitadinho , Que comsigo criava em muita estima. Por nome Janhes , mas depois Zulima , E de quem só se diz que ers padrinho , (Más línguas tenho eu visto, Que dizem mais do qhsto) Feito Moiro, infiel , fino, e laberco , De Cordova c'o Rei tratou do cerco De Monte-Mór o velho; Naó lembrado se quer de seu padrinho , Que o tratava taó bem quando fedelho, E que como se sabe era um santinho : Nossos Bernardos saó Gente de bôa laia , Esteios da Naçaõ ; Todos , que vestem saia } Tiraó pela oraçao , Peste , e febre malinas , Trovóes , e tempestades ; Engordaó as meninas , No campo e nas Cidades ; (6o) 'áh ma! de nós se naó houvesse Frades! E mal de Monte-Mór. Os rufos do tambor , O ondear dos turbantes 9 \ O luzir dos terçados , A bulha dos sitiantes , Imprimem nos sitiadus B Um tal terror * um frio No debil coraçaô , Que lhes suffoca o brio : Eis que chega Joaó , Meus filhos , diz , o Moiro nos aperta 9 Se naó matarmos , nossa morte he certa ; Ensaiêmo-nos pois para a matança , E Deos fará por nós mil maravilhas ; Naó fique uma mulher , uma criança, Degollemos irmã as , e mais , e filhas i Amigos, á degolla. Com palavras taó pias , e taó santas f Todo o Povo se anima , e se consola ; Eis o verbo mulher já sem gargantas ; Eis saídos os homens como toiros; Setenta mil já mortos saÓ dos Moiros * E os outros, a fazerem mil carrancas , Se se querem salvar vaó dando ás trancas : Foi um ar que lhes dco, nem um só resta, Que naó deixasse al li a infame vida ; Mas os nossos depois de tanta lida Dizer ah ! como podem bem da festa ? Aquelles q’eraó Padres , Lembraó-lhe as confessadas , Choraó pelas commadres , E primas e afilhadas , Que foraó garrotadas ; O resto, que eraó pobres farroiip-ilhas , Lamentaó pelas mais , irmãas , e filhas : Tudo era choro, e pena* é desconforto ( 6i ) Depois de tal victoria , nos triunfantes , Julgando achar em caza tudo morto: Mas , oh milagre ! estavaõ como dantes , Só cum fio vermelho na garganta : Tanto pôde com Deos sup plica santa De Joaõ , que alcançou tamanha graça ! moralidade. For mais que lingua má nelles desfaça. Os Frades saõ do Mundo a melhor guarda; Que seria dos Coitos d^lcobaça , Se naõ houvesse alli gente Bernarda! MISCELLANEAo JjCviwn spectCiCida rerim 0 Yirg : Georg : Co digo de Frederico . Quando Frederico promulgou teu celebrado Codigo de Leis , fez baixar ao mesmo tempo um Edicto para que naó podesse haver em Ber- lim , ou em outra alguma parte de seus Domínios 5 mais de quatro Advogados» Assim muitas mií pessoas de agu« deza e engenho , foraó privadas de grandes rendas , e de um modo esplendido de vida : fizeraõ por tanto um requerimento ao Rei , mostrando que por esta decisão haviaò sido reduzidos á mendicidade s e pedi ndo-ihe que , por sua bondade e clemencia , lhes designasse um em- prego que lhes resarcisse o logar de que haviaó sido despojados. O seu despacho , que se conserva nos Ar- chivos Reaes , foi segundo o costume , escrito por bai- xo da petição , e he o seguinte : (( Os que naõ tive- rem altura para Granadeiros podem assentar Fraca de Soldados razos ; e os que naõ tiverem medida para Sol- dados razos, se acceitaráõ por Tambores e Pífaros. )) Consolagao para desgraças* Encontrando-se dois ami*- ( 6i ) gos depois de ionga ausência, houve entre elles a se- guinte conversa : Como tens passado t Amigo , ha tanto tempo ? Muito bem. Cazei-me depois que nos vimos. Boa noticia . Nao muita boa ; porque cazei ^oin a mulher mais endiabrada , que tem havido no Mundo. Bem máo foi. Nem taô máo como isso * trousse 12JC00 cruzados de dote. Está Jeito ; isso havia de consolar-te. Nao por certo ; porque empreguei o dinheiro ena Carneiros, que' todos morrerão de ronha. Eis-ahi grande infortúnio . Também nao ; porque fiz nas pelles quasi tanto * como os Carneiros me tinhaó custado» Oh ! entaô ficaste indcmizado . De sorte nenhuma ; porque a minha caza aonde eu tinha as letras daquella somma , ardeo toda. Oh homem , que desgraça ! Qual desgraça ! também lá morreo queimada minha mulher. Peditorio Jòra de proposito. Pedindo o Doutor Franklin ao Rei da Prússia auxilio a favor da America « Diga- me cá, Sr. Doutor, a que objecto se dirige ? » Liber- dade y Senhor ( respondeo o Filosofo ): Liberdade que he o direito de todo o homem. « O Rei respondeo » Eu nasci Príncipe, — ■ agora sou Rei, — quer V. m. que eu concorra para arruinar o meu ofhcio ? Oratória em Còrtes . Um Deputado pouco avezado a fallar , porém dezejoso de expressar os seus sentimen- tos sobre certo objecto , levantou-se e principiou (t Sr. Presidente , tenho concebido .... tenho concebidG .... © repetio isto a terceira vez. , sem poder adiantar mais nada ; quando outro Deputado com talvez mais des em** baraço do que decoro , levantou-se , e disse , — (í Sr. Pre- sidente , o i Ilustre Preopinante tem concebido tres ve- zes , e nunca pario nada. » (< 3 ) 0 Pontífice cortez. Quando Ganganeüi subio £ Ca- deira Pontifícia, forao os Embaixadores de diferentes Estados dar-lhe os parabéns , ao que elle correspondeo com cortezias. O Mestre de Ceremonias lhe observou que isto era comprometter a sua dignidade y ao que el- le respondeo & Ainda nao sou Papa ha tempo bastan- te, para me esquecer da bôa criaqao. Gascoada , Um Official Gascao tendo uma ordem real para $oo cruzados , foi a caza de M* Colbert , re- ceber o dinheiro quando o Ministro estava jantando* Sem ceremonia entrou para a caza do jantar , e disse a sua pertençaô. M. Colbert offereceo-lhe $e queria sen- tar-se e servir-se , e que depois de jantar lhe pagaria a sua conta. Elle nao se fez convidar duas vezes; sen- tou-se á meza , e come o tanto como seis alarves. De- pois de jantar foi um Criado contar-lhe 450 cruzados* Elle disse que deviaô ser 500. « He verdade, disse o Criado , mas descontaò-se $0 pelo seu jantar. » — Co- mo assim (replicou o Oífícial ) $0. cruzados por um jantar ! por doze vinténs janto eu todos os dias. — % Pois sim , disse o outro , mas nao janta com M. Cof- bert. » — Bem , replicou o Gascaó ; já que assim he 9 nao quero incommodar-me pelo resto : ámanhaa manda- ' rei aqui jantar meia duzia dos meus Amigos s e assim se saldará a conta. Vexame de um Major . No tempo em que nossos Fi- dalgos ao sair do ventre das mãis * trazíaô patentes de Conselheiros de Estado , de Generaes , Coronéis , êcc &c. lima destas abençoadas criaturas , se achava Major á ida- de de quatro annos. Um dia ouvindo a mãi uma bulha muito grande, perguntou á criada qual era o motivo. Esta respondeo (C He 0 $enhor Major que está a chorar pelo almoço ! Lembrança pezada. Estando para embarcar um Su- geito de Santarém para Lisboa, peáirao-Ihe muitos Ami- gos que lhes troussesse varias encommendas , de que ihes deraõ umas- lembranqazinhas. Muito admkadof fica- / ( «4 ) raó quando ao voltar elíe naó deo conta senaÓ de uma das encommendas A razaô disto explicou-a pelo seguin- te successo — ■ « Estava eu , Senhores , sobre a cober- ta a rever as vossas notas , quando veio um pé de ven- to que as deitou todas no Rio , excepto a do Senhor 5 — - â qual tendo o dinheiro embrulhado, como pezcma mais 9 ficou-me só na maó> >5 Sangue frio . Um Quaker indo de sege por uma Bua muito estreita , foi encontrado por um Peralvilho, que vinha também de sege , e como a Rua os naó per- mittisse passar ambos, era preciso que algum delles re« cuasse ; ao que nenhum quiz assentir, um jurando, e O outro affirmando. Por fim o taful sacou uma Gaze- ta, e pôz se a lêr muito descançado na sege. A isto ti- rou o Quaker da algibeira cachimbo e tabaco, e pu- xando por fuzil e isca, se pôz a fumar. (C Amigo, (disse elle), quando acabares de lêr a Gazeta, ncar- fce-ei obrigado se ma emprestares. Jpplicaçao da Escritura . O Duque de Bouillon # a quem Luiz XIII havia perdoado o crime de traiçao 9 encontrando o Cardeal de la Valette , este lhe disse Beati quorum remisse sunt lúqultates )) ( bem aventu- rados aquelles cujas iniquidades s@ perdoaraó. ) Como o Cardeal era suspeito de ter entrado numa conspiração , de qué naó havia com tudo evidencia , o Duque respon- déò-ihê (( Et quorum tecta sunt pec cata )) (e aquelles cu- jos peccados andaó cobertos. ) Um Marechal 1 humilhado . Um Feld Marechal Fran- cez que havia obtido aquelle posto pelo favor da Côr- te e naó por valor, recebeo de uma Senhora em pre- sente um Tambor com esta inscripçaô. (4 Feito para ser batido . O mesmo Heróe , indo uma noite a Opera , to- mou pôr força posse do Camarote de um respeitável Abbé, o qual por este ultraje, intentou uma acçaó num Tribunal de honra, erigido para semelhantes casos no tempo do antigo Governo. O Abbé f&llou assim ao ( 6 ? ) Tribunal — > « Eu nao venho aqui para queixar-me do Almirante Suffrein , que tomou tantos Navios nas In- di-as. — Eu naô venho aqui a queixar-me do Conde de Grasse , que taó nobremente pelejou no Oeste* — Eu nao venho a queixar-me do Duque de Crebillon , que tomou BI ín orca ; — mas venho quéixar-tne do Mare- chal B — que tomou o meu camarote na Opera , e que mais coisa nenhuma tomou ! — O Tribunal pedio-lhe que deixasse o processo , visto que por esta falia , estava des- afrontado. . •Áwzade e simplicidade . Tres raparigas companhei- ras n * um Recolhimento da França , contraírao tal amiza- de que resolverão de nunca separar-se; mas como os Parentes as haviaõ de tirar cedo do Recolhimento, em ordem a caza-las a diferentes maridos, que havia© el~ Ias fazer ? Sabiaô que em França nao era permittido s homem algum ter tres mulheres. TinhaÕ ouvido tam- bém que o Gram-Senhor podia ter as que quizesse , e por consequência ajuntaraõ todas tres o seu juízo , es- creverão uma carta relatando ao Turco a terna amizade que as unia 9 e dizendo-lhe que o tinhaó escolhido para marido : — mandaraó esta carta ao Correio com o so- brescrito (( Ao Senhor Grande Turco , no seu Serralho , Constantinopla , pelo Correio de Lijons. — A celebreira do sobrescrito deo motivo a abrir-se a carta, e a descobrir- se a notável maquinaçaó. Desertores . Frederico o Grande andando uma noite a examinar o seu Campo , descobrio um Soldado ten- tando passar fora das Sentinellas* O Rei se lhe pôz diante, e perguntou para onde ia? Por certo, disse o Soldado, V. IVlagestade tem agora ido tanto debaixo, que eu ingenuamente confesso ia desertar : ias com effeito ? (disse o Monarcha) espera outra semana t e se as coi- sas se nao endireitaõ 3 desertaremos ambos * Vol, IL Num. L E ( 66 ) ECONOMlA ANIMAL. (Continuada de pag. $21 f do VoL I.) Desordens geraes e parciaes da Economia Animal , que formai ã dôenfe* Havendo lançado tima vista rapida sobre os poderes animantes e nutritivos, que servem de dar, e suppor* tar a vida e saudf na fabrica aoisnaí , procederemos a considerar os desvios da saude que occasionalmente se suscitao , e que formão doença. Em duas classes podem eües dividir-se, — geraes e locaes , á medida que aífec- taô todo o corpo , ou occorrem h # uma parte. Dos primeiros , ou doenças geraes , a primeira or- dem he a do calor exaltado , que admkte muitas di- visões. A mais simples destas doenças he, a febre ínfíam~ mataria. Nesta he o sangue sobre-oxygenado , e sendo as forças eléctricas , ou galvanicas do cerebro também exaltadas , produz-se ura excesso de calor. Por conse- quência , sendo mais apressada a acçad do coraçao, o sangue he írapeliido pelos vazos do cerebro com maior forqa y tendente a conservar o estado desordenado deste orgaô. Tornando-se a cutis res.equida , continua o ca- lor a accuraular-se por falta de superfície conductora. Pelo excesso do calor , se perturba© as funcçóes de to- dos os orgãos , e as secrecdes saó mais ou menos mór- bidas ; daqui a nausea e enjoo do estomago , ourinas muito vermelhas , e fezes ofensivas e de côr negra. Du« rante este estado, se uma parte do corpo for mais ten- ra de que a outra , seguir-se-á provavelmente algum damno , cora particularidade se continuar dois ou tres dias , ta! como a inflammaçaó do bofe , tripas , ou ce* r^bro. Muito provável he , que esta accumulaqaó do ca- lor tenha tuna influencia considerável sobre o estado ( & 7 ) dos fluidos. Se a cosgufaçao da lympha he um effeito natural do calor , quando applicado fóra do corpo , po- demos presumir que a appücaçaõ do mesmo poder os aífectará também no corpo» ainda que taiyez nao no mesmo grJo; O sangue tirado na febre inflammatoria tem certamente maior consistência , e exhibe uma côr mais carregada do que em saúde. Neste estado do corpo , que deve pois fazer o Medico Chimico , e que tratamento adoptará para res- taurar o estado de saúde ? — Deve certamente tratar , primeiro de diminuir pela sangria , a quantidade de ma- téria que atfciáe o exygeneo da atmosfera, isto he , as partículas vermelhas do sangue. -(*) Seu jmmediato ob- jecto deve ser diminuir a excitabilidade do cerebro applicandò á cabeça agua fria , por meio de uma toa- lha, Havendo assim minorado o excesso do oxygeneo 9 e diminuído a aeçaó do cerebro, deverá logo empe- nhar-se em lançar fóra o calor accumulado , produzindo uma superfície conductora de todo o corpo, pela exci- tação da transpiraçaó. Achando esta difficultosa , para se effectuar, produzirá elle artificiàlmente a mesma super- fície, por meio de banho _frio ou quente» o ultimo dos quaes he preferível , em razaõ de ser mais provável a produzir a secreção natural. Da syrppatia existente en- tre o cerebro, o estomago , e as tripas, deve eflè des- pejar o canal intestino » para que ailj se naõ conserve frnfcaçaó. Restaurada a secrecçàõ da cutis , deve empe- ,(f) Tem-se dito, que o sulphuréto- de ammonia diminúe as partículas vermelhas do sangue, Se isto fos- se um facto certo, seria grandíssimo remedio nas doen- ças inflammatorias , e pouparia o uso da sangria , que he empregada sómente para o fim de extrair ou dimi- nuir as partículas vermelhas. Durante a febre inílamma- toria , as partículas vermelhas do sangue saó lançadas fóra do systema pela ourina , formando o que se cha- ma o~ deposito latericio , o qual contém ferro , e apenas isto siiccede , a febre abate. E ã ( 6 * ) nhar-*e em eo ns(?vw a evaporaçaõ , reforçando 0 uso dâf bebidas diluentes , para cujo fim , a agua fria he que serve melhor. Tal he a prática que se verá produzir bom ef» feito, na simples febre inflammatoria Considerando & causa e natureza da febre inflammatoria, ha muito pou* co a esperar das receitas usuaes dos Médicos , consis- tindo em pequenas doses de antimonia., ou mistura sa- jína. Irritando o estomago com vinhos ou remedios to- nicos , quando predomina excessivo calor , causa-se muito prejuízo , e a doença se aggrava no mais alto gráo , e se o paciente sobre-vive , só o deve á sua ro*. b usta constituiçaÔ ; pois que „ se com taes remedios , ajgutna qualquer parte do systema tiver previamente al- gum defeito , o paciente será a victima do tratamento. A outra ordem desta classe de doenças geraes he a febre íntermittente , cuja cansa constante e certa , saõ os miasmas pantanosos , ou os èffluvios produzidos por so- o húmido. Os effeitps destes èffluvios saô , primeiro oc- Icasionar reducçaó das forças vitaes» Daqui as extremidades se tornao frias , o pulso pequeno e fraco , e o semblante exhibe uma apparencia muito pallida. Este estado depois de continuar por algumas horas 3 he succedido por ou» tro opposto ; tornando-se incrivelmente crescido o calosr do systema; o pulso cheio e vigoroso; e os vasos dâ cabeça sobre-cárregados. Limita-se a duraçaó desta mu- dança a algumas horas , quando chega uma superfície cpnductora copiosa, que he o meio de terminar a fe- bre , á qual se segue estado languido do corpo» Estes phenomenos admittem fácil explicação.  a c- çaõ dos miasmas pantanosos, no primeiro exemplo, deprime o principio vital , e a acçaô exaltada do syste- ma que se segue , he um esforço da natureza para re- ganhar sua perdida energia. Para reganhar a saúde nestas circunstancias , he ne* * cessario vigorisar o estomago , por ser o orgaó que for- nece a nutrição do systema , e 'mais connexo com o cé- rebro que outro algum. A febre então he evidentemen- ( 6 9 ) te uma salutar tentativa da natureza para se preservar 9 e resistir a causa mórbida ; porém sendo seus esforços proporcionados ao gráo da debilidade ou deficiência do calor vital , a temperatura do corpo he consideravelmen- te elevada acima do seu estado natural ; daqui provém muitas vezes prejuízo a alguns orgãos , particularmente ao figado , que tende a conservar os effeitos dos efflu» vios húmidos. Este datnno local he geralmenre olhado pelos Physicos como causa ? e nao como effeito da doença. Quando os poderes sencientes do cerebro súó per- turbados pelo excessivo calor do corpo s produzem-se ou» tros phenomenos. As funcçóes intellectuaes sao pertur- badas , produzindo delirio. Succedem symptomas de ex- trema debilidade 5 e esta irritaçaõ mórbida do systema nervoso continuará muitas vezes depois de ter aquieta- do o excessivo calor. Ha neste estado uma disposição do corpo para a decomposição , a qual muitas vezes ap- parece parcialmente , produzindo o que se chama mor- tificação. Esta fôrma de febre tem-se chamado febre pu~ trida y ou ti/pho . Estas febres sao muitas vezes epidê- micas 5 nao por principio de infecção , mas pelo estado ou condição da parte da terra onde oecorrem* Por is- so a doença se espalha algumas vezes , a pezar da maior vigilância em cortar a corrimumcaçaõ com os infectados, Nao que se possa negar ao mesmo tempo , que existe - febre de natureza verdadeiramente contagiosa , por cau- sa de uma peculiar matéria que entra no systèma , pro- vavelmente pelo bofe ; pois que achamos as ourinas cheirando fortemente a termentina , poucas horas depois de terem os vapores daquella sido recebidos no bofe, * No tratamento de taes febres , a chimica aponta a necessidade de abrandar a excitabilidade mórbida do ce- lebro , pela applicaçaó da agua fria á cabeça , e de pro- duzir uma superfície conductora de todo o corpo } pa- ra expulsar o calor superabundante; e o que se tem acha- do mais conducente a este fim he 5 lavar a cutis com ( 70 ) vinagre frio. Depois a mesma chimica ordena o remo- vimento de qualquer matéria irritante dos intestinos ; e em fim recommenda a conservação de certa cohesaõ de fibra 5 por causa da forte tendencia para decomposição \ por cu : o fim , se deverá appiicar ao estomago matéria adstringente, como infusão deFvhatania, ou alguma cas- ca de semelhante natureza. (*) Se acontece que o sangue seja impregnado com ex- cesso de muriato de soda # então a febre inflammatoria ! exhibuá outro phenomeno pela appareticia de inflam- inaçaõ cutanea e vesiculos , chamado erysipela. A maior parte das doenças sao, aggravadas por um estado sobre- salino dos fluidos 9 especialmente as das superfícies se- cernentes , em consequência de ferem as suas^secreções fortemente impregnadas de muriato de soda , como ca- tarrho , tosse , fluor albus , gonorrhea , &c« aonde quer que este estado existe, a ourina he fortemente impre- gnada de muriato de soda. Além das formas de febre já descritas » a igniqao do corpo he perturbada por matéria contagiosa , dando fôrmas peculiares de doença * e produzindo diferentes apparencia-s na pelle , como Bexigas , Sarampo , &c. Du- rante a excessiva ignição que acompanha o seu progres- so , ^era-se , em grande quantidade , uma matéria da me^ma natureza do contagio , e o corpo fica seguro de algum fu tiro ataque de semelhante moléstia. Como a produccao da matéria mórbida he proporcional ao gráo de febre , vem a ser da maior importância no tratamen- to diminui-la apenas appareça. Durante estas febres , e as outras das formas des- 0#) He costume receitar vinho do Porto para esta febre , rras o alcohol perturba muitas vezes o cerebro. O Doutor Ferriar f de Manchester , assevera, que expe- rimenta ra melhores efeitos na Rathania com acido suf- phurico , do aue no vinho do Porto, sém produzir o máo eíleito que muitas vezes occorre com o ultimo» ^ (71 ) cntas , o excesso de^calor , ou ign’çaõ exaltada, tem muita aptidaó a produzir damnifícaçaó nos orgãos tenros. Por isso achamos que as febres eruptivas , especialmen- te sarampos, saó muitas vezes seguidas de doença or- gânica do bofe, chamada tijúca particularmente aonde existe uma structura delicada do systema absorvente , ou o que se chama predisposição escrophulosa. Estas consequências por tanto, designaó fortemente a neces- sidade de praticar todos os meios para reduzir ao esta» do natural o excesso do calor , com a possível brevi- dade. Porém 5 aonde a determinação da doença fòr pa- ra a peiie , como he nestes casos, a circulação da sii -er- ficie deve ser supprimida. Nas bexigas tem sido cons- tante prática conservar o corpo frio , e a experiencia tem mostrado a utilidade deste plano ; porém no saram- po a applicaçaô da agua fiia á Cabeça pode ser util , mas para a superfície do corpo , será mais própria a agua quente , em ordem a conservar a transpiraçaô , e a prevenir a determinação do bofe que taó fácil he de acontecer nesta doença particular. Destes factos se colhe obviamente , que he possí- vel a todo o tempo seguir-se muito dam no da conti- nuação do excessivo gráo de ignição , ou calor exalta- do , nas partes tenras do systema , e tal he a formaçad da structura animal, que ha poucos indivíduos , em que algumas partes naó sejaó de uma textura mais fraca , ou tenra do que as outras. Pela contínua accelerada circu- lação por esta tal parte , acompanhada do excessivo ca- lor t mais cedo, ou mais tarde succederá desorganisaçao local. Teem na verdade occorrído exemplos da ignição do corpo levado a taó alto ponto, que chega a produ- air em poucas horas completa decomposição da structu- ra animal, chamada combustão espoutanca. As transacçóes da Sociedade Real de Londres apresentaó um exemplo notável desta ignição do corpo levada a fatal excesso* Houve delia exemplo em Ipswich , e no Jornal Physi- co de Parts apparecem muitos casos naò menos nota* ( 7 * ) veis. Por tanto o exaltado calor chp corpo , pelos seus damnosos eflfeitos ( mostra a necessidade de conservar o system a antes abaixo do que acima da medida natural 9 e , para prova desta vantagem , achamos nós que as pes- soas de constituições languidas vivem geralmente muito tempo, e escapaó de grande número de doenças, ao mesmo passo que o habito inflammatorio , tomando fo- go em todas as occasióes , ou exaltando facilmente o seu calor acima da medida natural , he a victima cons- tante da doença , e raramente estende sua vida a um período distante. À outra ordem de doenças que occorre no metho- do que adoptámos he a ignição diminuída ? de que appa- rece urn forte exemplo na hydropesia, Um Medico Chi- mico , examinando os phenomenos desta doença * de- vera dirigir o tratamento em augmentar as partículas ver- melhas do sangue, para que mais oxygeoeo seja attraí- do da atmosfera. He bem sabido 9 que pode isto fazer- se pelo uso das preparações ehimicas do ferro , — me- tal que a analyse do sangue nos tem ensinado existir nestas partículas , em uma certa proporçaò. Augmentan* do o calor do systema , he que como tónico , o ferro obra no corpo. O immediato objecto no tratamento desta doença deve ser augmentar a geral cohesaô da fi- bra , e prevenir a tendencia á decomposição. Conseguir- se-á istò por adstringentes, particularmente a Rhatania , e a Qúina , podendo ajuntar a estes meios o uso dos estimulantes, com o intento de despertar a acçaõ do cerebro , e por consequência o systema absorvente f sup** portando as partes affectadas , com ligaduras , ou ou- tros meios mechanicos ; e como os rins saô o educto da matéria aquosa , esfcimula-los-á usando dos artigos chamados diuréticos. O estado morbido dos poderes sencientes do cere- bro forma a jm medi ata , e muito importante classe de doenças.. Os nervos , ao ramificar se do cerebro, teem to* dos differentes oíücios que lhes saó designados , e as- ( 73 ) sim a doença 3 ainda que excitada por uma e mesma causa, exhibe muito differentes phenomenos , em con- sequência desta circunstancia. Quando se corta a com- municaçaó entre o cerebro , e os nervos , em alguma parte do seu curso, ou por compressão, ou structura mórbida , o nervo perde o poder de executar o seu of- íicio. Por isso , a compressão do nervo optico , causa cegueira , chamada gota serena , da mesma maneira que a divisão ou estado morbido dos nervos dos ouvidos produz surdez. O gráo morbido de írritaçao dos nervos do bofe, ou fibras musculares dos vasos respiratórios , chama-se asthma . O mesmo estado ou írritaçao mórbida dos ner- vos das membranas , ou ligamentos das juntas , chama- se rhewnatismo. Semelhante condição dos nervos do es- tomago occasiona indigestão ; írritaçao mórbida dos rins , produzindo excessiva descarga de ourina , chama-se dia- betes Este estado de Írritaçao mórbida dos nervos des- tes differentes orgãos , pôde ser effeito ou da ignição exaltada , ou excesso de vitalidade , ou diminuição de calor para menos da medida natural. Pode aqui obser- var-se , que os nervos de uma parte do corpo saõ mais susceptíveis de perturbar-se que outros; coisa que se transmitte muitas vezes de pais a filhos. Daqui vem que numa pessoa, cujos nervos pulmonares sa5 mais deK~ cados , e irritáveis do que os de outra alguma parte do seu systema , tudo aquillo que occasiona uma desordem geral de saúde , como mudanças da atmosfera , paixões do espirito, excessos de qualquer sorte, 8cc. produzirá um ataque de asthma . Em outras , em que os nervos dos intestinos se acharem em condicaõ delicada , produzir-se-' á diarrhea . Na mulher que tenha irritabilidade mórbida dos nervos uterinos , apparece hysteria , e outro tanto se poderá exemplicar em outros muitos casos. Deste exame do systema , podemos dar a razaõ porque uma doença suspende a acçao da outra, produzindo maior ^ráo de írritaçao * mesmo quando esta irritaçaõ he re- ( 74 ) mota da sede da doença original , por exemplo um cáus- tico applicado á perna , fracturas , &c. Para dar-mos alguns exemplos : um cáustico applicado á perna, tem curado ataques de asthma , e aquelle estado de espirito produzido pela influencia de encantos , ou remedios mysticos , tem-se achado de muito beneficio em grande variedade de afecqoes nervosas. O sobresal- to tem muitas vezes curado um ataque de gota , es- tando o paciente aquelle tempo incapaz de mover-se , peio effeito instantâneo e forte produzido no seu espi- títo. Ha lemPrança de numerosos exemplos desta natu- reza. Dos diferentes estados do systema que acompanha© estas diferentes afeições dos nervos, chamamos-lhes, com as vistas de simplificar o seu tratamento 9 super-irrita~ tivas , ou sub-irntativas. (*) Esta distincçaõ he da maio? importância na prática, pois que os remedios appiicaveis a uma , podem ser altamente prejudiciaes quando se ap- plícao á outra. Para o confirmar com um exemplo : na mulher plethorica , a hysteria he uma doença commum 9 assim como o he nas mulheres de diferente constitui- ção. Se a asfif^tida , e outros estimulantes forem dados á primeira , naõ pódem deixar de aggravar a doença; pois que os remedios da qualidade opposta sad os verdadei- ros anti-spasmodicas proprios para as existentes circuns- tancias mórbidas. No rheumatismo tem-se ha muito tempo observado esta distincçaõ, e daqui veem os ter- mos de agudo e chronico , como particularmente appli- cados ás duas diferentes fôrmas desta doença. A dis- OO A super-irritaçsõ do systema, he aquelle es- tado em que pódem unicamente existir muitas doen- ças , e quando este he removido ou pelos remedios» ou pelos efeitos debilitantes da moléstia , elie termi- na , dizendo-se que cessa" espontaneamente. Do mesmo modo se restaura a saúde nas doenças de irritaçaõ di- minuída , por meio de elevar o systema ao gráo que lhe he proprio. (75 ) fcincçao 9 em que nos empenhamos , he fortemente con- firmada na sua propriedade , considerando também as doenças dos moços e velhos Na mocidade mostra o sys- terna um gráo mais vivo de irritaçaô ; e como os va- sos do sangue , particularmente ò sistema arterial, sao peia maior parte sobre-carregados , desenvolve-se maior gráo de calor. Para applicar-mos , em princípios próprios , nosso conhecimento deste estado ao tratamento da doen- ça , podemos observar, que na inchaçaô branca , a fric- ção com a maõ quente , he decisivamente damnosa numa pessoa moça, promovendo suppuraçaó , e estendendo a desordem orgânica da structura ; porém ao contrario quando o systema arterial se acha em difFerente estado ^ e na 5 mostra sinaes de andar sobre-carregado , entaó a mesma applicaçaó da fricção será muito util para exci- tar as forças dos vasos absorventes , e promover mais activament* o processo da mutaçaó. Daqui se segue que a idade do paciente he um ponto da maior consequên- cia na direcção do tratamento da moléstia , por modifi- car o estado da mesma moléstia. ' Para augmentar os exemplos podemos observar que a própria indigestão , doença geralmente attribuida á debilidade e relaxaçao do estomogo , he muitas vezes uma affecqaó de qualidade super- irritativa. Muitas vezes occorre elia em pessoas que se aíimentaó de sustento animal , e que se entre- gaó a licores vinosos , com o que tornando-se sobre- carregado o systema sanguifero , o cerebro se compri- me, e a languidez, éançasso, e sensaçaô de apparente debilidade sao as consequências Pela mesma causa he o cerebro perturbado , e o systema tornado irritável. Os remedios usuaes de estomachicos e cordeaes , de quali- dade muito estimulante , naõ podem deixar entaó de produzir damno; quando ao contrario, aquelles meios que cpndem a produzir depleçaó, e a descarregar o sys- tema ; restauraráó a saúde do corpo. Continuar-se-á. ( 76 ) • ^ ^ política. 'Londres* Cartas de Havanna de ! 6 de Fevereiro re- cebidas por via de Chariestown , aífirmaõ que as auto- ridades de Havanna determinarão fazer daqtielje logaf um Emporio , onde todâ a qualidade de mercadorias po- dem ser armazenadas e reimbarcadas , pagando por bai«* deaçaô o direito de 2 por cento. Paris 28 de Março . O Jornal de Nantes annuncia , que 25 Ofüdaes de differentes graduações foraõ arres- tados na Rochella, em consequência de terem denun- ciado a conspiração alguns dos Associados. Naó tem havido novas circunstancias que mostrem sua extensão * ou seus^ determinados fins. Os artigos do orçamento con- tinuarão Quarta feira a formar o objecto da discussão da Gamara dos Deputados , e deraÔ oecasiaò aos usuaes excessos de intemperança entre os dois partidos. No an- damento do seu discurso , teve o General Girard occa- siaò de elogiar a administraçao militar do Marechal St. Cyr ; e exprobar aos Ministros o abandono da lei , pra* ticado em se chamarem ao Serviço os Veteranos do Exer- cito Imperial i debaixo da forma de Exercito de reserva. Nova York 6 de Março, Por um Navio chegado d© Porto Bello , veio uma Copia das regulações adoptadas pelo Governo Patriótico , em differentes Portos do Isíhmo de Dariem Os Portos de Paoama , Chagres , e Porto Bello «stao declarados abertos aos Navios de todas as Naçóes. Às fazendas introduzidas para o consumo do Paiz em Navios estrangeiros pagaráõ o direito de 24 por cento. Em favor dos Governos Patrióticos do Sul da America, faz-se abatimento de 2 por cento. Diz-se que chegara a La Guita, pelos fins de Janeiro, uma Náo Franceza , para intimar que a Bandeira Columbiana seria admitti- •da em todos os Portos da França , e suas Colonias. O Congresso de Columbia* em demonstração da sua gra- tidão aos eminentes Serviços do General Bolivar re- solveo fundar uma Cidade , que deve ter o seu nome, He destinada a ser a futura séde do Governo da Repu- blica. Vienna 15 de Março.. Extracto de uma Carta^partí- cular * O Conselheiro privado Tatischeff foi revestido com o titulo de Plenipotenciário extraordinário, e áu- fcorisado com todos os poderes de S. Magestade , o Im- (77 ) parador , a fim de tentar * de concerto com os Gabi- netes de Áustria e Inglaterra , todos os meios compatí- veis com a dignidade daqueüe poderoso Soberano , para restabelecer a boa inteliigencia com a Porta Ottomana. Esta nova prova de sollicitude e moderaçaõ do Impera- dor Alexandre deve abreviar as negociações , e findar $ Sncerteza a respeito da guerra. A Rússia requer sómen- te a execução dos tratados , em virtude dos quaes os Turcos estaó obrigados , primeiro que tudo , a evacuar ã Moldavia e Valachia, e pôr os Hospedares á testa do Governo daqueSles dois Principados, Até agora, tem si- do , sobre estes dois pontos , evasivas as respostas do Bivan , e sua conducta de nenhuma sorte satisfactoria. Entre tanto a Rússia experimenta todos os inconvenien- tes da guerra , sem colher vantagem alguma : tendo , ha mais de seis mezes , reunidos nas fronteiras da Turquia numerosos Exércitos , os quaes occasionaõ grandes des- pezas , em quanto as rendas se achaó diminuídas pela estagnaçaõ do Commercio nas Províncias Orientaes, S. IVIagestade o Imperador Alexandre naó só está longe de todos os Projectos de Conquista , como até faz consis- tir a sua maior ambiçaò em consolidar a tranquillidade da Europa. Paris 2 6 de Março. As noticias de Vienna datadas cm 17 , e recebidas aqui por um expresso , asseguraô que ha as mais lisonjeiras esperanças do bom resultado da missaô de M. de Tatischeff. O Duque de la Rochefoucault Liancourt , inspector feral da Escola das Artes em Chalons , acaba de partir para aquella Cidade , em consequência de alguns sinaes de insubordinação dos Pupillos da Escola. Muitos destes mancebos teem sido mandados para a caza de seus paié* Todas as pessoas, condemnadas a 1 j de Feverei* ro pelo Tribunal da Policia correccional , teem sido sen- tenciadas , em razaõ de favorecerem a fuga de Laver- deric e Duvergier , excepto a Earoneza de Pailhes que appellou. A sua causa chegou esta manhãa ante a Coar Koí/ale ; porém como a Baroneza naõ appareceo confir- mou-se a primeira sentença. O Ami de la Charte annuncia que o Coronel Alix* ultimamente arrestado em Nantes , sstá para ser pro- cessado na primeira Audiência. Parece que o arresto des- te Officiaí , se praticara depois de uma explaoaçatl com o Prefeito , a cujo Escritório havia ido para assinar o seu passaporte. ( 78 ) Cartas de Montdidier ( Somme ) dizem que quasi todas as noites se veem incêndios naqueiles suburbios. Os autores destes insultos teem levado a audacia a pra- tica-los de dia Para se prevenirem estas desgraças 9 e para proteger a segurança pública, teem os Magistrados postado destacamentos militares em muitas Aldêas, Nós (0 Courier Fra içois ) recebemos alguns detalhes dos successos da Rochelle. Em a noite de 19, obteve- se informaçaó de uma conspiraçaõ, formada pelos Offi- ciaes subalternos do Regimento 45 de linha. O Prefei- to , o General , o Tenente e Procurador do Rei, reu- rnraó-se no Falais de Justice Ao mesmo tempo o Co- ronel appareceo nos quartéis com alguns Officiaes : Poz em araras uma companhia de Granadeiros de experimen- tada fidelidade , e prôcedeo a buscar os Officiaes Subalter- nos , e a rev Magestade , e ás Cortes Geraes , o amor mais decidido á Sua Real Pessoa , assegurando-lhe que qualquer que seja o caracter dos inimigos desta Divisão 9 esta se conservará sempre nos seus justos limites , res- peitando o Direito dos Povos, vigiando na sua trari- quilíidade interior , ao mesmo tempo que pugnará sem- pre pela incol um idade , e indivisibilidade da Naçaó Naó pódem os Chefes deixar de levar ao conhecimento de Vossas Excellencias , que somos todos perseguidos , e que ha um empenho em fazer-nos apparecer como ini- migos do Brazil , que faz continuar em agitações a es- te innocente Fovo , dobrando guardas, augmentando as forças das Fortalezas , arrancando de suas cazas , e lo- jas os Mestres , e Officíaes de Officios para conserva- Jos sobre as Armas com notável prejuízo de suas ante- fiores economias , como se esta Divisaõ fosse agressor ra do Povo ; este empenho temerário tem chegado ate a. animar a Canalha para que se insultem os Soldados que ( Si ) $*o envfados i Cidade, pelo que se fez necessário diri- gir a S. ExceHeneia o Ministro de Guerra o ( Documen- to N.° 8), como também sobre a alteraçaõ das rações (Documento N° 9 ) Deos guarde a V Excellencra. Quartel General da Prai- Grande 18 de Janeiro de 1822. — lllustrissimo e Excellentissimo Senhor Alimstro de Estado dos Negó- cios da Guerra. — Jorge de Avtlltz Zuzartc de Sousa Tavares. — Francisco Joaquim Carrettl , Bri?ade»ro — » Alto lio Jozé Soares Borges e Vasco ice lies , Coronel do Regimento N.° iç , e Commandante do 1 0 Batalhaõ. — Jor.é Maria da Costa 9 Tenente Coronel Commandante Interino do Batalhaõ N.° 11 — jozé da Silva Rlg f Tenente Coronel Commandante de ArHlheria. « — Àn~ tono Valeria no de Sousa Castro , Segundo Tenente Coni- mandante de Artiíices Engenheiros. Man. festo aos Çidadaos do Rio de Janeiro. O Gene- ral Commandante da DKisaõ Auxiliadora do Exercito de Portugal, destacada nesta Côrte se dirige ao vosso juízo imparcial para qüé como Homens livres deci^aes do seu comportamento , e do da ' Divisaõ , que elle tem a honra de com nandar, nos acontecimentos que tive- rao lugar no dia 12 do corrente mez , e para os quaes se tem olhado # como um ataque feito aos Direbos do Povo. A detraeçaõ a maledicência , e a duplicidade tem trabalhado para anresentar-vos com caracteres n grO» , e odiosos a Divisaõ de Portugal , e os sens Chefrs ; designan- do-os como inimigos declamados da prosperidade deste Reino do Brazif. Nada ha inais facil que surprebender a ftiüítidaõ , suppondo factos oppostos aos seus interesses : este tem sido o resorte mais efficaz em todas as Na- ques para involver em sangue os Habitantes pacíficos. Para desfazer este conceito que se tem admittido talvez sem reflexão , o General que está á frente da Divisaõ tem a honra de fallar ao Povo, sugeitando ao mesmo tempo a sua condueta ao juízo do Augusto Congresso Nacional , cuja Authoridade Soberana todos temos jura- do reconhecer. He notorio ao Mundo , que quando este Povo jazia debaixo do Poder arbitrário de um Ministé- rio imbecil e ignorante, a Divisaõ de Portugal foi a que, rompendo as Cadcas que opprimiaõ aos seus Irmãos do Brazi! , lhes resttftiio o exercicvo dos Direitos impres- criptiveís do Homem, elevando-os ao gozo de um Go- verno Representativo, tal e qual o formassem as Côy- $cs de Lisboa. As demonstrações públicas de gratidaõ Vpt. II. Num. L F ( 82 ) manifestadas d porfia por todas as Classes; a prodlgalí- de com q ?e se recompensarão os esforços da Tropa , e as acdamações geraes patentearaó a gratidao sincera que transluzia no semblante de todos os seus Habitantes * e saõ v Monumentos que pregoaõ que, estes Homens que agora nos fazem olhar com odio saô os mesmos de cu» jas mãos recebestes o estimável bem da Liberdade Civil. Becordgíi Cidadãos , que estes Militares quando viraô que o Governo desta Corte , iHudia astutamente os benefícios da Constituição , concedendo-vos como uma graça o que por dfreito vos devia, levantou outra ve? sua voz no dia $ de Junho para pedir a observância das Bases da Constituição da Monarquia , porque elías saó a pedra fundamental de todos os Governos Livres. Naõ he ver- dade que desde aquelle dia gozais da Liberdade da im- prensa, e de outras Instituições dos Povos Livres ? Naô sao e lies os que tem arrancado da oppressao o genio vi- ril de vossos Pais , amortecidos já com o pçzo da es- cravidão?.. . eu appello ao testemunho da vossa pró- pria consciência. Em vossos coraróes achareis a semen- ' te da Liberdade t plantada por vpssos Irmãos de Portu- gal. E será possível que se tenhid transformado subita- mente em inimigos vossos intentando, afogar no seu berço a nascente liberdade? Naõ, Cidadãos , esta metha- morphosé naõ se pôde fazer ; ella he so obra dos ini- migos da unidade da Naçaõ; Elles teem acendido a teia da discórdia , para dividir a opinião commovendo-a do seu natural assento , concitando a anarquia para arran- car ? e atSxàr nas suas mãos o sceptro do mando, ex- pondo os Povos aos horrores , e conviilçoes que se ex- perimentaõ nas crizes violentas dos Estados , quando na exaltacaõ das paixões , os principies políticos se de- senvolvem sem a boa fé , e a virtude da franqueza. . . . O General , os Chefes da Divisão de Portugal » naõ tem querido , nem querem outra coisa do que manter e con- servar a unidade , e indivisibilidade da Monarquia, con- servando-se inalteráveis no juramento que prestáraõ ás pases da ConsntuiçaÕ , se esta constância, reputa co- mo um crime , elles confessaõ desde logo que naõ achaõ outro meio de conservar a sua honra do que a inviola- bilidade sagrada do seu juramento. Tal era o estado da? corsas , e a fraternidade sincera que existia em todos os corpos de Militares até ao fatal dia u , cuja causa he preciso descobrir. A resolução das Cortes para o regres- so de S. A. R, pára a Europa foi recebida como xnju- ( 8 ; ) r ? osa aò BfazI? : manifestou-se por todas as vias o des- contentamento , os papeis públicos lançavaó o veneno qne envolvi ao contra as CôTtes , os seus Membros ■ fo- íaó tratados com ludibrio , e menos preço , os seus dis- cursos redicuJarisados ; já esses Homens’ naó eraõ os que inflexíveis e emhusinsmados peia Liberdade tinirão re- duzido a pó o Collosp da arbitrariedade : appateciaó por todas as partes papeis que insiiltavaò a honra dos Pais da Liberdade Portugueza , este cumulo de instrumentos de desprezo, e én velecfjWntos se difundia , sem que pinguem se prestasse a contraria-los , antes bem pare- cia que uma maó poderosa protegia, e atiçava esta tac- aca' <íe divisaó e odio á Metrópole : a Divisão Auxilía- dora olhava com assombro, e pavor a sua circula aô naÔ tanto pelo abuso da 1 uberdade, quanto porque nes- tes actos descobria a destruição da Constituição, e o estabelecimento de um Governo mais arbitrarío do qu e o antigo destruído. Tudo isto o olharaõ com magoa'"" sentindo em segredo os males cue ameaçavaõ a sua'Pa- tfía. O General ignorava absolutamente estes sentimen- tos da Divisaõ Auxiliadora, e achando-se isolado , e Impossibilitado de sustentar com honra o logar que q Governo Constitucional lhe tinha encommepdado , re- solveo pedir a sua demissão, no momento em que C o- conheceo a resolução terminante de S. Â. R. de ficar nesta Côrte por requerimento da Gamara. A noticia da demissão do General commoveo to- da a Divisão;, comprehendendo que era o percursor cio rumor geral de serem desarmadas e embarcados com vio- kncia, do mesmo modo que foraó os de Pernambuco, nao poderão soffrer esta ignominia, e arrebatados do ca- lor que inspira a honra, e reputaçaõ de uns Militares, que nunca mancháraô a sua carreira glodosa, se reuni- rão na noite do dia It nos seus Quartéis , e manifes- ta aô aos seus Chefes a resolução firme de naõ admií- tirem outro General ; talvez inimigo da Constnuiç o * com o disignio de ultraja- los , e lança-los fúra da Tet- ra como a malfeitores. Foi necessário toda a prudenc : a e tino para que o General calmasse a commocan da , ir °P a ’ e dissi P asse a5 9im justas, ou figuradas' apre- ensões ; o certo he que conseguio tranquilliza-los , asseverando-lhes que naô deixava de ser o seu General t posto que a sua demissão nao estava ainda admittida * mem mandado reconhecer o seu Sueces-or ; com este motivo diri-io-se a todos os Quartéis , acompanhado dos F 2 (S 4 ) seus Ajudantes, e vjo as Tropas Ha Terra armadas , e em posições ; e foi logo informado que haviaõ girsn- dolas preparadas para sinaes , sabia que se tinhaõ tirado do Arsenal seis peças de artilheria , as quaes tinhaó si- do mandadas entregar sem conhecimento seu, observou que outro General tinha sido nomeado para com- mandar aquelías Tropas, e lhe dissera© que tudo isto se passava por ordens positivas de S. A* R. Esta relaxa- çaõ de disciplina Militar o inquietou desde logo, e co- nheceo que havia um piano hostil contra algum Cor- po, o que mais verificou a impugnaçaõ que alguns Chefes daqueíla Tropa oppozeraõ á ordem que o Gene- ral lhes intimou de tornarem ao seu soce^o ; dalíi foi ao Quartel do Batalhaõ de Caçadores que encon* troo em tranquil lidade , e indo depois ao Paço de S. A. R. a informa-lo do acontecido , teve o desgosto de ou- v»r que eile lhe significava , que — naõ cuidasse de tu- do aqui i lo , pois que era por ordem sua — > observou- lhe reverentemente que a Cidade se aterrava com aviso das Milícias , que por ordem de $. A. R. totmvaõ a$ armas, o perigo que ameaçava a íranquíllidade pública, e as consequências funestas que talvez resultariaõ de um* medida taõ violenta; replicou-lhe com violência expres- sando — que ao General e á Divisaõ mandaria sair pe- la garra fora, — Uma linguagem desta natureza corn um OiSciaí que naõ tem feito mais do que sustentar com o seu sangue , e a sua fortuna a defe?a da Patria, nao foi digna certamente ; retirou-se entaõ ao Quartel , e afli foi avisado de que tres peças de Artilheria com morrões accesos , marchava© da Praia Vermelha para o Campo de Santa- A nn a a reunir-se á outra Tropa ; deo nova parte a S. A» R., e a sua resposta foi — de qué se naõ importasse com isso — mandou ao mesmo tem- po uma ordem sobre o mesmo objecto ao Ajudante Ge- neral , que respondeo — se acha alli por ordens posití* vas de S. A. R. — Facil he conhecer por esta expo«í« ç iõ que aqueila attitude hostil se dirigia aos Corpos de Portugal , pois naõ havia inimigos exteriores ra Cidade ; e n consequência disso , e para impedir toda a desordem fez tomar as Armas aos Batalhões li e 15, Brigada de Artilheria que reunio no Quartef de 11, tomando to- das as precauções para naõ offender um só Habitante. Na madrugada vio-se o Campo de Santa-Ann* trans- formado cm um arraial de guerra , Frades armados , Clé- rigos , Cidadáos , Povo corriaõ a reunir-se proferind© dicterios v e toda a qualidade de expressões insultantes á Tropa de Portugal. Todo o Mundo vio a modsráçaõ destes Corpos 9 que existiao nas suas posições em silen- cio , respeitando inviolaveimente o direito do homem, sem usarem da menor força ou violência. O General aopella á justiça imparcial de todo o Povo, para qualificar a conducta írreprehensive! destes Soldados. Assim continuou, as suas posições , fazendo-se sur- do aos insultos da Canalha que ^enchiaõ o ar com suas pestiferas expressões , até que vendo que naõ havia ne- cessidade de expôr a se^ança pública aos caprichos dos mal-intencionados , resolveo com os Chefes dos Cor- pos , retirar a Dsvisaó para a P^aia Grande , dirigin- do-se para esse fim a S. A R. uma reverente Sup.pli- ca f a qu*e o mesmo Senhor annunciou na tarde do mes- mo dia í 2 , tendo-lhes antes mandado intimar pelo Bri- gadeiro Rapozo o seu immediato embarque para Portu- gal ao que de modo algum podiaõ annuir 4 por ser uma medida contraria á deliberação das Côrtes. Estâ he Ci- dadãos a verdade dos successos só daquelle dia. Desco- bris nelles algum espirito hostil contra os vossos direi- tos ? alguns vexames contra a vossa propriedade e pes- soas? o General pede que lhe seja provada a menor desordem causada pelas Tropas do seu Cominando n;a- quella noue e dia. El le pôz-se he verdade á frente del- ias , porque eilas o reclamaraõ por ser o seu Chefe im- mediato , e por ser o General das Armas e da sua unica confiança ; as Leis Militares lhe impõem a mais seve?a vi- gilância na conservação da ordem pública, e eile a con- servou á vista de todos : os seus inimigos pódem faze-lo apparecer como opposto á prosperidade do Paiz , porem es- ta calumnia desapparecerá com o calor efêmero dos promo- tores da desordem : nada o pode estimular a obrar contra os seus principies , e na sua carreira militar jamais se tem dobrado á maldade : a sua fortuna independente o póz sempre em estado de se naõ prostrar ante o Ídolo da adulaçao , e a classe que tem na Sociedade ? foi adqui- rida sobre o Campo da Batalha : jamais foi um Corte- jo oarasito , | pugnou sempre pela liberdade dos seus Compatriotas , e tem sido o primeiro para prestar-se ao estabelecimento de um Governo livre : quando nesta cc- casiaõ tem dissentido , he porque está convencido de que os actuaes procedimentos saó contrários á indivisibilida- de da Monarquia, cuja observância tem jurado nas Ba- » ( 36 ) ses da Constituição. Este mesmo he o sentimento dá Divisão Auxiliadora a cuja freate tem a honra de achar- se ; estes Corpos teem dado provas do seu zelo peio es- tabelecimento radical da Constituição , a cuja sombra somente pode crescer a tema planta da Liberdade : des- confiai destes Homens que com as cabeças cheias de máximas virtuosas , o coraçaõ de veneno vos teem ar- mados cruelmente uns contra os outros. Por ultimo, as Tropas que compõem a Divisaõ de Portugal tem mostrado , que naõ saõ nem seraõ jamais instrumentos cegos do poder arbitrário , e que tem of- ferecido desremidamente os seus peitos aos inimigos da sua Patria , conquistando com o seu valor a indepen- dência, e a liberdade do seu Paíz natal, e deste modo teem adquirido com o seu sangue para os seus filhos , e posteridade , os benefícios que a Constituição derra- íTia sobre os Habitantes do Reino-Unido de Portugal , Brazi! , e Aígarves Esta adquisiçaõ taõ preciosa , crêem elles que naõ podem conservar-se com esta tendência á divisaõ e desmembramento de que outra ora os Flumi- nenses foraõ advertidos naõ alterar. Estai convenci- dos de qtíe na uniad e concórdia dos Portuguezes ds ambos os Mundos consiste o seu poder , e futura gran- deza. Á historia antiga , e a dos nossos dias a cada pas- so apresenta a destruição de Reinos inteiros por divi- sões intestinas : que ; ra o Ceo preservar o Brazil desta calamidade que íhe será por extremo funesta. Quartel General da Praia Grande 14 de Janeiro de ia22. *■““ J orge de Aviller, Xiézarte de Sousa Tavares, Representação dirigida a S, A m R. — Senhor , o Ge- neral e Commandantes dos Corpos da Divisão Auxilia- dora do Exercito de Portugal , penetrados do mais pro- fundo se-nimento ievanfaõ a sua voz perante a Augus- ta Presença de V. Á. R. , para exoressar a dôr com que tem recebido pela Secretaria de Guerra a Portaria de 17 do corrente, publicada na Gazeta desta Côrte em 19 deste mesmo mez, Demasiado sensive) Mie tem sido > Real Senhor , a severidade com que V. A. os tem man- dado reprehender ; e crêem eertimente que o coracao de V. A tem sido de LISTA DAS LEIS , E DECRETOS» Carta de Lei de 17 de Janeiro de 1822 , que re- gruía o uniforme, de que devem usar os Ministros, e Secretários de Estado das diversas Repartições, Qffidaes das suas respectivas Secretarias , e Diplomáticos de to- das as ordens. Diário do Governo de 1 1 dç Abril . NOTICIAS NECROLOGlC \ $• O Almirante Pedro de IVIariz de Sousa Sarmento faíeceo nesta Cidade aos 26 de Março do corrente an- uo y tendo perto de 80 annos^ Publicações novas , Nacionaes , e Estrangeiras, Reflexões políticas sobre os deveres do homem na Sociedade, seus direitos e obrigações , a que como mem- bro da mesma Sociedade está ligado. Lisboa, 1822. Portugal e Brazil » ou observações politicas aos úl- timos acontecimentos do Brazil. Lisboa, 1822. O Campeaõ Portuguez em Lisboa, ou o' Amigo do Povo, e do Rei Constitucional, semanario político pu- blicado para ai vogar a causa e interesses da Naçaõ Por- tugueza em ambos os Mundos , e servir de continua- ção ao Campeaõ Portuguez em Londres por Joaõ Libe- rato Freire de Carvalho Lisboa, 1822. Jornal da Sociedade Litteraria Patriótica , publican- do -se todas as terças e sextas feiras. Lisboa, 1822. Esboço Historico das opiniões entretidas pelos dif- ferentes Médicos a respeito das variedades e occurren- cia secundaria das béxigas ; por J. Thompson* M. D. F* R. S E* Londres , 1822. Historia dos vegetaes cultivados , comprehendendo suas qualidades Botânicas , Medicas , Ediveis , e Chimi- cas , Historia natural, e relaçaõ ás Artes, Scienciaes , é Commercio; por Henrique Phillips F. H« S. 2 VoU Londres 1822» ( 93 ) P R E Ç OS De Generos na Praça de Lisboa' desde Março até 29 de Abril de 1812. Aguas-ardcntes . $o de 31 ?o . . Pipa de 50 alm. Març „ 4 9 coo Bahia ...» d. 4 $ ceo Ilhas . * . . 22 alm. 52500 Algodaó» Pernambuco . • arratel 2! 2 Ceará d. 197 Bahia d 175 JVlaranhaó . . • . d. 177 JViinas . * . . . d. 165 Pará ...... d. 165 Surrate ..... d. MS Bengala. .... d. 105 Arroz. Bahia, e Fantos . quint. 6000 Pará, e Maranhò • • d. 4300 Índia . . . . . d. Jssucar . Pernamb. Br. sortido arrob. 2550 Rio d. d. 2150 Bahia d. d. 1S50 d. Mascav. d. d. 1150 Rio d. d. d. 1250 Pernam. d. d. d. ISSO Azeite « Roce do Reino almude UOO De Peixe do Brazil d. 2550 De Peixe de fora d. 2 200 Bocolháo . . . quintal 37OO Café . Do Rio . . • arroba 6150 Çacao. do Pará .... d. 2S5O Chá . Pérola .... arratel 950 Hyson d. 72S l T xim . . . • .d. 6 25 Sequim d. 240 Preços 6 de Abril médios . t $ de Abril 49000 4 - 5 OOO >2500 2 l 2 19 ? 5 ? S 177 i6$ 165 MS 105 6000 4*co i)CO 22 $0 2IÇO iS$o 1150 i 50 1150 r?co 2550 2200 3 7 CO 6610 2725 950 725 625 240 30 20 de Abril 49000 4 3 COO 525OO 2? 2 I97 I72 165 165 M* los éooo 4000 HOO 222 | 2150 1200 1200 12ÇO USO MOO 2**0 2200 Voo 6 150 2675 950 72 * 6 2$ 240 6 de Abril ( 94 ) Chi. <0 de Març . Seuxom • . . arrate' 225 Canfu d 21c Tonkai . . * . d. 21c Canhamo . De Riga x. sorte costa! i $ooc 2. . . , !$0© |ÓO 0000 IOOO® 12500 12500 10500 1050a 8750 X75® 6700 670© 1025 1025 2400 240© vario. vario» idem» ■ idem® F azendas 'de Linho, Lonas da Rússia sort. Peça Ingleza d. d. Brim da Rússia iargo d. d, de d. estr. d • Inglez largo d. Grosserias de Dantzic. d. ! Preços no Terreiro . Trigo do Reino alqueire Domínios • « . • d. Palhinha « • . . d. Bretanha . . . » d* Grego . . • . * d. Torrada . . . . d. Cevada do Reino . d. Estrangeira . . . • d. Milho do Reino . . d. Estrangeiro ... d. Centeio do Reino • d. Barrica de Farinha . • Laãs. De Portugai . . arratel * Legumes. Feijão do Porto alqueire das Ilhas . . d. Branco de Hollanda d* de França , d. da s Itália * , d. Favas das Ilhas • . d. Grossas de Fora . . d. Miúdas de Fora • . d. Ervilhas de Hollanda d. Gr avanços de fóra d. Mercearias, Manteiga de Vacca cTIrlanda sort. arrate França sort. d. Queijo d’Hollanda cada hum Inglaterra arrate Parmezaó Italia . . d. Melaço, do Brazil . . . Barril Sal. De Lisboa # , * moio 30 de 6Ae | 1 3 de 1 2 ode Març ..bril. Abril \ Abril 0 1 Ó2Ç0 6250 6250 I525C M25O 5250 1 350c 3 500 M 50O 9900 9900 9900 J 2 QCC t 140 1 t 40 57OO 3600 3600 7OO 700 700 S80 580 580 620 620 620 670 670 670 440 440 4ÃO 280 2S0 280 360 360 360 290 290 290 500 500 500 lOZCO ÍO200 IQ200 25O 250 250 57 5 57 5 57 ? 575 575 525 500 500 500 410 4 ?o 4 *o 590 390 390 410 410 410 410 410 410 41 0 395 395 490 490 490 390 390 390 195 195 195 1 óo > 160 160 3 10 3 *o 2 $ j 1 90 1 90 190 3600 360 360 9500 9500 9500 1S25 1825 iSay , (90 Sal Em Setúbal. . . • moio Salitre de Bengala quintal De IWalabar ... d. Tabaco . Em Rolos. . . arroba Folha. . à. yinhos* de "Lisboa Tinto Lote dò Brazil pipa Branco .d. Lote do Norte . * d, Buceilas . . • • d, Carcavellos • • • d. Porto • • • • • d* $0 de 6 de f \ de 10 ãe Març Abril Abril. 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Um Cidadaõ Romano arrostava, e anhelava as mais asperas fadigas, os mais desesperados perigos, aífrontavâ gos- toso o risco da guerra e dos combates , os rigores do gelo do Norte , a ardência do clima da Africs , para , na sua só éstimada Patria , receber com uma coròa de los— ío , os parabéns, admíraçaó , e appfausos de seus Con- ( 1Q* ) cidadaos. A sua ambiçao consistia em fazer respeitar a& longe o nome de Roma , e o unico galardaõ de seuS trabalhos e sacrifícios era a approvaçaó e estima de seus Compatriotas. Os heroes de todas as Nações (e tam- bém os dos tyrannos ) devem o seu heroísmo á espe- rada e imaginada diiecçaó ou de seus Patrícios , ou de seus senhores ; poucos aos suffragios e elogios da imparcial posteridade ; e quasi nenhuns aos impulsos e mandados de uma consciência recta e inarguivel. Á distinção he a paixao favorita e reguladora da alma do homem ° quam» do procurada da Patria cria os Brutus , ou a virtude 5 mendigada de objectos , ou vis ou inflferentes , produz os Caracaüas, ou a corrupção e os crimes* Ninguém ne- gará que o amor da Patria exaltado tem por origem os desejos desta distincçaó ; e que o maior empenho de fe- lizes Legisladores tem sido encaminhar estes desejos 3 um só centro fixo e determinado : o qual á proporção que se encerra em maior diâmetro espalha e relaxa mais as forças da imaginaçaõ* Em nossa boa conducta nós procuramos primeiro os respeitos e amor da nossa famí- lia, depois os dos amigos Ou conhecidos, dahi os da Naçao, dahi os de’ todç o Mundo: o amor de uma coisa que eu nunca vi ou he impossível , ou só occupa a imaginaçaó de um Quixote. He pois evidente, que quanto mais mirada e circunscrita fôr a Patria, maior aclhesaó e união encontrará em seus filhos ; e quanto mais se conhece- rem os Cidadãos, maior occasiaó teem de ostentar seus talentos e virtudes , e de procurar a distincçaõ: da pri- meira causa a vem a força physica 9 da segunda a força mora! , e do concurso de ambas a felicidade de um Es- pado. Appliquemos estes prindpios á nossa avançada proposição. Já 'fizemos vér o que he o Brazii : já notámos que elle naõ póde fiorecer senão defraudando Portugal ; va- mos agora a indagar , se esta defraudaçao pode ser re« compénsada ao ultimo , pelas quiméricas vantagens de uma uniaõ precaria , e , para assim dizer, momentânea; ( 1^3 ) e contentemo-nos de desenvolver esta propôs’ ao » 'pois que os nossos sentimentos e opimaõ, sendo ainda mais arrojada , iriaõ bater cie frente na opiniaó geral , e nos adqinririaò o mesquinho epuheto de innor adotes visioná- rios (*). Naõ devendo igualmente perder de vista o (*) Entretanto naõ será desagradave! , que aprezen* ternos parte das nossas meditações , sem com tudo nos responsabilizarmos de sua justeza -• confessando todavia que taes meditações saõ modernas , e que as ideas de rico , e prodactor que geralmente traz consigo a pala- vra B ax.il , assim como amda agora impõem a todo o Mundo , também já nos ímpozeraõ a nós , avançando ? como avançámos , no preterito N° de Maio, que a sua reunião a Portugal , sendo constante e firme , permittj- ria a este movimentos menos peados. Porém es'a cons- tancia , e esta firmeza he impossível de existir senão cm os nossos bons desejos ; e receamos já que em quan- to reunido ha-de elie causar os mesmos embaraço^ que atégora tem causado ; sendo os negocios do Brazd o úni- co empecilho que tem encontrado a nossa Regenera- ção. Naõ tendo pois de verificar-se aquella clausula , sem a qual , nenhum bem e muito mal nos pótíe tra- zer a uniaõ do Brazil, (em cima o tentamos prosar ) porque razaõ naõ havemos já dizer que taõ decantada uniaõ nos ha~de ser funesta ? Se he infaliiveS o quebran- tamento de uma condição , que» unica, póde tornar o contracto vantajoso , porque motivo naõ havemos dar de maõ ao contracto? Além disso, qs Brazileiros nao estaõ já por aquillo que juraraõ ; empregaremos pois a força armada para lhes fazer observar o que esponta- neamente prometferaõ ? E se a íorqa armada naõ valer ? Nós naõ podemos dispor de Tropas contra o bra- zil , como a Inglaterra empregou contra a America In- gieza: entretanto os Americanos clerrotaraõ-nas , e naõ obstante a vigorosa opposiçaõ da Mãi patria dechraraõ- se independentes , e têem conservado a Independência. Verdade he que nem os Brazileiros estaõ nas circunstan- cias dos ^Americanos, nem as relações de Portuíal para com o Brazil saõ semelhantes ás da Gram-Bfetanha para com a America , pois que os Inglezes queriaõ uma Co- lonia » e nós chamamos uma Provincia , aquelles queriaõ imperar , nós procuramos conciliar 9 aquelies armaraõ-se ( 104 ) estado de Portugal; — Se elle póde soffrer defrauda- çoes , e se estas, por mais diminutas que sejaõ , lhe naô haò-de necessariamente acarretar sua infallivel que- da , e irreparável ruina ; E se urna família bem re- gulada e prudente deve deixar perder a presente caza do pai 5 para attender á felicidade futura do filho. Que o Brazii naÒ póde florecer sem defraudar Por- ftpgal he provado pelas circunstancias epi que ambos se achaó. Muitos escritores (e nós mesmos no ultimo N.°) mostraraõ já o estado do Brazii. Aquella immensa, bru- ta , e aberta regiaó naõ tem populaçaó , naó tem cul- tura 5 nem navegaçao , ou industria , ou defeza ; nem tal- vez possa ter união , ou amor da Patria commum. O ha- bitante do Amazonas naó quererá sacrificar , quando as- contra uma Naçaó , nós tentamos reprimir uma facçaó s porém se esta facçao dispõe a seu grado da vonrade do todo ! Se a força armada ha-de dar maiores motivos a estes facciosos para accenderem a animosidade de um Povo frenetíco , inconsistente , e desconfiado ! Medidas coactivas naõ cazaõ bem com o systema que adoptá- mos, Esta facçaõ anda espalhada por todo o Brazii; a palavra Independencia sôa hem a todos os ouvidos, o Po- vo Brazileiro naó está em circunstancias de poder co- nhecer e avaliar , que elle por ora naõ póde ter Inde- pendência senaó reunido a Portugal , que he só quem com a forca morai e physíca lhe póde sustentar seus di- reitos como parte da Naqaõ: he muito facil persuadir a lima criança , que he capaz de regular-se por si e de ser homem ; uma vez influída esta idea já naõ valem as ad- moestações ; e as correcções só servem de o fazer bra«>» vio e indpeil ; os conselhos dos amigos naõ saõ escuta- dos , e de tudo se desconfia excepto dos que lisongeaó a inconsiderada paixaõ. Abandonaremos pois a sorte desta criança á sedueçaõ de taõ máos conselheiros ? Porque naõ ? Se a criança he incorrigível , e póde depois de homem lembrar-se de vingar até as attenções que se lhe pres- tarão na meninice. Para que os Inglezes viagem sem in- sulto nos dominios dos Estados-Unidos he preçiso fin- gir ei)H,e Âmericapos» ( lojr ) sim o exija o bem de todos , os seus proprios in teres* ses aos do habitante do Prata ; nem a Cidade de S. Sal- vador quererá ceder á Cidade de S. Sebastiad. Assim > em bem pouco tempo que os Brazileiros têem gozado da liberdade , ainda elles nao deixaraô de mostrar inquie- tações , turbulências , e contradicçao em seus empenhos. Cada um delles julga sua Patria o logar que habita , sem ter idea de Confederação ; e haverá tal senhor de engenho no certaõ , que acostumado a mandar despoti- camente seus escravos , e fazer observar sua vontade como lei , se julgue superior a todas as leis , e queira fazer de Rei absoluto entre todos os homens , como Sempre tem feito na sua familia. Os Brazileiros saò na- turalmente exaltados, e vaidosos; e considerando-se ca- da um delles só por si Soberano , naÕ assentirá aos mandados da Soberania collectiva. Talvez este Povo exemplifique o principio de Montesquieu , sustentado pelo CidadaÓ de Genebra , de que « Os climas quentes saó proprios ao despotismo. )) Ao menos, o suceesso da conducta de Luiz do Rego para com os Pernambu- canos , e os successos da conducta opposta dao occasíaó a suspeitar-se, que os Brazileiros nao sabem apreciar, e gostar as vantagens da liberdade civil , resultantes de uma Constituição sabia , e de um systema de uniaõ bem regulado. Livres e acarinhados, de tudo desconfiaõ , tu- do calcaó aos pés, — oppressos e açoitados a tudo se gUgeitaó , tremendo da ma o que os fustiga. Muitas ve- zes temos dito , que a força violenta naò caza com o nosso systema de moderaçaò , e que a nossa felicidade toda , toda depende da execução das leis feitas pelos nossos Representantes , ou saidas do centro da Autori- dade Nacional. Para que elias se executem sem violência he preciso que todos os Cidadãos se prestem de boa vontade , que tenhaó amor da Patria , e confiança na- qúelles em que delegaraó seus poderes. Este amor de / Patria nàõ pode dar-se em quem naò sabe, ou nao quer saber , o que he Patria , e esta confiança nao póde em- ( io5 ) preça-.se em pessoas que nao conhecemos , ou que se nos pintaõ oppostas aos nossos interesses s e dignidade. O Paulista olhará com ciúme o Deputado da Bahia e O Fl*mhe. w (habitante do Rio ) forçadamente aquiesce- rá á indicaçao approvada do Representante de Portu- gal. Tudo isto tem acontecido atégora ; e da existência para a possibilidade*, offerecem os argumentos aiguma segurança. A imaginaçao nao poderá atravessar sem cus- to os rios , as serras , e os certôes da America , e a ^asta extensão do Oceano , para vir depositar no So- berano Congresso de Lisboa, o ínflammado amor da Patria çommum , puro, digno, submisso, e desinteres- sado : e as deliberações da Commumdade arrefecerão no seu transito , e chegarão trôpegas pelo excesso da via- gem r e demora do tampo. No impulso da hilaridade tudo se representa faci! , e exequivel ; porém se as pri- meiras impressões nao forem sustentadas pelo calculo do merecimento do objecto que as fez nascer , morrem á nascença , e o fogo da paixaõ naõ tendo matéria que o conserve , immediatarnehte se diminue e extingue — * ou também obsíando-lhe outra matéria anti-inflamma- vel 5 concentra-se todo naquclla a que se pegara, e alíi arde com violência. Tal era, como já dissemos , o amor da Patria dos Romanos : tal era o dos nossos heróe Por- tuguezes : e tal será o de qualquer Povo Brasileiro, que contemplar como Patria só a sua Vilia ou Província; e que olhe com ciume qualquer ®utra Província da Con- federação. Ora os Brazileiros teem-se atégora mostrado todos entregues a estes ciúmes : logo. ... A conclusão he facíl. Porém, prescindindo de mais raciocínios, que po- deriaó provar a instabilidade da reunião do Brazi! a Por- tugal , naõ a dando já como certa , vamos a ver , se 3 no caso hypothetico do seu futuro desmembramento , pode este trazer a mina de Portugal ; que he o ponto da nossa questão. E como para julgarmos de successos futuros, nao temos melhores razões, que a analogia dos ( 1 07 ) âcontçdmentos pretéritos , comparemos o que era Por- tugal com o que era o Brazil , e á luz de tal com pa- ra ç ao , tentemos abrir caminho por entre a? trevas de tao intrincada questão. Nem será preciso recuarmos aos tempos remotos da descoberta 5 e colonisaçaõ do Brazil por Portugal ; bastaõ-nos somente épochas mais chega- das a nós. Antes do anno 1S07 , tinbaõ os productos Portu* guezes uma entrada exclusiva no Brazil 5 e os produç* tos deste eraò trazidos em Navios nossos para os Por- tos de Portugal, donde as Nações da Europa vinhao prover-se : conseguintemente a balança do Cominercío era toda a favor do ültimo : nem isso importava aos Specu- ladores de lá , sendo quasi todos agentes , ou companhei- ros das cazas de commercjo aqui , os quaes apenas se juJgavaõ com fundos , vinhao maneja-los de Portugal t sua única Pat ria , deixando no Brazil novos agentes ou companheiros , que , por uma successaõ continua , se iaõ revezando uns aos outros , e que todos eraõ leva- dos do mesmo empenho de lá adquirirem cabedaes , pa- ra os fazerem florecer em Portugal. Era pois o Biazif Um productor naõ para si , para nós , e consumidor dos nossos productos ; e por consequência era elie uma mi- na , onde os homens activos e industriosos iaõ buscar riquezas , para as trazer ao seio da sua Naçaõ g sem que esta gastasse na acquisiçaõ de taes riquezas , nada mais que o seu supérfluo, e alguma pequena parte da sua in- dustria. E sem attendermos aos doze ou treze milhões das rendas do Estado , podemos com segurança dizer , (já que naõ tomamos em conta o mal morai de adqui» rir riquezas a pouco custo, que assentamos grande per- da para uma Naçaõ) , que só por aquelia circunstancia » o Brazil , como Colonia , era utilíssimo a Portugal , pois que nos pagava sempre o nosso supérfluo. Porém , des- feita aquelia condição , pela elevaçaõ do Brazil á cathe- goría de Reino , a representação que este se deo naõ sofifria já o exclusivo consumo dos nossos generos , / C 108) admittindo-se no seu mercado toda a qualidade de pro- ductos estrangeiros , com a maior parte dos quaes na.ó podiaô concorrer em preqo os de Portugal. Por desgra- ça , nos havíamos applicado todos á producçaó de ge- peros menos necessários , os quaes , custando aqui me- nos trabalho, e valendo alli maior preço , desaíiavao a cubiça , e industria do cultivador : pelo que , parada de repente a sua exportação, nos achámos também de repente com um superabundante , que para nada nos semo , faltando-nos o necessário que naó tínhamos pro- movido, Assim naó soubemos que fazer dos nossos vi- nhos ; e foi-nos preciso comprar paô ao estrangeiro, ou vimo-nos embaraçados com um producto , que cessou de valer , e necessitados a procurar dos outros um ge* nero, sem que naó podíamos passar, Esta só causa , ain- da sem o concurso de outras , que realmente houve muitas , seria sufficiente a dar razaó do repentino aba- timento das riquezas de Portugal , as quaes , desviadas do seu costumado curso , foraó passando ao estrangeiro 3 e quasi por elle esgotadas , havendo-se entupido , e secca- do o abundante manancial, que nos fornecia o Brazil , em quanto Colonia: e como vemos acontecer com os herdeiros de uma grande propriedade , que acostumados a fruir as rendas da sua herança , e a viverem por ellas na abundancia e no com modo , se esta propriedade por um caso imprevisto se lhes arruina, ou delia os des- pojaó , passaô repentinamente da abundancia á miséria , e das commodidades ás privações , o mesmo vimos suc- ceder a Portugal. Como o Brazil era a sua herança favo- rita , que lhe occupava todas as vistas * e lhe enchia todas as esperanças, deixou-se desmazelar para o festo de suas propriedades, e naõ attendendo senaó áquelía e contando sempre com aquella, só delia fiando a sub- sistência , esta se lhe tornou muito precaria e mesqui- nha , logo que repentinamente lhe arrebataraó o objecto de seus desvelos « e esperanças , achando-se com o res- to de seus bens quasi de todo perdidos 9 e incapazes de ( I0 9 ) fornecerem ás suas necessidades. Por isso tem elle vivi- do na miséria e na desgraça , desde aqueJIa épocha. Es- ta digressão que muito acinte fizemos do ponto princi- pal da questaó , além de servir para consolidar o nos- so argumento , serve também para chamar a attençaõ , de quem competir, ao cultivo e cuidado das outras pro- priedades arruinadas , que , bem amanhadas , pódem-nos produzir com abundancia o necesscrio , — e que saô ina- Uenavehncnte nossas. Um déspota manda ; quebraõ-se os direitos da So- ciedade , e a força dos Vassallos concorre toda unida ao acepo da sua vontade : basta querer , e dispõe de toda umà Naçaõ. Porém, para coüigir a força physica de um Estado Constitucional , onde todos os Cidadãos se co- nhecem homens , he preciso que a força moral opere primeiro para aquella ser entaó produzida. Esta força moral he tanto mais activa e criadora , quanto a ima- ginaçaõ de cada associado, lhe pinta mais fortemente a bondade dos institutos da associaçaõ, levando-o irresis- tivelmente ao apreço e amor de taes institutos, Se dis- trairdes a imaginaçaõ deste unico ponto vereis afrouxar a força moral , e as faculdades do corpo iráõ com re- Juctancia para onde vós as chamais , quando os impul- sos do espirito naõ as pozerem em movimento e acçaõ: para um objecto que amo vou eu com desembaraço e gosto : he preciso pois que me façais amar sobre tudo o objecto a que quereis que eu vá : qualquer aliiciamen- to que interponhaes no caminho póde ou fazer-me pa- rar a marcha , ou torcer os passos. Tende pois cuidado , ó Portuguezes , de fazer occupar toda a alma aos vossos Concidadãos , com o sagrado amor da Patria , naõ lhes oferecendo objectos, que possaô desviar daquelíe pro- posito suas vistas errantes, e sua imaginaçaõ sobre- carregada e distraída. Chamai a um ponto fixo , e in- variável todas as faculdades do vosso espírito ; e reco- lhei a um circulo circunscrito e conhecido todas as for- ças do vosso corpo, aonde reunidas ao primeiro sinalo ) ( no ) SOa União as tórne impenetráveis , e süa evolução irre- sistíveis. Logo que desta massa formidável desertarerfi alguns destacamentos , o corpo todo descobrirá os flan- cos ou o centro, e á reducçaó da força accrescerá a im- possibilidade da disciplina: ficareis pot tanto no mlnlmnfíi da força , e no maxhnwii da desordem. Vejamos se o Bra2il, desmembrando-se alguma vez do Reino-Unido 9 póde produzir estes efifeitos — effeitos que se evitavaó se eÜe nunca se unisse , pois que todos dispensaõ aquil- Jo que nao teein ; e pois que a ventura social consiste nao em haver uma Sociedade muito extensa i mas em serem bem regulados os membros da Cidade* Por estes ultimas quatorze annos aióda nad deixá- mos" de mandar Tropas pagas com o nosso dinheiro pa- ra o Brazil : e com segurança podemos dizer t que de- pois da invasaõ Franceza , nada tem pezado tanto a Por- tugal , como as expedições Americanas. Assim como sê receou , ou pareceo recear-se, que aili de Moutitideo se introduzisse o espirito de rebelião, e sedição nas Provindas Brazilicas , assim ha-de haver sempre occasiao de apron- tar novas expedições , para acalmar uma insurreição aqui f para obstar a uma irrupção acolá ; em fim para se de- fender o Brazil de inimigos internos e externos , visto estar provado , que elle nao póde defender-se pôr si f sendo como he taó aberto ás invasões estrangeiras , e tendo na maior parte da sua popuíaçaó os seus mais en- carniçados inimigos: de cá por tanto he que lhe haó- de ir sempre os meios de defeza. Haó-de-se fazer re- crutas nas Provindas de Portugal ; had-de-se tirar Bra- ços á nossa agricultura e aftes , de que tanto carece- mos, para irem nas Provindas da America lotar, oia com os Africanos de caza , óu com os inimigos de fo- ra. Estes Soldados , que assim de cá forem , haõ-de lá estabelecer-se , cazar-se , e achando no Paiz os mesmos usos , a mesma lingoagem , as mesmas íeis , haó-de pou- co e pouco ír avezando-se ao Brazd , perdendo o amor t a Portugal, com tanta mais razaõ , quanto que os obn« ( III ) gaó a considerar ambos os Paizes como Patria comrrum. Naô voltaráõ por tanto ao logar onde nasceraó, e pa- ra sempre nos veremos privados da sua cooperaçaô em as necessidades de Portugal ; necessidades que eJies naô julgaráõ já poderem em nada influir-lhes, reputando-se, coino se liaô-de reputar, só Cidadãos do Brazil, ou, para melhor dizer, do sitio do Brazil que habitarem. Aqui temos pois , que o amor dá Patria , tirado do seu ei- xo , nos Fará perder no desmembramento do Brazil, quando se effectue , outros tantos Cidadãos Portugue- ses , que nos eraó aqui necessários, e que dispozemos a Favor da segurança daquella Província. Será pois o Bra- zil o filho favorito e mimoso do cançado Portugal , que lhe ha- de esgotar todas as commodidades , e até priva- lo do necessário , para com este necessário acudir ás p ecisóes , e augmento do filho, o qual, naó tendo mais que chupar , o abandonará na occasiaõ em que lhe po- dia ser utii : e vendo-o arruinado lhe pagará com des- prezos e talvez com insultos, os desasizados extremos com que, para o adiantar, se deixou conduzir á ruína. Fechamos aqui nossas reflexões : se bem que des- tes arrazoados pódem os Leitores inFerir quaes sejaó nos- sas idéas. Entretanto atravez de taes considerações , as- sentamos naó dever omittir , que a uniaó dos dois H e- mispherios está decretada : que esta lei he conforme á vontade dos homens bons de .ambos os Mundos , que a juraraò ; e que as leis e juramentos das Nações devem cumprir-se a todo o custo. De resto a nossa opinião póde ser errada ; e as nossas meditações pódem ser fi- lhas da índignaçaó , que nos causaraó as occurrencias do Brazil, e que, estamos certos, serão desapprovadas pe- los muitos homens de bem, e de saber, que abundao entre aquella multidão inconsistente e desmoralizada : sendo a estes que naó nos pejamos de pedir , descul- pem alguma expressão mais arrojada , que possa ferir a Sita delicadeza , naó sendo nunca dos nossos intentos C «speramos sej? acreditados ) envolver os benemerito* . \ ■ . . ( «* ) com os culpados , ou misturar na descripçao dos abusos 9 o nojento ingrediente dos insultos. A PRIMAVERA. ( Continuada de pag. 53 $ da Voh 1 . ) Desta arte passa as horas temperadas : Mas se do throno o Sol do meio dia Espanca as nuvens , que dispersas fogem , A madorna infundindo até nos pegos ; Busca a restinga entaõ , onde florido , S s engrenha o sabugueiro , e o lyrio bravo Aromatiza em torno o valle todo , Onde tomba orvalhada a primavera , E a purpurea violeta onde se agacha 9 Co a mais da sombra rastejante prole 5 Ou reclinado sob aquelle freixo, Que na rocha copado se debruça , Donde batendo as azas crepitantes Desfecha a pomba; ou no elevado pico Onde cria o falcaõ , alcantilado, Deixa dalli vagar a phantasia Pelas scenas ruraes , taes como pintaõ Classicas letras do Pastor de Mantua * N’armonia do canto incomparável ; Ou da mente correndo os olhos vivos Da paizage atravez , dei Ja te apossa ; Ou das selvas á voz, ao som das aguas Acalantado , o espirito perdido , Por entre a confusão d'amigos sonhos 7 Filhos da solidão , em que se alaçaó Milhões d'imagens que vagead soltas , As paixões no socego se adormeçao. Continuar-se-á* ( *13 ) ^ i.£7y ',£7» » DOS DEVERES DOS MINISTROS DA RELlGlAÔ. Quaesquer que sejaõ as idéas que os differentes Po- vos se formem da Divindade, ou do motor invisível da Natureza * foi sempre á vontade deste Ente que 03 ho- mens lhe tributáraó adoraçaõ : de certo os homem se leem persuadido que dle os amava , quê escutava suas preces , que tinha o poder e a vontade de Os felicitar; donde teem concluido que o homem deve fazer bem aos seus semelhantes para ir conforme com as vistas de^te Ente bemfazejo. Olhada debaixo desta face , a Re* ' ligiao nao pode ser senaô a moral natural , ou cs deve- ffes do homem confirmados pela autoridade conhecida 5 ou presumida ^ do autor e senhor da Natureza e dos homens , que naô pode contrariar as Leis ás quaes sua conservação e commodos estaó visivelmente lidados. Segundo os principios de todas as Pveligioes, as qualidades rrtoraes 5 e as vontades divinas devem servir de modelos e regras aos homens: todos os Coitos que suppóem a Divindade má , cruel , injusta 5 vingativa inimiga dos homens, em uma palavra, irn?Horal , na© pódem ser olhados senaõ como superstições e mentiras, inventadas por impostores interessados em perturbar o repouso do genero humano. Toda a moral seria jncôtt- Ciííave! com um systema religioso que suppozesse um Beos déspota ou sem regra , aos olhos do qual as des- graças das Nações, e as lagrimas dos mortaes fossem um espectáculo divertido. Júpiter mesmo , diz Flutarca , na6 tem 0 direito de ser injusto. Um Deos , diz Cícero d deixaria de ser Ueos se desprezasse o homem . Em outro logar este Orador Phiíosopho representa Deos como o Protector e amigo da vida social: isto está pèrfeitamen- íe acorf lo corn a sabedoria eterna , que declara que S sociedade d 0S filhos dos homens faz suas delicias as mais íjue ridas. Isto supposto*, toda 3 opinião, toda a Doutrina, Vol. II. Num. II. ir C *14 ) todo o Culto , que contraria a natureza do homem razoá- vel que vive em Sociedade , devem ser regeitados co- mo contrários ás intenções do autor da natureza huma- na : todo o syst-eraa religioso que conduz» a violar a justiça , a beneficência , a humanidade, ou a calcar ao» pés as virtudes soc^aes , deve ser detestado como uma blasfêmia contra a Divindade: em ftm toda a hyipotbe-» se que produzir em seu nome dissensões , odio^ , per-* segoições , e guerras 8 deve ser- olhada , * tida como um$ mentira abominavd. Temos» pok mém de julgar se uma Rel igião be bo$ ©q má , isto he, conforme, ouc-oatrana ás idéas que se teçü feito da Divindade. Depois- destes principias * qu$ parecem incontestáveis , a Religião a majs conveniente/ 4 moral, á natureza do bnte soçi-a j , 4 conservação 9 á harmonia , á paz das» Nações** de** ser- premida % opi-* r\ iões op postas , que deveri aõ set- proscritas com indi-r* gnaçaõ, Naõ h* senão, a conformidade qo.m os preceitos da moral naturaj , que. pode continuar- a exqellencia d* orna Religião , e fixar* sua pmenainencià sobr* tarnsp su* perâtições de que, os homens saõ infectados» A moral he pois , re-ist ivamente ao munda em qu* vivemos, a pedra de toca* da, Religião » e o objecto que interessa mais a Sociedade poluira. Se? a theologia regula os- pensamentos dos hom^ps sobre os objecto» celestes e sobrenaturaes- , z. moral se contenta o s&tisfafc com regular suas acções* , t e dirigi-las ao seu maior bem sobre- a terra» Se aReHgiaõ promette recompensai incita-» veis á virtude , e arneaqa o-crime Qon>oa stigos rigorosos na? vida futura, a moral prometi© na vida presente» recomn pensas s-eosive-is- a todo o homem virtuoso-; ella- amean ça os perversos com castigos muito notáveis-; e sou$ decretos confirmados pela Sociedade-sao mintas- vea es for- tificados pela autoridade das leis. A Sociedade naõ pó-> de nem deve occupar-se dos pensamentos secretos d* seus membros , sobre os quaes e!la naõ tem acçaõ nem. pòde juíga-los senaô por suas obras , cuja iníluepcia ella ííôffi tirito iqiie o Cidadáá sejá 9 pa~ éíMcó, vítibõên 9 e âitâípfá fiehfiente seus devères comi petéilté^ , nerfi á Sociedade $ nerfi o Governo pódeni áêntr Ídiiéíifâ sdíldáf Seus pensáméntos , óu arrógar-$e ô direito de regalar suas opiniões Verdadeiras 5 oü íalsàé iêlâtfaéfôêà t'ê á eoisás que íiáò sáõ de nhòdo a ! gum da sua âoififieiêtitík ) da éXpèriêhcia ou dá rázaa. DeVé ser pèí* $nWdo' iô ítóníeiti êtrar érü iéiss ptoprioá rikós sòbrê ihitcfki ínacééssi veiá aòs sên íídõé ; irias à Sociedade , ou i têí 9 > j^ódè Justáítiéfrte impédiMIó dé errar èm èuà êôüduêtã , é pürti-lo íógò qué suas ácçôes õfferidsó âós íêúi Oónéidtôs. F.m fciísõa pálavra , he umá íyránniá faõ cruel domõ UHénéàíâ * pi\M um homèm por naõ ièt podídd vir ófrjêctofê fâriifa&à cóm ós titésmos ôlhoá qud óí tyfánnód 3 qiré ô átofméntaõ por Seu modo pârtU culaf êe pénsár. Dé òutrá pmê ^ urn Déõâ muito ju$- fo 3 rtíútkâ poderóSõ 9 e muito-' bom , quê permitte quô ê4 rrfórtaé.í sê êttráviem em ieuá pênsámentòs 5 naõ põ- éé ãppf ovar qué sé atorméntenj pòf sên diversó modo dê féniâf, 4ité Oaõ' dêpéndè dé Suas VÓOíádék Dondé sá áégué qué a Religião dé acordô com à mórál é ú r ài$6 s Jírohihéiii maltratar 6i homeriá por soás òpinièéê reli* gâm. . Tôciavía rládí térri custado rnáis tfángu# é fca éi Kaçõés , do quê a impostora coe persuade quê a Socíêdadé hé iüuifo idteres'sàda em regular a< opfíiriõeJ patticuíáreS' dos Cidadãos sobre dogmas ábstráctojf ch Re* ligiaõ í éSta idéa 9 qué naõ põde vir de uma Divhtdàde berrí-faseja , tem produzidtv perségifiçde^ , suppiicios mul- tiplicados , révoltás sem número- , mórfaudades espanto- S^s , régicidás, ém urna palãvra crimés os máis destrui* dóreV. Sácerdótes ambiciosos teern quérido reinar sobre d CnivéVsò t subjugar os Príncipes ^ estabelecer seu i rn« periò mésmò sòbrê os pensamentos dos* homens,* Taei t^ádrés fóraõ coadjuvados por fanaticos zelosos , e por ímpòStdfêS , que òusáráõ pretendér que o Beos de paz ? t dé ífírsériéorditf quétiaf que süã catisa fosse deféfídrdfe a K a ( ílé ) _ ferro ^ fogo; elles levárad esta demencia e atrevimen- to até sustentar que este Deos se comprasia em vêr fumegar o sangue humano , e queria que fossem dego- lados todos aquelles que naõ tivessem idéas justas de sua essencia impenetrável. Opiniões taõ cruéis , taõ contrarias ás noções que se tem formado da Divindade , teem muitas vezes revol- tado philosophos esclarecidos , homens de bons costu- mes 5 fazendo delles inimigos do Deos que se lhes pin- tava debaixo de traços taõ extravagantes 9 e taõ proprios para amedreotar : escandalizados dos excessos que viaõ eomrnetter em seu nome , regeitáraõ algumas vezes to- da a Religião como incompatível com os princípios da mora! , e nao ceem encarado seus Ministros senaó como íyrannos ,. .impostores * perturbadores da Sociedade, mons- tros confederados para escravj ar o genero humano. IV? as a qualquer ír rio. 1 cue se leve a dúvida , ou % incredulidade , quaesqner que sejaõ as opiniões dos ho- yn èm sobre a Divindade , «obre a Religião e seus Mi- nistros, estas opiniões naõ iTnidaÕ nada aquellas que el- 3es devem fazer-se da moral. Rs ta tem a razaõ e a ex r periencra por base ; elia se funda sobre o testemunno de nossos sentidos seja que esta moral tenha recebido a. sanccaõ da Divindade # ou que ella nao esteja reves- tida desta autoridade sobrenatural , ella obriga igualmen- te ã todos os Entes sociaes. Aqneile qne-naõ tiver fé , çjue naõ crêa uma Religião revelada , ou uma moral ex— pressarnente confirmada pela vontade divina , naõ pode- rá por isso eximi f-se de admittir uma moral humana, cuja rea) idade he constante nelas experiências" incontes- táveis » confirmada pelos suffragios constantes de todos os Séculos, e de todos os Fntes rasoaveis : o que ne- passs mesmo a existência de um Deos remunerador da virtude , e vingador dos crimes nafí poderia deixar de crêr a existência dos homens, e seria forçoso lembrar-lhe a iodo o momento que estes homens, amaó aquiilo que lhes he util , ou que consideraõ virtude ; em tanto que ( ÍÍ7Í éHes désprezaõ o vício , e punem a crime» Se , como éscá dito , as vistas de um homern naõ se extendem áldrn dos limites de sua vida presente , elle seria ao menos obrigado a conhece r que , para viver feliz e tran- ^uillo neste mundo, elle naó pode dispensar se de obedecer ás Leis que a Natureza pô2 aos Entes, ne- cessárias á sua felicidade mutua. Confòrinaiidc-se a es- fas Leis evidentes , todo o homern tefa direito á afFei.- éa 6, á estima p e aos benefícios da Sociedade', quaes- quer que sejaô a outros respeitos suas noções verdadei- ras ou falsas sobre a Religião. Homens muito piedosos e celebres , como Origi- nes 2 teem crido, que todos aquelles que seguem a sa* bedoria , ou a razaõ pódem ser olhados como muito re- ligiosos , mesmo quando elles sejaò athêos, Estes princípios nos poráó em estado de julgar a condueta 9 c a doutrina dos Ministros da Religião; Nós o*? reconheceremos por orgãos da Divindade , por inter- ^ pretes do Autor da Natureza , que naõ póde nunca saí contrario ao bem da Sociedade. Olharemos corno man- datarios de algum malfasejo , como mentirosos aquelles cujos preceitos rios convidarem ao ma!., ou tentarem sem disfarce tornar os homens desgraçados ou velhacos* Em fim applaudiremos a condueta, e os costumes da- queíles que forem virtuosos , sociáveis , uteis á Socieda- de ; e lamentaremos os desvarios dos que por suas ac- ções se fazem dignos do odio* e do desprezo dos ho- mens sensatos. O Sacerdócio forma em todos os Povos do mundo uma ordem muítò distincta: suas funeçoes sublimes o fizeraó participar com os Deuses da veneraçaó dos mor* taes. Os Sacerdotes foraõ , como se verá depois, os primeiros sábios 5 , os primeiros fundadores das Nrções 5 uma aturada prescricaò lhes deo , e conservou em to- do o Paiz , o direito de educar a mocidade , ensinar- lhe a moral, dirigir suas consciências, e seus costumes nesta vida de modo que a tdirnasse feliz \ em fim , ex- tendendo, suas idéas mesmo muito alçm t^oite, 0$ Ministros da Religião se propuphaó guiar o homem | u r»a felicidade m*ior do que $^e|U qqç |ll? gqz$ sobre a terra. Limitados em nossas indagações a pccupar^ mos senaõ das acções humanas % ç naturaes quç $}çyefl| levar o homem a obrar ^erp neste i;iupdp; qaq pçps.^ remos em um inundo que naq páde §er ooni^eçiçja set: naõ pela Fé ^ assim nós eliminaremos sóipente ps det veres que impõe aos Mini Ipg^ que eíles teeni na Sociedade. 2 gualmente. respeitados pelqs Prpicipes % ç, pç]q$ Po- tos , o Clero occupa q pnnqeiro Iqgar x qp§ 9 ÇQnstity§ a ordem mais considerável çm çqdas Naçõfs : q yj$t$ dos serviços que çlle faz QU quç clçve fqzçr % e!i§ d§ Ordinário muito amplamente. dotado ; $eu? Chefes^ seus Membros os inais illustres, gqzaq dç bens que a§ teta\ posto em termos de apparqcer com explendox ao$ seu% Concidadãos , e roesm.o de prqporcioaar-lhes meios pan| os fascinar. Tantos, sinaes de honra , distincções taõ. cantes , tantas riquezas, accumuladas % denpmlaadas da 2gpr§~ j a i ainda que disfructadas. por seus Ministros,, imp.qem, evidentemente , sobre tudo aos Membros, majs favorecidos do Clero., o dçyer indispensável de um reconhecimento eterno para com uma Patría que os ençhea de tantos benç-r. €cios. Sem $e tornarem culpáveis da mais feia. , e detestável sngrratidao. , os Bispos.» òs Prelados, e os mais grandes Ecclesiasricos eni as Nações Europeas , devem. as.s.iaalar^ P or seu patriotismo , por seu z&fa em qantribuir pa- ra a conservação das Sociedades qu.e íaõ. generasament^ te.ern. feito, a sua felicidade particular* Donde se vç qu$ o Sacerdote deve , ainda mais, do que outro qualquer , mostrar-se Ciciada & , amar seu Pai ç, defender sua Liber- âade , estipular e promover sem i itere ss es , ocenpar-se da felicidade viiblica , manter as direitas de todas ; em fim. y oppôr-se com. nobreza e coragem, aqs progressos do despo - tis mo z e arbitrariedade que 3 depois de ter devorado as ou- C 1*9 ) tMS iritto fo Estafo , poderá umhem ft set tomo ençoür 0 Cterv* Nenhuma orásm em um Estado he mais íéspelfri* ve! que o Clero , mesmo aos Príncipes; lie pois feiff Ministros da Reügiaô que pertence fazer conhecer aos Reis a verdade , que Cortezãos lisongeiios júna» lhes fallaraõ* Em V-2 de socegar os remorsos dos tyrannos por expiações fáceis» os Sacerdotes devem encher de um cerror saudavel as almas cobardes e cruéis de taes mons- tros que causaô todas as desgraças dos Povos. Os Sacerdotes devem ainda mais por seus exem- plos que por seus discursos , exortar os Cidadãos duma© * á concordia, á humanidade , á indulgência, á tolerância para com os desvarios dos homens. Um Sacerdote intole- rante e cruel na© pode ser o orgaõ de um Deos pacifico e bondoso. Um Sacerdote que faz immolar homens , he um Sacerdote de IVIoioch , e naõ de Jezus Christo Um Sacerdote perseguidor , um fanatic© que préga a discór- dia i naô sad , taes Sacerdotes , senaó velhacos , que fal- faõ em seu proprio nome , e cuja linguagem he guia- da pelo interesse, pelo delirio e furor. Üm Inquisidor, que entrega um hereje ás chammas , há sem dúvida , um sceierado , a qqgm © ifíleresse de seu corpo trocou em uma fera* Disc i pulos de um Deos de paz cujo Reino naõ era deste mundo, os Sacerdotes d® nossos Paizes naõ pé- dem 9 sem ultrajar a seu Divino Mestre , recusar o tri* buto a César j ou dispensar-se de contribuir para os en- cargos do Estado, debaixo do pretexto de immunida- cies e direitos divinos : elles pó dem aiirdá muito menos resistir ás r Autoridades constituídas, Sublevar os Súbdi- tos contra* os Príncipes , eXcercer sobre elles um im- pério y priva- los da Corôar , ar mar as n>aos parricidas para os immolar. Sacerdotes culpados de taes at tenta- doS , provariaô- ao Universo que ©lies naõ er£em no Deos que atMiuneiaõ aos outros. Imüz&Qfes de ia» Deos que nasce® na indigência* ( 120 ) SucceMore» don Apostoles q ue viverá em pobre™, OS Sacerdotes do Christianismo , como voes naó Uem proprie. iode. Depositários das esmolas que os freis lhes confiá- »aÓ, elles naó devem jamais fechar as mãos quando se trata de soccorrer a miséria. Um Sacerdote avarento , e sem piedade para os pobres seria um ecónomo infiel, um ladraó , um assassino. Um Sacerdote interesseiro assim como um orgulhoso , naó pódem , sem demencia chamar-se Ministros de jezus Christo. Occupados de estudos peniveis, ou entregues a' vi- da contemplativa 9 os Sacerdotes teem meios de suffo- cav em si mesmos a arnbiçaô , a avareza, a vaidade, o orgulho, o gosto peío luxo e o da gula, de que os ou- tros homens saô frequentemente a preza e o desenfado. Á vida do Sacerdote deve ser irreprehensivel ; seu esta- do deve garanti-lo da contagiaõ do vicio; elle he fei- to para nos mostrar em sua pessoa o sabío , o philoso- pho que a antiguidade promettia inutilmente. Inflammados 5 enternecidos , pelos exemplos tocan- tes da primitiva Igreja, os Sacerdotes Christãos sa5 destinados a fazer renascer entre si os tempos afortuna- dos , em que os fieis naó tinhaõ senaõ um coraçaó e um mesmo espirito. Queixas intermináveis e continuas se- r ao scenas escandalosas , muito capazes de esfriar a con- fiança dos Ci dada os ; estes, em seus guias, naó' espe- raó, nem devem encontrar senão Anjos de naz s mode- !os de caridade , exemplos vivos de todas as virtudes sociaes. Se , como se naó pó duvidar , as sciencias saó da maior utilidade para os h.ornen s, i que vantagens inex- timaveís naó poferiaó. procurar-lhes tantos Cenobitas e monges ricamente dotados ? Quem çntao ousaria, com verdade, queixar-se de sua ociosidade , e lançar-lhes e m rosto seu commodo voluptuoso , ou sua opulência in~ sultadora a sábios que empregassem o temno que lhes fornece o retiro em fazer descobertas uteis , experiências interessantes 3 investigações capazes de facilitar em toda o genero o progresso do espirito humano em os trabalho* da Sociedade ? Em fim os Ministros da Religião , sendo em qua- si todos os Paizes exclusivaniente encarregados da edu- caçaó da mocidade , que obrigações se ihes naõ deveria© se eíles com cuidado se incumbissem da honrosa tare- fa de aperfeiçoar o coracaõ e o espirito daquelles que um dia te em de ser Cidadãos ? O Clero seria, sem dúvi* da , o corpo o mais util , o mais digno da confiança 9 respeita dos Povos , se elle enchesse as funcçôes para que parece destinado. Taes saõ em- pouca* palavras os deveres que a vi- da social e o reconhecimento impõem aos Ministros da Religião ; cujo fiel desempenho os fará merecer verdadei- ramente cr Jogar e os commodos de que , em tanta ple- nitude , gozaõ no seio das Sociedades ; entaô eiles es- tariaõ seguros da veneraeaõ de seus Concidadãos : se- íiao homens úteis, e respeitáveis aos olhos mesmo dos que, escutando a voz da razao , naõ subscrevessem a seus Dogmas. He sem duvida que a conducta de um grande numero de Sacerdotes , e de Pastores , ordinariamente íaõ pouco conforme á sua Doutiina; he uma das prin- elpaes causas do desgosto que tantas pessoas honradas , e esclarecidas concebem pela Religião : á vista do es- pirito despotico, da ambiçao s da cubica, da intolerân- cia, da deshumanidade de que os Doutores e Conduc- tores dos Povos se tornaõ diariamente culpados ; muita gente regeita esta Religião como incompatível com os princípios mais evidentes da sãa rn oral , naõ tendo para isto outra causa que naõ seja a falta de moral em seus Ministros. Todo o homem, ou todo o corpo que se afasta do caminho da virtude , trabalha em sua própria destruíçaõ. Um Clero sem luzes, e sem costumes préga alta- mente a Religião, mas elle naõ ganha senaõ a incredu- lidade. Um corpo muito orgulhoso para fazer causa com- nium com os outros Cidadãos, naõ pode ter apoio ver- ( »« ) ^adeiramente solido, Sacerdotes ^*os t turbtí>en- tos desagradaò igualmente aos Reis e aos Povos» Guias «vidas e corrompidas perdem a confiança pública, Dou- tores desprovidos de saber se tnmaráô desprezíveis aos olhos da gente esclarecida. Em fim, Sacerdotes fauto- res do despotismo , e da tyrannia naÕ púdem deixar de ser um dia a preza dos déspotas , e dos fyrannos: e co- mo Ulisses na caverna do Cyclope , teraõ â unica van- tagem de serem devorados em ultimo Jogar, PERSEGUIÇÃO DOS PROTESTANTES da França y ç mais sspeeialmenie na Be pari ame Oto de Qard y durante o$ annos 1814, 2815 , 2 1816. £ Concluído de pag, $4.) De Nismes , se espalhou o Systems de mortandade , e pilhagem per todo o Departamento de Gard , estenden- do-se aos adjacentes Districtos de fíerauit e Aveyron, habitadas par Protestantes. Nem forad estas atrocidades tneramente excessos d© momento: durarao seis mezes , com pequena interrupção 3 ou abatimento Houve de- pois alguns jn ter vali 0$ de comparativa traaquilíidade ; mas f por mais de dezoito zn&et , estiveraó os Protes- tantes sem segurança , e sem protecção das Leis ou Ma- gistrados, As Autoridades locaes , ou era© abertamente seus inimigos , ou descaradameote negligentes de suas obrigações gnri alguns Districtos da Província, os Mai- l® s 5 nomeados depois da Restauraçaõ , animavaõ cm vez de obstarem os assassinos » e quando se ingeriao em salvar os Protestantes > era exliort and o-os a fazerem com- posições para conservarem as vidas. Seis prisoneiros , arrestados sem causa em Usez, foraõ tirados fóra da Cadeia , por um bando de malvados , e fuzilados em çlaro dia > na esplanada pública , defronte das janellas do Sub-Prefeito que foi testemunha desta transaeçaõ y % algumas semanas depois , m mesma Cidade , seis Guar* das Naçionaes d’AJais , çurprçhendidos 3 estandp de servi» ço t pelos mesmos facinorpsos , foraó fuzilados no me*» ino logar, eom approvaçaõ do mesmo Magistrado. Em lesmes » Cabeça do Departamento 5 o Prefeito , e ou» Iras Autoridades constituídas , em vez de empregaren* efficazes medidas para a presçrvacaõ do socego público# promulgará^ [lluzmias Proclamações * lamentando desor- dens notorias em demasia pa?a poderem ocçylfar-çe, po» palliando estes excessos , e attribuindo-os a causa* fcbsurda , e ridiculamente falsas. Transmjttiraé-se a Pa» £** felicitações de Corporações públicas , contendo a* pais vergonhosas fais ; dades í cerca do estado do Dcpar» lamento; e quando Voyer d’Argensoo emprehendeo t pa Câmara dos Deputados , rasgar o véo que escondia t*ta verdadeira situaçaõ , foi sua voz abafada com cs cia*. e ameaças dos Ultra^Realistas, Naõ he verdade t ler sido d, fraqueza das Autoridades públicas , quem o* compellia % tolerar excessos que naõ podiaõ previnir. Êm todo o tempo tivcraõ á sua disposição força arma* da 9 mais que suficiente para manter o socego do De* ferramenta Foi m presença de 2:500 Soldados de Tro*» pa d# linha, , $ de outros tantos Guardas Nacionaes in-* çorporadost e debaixo d armas % que os assassinatos suh pr a- mencionados liverad logar, A? Autoridades Jsuliçiaes % Administrativas , e Militares do Departamento pre3en-» çearad os excessos commettidos % e mo tomaraõ medi* das? para os previni r. A 2 de Agosto de 1S35 9 foi a Capitão Bourillon assassinado por TrupMmy e qua» d^ilba, na Esplanada de Njsm&s.-, em frente do Palacio da Justiça, 8 ao meio- do diq. Os Magistrados % reunidos Caza do Concelho para votarem sobre uma congratula- ção ao Rei, ouvirão, indiferentes, os tiros das espin- gardas , e naõ demo passos jwa se arrestarem os assas- Sinos , nu preveni-los de commetterem outros cr-imes. Quasi, tres. semanas depois , na ves pera da eleição- dos Deputados pelo Departamento , dezeseis Eiotestíyates ( «4 ) faõ assassinados em c*aro dia, e seus eorpos lançados n*u na sentina. O Prefeito tinha 4:000 Soldados a seu com ti ando , em quanto se perpetravaõ estas mortes t seus olhos , sem com tudo a Ui se intrometter; e o re- sultado foi , que no dia immediatò foraó eleitos sem op- posiçaó , quatro Deputados Ultra-Realistas, para Repre~ sentantes do Departamento» £*) Da geral imputacao de negligencia nas Autoridade* iocaes , ou antes da criminosa connivenda para com os bandos de Roubadores e Assassinos que desolavaõ o Departamento , ha que fazer duas honrosas excepçôes. Cavalíer , Procurador geral da Corte Real em Nísmes 9 foi infatigável em procurar meios de supprimír os cri- mes que via coinmetter , e francamente expressou a de- terminação ern que estava de levar os Réos a proces- so , logo que podesse esperar justiça dos Tribunaes, Ta- manho zelo pela preservação da ordem pareceo intem- pestivo , e deslocado ; e por tanto Cavalíer foi removi- do do logar. (■&$■) O General Lagurde 5 tornou-se igual- mente contrario ao partido dominante , pela sua firme- za e vigilância no desempenho da sua obrigaçaõ. A de Outubro de l8if, salvou elle os Protestantes de uma geral matança ; e, no meio dos bandidos convo- cados parã a sua destruição, arrestou Jacques Dupont f cabeça do bando dos facinorosos ? monstro notável por sins crueldades, e commummente conhecido pelo nonpe de Trzstaillois 5 por ser seu costume , depois de assassinar Suas victimas , cortar-lhes os corpos ern tres postas* Em fesentimento deste acto de vigor , deo-se um tiro no General, de' que ficou perigosamente ferido , em claro dia, nas ruas públicas de Nísmes 5 e no meio de uma Ma d ler de Montjau , du Gouvsrnement ccculie g p a %> 19 — Lettre a M . Pasqiàer 3 pag. §. — P e titio n g pag, 7. — WUks , 251, 267. Madier de Montjau 9 du Qouvernemeni occulie ^ r a s- y*- ( m ) ínultídao, quando se occupava em proteger os 'Protes- tantes no público exerdcio do seu Culto , que por mui* tos mezcs , havia sido suspendido. A pessoa que o fe- rio era bem conhecida : seu nome era Boissin , Sargen- to da Guarda Nacional: mas ninguém procurou arresta- lo: pôde escapar sem ser perseguido; e, ainda que se ofFereceo um prêmio a quem o prendesse , deixou-se com tudo, viver retirado, naó muito distante de Nísmes , sem ser molestado ou inquietado, Naô só se deixou em liberdade , como até o seu partido teve a audacia de abertamente o louvar, e recompensa-lo. Diz-nos Madjer de Montjau , que na sua presença , em quanto se fazia a pretendida busca pelo assassino , um Funccionario pií- Büco de Nismes , vestido com seus trages Gfüciaes , te*» ve a indecência de dizer , que a acçaó de Boissin era o resultado de um ■sentimento, de honra que nenhum ho- mem podia siippnmir 8 e que o General só era o cul- pado do seu infortúnio. (*) Nad contentes com ínfruc* tuosos louvores , os amigos de Boissin abriraó uma subs- cripçao em seu favor , em que , sem o nomearem , eJ- Jé era designado como interessante caracter na desgraça; a quando por fim voluntariamente se entregou ao pro- cesso , arraríjaraò um Jury que o absolvesse Êernard % successor de Cavalier , que dírígio o processo , o 'uma Carta escrita immediatarnènte depois da transaccaó, dá a seguinte conta de seus sentimentos a respeito do pro- cesso « L*assassin , avouant son crime , a èté píeinement yj acquittê : vous ne pouvez voas faire une lâèe des intrigues » qua emploi/cs le parti soi-disant Roíjatiste pear sauver )) ce grand coupable . — Cetie ville nest point falte poitr » posseder des tribunaux „ La justice ríij est point libre. $ Madier de Montjau . — Plaidoijer et Replique 0 jwg, ? 6 . O assassino 9 confesso do crime , foi plenamen- te absolvido: nao podeis formar idea das intrigas que empregara , para salvar este grande culpado , o partido ( né ) $*** uUími dbi&vãÇàfi dé m. Bernard natf deixava te ** rcncfámalto ; porém Nfsrfies nãó era a umca Cidade ão Sul da Frâilca mal aptõpfiàdà pata a adminisfraçaô da j-tisfiçâ Háviâ n. TfiDcjuehgúe arroiadámcnfe ténfá* do incluir õs asssásinOs de Ga rd ná Amnistia deiBiÒ; iftãS foi seu eitípenhó dêáfeiCõ pela óppõáiçád de M 0 tíè Serre 5 e pela repulsa dó Ministro da Policia em es- fersder Csfe actó de clemência a matadores e salteadores. Mal logrado em suas tentativas 9 nada reatava ao parti- do 9 sc rfad , á tddo 6 custó > livrar seus Agentes dá jus* tiça „ cóitompendó ou arnedrentando òs Tribunáes ; ê empreza alguma foi játtâU conduzida com maíõr perse* herança , ou aconrfpaiiháda de meillor effcito» Runcâ â justiça foi mais escandalosamente pervertida; — niincá fentenças forao mais íniquamenté julgádas 5 do que pór muitos armos ao Sul da frança peia influencia é itiáqui- jiaçdes desta facçao. Naô tinhaõ os mnocéntes nádá quê esperar » se Protestantes; — Os criminosos' nada qué recear 3 se Cathólicos. Os Juizes nomeado? étff sásf 9 erad 5 em geral , vingáHvos Realistas 9 e guiados pòf íüáS paixões * e resentimentos ; ou erao pessoas tími- das „ e incapazes 9 levados peíá violência de sèus óoU Segas, ós Jurados erao escandalosamente escoíhidds , du aterrados para condescenderem. Admittia-se nos TriBu- naes uma canalha furiosa , applaudindo , com hórridas ac- elámaçoes de regozijo t qualquer deposição contra Protes- tantes , e ameaçando e intimidando todas as testemunhas que lhes pareciaô favoráveis. Eraò cóntra elles acredita- dos os mais visíveis perjúrios; e notáveis assassipos ap- pareciaó nos Tribunáes para destruírem 5 por seus jura- mentos 9 as victimas que haviaó escapado a seus punháes. 0$ íegaes defensores dos Protestantes erâô anfeaçados- $ * insultados em presença dos' Juizes a ao mesmo tem- • - Ai-O- que se diz Realista. — Esta Cidade nao he feita paffr ter Tribunáes.  justiça naõ he aqui livre. ( ) f>o que se permittiaó aos Advogados contra , as mais fal- sas c injuriosas calumoias em seu > prejuízo. No proces- so de Boissin r o seu Advogado , Major da Guarda Na- cional em Nismes > teve a audacía , em Audiência Pú- blica , no meio de um Auditório apinhado , de designar os Protestantes em Corporaçaó como íc Inimigos da Ir- gitmidadç' » He verdade % que foi reprehendido , e com- peli ido a retractar a sua expressão i porque , por uma rara oceurrencia , âconteçeo naquelfa occadaú estar pre- sjdíndo um homem de firmeza e honra, Quando os assassinos * apprehendidos poí Cavalier e General La Garde foraó levados a responder por seus Crimes r nenhuma testemunha contra elles se atíreveo a comparecer. Trestaülons e stus Associados fmaõ des- pedidos sem processo, em Riom , por falta de evidencia, $ 1 1 a. été impossible , ( disse De Serre , Guarda Sellos 9 fia soa oraçaõ de %\ de Março de 1819) d*ohttmr la de~ muítA 3 d" wi se aí t emoli contre eux. La ttrteur hs ovoit glaces. » (&*) Um só exemplo mostrará os sueios a que ffêcornaõ para a intimidação das testemunhas, e ao~ mes- mo. tempo patenteará o caracter dos Tnbtmaes , que en- tão administravaõ a justiça na França. Gríffon , um dos mais formidáveis facinorosos que figúraraó em 1S1 5 , jpj levado a processo por caus a de morte, em iSiS na Helaçaõ de Vaucluse. Appareceo uma testemunha con- tra elle.. No momento em que chegava para dar © seia depoimento , um Sargento da Guarda Nacional se lhe stppr.oximou , e lhe fallou ao ouvido. I Tu vês este sa- bre — - tem bom £0 ; he destinado para o primeiro desavergonhado que jurar contra. GriíTom B A testemu- nha levantando a voz , queixou-se ao Tribunal desta ameaça : «— Porém naô se fez caso delia ; e o Sargen* Qt) Madier de Montjau . — » Plúidoijer % pag, 40 , 42, Foi impossível , obter a déposiçad 1 de uma só testemunha contra elles. O terror as havia enregelado* ( n8 ) to nem se quer foi reorehendido. He escusado aceres* centar , que Griffon fôra absolvido. (*) Mais moderna- mente , em Novembro de 1 3 2 9 , quando a facçaó que protege «os assassinos , era menos poderosa do que em tempo algum o tem sido desde a Restauraçaõ , um cer- to Serv^nt de Nísmes foi processado em Riom por cau- sa de morte. Uma testemunha, confiando no que en® tad dizia o Governo , depôz , sem susto , ou hesitaçao contra o criminoso ; ao que o malvado , admirado do seu arrojo, se voltou para elíe mesmo diante dos Juí- 2es , e exclamou. (C Tu naó te atreverías a dizer isso em Nisrnes. )) Mas naõ era sA a intimidação das tesmunhas a que © partido Ulfra-Realísta confiava a preservação dos seuf Agentes , quando levados a processo por seus crimes 0 Todas as vezes que um assassino, ou roubador dos Pro- testantes , estava em perigo 9 todo ô partido se punha em movimento para o salvar $ seus differentes cómmi- tés se conservavaô em infatigável actividade; alcançava** se dinheiro para seu uso % pagavad-se Advogados par& sua defeza ; preparavao-se certificados de bom caracter* em caso de haver falta de evidencia contra elle. Os pró- prios facinorosos frequentemente se gabavad , que os seus Protectores erao muito elevados para que o braça da justiça lhes podesse chegar. Provável he , que , quando M. Be Serre orou em iSiç, tinha o Ministério Francez intençaô de trazeres assassinos a serem justiçados ; mas achando-os demasia- da e poderosamente protegidos , aíteraraò seu modo de proceder no anno seguinte. M. Pasquíer , Ministro dos Negocíos Estrangeiros , ao requerimento de Madíer de Montjau , expressou pezar (#*) de ter sido rasgado o Madíer de Montjau. — Pléces e Documertis s P*g- 47 . 2$ de Abril de sSao. ( 129 ) véo , — (( Que para o bem de todos , devería cobrir eternamente estes desgraçados tempos » Quaõ differen- te tinha sido a íingoagem de M. De Serre ! (*) (( Naó podemos calar-nos por mais afflicrivo que seja este es- cândalo» Digamo-lo todavia — o escaodalo es«a no Crime, e nunca no grito do sangue injustamente derra- mado. )) No intervallo entre estas duas oracdes , o par- tido que protegia os assassinos , tinha recobrado todo seu poder e audacia* Na primavera de 1817 , Arbaud Joucques Foi remo* vido da PreFectura de Gard , que tinha administrado com pouco crédito para si , ou beneficio para o Depar- tamento. Seu Successor , JV 1 . cTArgaut-, sustòu a vio- lência da perseguição , e protegeo os Protestantes de mais aggressóes ; porém era mal auxiliado por seus Agen- des subalternos , e * ais particularmente pela Guarda Na- cional , que ainda se achava no pé de 1815, e com- pletamente á disposição da Facçaô Ultra-Realista « Foi » a principio mal organizada , (disse M. Lainé , Minis- A tro do interior) nao obstou excessos alguns commet- » tidos no Departamento ; e estou persuadido oue nun- 3 * ca haverá permanente tranquillidade , õu liberdade de » eieiçaó em Gard , até que dia seta dissolvida. » Foi eom effeito dissolvida por Decreto real de 26 de Julho de iSiS , e as pessoas que a compunhaõ tiveraô ordem de entregar as suas. armas. Meditou-se a resistência 5 e emprehendeo-se num Jogar ; mas os amotinadores erao muito Fracos para se opporem ao Governo. Coisa de 20 cabeças de motim foraó arrestados , e o resto submeta fteraó-se á sua sorte. Porém ainda que legalmente dissol- vidas, v e obrigadas a entregar as armas que haviaõ rece- bido do Governo, as Guardas Nacionaes tomaraõ pos- se daquellas que tinhaó tirado ao$ Protestantes em 1815^ e conservarão ainda em segredo sua primeira organisaçao - 'i ' .. • „ . ’ * 00 2$ de Março de 18*19. Voi. II. Num. il. 1 ( Igo ) e ‘sugeiçaS áos commandos do seu partido* Até JaneU ro de 1820, fez-se ern ftismes uma clandestina reuniaÔ dos seus ChefeS, para dirigir a privada inspecçaó do cor- P G , e preeiiéher as vacâncias na lista dos Offidaes. (&) A este corpo , debandado por ordem real , por naé haver eSperanqá de tfánquiilidade no Depàrtamêntô até á sua dissolução , He que MònsieUf fòi induzido a diri- gir uma Carta dé agradecimento péla sua conducta* « A Guarda Nacional ( foi s! A. R, induzido a dizer) » tem-se mostrado, até o uhimo , digfla dò seu caracter, » Nada menos tinha a esperar dâquelíe éxcéllente cor* » po. A íémbrança do ultimo gritó que lãnçòu , íicarí > sempre impressâ nò meu còraçâô , èom â memória d* V J sua admiravel e gloriosa condueta eiií 1815. » Eni* i 8 1 5 , tinha esta Guarda Naci^nâ! Sido spectador paSsivo, e immovd do assassinato * e pilhágerrt do§ Ptotestantes. Seu ultimo acto » se bem que naó seu ultimo grito , fój uma tentativa para resistir á ôrderU rèa! què à mandava dissolver, Muito tempo antes haviâ Suspeitas, dé que o* Chefes da facçao Ultrá-Keaiista éxérciaô urilá perigosa influencia sobre Monsieur. Este àêtõ iüjudicióSo , á que sem duvida eíles baviaò facilitado S. A. R, g dtínfirrihoii fortemente estas suspeitas , & pôz o herdeiro presump- fivo da Coroa em indecente dppoâiçáÔ àó Governo dg Stu Irmao. Muito dfffêftftíté era a opinião que tinha desta Guar* da Nacional o Presidente da Coar d' Assises em Nisrnes , Como se colhe do seu ofüeio ao Guarda Sé! los , depois da conclusão das audiências na Primavera de 1819. & Tout )3 esi devena foclle á Nhilies dépuis lá suppre síi&i de lâ » Garde nacionale. Le tenips tfêsf pias òh une popuhcè )) insolente et furieuse êoutvrait dkpplaudisseméns , ou dê » hoitèes les témoins , ks áccasès et les juges ; ou Us dé~ (*) Madier de Montjau* — ■ Petetion pag. 6 „ Piéce$ et Documents , pag. 85 , 87. ( * 3 * ) % poútíoftè t)tii flâttalent les passiohs de cette pòpulace y % etaient áccueillies au cri de Vive le Roi y sans que ceU % fi prqfhnàtiàn reqíit le moindre chatiment. » Cest beaucoiip pour le Departement du Gard d’avoir ^ ohtenu ia snppression de la Garde naôionale et la desti - Í) tution d 9 une dauzaine des Maires — mais «— » les Adjoínts , >) les Maires , les Jugcs de paix de la Jatale annèe ( 18 1 5 ) >5 soni partout et 1 majorité , et plus irrites qu abati us des » exemples de sevcrité trop peu nombreux auxqueh sest enjin determine le Ministére, )) C'est surtoat dans les Vepartamens quon doit juger 3 * U goiivernement par les príncipes et les acti&ns de ceux 39 a qui il délègue son autoritê ; cr les hommes de 18 55 occupent en tons li&iix les emplois quils conqmrent k 5) cells époqiie par la dèlation et par la terreur ; ces bom- » mes representem le réghne de 1815, et , a la moindre 3 ® Ineiir favor able pour eitx , leur audace annonce le reioar 55 des mètnes excès • » 00 Tudo se , tem tornado fácil em Nismes depois da suppressaõ da Guard^ Nacional. Acabou-se o tempo ém que uma populaça insolente e furio-a , cobria de epplauíos ou injurias, a$ testemunhas, os accusados , e os Juizes; em que os depoimentos que lisonjeavaô as paixões desta populaça, eraó acolhidos com a voz de Viva o Rei, sem que esta profanaçaó recebesse o me- Úút castigo ! Ke muito para o Departamento de Gard ter obti- do a suppressaõ da Guarda Nacional , e a demissão de uma duzia de Maires — mas — os Adjuntos , os Mai- res 5 os Juizes de paz do anno fatal ( 1815 ) teem por toda a parte a maioridade , c estaõ mais irritados que abati- dos dos bem poucos exemplos de severidade , a que se tem por fim determinado o Ministério. Nos Departamentos he que especialmente se deve julgar do Governo pelos principio*, e acções daquéíles a quem delega a sua autoridade ; ora os homens de 1815 óccupaõ em todos os logares os empregos que naquella época Conquistarão por meio da delaçaõ e do terror ; estes homens representaõ o regímen de 1815 , e á me- nor apparencia de favor , sua audacia annuncia o regres* só dos mesmos excesso s» 1 2, ( * 3 * ) Naó foi sem razaõ que Madier de Montjau aecusoia ò* homens de 181$ de estarem dispostos a renovar seus primeiros excesso*. Havia elle recentemente salvado Gard da guerra civil : estando em Nismes , como Presidente da Coar d’ Assises , foi imprudenternente tirada a guarni- ção da Cidade 5 antes de chegarem as Tropas destina* das a rende-la Áquelie tempo estava a França em ge- ral agitaçaõ , em consequência de uma proposição arro- jada e inexperadamente feita na Gamara dos Pares , pa- ra subverter , com pretexto de reforma , a Representação Nacional, Excitados por estas tentativas de seus amigos na Camara dos Pares, e animados pela ausência da guar- nição * os homens de 1S15 , fnerao todo o esforço pa- ra reganhar seu poder * e renovarem os terríveis exces- sos daqueÜe periodo. As Guardas Nadonaes que haviaô sido debandados re-ap parecerao era público com suas armas e uniformes; ínsultaraõ-se os Protestantes no meio das ruas; levantarao-se gritos sanguinários.; retinio-se a canalha; e quando alguns mais turbulentos forao arres« ta dos e mettídos em prízao , seus Camaradas arromharaó a cadêa 3 e tirarao nos para fora em triunfo. Tudo de- notava a approxunaçaó de outra matança , , quando os Protestantes fatigados pela delonga, e exasperados pelo caracter tyrannioo da sua perseguição » tirarao coragtm da desesperação , e resolverão nao se deixarenfi mais sacrificar com impunidade. Armando-se por seu tur- no , e confiando em promessas de soccorro que recebiaS do paysanismo de Cevennes, tomaraõ uma attitude res- peitável que imprimio terror nos seus adversários. Es- tava-se a ponto de derramar sangue, quando o Presi- dente da Coar de Assises foi mais uma vez chamado pa- ra ser o Pacificador do Departamento Pela intercessão do seu antigo e constante amigo, abstiveraõ-se os Pro- temn es de violência ; e , pela própria confissão do Procurador Gera! * a sua moderacao salvou o Departa- mento. Os mais razoaveis e cordatos Catholicos agrade- cerão a Madier de Montjau a sua inteiferencia , c se C *33 ) tepararaâ de seus companheiros ; mas alguns mais exal- tados da canalha conservaraó-se em armas , ate que a chegada dos Militares os poz em fugida. (*) O máo successo desta empreza,e a linguagem firme e ameaçadora de^ M. De Serre, desanimou os assassinos , e os ench-eo de apprehensóes a respeito da sua segurança. Porem a subsequente frouxidão do Governo aliviou seus temores ; a renovaçaõ do plano para alterar as leis da elei- ção fez reviver sua confidencia ; e o assassínio do Duque de Berri lhes restaurou sua prirneiraatidacia e actividade. Immediatamente depois da notícia daquellé fatal acon- tecimento , Trestaiilons , que desanimado hávia tugido depois da oraçaõ de M. De Serre, re-appareceo em Mis- mes, la menace a la b o ache ; a mais terrível agiCaçaó se seguio por tres dias; nada se ouvia .senaô gritos de vin- gança , e ameaças contra os Protestantes ,, como se el- Jes houvessem sido os assassinos daquetie desaffortunado Príncipe. Subitamente, e sem causa alguma àp páreo té , o mais profundo socego succedeo a esta violenta agi- taçaò; parecia esquecer-se o Príncipe e seus matadores. Teve Madíer de Montjau a boa fertuna de obter a so- lução deste enigma, e trazer á luz os secretos agitado- res na Corte , em cujas mãos o« assassinos de Nismes erao meros autômatos , movidos e parados a seu al- vedrio. Vieraó a sua maô , por meios que seria fasti- dioso relatar, mas por um canal em que podia ha r -se 9 duas circulares do Committé central de Paris aos seus ad- herentes nos Departamentos. A pnmeira desras circula- res , marcada M,° $4, e escrita pouco depois da morte do Duque de Berri r continha as seguintes expressões: K Ne ioijex, m surprls ai efraijès\ cjuoique Vatteptat da » 1 } a ciit pas amêaè sar h ckamp la chute da Ja- 3) vori , agissez comine s*il etait deja renversé ; noas o> Mndier de Montjau. — Pltfidoijer , pag, 44, $9» ÇMp Isto he , o assassínio do Duque cie Berri. ( »34 ) * Varraeherons de ee poste si V 9 n ne e m çnt pa S h Ven » ba I ,ir ; mo strer des sentmçns hstiles. Noas vous le repetonj , » du calme , le plus grand cahnç. » Estas circula, res naõ se limitavaó a Cismes , mandando-se no mes, mo dia a qualquer Pepartamento da França , onde o Governo secreto tem ramificações. As pessoas que comtriunicaraó a Madter de Montjau «stes importantes papeis , apprehensivas da sua propris segurança, exigiraõ-íhe solemnç promessa de naó fazeF C*) Naó vos deixeis surpreliender , nem aterrar ; ain- da que o attentado de 1 t naó troussesse immediatamente a queda do favorito , conduu-vos como se elle estivesse já derribado ; nós o arrancaremos deste posto se naó no-lo deixarem bannir; no entanto , orgàni?,ai-vos ; a§ instruc- coes, as ordens e dinheiro nao vos faltaráo. (^Mt) Ha poucos dias vos pedíamos uma attitude d importância ; açora recominendamo-vos a roais hem sustentada quietaçao e reserva. Acabamos de alcançar urna vantaçem decisiva , fazendo expulsar Decazes. Gran- des serviços nos póde fazer o novo Ministério; convem por tanto . rer cuidado de lhe naõ mostrar sentimentos hostis. Ainda vo r Io repetimos; socego , a maior sqgí~ go a «— Majier de Mottjau, — PetUit>» y pag, 4 y ( * 3 ? ) conhecidos indivíduos alguns implicados na correspon- dência de Nismes, até que se obteve do Governo uma abonaçaõ çatisfactoria , de que p Chefe da facçaó seria processado ; e tendo-o convencido pela comparaçaõ 4a letra, que o Escritor das circulares que elle tinha visto , era o Autor da famosa Notte secrettn , pediraõ-lhe , co- mo penhor da boa fé da parte dos Ministros , que o bem conhecido Autor daquella aleivosa produeçao , fos- te processado, antes de se entregapeni as circulares. Gos- loso por ter opportunidade de supplantar uma facçaõ que elle por tanto tempo tinha em vaõ combatido * Madier^de Montjau accedeo a estes termos; e n’umâ Petiçaõ á Gamara dos Deputados , deo conta das con- fidencias que çe lhe haviaõ ftito. Nesta Petiçaõ ex- pôz elle íongamente as secretas maquinações dos Ul- tra-Realistas, e indicou , em termos claros em dema* $ia para se poderem desentender, a pessoa que se lhe tinha designado como Autor das circulares. Naõ foi por desconfiança das boas intenções do Ministério , mas por apprehemaõ da sua falta de firmeza e vigor , que elle lançou maõ deste methodo para produzir a sua accusa- çaõ ; e , ainda que se mallqgrot# em obter a inquirição que pedia , a publicidade da sua Petiçaõ patenteou a toda a França a existência de um Governo ou facçaõ secreta, que, na expressão de St. Auiaire «. parece re- X* conhecer outra Lei que a. Lei, outro Go ver tf o que o ^ Governo , outro Rei que o Rei. y> A conducta dos Ministros a respeito da Petiçaõ foi timida e irresoluta , como o htivia previsto Madigr de Montjau, e, individualmente para elie , considerado o favor , e approvaçaõ com que se tinhaõ recebido suas primeiras commurtfcações , foraõ seus procederes amar- gos , e naõ generosos. Quando recusou entregar as cir- culares , sem obter as condições com que se lhe tinhaõ (#) Madler de Montjau* — Plaidoner , pag* 67 ,75. confiado» foi "eüe citado perante a Cour ée Cassatlon , e por aquelle Tribunal reprehendido por persistir na sua recusaçaó , por infracçaô de seus deveres como Ma- gistrado , publicando , sem licença , suas participações ao Ministro da Policia , e p©r aggravar todas as outras offensas com escritos (( ptoprios a conservar desconfian- ça e odios entre os Cidadãos. » Naõ obstante esta cen- sura , que foi a unica puniçaõ que a face ao Ultra pôd« obter , ninguém ha que lendo sua viri] e eloquente de— fe?a (seu Plaidoijer ) se naõ convença quefòra a isto levado pelos mais puros e honrosos motivos ; e que , se os Ministros ourassem perseguir os offensores que el- Je havia desmascarado , haveriaõ eiles , naõ só ter des- coberto , e punido os verdadeiros motores das carnice* rias em Gard , e dos outros excessos ao Sul da Fran- ça , mas também haveriaõ extincto uma facçaõ perigo- sa * que parece destinar-se-, um ou outro dia, a fazer reviver a Revolução, e tornar a submergir o Reino na guerra civil. Nossos Leitores naturalmente perguntarão « Quern » será a pessoa designada por Madier de Montjau co- )) mo Autor das circulares , e Agente principal do Go- 5$ verno secreto? » Ao presente, só responderemos, « He a mesma pessoa que dirigio aos Al liados a JSotts » secrette ? a mesma pessoa de cabeça e coraçao machia - ^ vdico , que replicou a um Officiai 9 quando este se ga- » bava de haver tomado prisioneiro o Marechal Soult : % (( lusènstl ! appreuex. de moi , que dans les co ijoactures ou » nous sommes , o i narrête pas wi Marechal de France ; » oi le tuc )) (*) Estes sinaes designaõ sufFicientemen- te o homem na França. Facil seria nomea-lo ; porém assim como Madier de Montjau se absteve de o fazer em termos directos, imitaremos sua reserva. CO Insensato ! apréndei de mim , que nas circuna- tapeias em que nos achamos , naõ se prende um Mare- chal de França; mata-se. Os factos dados á luz por Madier de Montjau nao deixaó duvida alguma da existência do que elíe chama Governo occulto , nem da actividade da sua correspon- dência nas Províncias, ou sua estreita e intima connec- 4jaõ com os assassinos de Gard, Depois disto , naõ he de maravilhar, que a perseguição em Nismes se deixas- se continuar por muitos meze? , sem eflfectiva ©pposi- ç ao dos Agentes do Governo , ainda que contra as or- dens e instrucções dadas pelo Rei ; nem he já objeceo de sorpreza que os assassinos , tao poderosamense pro- tegidos, tenhaõ até agora escapado, e ainda hoje escar- neçaó do braço da Policia. Temos por tanto que reputar os assassinatos em Nismes como nem inteiramente religiosos , nem intei- yamente políticos. Da banda dos facinorosos , a quem ae deixava o executivo , a perseguição era religiosa — - yesuitado do cégo fanatismp, e furioso odio aos Protes- tantes. Do lado de seus Protectores de alta gerarchia , era em parte, e talvez principalmente, política. Alguns Chefes dos Ultra-Realistas pódem ser tao hypocritas e fanáticos como os mais abjectos e ignorantes dos seus Sectários ; e alguns do Clero , que teem influencia no teu partido , pòdem ser excitados pelo mesmo intoleran- te espirito de perseguição que animou seus ascendentes 2ios dias de Luiz XIV. e XV. Seria porém injusto im- putar a todo aquelle # ou qualquer outro partido do tempo presente , os acanhados e intolerantes princípios de seus antepassados , ou suppô-los tao esquecidos do generoso tratamento que receberão de uma Naçaô Protes- tante , que abracem inveterados sentimentos de hosti- lidade contra os que proíessaô a mesma Religião na França. Porém sao impellidos nomeio da torrente , on- de elles mesmos se lançaraô , pelas circunstancias ern que se achaõ. Para objectos que teem em vistas , care- cem do apoio de algum sentimento popular em Fran- ça; e naó achao adherentes zelosos senão entre os fa- náticos , cuja concurrencia se veem obrigados a fazer propicia, amimando todas as suas abjectas pakôes. He- }hes preciso sacrificar Protestantes, em ordem a obterem um partido entre os Catholicos; - He-lhes preciso proteger assassinos em ordem a acarear partidistas ; nem pódem elles desintrincar-se desta posiçaq , sem renun- ciarem extravagantes esperanças, reconciiiando-se de bom grado com a ordem de coisas que naó está em sua maô subverter, e procurando honestamente consolidar a no- va Constituição da sua Pattia , qniqdo em sua defera todos os bons e moderados. He evidente po entanto , attendendo ao que passa na França, que o partido a que alludímos, procura seu principal apoio na preponderância do Qierq , e no re- nascimento, naó do verdadeiro espirito de Religião 9 mas da hypoçrisia e intolerância ? que muitas vezes Psurpaa seu augusto nome. Em vez de açcrescentarem O numero e estipêndios do baixo Clero, que utii p respeitavelmente podia ser empregado nas suas Parro« chias , teem augmentado o número das Bispados 9 em ôrdein a premiar e excita? o zelo dos intolerantes , e in?- fundir ao mesmo tempo mais ardentç fanatismo na Xgreja» Nao se fiando na açtividade dos ParrQchos , man- ará pelo Reino Missionários a pregarem milagres de Santos , e fazem um trafico de indulgências tal , que deshonraria o Século XVí. , antes da reforma. He o mes- mo principio, que lhes faz preferir as instrucçóes dos Jréres ignorantms , ao methodo mais utii e expedito do çnwgnment mutuei ; e á mesma necessidade de conci- liarem partidistas para os seus futuros projectos , se de- ve também ^ttribuir sua protecção ao Commercio da Escravatura ; e sua determinação ^ obstmirem qualquef medida que tenda á sua effectiva aboliçao. Nao que el« ies teohaó parcialidade alguma pelo Commercio da Es- cravatura ; mas precisão de adberentes , e naó se en- vergou hao de comprar , áquelle preço, o apoio dos an- tigos Plantadores, e dos Negociantes connexos com as Coionia s.> ( 139 ) Hç porérp no renascimento do fanatismo que o% yitra-Keaiisjras esperaõ principalmente força addiçional j gpe p§ ponha em estadp de cumprirem seus desígnios. Ifói he reiigiaõ que elles querem , mas sim submissão céga e escrava á Igreja* (( Um dos caracteres da Reli* giaõ (diz seu Autor favorito) he nunca racicionar )& com os homens. » (*) 0 mero Catholieismo naò he que os sat isfaz ; querem a detestaçao da herecia. Preten- dem que nenhuma Religião póde durar , se naó fôr animada de odio contra qualquer outra « Aucime Reli - 59 gion ne peitt subsister qucn repoussaut tontes les autres % -r elks çxpirent achiel 9 Cnmaliel , Eaphael , Tsaphael; a palavra sagrada he Adoncii . Pata o vigesimo-nono gráo do Grande Escossez de $nnto André de Escossia , conhecido também pelas deno- minações de Patrlcircha das Cruzadas , e de Gram-Mestre da Luz ; decora-se a Loja pondo em cada um dos qua- tro ângulos uma Cruz de Santo André , em aspa ; e as palavras sagradas saõ Ârdarel' , Anjo do fogo ; Casma - ran , Anjo do ar ; Talliúd , Anjo da agua ; Furlac , Anjo da terra, No $ o gráo (que he o do Grande Inspeetor * que al- guns chamaò o Grande Eleito , 5 outros o Cavalleiro Kadcsch , ou mesmo o Cavalleiro da Aguia branca e negra ) com* pòe-se a decoraçaó da Loja , de todos os hyeroglyphi- cos da morte de Jacques de Molay , Gram-Mestre da Ordem dos Templários, executado a ie de Março de l$$ 4 ; e do projecto de vingar sua morte, que o reci- pendiario deve manifestar entre outros , com os da Cruz- Roza , e do Punhal. O motto da ordem deste gráo con- siste em tirar um punha! da bainha , e fazer como quem fere alguém ; na recepção deste gráo , passa-se a scena seguinte : P. À que hora começa a conferencia capitular? R, No principio da noite, P. Que pessoas conheceis vos ? R. Duas que saò abomináveis, P. Qual he o seu nome ? R. Filippe o Bello, e Bertrand de Goth , que, ssn- do Papa , tomou o nome de Clemente V. O sello da ordem tem entre as devizas de seu es- cudo de armas, uma Cruz, ou arco de Alliança, uma tocha acaza n’om Castiçal; de cada lado, ao alto a inscripqao : Gloia a Deos (Laus Deo. ) Todos estes traços e muitos outros que alludem ú Historia Sagrada do Templo de Jerusalem edificado por SalomaÕ 3 re-edideado por Esdras , restaurado pelos Ghris* Êaos s e defendido pelos Cavalleiros Templariôs * cflFe- fecem o perigo de uma mistura susceptível de interpre- tações semelhantes ás que lhe deraõ as testemunhas in- formantes de Florença, que he a primeira das condem- jnaçoes apostólicas , renovadas no tempo do Papa Pio VIL èm um Breve publicado em Roma pelo Cardeal Gan*> çalvi 9 a 5 de Agosto de 1814» Os Framaçoes ( nao podendo ignorar que desde o témpo dos Romanos todas as Sociedades secretas teem Sido suspeitas e prohibidas ) deveríaó prever que o uni» CO meio de conservar a sua associaçaõ era simpíifica-lá é desembaraça-la do quanto podia ter contrario ao res- peito que os Christaos devem á Santa Rscrirura 9 a fim de tirarem aos Ecclesiasticos e jMòriges todos os pretex- tos de tomarem a má parte e de denunciarem como pe- rigoso o que na intenção dos Framações nao tinha se- áaõ o bem por objecto. Naõ ha menos incoriveniencia em prescrever o ju- ramento execratorio do famoso segredo Maçonico , pois que os Críticos nao lhe teem podido descubrir outro objecto , senão uma coisa que nao existe, como se po- derá vêr pelo facto seguinte: — Joao-Marc . Larmenio ( Successor secreto do Gram-Mestre da Ordem dos Templários , por nomeaçaõ verbal do desgraçado Jac* ques de Molay que lhe tinha pedido aceitasse a sua dí gnidade) criou , de concerto com outros Cavalleiros , es- capados á proscri-pçaõ , diferentes sinaes de palavras oü acções , para se reconhecerem , e para se receberem secreta- mente novos Cavalleiros da Ordem pelas graduações de um noviciado , e de uma primeira profissão 5 em que inteiramente se ignomvaó todos 0$ objectos secretos que a" Associaçaõ se propunha £ e que erao , conservar a or- dem , restabelece-lã em seu antigo estado de gloria , c vingar a morte do seu Gram- Mestre a e dos Cavafleí- ros -que com eSle háviao perecido ) até.p ponto em que t depois de se terem bem conhecido as qualidades do no- vo membro 9 se- julgasse a proposito confiar-lhe debr.f K z ( *48 ) xo do mais terrive! juramento , e n'uma segunda pro- fissaó , o grande segredo , ou mysterio taõ importante da Ordem. Os sinaes secretos que deviau servir aos Cavallei- tos para se reconhecerem , foraô inventados pelo imme- diato Soccessor de IVÍolay. Esta precauçaò era necessária para nao se admittirem cpmo Irmãos os Templários que tinhao formado um Seis ma no tempo da perseguição , retirando-se a Escossia ? e que nao queriao reconhecer por Grarn- Mestre Joaô Marc Larmenio 5 pretendendo se- rem elies proprios os que restabelecessem a Ordem dos Templários , preiençao esta que foi regeitada pelo Ca- pitulo dos Cava-lleiros legítimos. Em consequência des- ta medida , o novo Chefe secreto expedio seu diploma a f de Fevereiro de 1^24, e seus Successores , che- gando á dignidade secreta de G ram- Mestre da Ordem dos Templários em França , teem depois seguido o seu exempla. Imprimio-se já o catalogo dos Gram-Mestreg até 177Ó* Em 1705 , Felippe de Bourbon ? Duque d@ Orleans y Regente do Reino , foi nomeado para esta di- gnidade. Luiz Augusto de Bourbon » Duque de Maine * o foi em 1724, tendo por Successor Luiz Henrique de Bourbon Condé. Em 1745 ^ foi a dignidade conferida a Luiz Francisco de Bourbon Conti ; em 17 7 6 a Luiz Henrique Tirnoleón de Cossé-Brissac , e em iSi4aBer- nard Raymond Fahre. Os CavaUeiros do Templo que se haviaó retiradô a Eseossia 5 fundar aÔ slli em *514 um estabelecimento particular 5 debaixo da protecção do Rei Roberto Bru- ce ^ e como seu ohjecto e seus meios eraõ os mesmos j en :ubriraó~se com a aiiegoria e denominação de Archi- iectos ; e tal foi o verdadeiro principio de afhii&çaó que em segujda tem tomada o nome de Framaçonaria. Nao tardou elfa , assim como a Sociedade secreta que tinha conservado o nome da Ordem dos Templários, em esquecer a paite mais criminosa dó juramento execrato- n o que se fazia prestar aos seus Membros , pois que a ( *49 ) morte de Clemente V. , de Felippe o Beilo # do* accu- sadores e inimigos tanto de Jacques Motay , como dos outros Cavailôiros que haviaõ sido condemnados , fez abandonar o projecto da vingança que de primeiro se tinha formado, e nao teve já outro algum objecto se- não o restabelecimento da honra da Ordem. Bem de- pressa esta nova ídéa teve a sorte da primeira , e nao tinha ainda decorrido um Século quando se perdeo de vista, pela morte de seus autores, e dos primeiros dis- cípulos destes. Os novos Cavalieiros naô viraõ então no objecto da Ordem senaô allegorias , cujo natural ef- feito foi inspirar o mais immoderado gosto por co*'açóei dos textos da Escritura Santa. De todos estes factos re- sulta que o juramento execfatorio he hoje nas Lojas Ma- çonieas sepi motivo, e sem objecto, U&i '■£>. MISCELLANEA. Ittvium spectacula rertim , Virg. Georg. ILngãno. Frederico I. da Prússia , quando um Solda- do novo apparecia na Parada , costumava perguntar-lhe C< Que idade tens? » — « Quanto tempo me tens ser- vido ? » — • n* sequencia do phosphato de cal , que dá dureza e soli- dez aos ossos , por naó ser fornecido ou depositado na sua substancia em devida quantidade. Pelo que a differença na apparencia e natureza da doença piovém da differença da structura da parte em que occorre. Assim a irritaçaõ mórbida que perturba e mutação da cuticuia , terá differente apparencia da qm tem logar quando perturba a mutaçaõ do rete muco- Sism, e da verdadeira pelie. -Rsta differença he forte® mente provada no pericraneo. Quando confinada á cu- tícula , exhibirá uma apparencia furfitracea 5 ou tinha ; — estendendo-se ao rete mucosum , mostrará apparencia d© ozagre ; e se ainda penetra mais constituirá um frun- cho * fe estas differentes affecqóes teraó outra vez diife- rente apparencia á proporção que forem acompanhadas com estado de super , ou sub- ignição. Afóra as doenças enumeradas acha-se ? (em um no- vo systema) uma classe de doenças de causas mechani- eas. Á primeira ordem desta classe nasce da compressão , e comprehende apoplexia , e hijdropesia . — Nascendo a primeira da compressão do cerebro 5 a ultima da com- pressão das veias , particularmente do fígado. A icterí- cia pertence também a esta divisão, por causa da obs- Srucçaô do dueto biliario pela concreção biliaria. A segunda ordem nasce da laceraçaò , como he~ mopttf , por causa da ruptura dos vasos no bofe , e a hepistaxis por outra semelhante ruptura nos vasos do nariz. Forma-se uma terceira ordem da perda da susten- fcaçaó natural , como spina bífida , aneurisma y ruptura , ©rc* Outra classe comprehende doenças paxasitieas d© que ha duas divisões , interna e externa. ( ) A primeira comprehende differentés éspecies âé vermes , hydatidos , pedra , <&c. ; a ultima consiste de sarna , doença pedicular , grr. Nesta classificaçaó se púde fazer excepçao da pedra da bexiga , á qual se tem dado aaimaçaô e se tem re- cebido como producçaô parasitica vivente; porque ao éxamina-I* chymicamente , ella possue de certo proprie- dades animaes , e mostra ao mesmo tempo uma struc- tura regular formada* Desta exposição no principio da vida animal, @ dos principaes phenomenos da doença , o còrpo huma- no assemelha-se a um laboratorio , em que constante- mente se agita uma variedade de processos , regulado em seus movimentos , e tendo sua existência começada e continuada pela acçaó das poderás calonficantés , jun® tos eom suas funcqoes sencientes e intellecíuaes. Por tanto no tratamento da doença a attençaÕ a estes po- deres combinados he que deve dirigir nossa conducta» Âo txaminar este interessante objecto * já nás vimos que a alma, principio que se eleva acima da matéria s tem uma influencia predominante sobre esta , e partícu- larmente sobre o orgaõ chamado cerebro ; que o seu po- der excede ao de um agente chymico , e que em con- sequência desta forte «reguladora influencia que possue t lie muito provável que a efücacia da medicina , e de to- das as outras matérias applicadas á cura da doença , de- * penda muito da confiança do paciente , e da impressão que a sua alma recebe do lísongeiro pròspecto que lhe ofFerece o seu uso. Alguns remedios certamente fazem muito bem pelo própria desgosto que excitaò na alma s como a asa fétida , &c. No tratamento de doenças chronicas, o principal ponto de attenqao he o estado dos orgãos digestivos* O estomago , como digestente chymico , he o grande preparador do nutrimento , oíficio de que grandemente depende a existência e saúde do systema»  importân- cia deste òífieio he particularmente notada pela analo- C *59 ) gia do! Reino vegetal. Um arbusto, cujos ramos vaó murchando , mirrado , e enfermo restabelece-se logo em se transplantando de máo para bom terreno , onde se faz forte , grosso e vigoroso , assim pois no animal 0 uma conversão própria do alimento em chylo produzi-* fá igual effeito. Mas nem só he necessário que se for- neça própria nutrição no estado de saude , porém tam- bém se requer que as partes supérfluas ou feculentas sejaò removidas diariamente dos intestinos por serem aptas a decompor-se pela acçaó do calor , nos intesti- nos 9 e assim produzirem seria damnificaçaó ao corpo* Tal impressão tem isto feito a Mr. Abernetby que quasi naõ ha uma doença que elle naó attribua ao es- tado desordenado dos orgãos digestivos, e para cujo re~ medio naó regule o tratamento nesta conformidade. Pó-* de-se aqui tomar em consideração um grande erro 113 ■vida ordinaria , taõ prejudicial á saúde 5 a saber o cos- tume de se entregar a vinho ou outros licores estimu- lantes no tempo ou depois de jantar. Estes naó saó necessários para a acçaó do estomago em s^úde 5 ao contrario devem produzir dam no evidente por acelera- rem as suas funcçôes. Agua fria he o melhor promotor da digestaó na mocidade e vida media, e o vinho he um cordial que só ss deveria reservar para os enfra- quecidos poderes e incompleta digestaó da velhice. O al- cobol do vinho parece também entrar no sangue, pois que o ar expellido do bofe de um bêbado está delle impregnado. Semelhante combínaçaó deve necessaria- mente prejudicar o cerebro , e mais cedo ou mais tard® produzir damno geral ou local* Ainda uma vez: no tratamento das doenças a ida- de do paciente he um ponto que serve de regular 3 nossa conducta na applicaqaó dos remedios. Depois dos cincoenta annos passou a hilaridade d^ vida. Os poderes do systema começaó a abater , e o seu primeiro vigor a descair. Em consequência da mutaçaó imperfeita pre- para-se para succeder ? a morbosidade , ou strucíura c i 6o ) ârrnnjada , como ossificaçaó de artérias , densidade de partes, Sue. O systema nervoso como já temos dito he menos excitável , ou susceptível de impressões. A ple- nitude arterial, ou plethora , que distingue a mocidade * tem já passado ao systema venoso , onde o sangue se retarda e se accumula em difrereirreá partes. No periodo em que occorre inflammaçaõ, e em que a sangria pó« de ser indispensável como remedio , será necessário at* tender com extrema cautéla ú quantidade e qualidade do sangue, Deve-se empregar a mesma attençaô em diri- gir o uso de qualquer remedio activo para reagir â doença. Nas doençaá em qoe o usO continuado de mercu« fiô se julga necessário dever-se-iao_. preparar para sua hibiçáo o estomago , e o systema ; porque se o estorna**» go estiver desordenado , e se tiver gerado azia morbx® da, seguir-se-á purgação, du diarrítea. Por isso em qualquer doença chronica , antes cfe se entrar oa cura c gerá neceSsariò algum tràtamentò prepáratorio para se- gurar o stfccelso dos meios que se âdoptafem. Pofém comõ o Successó dá Medicina prática depena de em grancfe parte de estarmos beni rnstmidos dos ha* feitos t constituição do paciente em estado de saude 9 como tãmbêm da séde e natureza da mofestia f conclui- remôs este artigo com as necessárias perguntas que se devem faZer aos pacientes , cujas respostas fornecerão 8 necessária informação; com algumas observações cujò òbjecto he elucidar mais cíaramente a natureza da doen*« ça , e âpontár ô mais judicioso plano de tratamen* to. He facto bem sabido . que òs Médicos das grandes Cidades, tendo muita fréguezía , pcucaS vezes Se dad tempo para obterem a requisita ínfownáçaõ relativa á peculiaridade da constituição do paciente — sua con- formação , hábitos, e outras circunstancias * — * que p'o*. deriaÕ tornar muito improprío o remedio applicavel £ doença. Taõ importante ( como inquestionavelmente he) íal informaçaó , he pratica corfimurn de muitos' Medico? limitarem a minutos o tempó qué gastao com o pá» dente ; assim , com mui superficial conhecimento dá verdadeira sítuaçaò do doente, e provavelmente áó liiesmo tempo perféitamente ignorantes de algüma par» tlcularidade da constituição , oü do estattie natural da seus pacientes escreverão uma estudada e. mysteriosà re- ceita , e com um ar de gravidade daráõ algumas direc* çóes a respeito da dieta , &c. He bem evidente que o dhjectO de taes Medicõs he *ó o interesse da pagâ I Taí lie a prática destes Médicos rutideiros qufe degradáõ a sita profissão em Um trafico , itiuitô inais deshoriirosO do qiíe ô do mais abjectd mechahicô. Uma pessòa que toma sobre si à obHgàçaó de as»» sf st ir aos doentes , devería possuir humana diSposiça6 é intenções benevolentes. Havia dé cônsiderür * que a suã eommissaô he muito extensa 5 e que comprehende to- das as coisas que de algum moda póderrí restâuraf oU ameliorar a saúde de seus pacientes. A compaixad ;pâ- rà com òs afflictos he uma obrigàçaõ geral 4 porém tèiíi particular referericiá corri uma profissão i cujo üójcò emprego consiste em consolar uma grande parte das misérias dâ natureza humana. Êm todas as partes da nossa conducta pàrã com os doentes deveria traOslüzif humanidade e beneVolenciá : nem só deveriamos possuir virtudes j mas também exercita-las do iriodo mais afira-» ve! e benigno. (< A afabilidade das maneiras ( obgerVâ )> um escritor elegánté e humano) faz cõm qtie a vlsi» )| ta de um Medico pareça sentir-se como á dò Anjo )) da guarda, mandado a prestar consolaçaó $ e confor- >5 to , ao mesmo tempo que as visitas dos carrancudos Í> e insensíveis se assemelhao ás de um Ministro cíe vin-* )) gánça e destruição. )) Ainda que a hiimànidâde deve ser o primeiro tra- ço do nosso caracter, ternos com tudo de acaiitelar-nós érh que naô rios deixemos levar da ternura syínpa- tíca á tal ponto que se nos enerve ó espirito , ou nós incapacitemos por fnodó algürh dô mòderaf as aífíic- V©!. II. Num. II. L ( i<5i ) coes que devem ser o objecto da nossa commíseraCao# Firmeza de caracter,, e presença de espirito, sa© tan -•» bem requesitos que deve ter o Medico. « Certo gráo de ternura (observa o mesmo escritor) está íaõ longe de ser inconsistente com estas qualidades , que eUa ten- de em grande parte a promove-las , fornecendo pode» rosa força para as praticar; porem quando levada a ex- cesso, póde deixar de corresponder ao mesmo fim. )) Naô he pequena a vantagem que se tira da assistência do Medico , o ser este suífidentemente interessado em pro- mover os melhores meios para o restabelecimento do paciente , estando ao mesmo tempo livre das agitações que poderia sentir em consequência de uma connecçaó mais immediata que ou a amizade , ou o parentesco lhe fizesse ter com o doente, e que necessariamente havia de escurecer o juizo ? e embaraçar o procedimen- to dos que se entregaõ a tal perturbacaó. Deveríamos conservar um certo grão de influencia 5 e autoridade sobre os nossos • pacientes y o que está muito longe de ser iocoberente' com a sympathia , ou ternura Requer-se isto , para que as nossas direcções sejaõ bem observadas. Se um Medico perder a sua auto- ridade , o paciente será míallivelmente prejudicado , em consequência de se naô seguir um tratamento fixo e de- terminado. Applicaõ-se remedios sem prudência , e abandooaõ-se antes de se ter podido fazer delíes stiffi* ciente experiencia: saõ multiplicados pela officiosa im- pertinência da curiosidade , que bem frequentes vezes se intromette com os doentes , debaixo da apparencia de amizade ; e quando o paciente , em consequência da inac- tividade do remedio he bastante feliz para escapar a positivo damno , succede muitas vezes que se deixaõ passar os momentos críticos , em que alguma coisa se podia fazer a favor da melhora» As agradaveis maneiras que devem acompanhar os nossos oíficios para com os doentes , torna-os dobrada- mente valiosos: augmentao até a efficacia do remedio 9 ( tè 3 ) pelo conforto que daó aos espíritos , e nao saô menok Uteis em casos onde o alivio do mal he apenas objec« to da esperança, reconciliando o paciente com ú saà situaçaó, o que çontribüe mais que tudo para amaciar o leito da doença, e, alem da influencia da lisonja $ adoçar o frio prospecto-da morte. Apontar, com tudo» a linha de conducta qué de^ veriamos seguir em todas as occasiõés , excederia intiitd os limites destas reflexões. A nossa conducta cnmô Ale* dicos deverá ser sempre regulada pelos preceitos dá chrístandade : em vez dé Sermos levados por motivos sordidos , deveriamos tratar de realizar o abstraio re- quinte dos Filosofos — - p?o- ductos da venda á Caza Pia em Pozen , e Gazas de Ca- ridade, e Hospitaes de Warsaw. Fra iça. Tendo a Societé d y emalation designado uma Commissaó para relatar o estado das cabras de Ihibet (agora perto de Beibeuf) decidio que o clima de Fran- ça he muito proprio para- estes animaes , que parecem nao degenerar , e que o peilo mostra possuir todas as qualidades necessárias para a manufactura dos muito es- timados Chailes. Estas cabras saó de facil sustento, e nada teem das qualidades desagradaveis das cabras com- muns Seu leite ha mais abundante , e o bode nao tcin aquelie cheiro forte que em geral caracteriza estes ani- ( i66 ) mae tos milhões de cruzados , com que todos os annos lhes compramos seus produetos , e manufacturas : Jágora, dizemos ; porque tudo esperamos desta reunião de ho?* rnerss iHustrados , ricos , e amantes de Portugal* Inglaterra . Em Yarmouth fez-se ultimamente com successo , experiencia para salvar as vidas de Naufragio, pelo plano de Mr. TYegrouse , praticado pelo Almiran- te Spranger , que prome.tte grande utilidade. Consiste a experiencia em deitar do Navio í praia , por meio de um foguete , uma cordinha * e quando a communicaçaò está assim estabelecida „ atar a esta uma corda pouco roa jmodaqaô que a justiça dieta , e que a mutua conveniên- cia de ambos os Governos recommenda. A respeito das dissenções internas que se passaó mo império de Marrocos , ' S. M. se propõe a obser- var a mais perfeita neutralidade , naõ favorecendo algu- f ma das duas partes contendentes , que , ^com alternado successo , combatem ácerca do Governo daquehe Paiz. O Governo dos Cantões Suissos naõ mostrou op- posição ao Decreto das Cortes para se dernittiiem os Regimentos Suissos ao Serviço de Hespanha, sem ter ex- pirado o termo fixado pela Capituiaçaõ ae 1804. O ho* vernò Helveticò energicamente reclama as índemnisa* ções estipuladas no dito contracto a favor dos indiví- duos demittidos , e o Governo de S. M. espera que es- ta trasaeçaó se concluirá satisíactoriamente para ambas as partes. _ . O nosso Ministro á Côrte cia Famia foi reconheci- do por S. M. Imperial : estaõ por tanto estabelecidas as relações diplomáticas da Hespanha com a Rússia ; s continuamos em boa armonía com o Gabinete de S. Pe- tersburgo. A insalubridade do clima de Serra Leoa Fez neces- sário remover os Hespanhoes , membros da Commissaõ mixta aíii estabelecida com o fim de vigiar a execução do Tratado relativo ao Commercio de escravatura ; po- rem S. M. influído por sentimentos de humanidade , e ( m ) religiosamente escrupuloso do complemento de seus contractos, autorisou o nosso Ministério em Londres para tratar com o Governo Britânico , de accordo com o Diplomático Portuguez naquella Còrte , de remover a Commissaó rnixta a um sitio mais saudavel , de sorte que a segurança dos Commissarios se combine com a importante obrigaçaó que teem a satisfazer. Tendo-se adopfado em Portugal instituições políti- cas, anaiogas ás que felizmente reinao na Hespanha „ era de esperar que houvesse chegado o tempo de finda- rem as differenças que existiaò entre as duas Nações. Todavia S. M. tem visto com o maior desgosto , pelo procedimento do Governo Tortuguez , que o seu de- zejo em estreitar os mutuos interesses das duas Potên- cias , e formar amais cordial amizade com a Mooarchia Portugueza » parece , em consequência da conducta do Governo Portuguez , e successos que desgraçadamente teem occorrido , naó ter achado sentimentos correspon- dentes. Quando na Còrte do Rio de Janeiro se fez certo ? que a Constituição formada pelos Deputados ás Côrtes convocadas em Lisboa , tinha sido jurada em Portugal , e quando o Rei tinha tam-bem dado igual juramento, foi entaò que o Governo Portuguez escolheo aquelle momen- to para constimrrsar a sua aggressaó contra as Provindas Hespanholas do Rio da Prata , fazendo mover a maqpi- na de uma política artificiosa , a fim de que os habi- tantes das ditas Províncias reunidos em Monte-Video resolvessem , como de facto resolverão , separar-se da Monarchia Hespanhola , e incorporar-se a Portugal, Pa- ra que se desviassem todos os obstáculos do meditado plano , tomaraò-se medidas para solemneraente se reco- nhecer a independencla do Governo Insurgente de Bue- rros-Ayres ; nomeou-se para aili um Agente público, -e fez-se a promessa de que seria reconhecido em Lisboa um Agente de Buenos-Ayres . Logo que a Còrte se removeo do Rio de Janeiro parâ Lisboa, e que o Governo do Rei protestou ener- gicamente ao Governo de S. M. Fidelíssima contra taõ extraordinário , e inesperado procedimento ; $. lYl. se lisongeava de que o Governo desapprovaria a conducta que havia adoptado ácerca deste delicado ponto , nao só ppla convicção da injustiça e nullidade de taes me- didas , como também para se nivellar com a politica que as outras Potências adoptaraò reiativamente á emancipa- / ( >73 ) çao que da Hespanha pretendem os Governos Instir gen- tes das Provindas ultra-marinas A pezar de taô justas considerações S. M. tem visto desvanecer aquellas bem fundadas esperanças , pois que o Governo de Poríugai , longe de satisfazer ás queixas e repr-csentaçóes de Hes- panha , excita desconfiança peia especiosa resposta com que pretende defender as transacçóes no Brazil. A solemne: declaraçaõ de S. M. Fidelíssima , de qua fíao ha Tratado existente entre Hespanha e Portuga! á suppondo os que estavaò previamente em vigor desfei- tos pela invasaõ Franceza , he também uma circunstan- cia que demanda a mais seria attençao do Governo* Em consequência daquella oeclaraçao , nao tem o Governo Fortuguez attendido a alguns artigos dos Tratados a que nos havemos referido em apoio das reclamações feitas para se entregarem os sediciosos refugiados naquelie Keino , e em consequência da recente resolução adop~ tado pela Corte de Lisboa houve ordem para se pôrem em liberdade os facciosos Barca e Giceron. Naó obstante o estado de nossas relações com Por- tugal , naó duvida S. M. que a amigave) correspondên- cia que continua a conservar-se com o Governo de Por- tugal , tenderá a acommodar satisfactori amente todas as diferenças, Naó se póde persuadir o Rei*que se des- preze o reciproco interesse oe ambas as í otencías em estreitarem os laços de amizade e boa vontade ; especial- mente quando he evidente a utilidade de uma uniaó fir- me # e cordial nos princípios liberaes proclamados por ambas as Nações : sendo também prudente naó pôr a prova aquillo que poderia exigir a dignidade e decoro da Naçaó Hespanhola , cuja provocação seria respondi- da com a decisão e heroísmo proprios desta Naçaó, Nossas relações de amizade e boa amionia com a Côrte de França, naó teem soffrido a mais pequena al- teraçaõ. À febre amarelfa , que no anno passado affiígio algumas Províncias de Hespanha , e mais particularmen- te* a Catalunha, induzio o Governo Francez a postar nas fronteiras um Cordão Militar Sanitario , que , naó obs- tante ter dado causa a algumas irregularidades nas com- municaçóes e relações mercantis dos dois Paizes » naó deo motivo de queixa, considerando o direito que tem toda a Naçaó de attender , sobre todas as coisas, á sua própria preservação* Parecia, com tudo t natina) que se removesse o cordão logo que se visse cessar o contagio Naó se fez isto » talvez por apprehensaó de que a moiestia reap- parecesse ; porém teem-se feito sobre este objecto variai representações ao Governo Francez , e instruio-se o nosso Ministro em Paris para pedir explicações a este respeito. Sendo o Governo de S M. informado de que se tinhaõ refugiado em França alguns Hespanhoes , cujas impotentes tentativas para subverter o Systema Gonsti- tücional haviaò tido o desastroso resultado que se po- dia esperar de taes tramas , sollicitou e obteve de S. M. Christianissima o mandarem~se estes facciosos para o in- terior , e destribuirem-se por differentes pontos. O Go- verno Francez pedio , em recompensa, que se adoptas- sem em Hespanha medidas de reciprocidade , e que, a alguns indivíduos daqueba Naçaõ que excitavaõ àppre- benções na França , ordenássemos que se retirassem da nossa fronteira. S. M, houve pòr bem acceder a este pe** ditorio, fundado em princípios de mutua convemencia.. Os últimos successos de Navarra attrairaõ ás nossas fron- teiras alguns sediciosos Hespanhoes com o fim , sem dá- vida # de protegerem os movimentos dos facciosos. Im-* tnediatamente S. M. transmittio ordens ao nosso Pleni« potènciario em Paris , para que requeresse o removi- mento dessas pessoas para o interior ? e o Governa Francez deò as ordens qíie se lhe haviaó requerido. Também $.* M. ordenou ao seu Ministro na França o expôr ao Governo de S. M. Christianissima , que elle es® pera oaõ se daráõ auxílios aos facciosos refugiados na- quelle Paiz ? e que sè adoptaráõ meios para previnir á introdueçaõ de armas em Hespanha * ou munições de guerra ? destinadas a supportar os Sediciosos, Igualmen- te tem sido objecto da representação ao Governo Fran- cez , o abuso da sua liberdade de imprensa feito por alguns Jornaes Francezeé para atacar nossas sabias insti- tuições , e dar uma idéa desfavorável dos successos da? Hespanha. AqueJle Governo prometteo tonur o objec- to em consideração i mas em geral pedio desculpa de naò adoptar energicas medidas contra esses abusos * mostrando que a censura que pratica , he especialmente limitada aos negocios internos do Reino, e qúe naõ he fácil reprimir a indignação que os Censores , e Jornalis- tas da Franca sentem com os insultós frequentemente dados aos Funccionarios Francezes nos papeis periódi- cos de Hespanha. Para terminar as frequentes çüssenções suscitadas entre a populaçaõ fronteira da Hespanha © França , oçcasionadas principalmente por disputas ácer- ca das pastagens, e para estabelecer a duvidosa demaj- caçao dos limites das duas Potências , ó Governo Fran- cez fez ver a necessidade de fixar precisamente as res- pectivas balizas por meio de Engenheiros expressamente nomeados para aquelle fim. Verificou-se a demarcaçaõ do curso do Rio Reus como baliza da Província de Catalunha. O infeliz , resultado que seguio os esforços feitos nos Reinos de Nápoles e Sardenha* para preservar o Sys* tema Constitucional que a ! li se havia proclamado 9 tem reduzido a estado passivo as nossas relações com aquel« 3 as Potências. Continuamos a conservar boa intelligenda com a Côrte de Roma. S, San tida 'e tern aecedido a muitat pertenções do Governo Hespanhol que as nossas insti« tuições políticas fizeraõ indispensáveis ; outras de seme- lhante natureza 5 e necessárias ao bem-estar da Nsçáõ * saõ agora objecto de activas eomm única ções entre os dois Gabinetes. Tal he em substancia o estado das nossas relações politkas com as Potências Estrangeiras. Á attençaõ dô $ a M, dirige-se, e sempre se dirigirá, a conservar % Naçaõ Hespanhola no inestimável bem da paz ; a sus- tentá-la no gráo a que tem jus entre as Nações pür suas repetidas provas de herôismo; e a fazer sabido 9 que havendo elle de respeitar reiigiosamente os direitos das outras Potências , nunca soffrerá que se violem os seus direitos 3 nem as instituições políticas que fazem aven- tura dos Hespanhoes , intimamente unidos com sèu Rei Constitucional. — Francisco Martinez. de Ia Rosa, Lisboa 4 de Maio. A Gazeta , Diana do Governo * publica hoje ubn requerimento que ao Soberano Congres- so dirigio o Marechal Luiz do Rego Barreto 9 para se lhe decidir a qüestaõ a respeito da süa conducta , pri- meiro como Governador , e logo como Presidente da Junta Governativa de Pernambuco. Este requerimento he escrito na lingoagem de um Soldado , e de um ho- mem que parece naõ temer. Pede que a Commissaõ no- meada ha muitos mezes para examinar os seus docu- mentos pró ou contra, dê o seu parecer com brevida- de , visto que , as demoras 3 qUe per mais de uma razao , elle sabe, terem sido necessárias, saô já inúteis; e até era errado té- las julgado precisas Sabe que tem muitos inimigos ; porém elle naõ os teme , escudado na sua consciência, nos seus documentos, e na inteireza dos seus julgadores» Recusa acceitar a amnistia porque mé sé julga culpado : e quer antes , rtiefecendô-o , morrer n'um cadafalso. Expõe que a nroposiçaõ para se man- dar a Pernambuco devassar delle , he injustíssima , por causa de estar a lli o rnándo , a influencia , e o poder nas mãos de seus inimigos , que aterrarão e dissiparão seus poucos amigos. Naõ tendo atcgora apparecido ju«* dicialmente accusador algum , bem provável he que mui- tos appareçaõ na occasiaõ ; porém elie , nâõ lhe sendo necessário recorrer aos meios de defeza franqueáveis a todos os réos , nenhum accusador julgará incompetente; e para defender-se só empregará os mesmos meios que seus inimigos teem para o atacar. Tal he a lifigoagem de Luiz do Rego Barreto. Os últimos successos de Pet- nambuco , e o estado em que eíle diz achara aqueJla Cá* pitania * quando tomou alli as rédeas do Governo 5 con- fia s que justificarão a sua eonducta. Nao sabemos se as medidas^ de rigor por elle empregadas, servirão ou na© para apressurar estes successos : o que todavia sabempg he , que a sua estada alli os tinha sopitado , e que só occorreraõ depois que elle deixou aquella Provinda. Se- ja porém o que for , o peditoriõ deste Marechal para se lhe despachar a sua causa , he da mais rigorosa jus- tiça. 'Lisboa 6 de Maio. A Còrveta Heroina aprezáda ad sair de Gibraltar peia nossa Fragata Pérola, foi por sen- tença de $o de Ábfil julgada boa preza, pelo Auditor Geral da Marinha Naõ tínhamos noticiado a tomada desta Corveta , pela incerteza eul que estavamos de , se seria julgada boa ou má preza. Consta da exposição da sentença, que a Heroina^ fundeada nas 1 lhas Maldivas , tomou uma Escuna Americana, que alli entrara nos fins de s$20, a qual rémetteo cotli sua cafga a Buenos- Ay^ res — - que em Junho de í$2i ao mar de Cabofrio to- mara o Brigue de Guerra E espanhol Mayjni , vindo de Lima para Cadiz coiíi carga de dinheiro , que paásaraó para seu bcnrdo , guarnecendo o Brigue para andar erií sua conserva roubando •«- que em 17 de Junho passa* do * na mesma altura dando caça ao Bregantin Infante D. Sebastiaô , e naõ o podendo apanhar por ser mais veloz, fôra sobre uma Galera Portugueza — *■ que na al- tura da Ilha de S. Vicente fez vír a bordo o Capitaó de uma Escuna Portugueza, o qual acompanhado de um seu escravo , foi este , suspendido por um laço deitado a a pescoço , a ponto de 0 affogarem , pára declarar onde o senhor tinha o dinheiro 9 c solto ? quando nada des* ( 177 ) tóbrfo ; 'áufantfe cuja operaçaõ foi ô Capitao entretido na Camara peio commandante do Corsário — que eitt Jüfho na altura da Bahiâ tornara o Navio Portuguez Viscondessa do Rio Secco , que levaraõ á ilha de S. Vi- cente, passando para sèu bordo o mastro, vélas , at- inas &c, , e o resto da valiosa carga para o Bergantim Americano AUgotor , que a levou á Ilha da Boa-V ista , ©ode a baldeou para o Hunter de Londres i fcontractaii- do para a levar a Buenos- Ayres ; sendo 'Muito para U- mentâr que este cont acto se tratasse nwn Porto deste Rei~ m na presença , e com appròvàçao do Governador Pòrttt - gaez ! — que tvõ dia E de Agosto, navegando ao Su! de Cabo-Verde, junto com o Maypu derâõ caça ao Bef- r gantim de Guerra Portuguez Providencia , fazendo sinal ao Júaijpu para o atacar , o que fez rofnpendò o fogo , * dotando o combate ufna hora e tres quartos , em que ú Mâtjpà foi obrigado a retirar-se em consequência dos estragos que valorosamente lhe fizera ò Providencia * 7 e então o Heroína rom peo o fogo contra dle, que durotí Ãté o anoitecer , côntinuandó a caçá-lo toda à noite. Quarenta e cinco homerrs dó? aprezados espontaneamen- te cónfessaraô que ò Heioina exercitava o trafico de pi- rataria., tomando no mez de Agosto de sSzo na alrtt- ra das Ilhas das Piores o Navio Portuguez Ca lota, vin- do da Bahia com carga para Lisboa , durando o comba- te mais de duas horas , mandando o Commaftdâcte do Heroina fuzilar dois Officiaes , è quatro Marinheiros da Sua tripulação, por alguns dizerem que nnõ vlnhaõ fa- zer guerra á Bandeira Portugueza , classificando estes ditos em levantamento Mais alguns factos particulares , poiém todos atrozes , provãó o trafico da pirataria . e he Sobre evidencia que se funda a sentença. Damo-nos pois os parabéns , por estar este roubador dos Mares , já inhibtdo de continuar suas depradaçoes : e muito esti- maremos que o producto da venda aqueça as algibeiras da volorosa tfipulaçaõ da Perôla , para que a nossa Ma* .rinha , além da muita honra que adquire por semelhan- tes acçueS , tenha tambern algum dia de prazer com o uso da sua preza, è tudo isto junto influa a pratica- rem-se acções taô dignas de Poítuguezes. A tripulaçaõ do Heroina consistia em Africanos um , Allemães um , Francezes dez, Gregos um , Hespanhoes seis , Hesoa- nhoes Americanos vinte e seis , Hollandezes dois , In- gíezes quarenta e dois, Ingíezes 1 Americanos dezenove, índios quatro, Italianos setô/ 3 Potruguezes um, Puis- Vo K IL Num. IL ‘ M sianos dois , Russianos um , Suecos tres : ao todo cen** to e vinte e seis. Hamburgo 6 de Abril . He sabido que se naò tives- se morrido a Prjnceza Carlota , a Grã-Bretanha estava ameaçada de perder o Hanover ; por quanto a Consti- tuição daqueile Reino exclue as femeas do Throno. Depois da morte de Jorge IV., a Princeza Carlota te- ria sido Rainha de Inglaterra, e o Duque de York, Irmão do actual Rei , teria sido Rei de Hanover ; po- rém este mesmo caso poderá apresentar-se de novo. Desta forma a posse do Hanover póde considerar-se como precaria no futuro para a Inglaterra ; e naõ será estranho que esta pense em trocar este Paiz Allemao por outro mais proveitoso pela sua situaçaõ. Diz-se pois que está projectada a cessão da Ilha de Zellandia , onde se acha Copenhague , de Funen , e de outras pequenas Ilhas pertencentes ao Reino de Di- namarca , e que dominaó a entrada do Báltico, como também a cessão da Península da Jutlandia , ou antigo Cúersonesò Cymbrico, com Sleswkk até o Eider , rio que separa as possessões continentaes da Dinamarca da ÁÜemanha : segundo este plano, o Rei de Dinamarca naõ conservará no Território Allemao senaó o Holstein , e o Ducado de Lunemburgo, e se lhe dará em indemni- saçaõ todo o Reino do Hanover. Dizem roais que neste caso pagaria a Inglaterra to- da a dívida publica do Governo Dinamarquez , a qual he bastante considerável. Suppõe-se que a Corte de Suécia naõ se opporá á realisaçaó deste plano ; porém esta noticia tem causado a maior sensaçaÕ em Peters- burgo e Berlim.  imtaifaçaõ de um Rei independen- te em Hanover , e a separaçaõ do Paiz Hanoveriano da Inglaterra seriaõ sem dúvida objectos apetecíveis pa- ra a confederação Germaníca , porque por este meio ganharia a Allemanha o vêr-se livre do influxo Ingfez , porém a Prússia pdrderia a esperança de adquirir p Ha-, nover , que lhe he taõ necessário. Espera-se dentro em pouco em Copenhague o Príncipe Oscar (filho do Rei da Suécia). He facil de crêr que a Rússia, e a Prússia faraõ todos os seus esforços para se oppôr aos planos da Grá-Bre^anha , a qual, possuindo o Sund , conse- guiria a maior preponderância marítima que a que tem tido atcgora. Lisboa io de Maio , Por intervenção do Encarrega- do dos Negocios de S. Al. Britannica, se recebeo um C 179 ) ©ffido £ segunda via) da Junta do Governo Provisorío de Gôa , datado em 15 de Outubro, felicitando o So- berano Congresso , participando o modo como aquelía Junta fora instalada, e expondo que se está alli pro- cedendo ás eleições dos Deputados para Cortes , os quaes apenas eleitos marcharáõ ao seu destino. Assim os prin- cípios iiberaes , proclamados primeiro no Doiro , teem feito a viagem do Mundo , passando de Portugal í America , África , e mais remotas partes da Asía. O pon- to de uniaõ marcado em Lisboa , fará ouvir na Safa das Necessidades ^ as precisões dos mais longinquOs Povos, que compõem a vasta Monarchia Portugiieza : e estas precisões mostradas com energia por seus Representan- tes haÕ-de pela Totalidade da Naçaõ ser remedeadas. Sim, do centro da uniaõ Portugueza , rebentaráõ , co- mo de um vasto manancial , immensos regatos de pros- peridade e beneficencia , que haõ-de borrifar com seu consolador orvalho as mais adustas e esterilizadas regiões da grande Naçaõ. Lisboa 12 de Maio . A falta de comparecimento no Congresso que muitos Srs. Deputados faziaó sem previa licença, e mesmo sem participaçaõ ao Sr, Presidente, havia suscitado uma indicaçaõ d© Sr, Freire para que estas faltas fossem obstadas A indicaçaõ foi approvada , e a Com missão do Regimento Interior das Côrtes encarre- gada de apresentar uma medida para se obviarem seme- lhantes faltas, O parecer da Commissaõ comprehende os $ artigos seguintes : li Que se ponha em inteira observância o Regi- mento Interior das Côrtes nos paragraphos 7 , 8, 9^ e lo do Titulo 2. Que nas actas , e chamada , se declarem em ar- iigo separado os Deputados , que faltaõ ou com licen- ça , 011 com participaçaõ feito ao Presidente , com dif- ferença dos Outros. b Que nenhuma licença por mais de % dias se entenda concedida , com vencimento do subsidio con- cedido aos Deputadps ; salvo por causa de moléstia , ou outra taõ involuntária , quando o Congresso espressa- snente assim 0 declare. 4* One as licenças se naõ cotlcedaõ ( excepto por moléstia) sem previa informação do ' Secretario sobre o número de Deputados ausentes. 5 » Que os Deputados ausentes sem licença se man- dem recolher com a maior brevidade. M 2. Os sábios e imparciaes Legisladores, que foem íeis para os outros também se naõ esquecem de as fazer pa- ra si ; pois que sem leis nem talvez os Anjos proce- dao uniformes. Depois de approvado este parecer temos tido o gosto de haver dia em que vejamos juntos to- dos os nossos Representantes, faltando só ié que teem licença. Lisboa i?. de Maio. Pela Galera Sarda , Verdadeiros Amigos , chegada no dia U a este Porto , e vinda do Rio de Janeiro com 200 pessoas pertencentes á Divisão Auxiliadora, consfao as novidades seguintes, contadas peio Tenente Coronel de Artilheria , Jozé da Silva Reis: A 4 de Fevereiro passou-se ordem aos habitan- tes da Praia Grande (onde aquella Divisão estava acan- tonada ) para se retirarem ou para a Cidade , ou para distancia de 6 legoas da dita Vílla da Praia Grande. R#e- cutada a ordem, sitiou-se por mar e terra a Tropa da Divisão y e negaraõ-se-lhe os mantimentos , e agua» A pezar do sitio , e das privações a Divisaõ conservou- se tranquílla , e quieta no seu posto ate o dia li , em que o Principe Real , montando a Fragata TJuiao , man- dou dal lí um Capitao Tenente intimar ao General Jor- ge de AvUlez,. que elle com toda a Tropa do seu com- mando embarcasse immediatamente , sob pena de , se o naõ fizesse , ser tratado como inimigo, a quem se naó daria quartel. Jnntos entaó , pelo General , os Com- mandantes dos Corpos , foraõ todos por accordo una- nime a bordo da sobredita Fragata , e expondo a S. A* R, com respeito e moderação seu comportamento 5 boas intenções , e assinalados serviços , comparando seu leal procedimento com o tratamento injusto que haviaõ re- cebido', pedirão', s-e lhes deferisse o embarque até que chegassem ordens competentes de S. HL e das Cortes». A resposta, que 8. A. R. deo a esta representação foi que deviaó logo embarcar, como se lhes tinha ordenado* Embarcaraó por tanto no dia 12 , e saindo no dia 1Ç do Rio de Janeiro , navegaraõ juntos até a altura dos Açores , onde se separaraõ por causa de um temporal». A conducta violenta do Principe Real para com tao di- gna e paciente Tropa, commandada por taó benemeri- to Chefe , como no-lo fazem vêr seus Ofhcios ás nossas Cortes , de que publicámos parte em nosso ultimo N.°, naõ dá por certo grande lustre ao herdeiro do Throno. A Divisaõ tinha para alli sido mandada peia maior au- toridade da Naçaò : queria cumprir í risca suas ordens ; « soffreo todas as privações pôr espaço de nove dias para naõ se afastar dc prescrito caminho de seus deve- res. Transigio, representou ao Príncipe' e vemos, que o fez com. dignidade , e moderaçaõ. Nao obstante , S. A- R. indifferente a todas as contemplações , surdo a voz da razaó , e aos gritos do dever , e talvez alluci» nado por faiiazes conselhos de cabeças esquentadas , nao sabemos com que vistas, ou com que política ( naõ eraó de certo as de evitar commoçóes , e promover obediên- cia) nada poupou para forçar a Divisão a um passo, oue nao estava na autoridade delle , fazer dar , em con- tra-ordem do mandado pelas Cortes : e com taes me- didas intempestivas , arbitrarias , e anarchicas quasi que deo o sinal para o rompimento de hostilidades , infrac- çaõ de disciplina, e derramamento de sangue, conse- quências necessárias de taõ arrebatado procedimento ; se a prudência dos Chefes , a honra dos Soldados , e o amor da ordem de todos elles , nao suffocassem sua na- tural bravura , e se a mais rigorosa disciplina nao lhes ■sustivesse o acelerado brio, que as aguerridas Naqões da Europa nao se fartaó de elogiar e admirar , quando os veem á frente do inimigo. Cabe-nos aqui , ( lançando já um véo sobre a conducta equívoca do Príncipe D. Pedro) desenvolver uma nova virtude das nossas Tro- pas Constitucionaes , e he • que assim como seus cora- qôes saõ de bronze para os approches do pavor , suas almas s^ó inaccessiveis aos abalos da seducçaõ , cujas ar- tes , parece , terem-se^todas empregado para os fazer va- ciliar na linha de seus deveres. Com bem ufania o di- zemos: os Soldados de qualquer Naçaó nao resist iriao firmes, como os Soldados Portuguezes , aos attractivos de commodos presentes , que se lhes offereciaò n'um Paiz distante , com os mesmos usos , as mesmas neces- sidades , a mesma lingoagem , o mesmo Governo , a mesma Patris , para em cumprimento de seus juramen- tos seguirem as ordens de seus Chefes ; arrostarem de- nodados o prospecto de desgraças , e soffrerem quietos os insultos que elles conheciaõ poder vingar. 2 Sfurembttrgo 24 de Abril, Ainda se nao publicou O Manifesto da Rússia , porém muitas Cartas particulares confirmaõ os grandes movimentos do Exercito Rnssia- no do Sul , e asseveraõ que o exercito de Litliuáma , e o da Polonia ti»* x aõ recebido ordem para estarem pron- tos á primeira voz de marcha. yienna 19 dc Abril , O Conselheiro de Estado De ( i8z ) Tatkcheff , teve esta tarde do Rei a audiência de des- pedida; amanliãa partirá para Petersburgo. Parece por tanto que a sua missaô está concluída ; e gerajmente se affirma em publico , que todas as difíerenças com a Porta se termjnaraó amigavelmente. JV3. De Tatischei? naó quiz esperar pelo Correio de M. De Lutzow. Pa- rece que os Officios de Constantinopla , que já tem em sua maó , saô sufficieotes a fazer-lhe decidir a partida , tantas vezes annunciada. Os Turcos concinuao a fazer preparações defen- sivas na Moidavia e Wallachia, construindo fortifica- ções em vários logares. A 5 do corrente chegaraó per- to de Silistria 6 00 ca r ros de munição. Píir/j $0 df Abril. Uma Carta' particular afirma que o Gabinete Austríaco recebera a 21 do corrente de Cons- tantinopla despachos de taõ importante natureza , que foraò i mm edi atamente levados ao Imperador, M. de JVletrernich despachou logo Mensageiros especiaes a Pa- ris 3 Londres, e Berlim; e em Vienna corria o boato, que tudo estava acabado com os Ottomanos , isto he que as hostilidades èstavaõ a ponto de começar. N, B. Vejaô nossos leitores os contradieçoes dessas opi- mÕe$ 5 e julguem se he focil ajuizar acerca de negocio s rs. Depurados emprsgaraõ toda a força da eloquência contra a mdicaçoz , e muitos outros a fa- vor da mdiçaçaó. Ate que o. Sr. Xavier Monteiro, mostrando a futilidade da questão, e a pouca mont* em que a tinha, sendo para ellç indifferente , qu e a f e - Jrdtaçao fosse recebida com agrado, ou sem agrado p a - ra o que nao daria voto, exigio que se tratasse da Or- : , m do Dia ; ao que , posta a questaõ a votos , foi de- ciuk o que a felecitaçaó se naõ lançasse na acta , com agradO" M ais serio debate se sustentou a respeito da in- d^açaõ do Sr. Lino Goutinho — para qu e naõ se con- ceda ao Governo a faculdade de mandar Tropa Euro- pa para a Bahi a . — As razoes que apontaraõ muitos i>rs, xJeputados contra esta, jndicaçaõ saõ fortçs e cheias e as do Sr. Pessanha, , energicas e viris, Seria, na ver- dade impolitjço e absurdo, que o Governo, a quem esta c or ^ada a tranquiJüdade , e segurança da Naçad 8 nao dispozessç das forças que a mesma NaçaÔ pae' em suas mãos % para com elías acudir ás^ partes da Monar- chu onde as julgar precisas, já para sustentar com di- gni iade os princípios fuodamentaes da Constituição qu$ os Povos espontaneamente jurarao , já para, reprimir 03 impulsos das facçáes , que tentem minar , e escarnecer estes princípios^ Ou a Bahia quer Constituição Portu- gueza , e uniaõ com Portugal 9 ou nao quer ambas as coi%as , ou quer uma , e naõ a outra, : se quer ambas como jurou, deve acceitar » e até bem-dizer os soccor * r ? s , que de cá lhe forem para as sustentar ; e no prin- cipio^ mui vívamente os requereu: se quer só Consti- tuição Portugiieza sem uniaõ com Portugal 9 diga clara- mente que já nao está pelos juramentos que fez , e nao ande comnosço a jogar as escondidas: e se quer a ju- rada * e proclamada uniaõ receba com gosto as ordens que lhe forem do centro da união : aquartele com ca- rinho os Soldados Portnguezes que taõ dignos saõ d® bom acolhimento , e empregue-os lá para desfazer os tra^ mas , e ardz de Fóra da Villa de Ponte de Lima , o Ba- charel Maximiano Ribeiro VaZ de Carvalho. Juiz de Fóra da Ilha do Pico , o Bacharel Leonil Tavares CabraL Juiz de Fóra da Villa da Praia , o Bacharel Sera- fim Giraó Rodrigues de Almeida. Juiz de Fóra da Ilha Graciôsa, o Bacharel Jozé Gaudencio de Campos Pessanha. Juiz de Fóra da Villa de Niza , o Bacharel Jozé Mendes de Abranches. Juiz de Fóra da Cidade de Bragança , o Bacharel Custodio Jozé Leite Pereira. Palaeio de Queluz em 15 de Maio de 1822 . — Jozé da $ilva Carvalho . Publicações novas , Nacionaes , e Estrangeiras,, Caihecismo das Virtudes M.o>aes % em fôrma cie Dia- logo, entre um Parroco de Lisboa, e os seus Fregue- zes 150 réis. Lisboa, 1822. i Reflexões ao projecto da Reforma das Ordens Re- ligiosas. Lisboa, 1822. O Cidadaõ Lusitano , mais correto , e accrescentado por Innocencio Antonio de Miranda, Abbade de Medrôes e Deputado em Cortes. Segunda Ediçaõ , 480 réis. Lis- boa , i 8 z 2 . Os elogios <í Cidade de Perto , e aos I ilustríssimos Senhores Manoel Fernandes Thomaz , e Manoei Bor- ges Carneiro. Lisboa, 1822. Dictamen de la Commission de Hacienda sobre rebaja de Sueldos , á fin de minorar los gastos públicos, y de suavizar la dureza de los sacrifícios de los contnbuyen- tes. Madrid, 1I21. Moral de Jesu Cristo y de los Apostoles. Comprende la vida y lecciooes de Jesu Cristo y la doctrina de los Apostoles 5 tomada litteraimerite dei Neuvo Testamen- to. Madrid , 1822. Dictamen sobre los diezmos. Por D. Antonio Jozé Ruiz de Padron. Madrid, 1822. Modo de estinguir la deuda pública , eximiendo á í& Nacjon de toda clase de çontribuiciones por espacio de diez anos. Por D. Juan Alvares Guerra. Madrid e Ca- diz , 1822. Tratado sobre Ârchitectura , comprehendendo a his- toria desta Arte desde os primeiros Séculos. Por James Elmes Architecto. Londres, 1822. DescrlpçaS das Antiguidades , e outras curiosidades de Jloma. Pelo Reverendo Edward Burton M. A. Londres , 2822. lamhllcus ; ou os Mysterios dos Egypcíacos , Chal- deos , e Assyrios. Por Thomas Taylor. Londres, 1822. Cathecismo Astronômica , embellezado com 25 estam- pas. ?or C. V. Whitwel!. Londres * 1822* Dissertação sobre a topograpkia do Plaino de Tróia 9 incluindo uma examinaçao das opinioes de Demetrio , Chevalier, Dr. Clarke , e Major Renneh Por Charles Maclaren* Londres, 1822. Historia da Italia de Guicciardini ; reimpressa do texto da ediçaó de Míiao , com aquelles passos restituí- dos que foraõ suppressos por ordem do Governo Italia- no Por G. Rolandi , 1822. Carta ao Conde Tureno sobre o Codigo penal pro- posto ás Côrtes Hespanhoias. Por Jeremias Benthaiu. Londres, iZzi. ( i8 9 ) P R E Ç 08 De Generòs na Praça de Lisboa desde 27 dê Abril até 18 de Maio de 1822. Preços médios » Agua $-ar dentes* 27 de 4 de 1 1 dg 1 £ Abril . Maio. Maio, MaiOc Rio • . Pipa de 30 alm. 45000 45 OCO 56500 56500 Bahia . . • • d. 45000 45000 5 5000 5 5000 Ilhas . . . . 22 alm. $2500 52500 52500 52500 ^Algodão» Pernambuco . • arratel 212 212 212 212 Ceará • • • • • d. 197 197 1 97 3 97 Bahia . • • ® • d. Maranhão • . • * d. 175 *77 172 147 1 7 S *77 172 Minas . a • H • d . 165 165 165 165 Pará d. 165 165 165 ió$ Surrate . . « 4 • d . *55 >}* 1 3 5 Hf 105 105 J05 IO5 Arroz. Bahia, e Santos . quint. 6800 6S00 6Sco 62 00 Pará, e Maranhó * . dè 4400 4400 4400 4400 3 $oq 5300 5500 330© Assucar. Pernamb. Br. sortido arrob. 2225 2225 2225 222f Rio d. d. 1900 1900 1900 IÇOO Bahia d® d. *775 *775 *775 *773 d. Mascav» d« d. 1 125 11:5 1 125 1125 Rio d. d- d. i 200 1 100 1 100, 1 icó Pernam. d. d. d. 1250 1 250 125Ò 1250 Azeite . * í. Roce do Reino almude 5500 5500 5500 3300 De Peixe do Brazil d. 2550 2250 2550 2550 De Peixe de fóra d. 2200 2200 2200 2200 ; "Bacalháo » . ♦ quintal 370O 5700 3400 35 *© Café . 6150 Do Rio . • • arroba 6150 6iro 6350 Cacao . do Pará . . • . d. 2675 2675 2675 2723 Chá . Pérola . * . . arratel 950 950 950 950 Hyson . . • • «d. 725 725 725 723 Uxim . . . • • d. 625 725 625 625 Sequim • • • ® «d® 240 240 240 24© ( 190 ) 'hi Chá . Seuxom . . . arratel Canfu . . . . . d. Tonkai .... d. Canhamo. De Riga i. sorte [costa] 2. ... d. b • • • d. Petersb. 1. • . . d. 2. . . . d. b . • . d. Carnes. Vacça de Irlanda barril Porco d. . . . d. Vaea d*America , . d. Porco d. ... d. Prezuntos de França arroba d. de Westfalia d. d. de Irlanda d. Toucinho de Italía! d. França d. Irlanda d. Drogas. Gomma Arabía arratel Incenso . • . . d. Sandraca .... d. Ipicacuanha da Bahia d. Salsa Parrilha do Pará arroba Cantaridas « . . arratel Manná . . . . „ d„ Opio ..... d. Ençarcta. De Lisboa . . quintal Da Rússia i. sorte d. 2. . . d. Fnçarcia . De Ârcangel . . quintal Frutas. Amêndoa de Casca alqueire Miolo .... arroba Laranja. Caixa a bordo milheiro Limões • . . * . d. 27 de 4 de í T de 18 Abril, Maio . Maio. Maio , 225 225 225 225 2 1 O 210 210 210 2 1C 210 210 210 í 525O í 3250 M250 1 325O 1 240O f 2400 12400 I240O IISOO • Moo 11$ õo 1 Moo Í 2 }00 * 2400 i 2400 1 2400 1 MOO 1 Moo 1 Moo 1 S 500 10750 10750 *0750 10750 9 Soo 9800 9S00 9 Soo soooo 10000 10000 1 ocoô 7500 7500 7500 7500 5700 5 7 CO 3700 3700 2600 2600 2600 2 200 2 200 2200 2200 25OO 25OO 250O 2500 2 100 2 í OO 2 100 2100 200 200 200 20© 95 95 95 91 250 250 250 250 1 650 1650 1650 1650 1 5000 í 5 000 15000 Mcoo 1400 1400 1400 1400 3ÓQ 360 360 360 ÍOOOO ÍOOOO 0000 iOOOÓ 12500 125CO 12500 12500 10500 10500 10500 10500 8750 S750 8750 8750 6700 6700 6700 670© IC25 1025 1025 102$ 2400 2400 2400 24OO vario. vario. vario. 84OO idem. idem. idem. 8OOO < Fazendas ? dç Linho, Lonas da Rússia sort. Peça Ingleza d. d. Brim da Rússia Jargo d* d, de d. estr. d. ínglez largo d. Grosserias de Dantzic. d. Preços no Terreiro. Trigo do Reino alqueire Domínios .... d. Palhinha . , . . d. Bretanha .... d. Gvego d. Torrada .... d. Cevada do Reino . d é Estrangeira ... d. Milho do Reino . . d. Estrangeiro ... d. Centeio do Reino . d. Barrica de Farinha . • Lads . Be Portugal . . arratel Legumes. Feijão do Porto alqueire das Ilhas . . d. Branco de Hollanda d. de França . d. da Italia . . d. Favas das Ilhas • . d. Grossas de Fora . , . d. IVliudas de Fora . . d. Ervilhas de Kollanda d. Gravanços de fóra d. Mercearias. Manteiga de Vacca dlrlanda sort/arrate França sort. d. Queijo d^ollanda cada hum Inglaterra arrate Parmezaó Italia . , . d. Melaço, do Brazil . _ . . Barril Sal, t)e Lisboa . . * moio 4 de 11 de 1 8 de Maio. Maio . Maio, y 5 300 1-5 300 * 5 300 5250 15250 i 5250 13500 >3 500 13500 9900 990O 9900 * 1 400 1 í 400 1 1400 3600 3600 3600 640 640 640 540 540 540 620 620 620 670 670 670 4 $o 450 450 280 280 280 380 380 380 290 290 290 500 500 500 10200 10200 1 0200 250 250 250 52$ S 25 525 52$ 552 525 5 CO 500 500 MO MO 330 290 2 90 290 Mo MO 3 30 260 260 260 260 260 260 425 425 425 390 390 390 *75 *7 5 *75 1 60 160 160 200 200 200 I9O 1 90 iço 560 v 360 3^0 95OO 9500 950 o 1825 1825 i8ag 191 ) 27 de Abril.' » 5 *°o Í525C 1 3500 9900 1 1400 3600 640 540 620 670 450 280 $80 290 500 I0200 250 5*5 52 $ 500 3 *o 290 MO 260 • 260 425 390 195 1 60 2 S 5 1 90 360 9500 1825 í *9* ) 27 de 4 de ti de í 8 dg Sal. Abril, Maio Maio * Maio 6 Em Setúbal. . 6 • moio 1760 1760 I760 3760 Salitre de Bengala quintal 9800 9800 9800 9800 £e Mal abar ^ . * « d. 6200 Ó200 6200 620© T ábaco. Em Rolos. * • arroba 190 ° 3900 5900 5900 Folha* • d. I450 1450 I450 *450 yinhos. de Lisboa Tinto Lote do Brazil pipa 67500 67500 67500 67500 Eranco . * • • - d. 72500 72500 72500 72500 Lote do Norte * • ât 1 00000 í 00000 I 00000 1 00000 Bucellas * . * . d* ! IOOOO 1 IOOOO t í OOop I IOOOO Carcavellos . . • d. 520000 120000 I 20000 i 20000 Fort o . . - • 1 20000 120000 i 2000C 200a® 27 de 4 d*? 1 1 de I 8 de? ' r Cambies * Abril* Maio „ Maiot Let. Di/í Let Dí>. Let . Din Let . Dinl lâmsterd. 3 m. d. 42Í 4 2 7 4*7 2820 42I 4 2 i Cadix 15 d. v. — 2820 — 2820 — 2820 Gênova 3 m. d 860 , 860860 880 : 860 S6 g 860 Só® Hamburg. iderti 3 «i 58-1 1 5*4 3 8-5 í8|' Londres 30 d, v« 5 ’t 1 - 5 1 4 5 1 1 J 5*7 ; s*i 5 *4 **7 5 ’T Madrid 15 idem 2880 — . 2880 i 2880 2880 Paris loo d. d. i 5 46 546 i 546 - — 546 Trieste 3 m. d 460 460 460 460 : — — Yeneza 3 idem 5*8 — 518 — — — . Desconto de Pa- C. F. C . V. r. F. c. V* pel moeda. Pezos duros Hes- 18 57 Í 18 57? ■ 7 * iS jjpanhoes* 860 858 86o M 1 S59 *57 **8 » i 6 ( 193 ) VS? . ''*£?) '^75 U^, '«£✓!’ £7> K&\ <^7í N A Õ TO DIZIA EU? Ali(juisc]úe maio Jiút mus in illò, Ovid. Meta. Naô obstante poder-se o Compilador considerar uma Simples maquina, por ser composta de poucas rodas# pode-se com tudo dizer , âttendendo ás differentes mo- las que poem estas rodas em movimento , e acçaô 5 que , neste sentido , naô está longe de ter a honra e regalias de um engenho complexo , encerrando tal mi- mero de arames movediços , corno o Carrilhaó de Ma- fra 9 com a mui notável dífFerença que nao faz tanta bulha, nem tanta armon.ia, nem toca taô repetidas vezes , apresen. tando-nos aquelle um minuete de quarto em quarto de ho- ra , e o enferrujado Compilador nao podendo chegar senão de mez a mez ( e isto com seus saltos ) a fazer um bulício sinho sumido e semi-surdo. Ora esta differença pode ser notada , mas nao deve ser estranhada por a~ quelles que reflectirem f em que o Carrilhaó de Mafra foi mandado fazer pelo Thesoureiro do oiro do Brazil , o Senhor D. Joaô o V* , que além disso fez piamente o Convento de Mafra, e a Patriarcal, e impiamente os Árcos das aguas livres; digo impiamente porque foi a unica obra de sua composição que se afastasse da es- trada do Ceo , e do esplendor da Religião, e o Com- pilador he produz/do por uns pobres farroupilhas, que para o darem á luz se vêem em ancias e dores , e con- vulsões e espasmos ; nao pôrque a concepção fosse mons- truosa , (corno creio que todos ajuizaráo ) ou porque os progenitores nao tenhaô tomado todo o cuidado e cautelas para que o parto se effectue com feliz suc~ cesso , mas sim porque a falta de alimentos tem atra- zado muito a perfeita desenvoluçao do feto , e por is* so conservando-se no véntre mais tempo do que o ne- cessário , em razao de naô poder a debeli lade deste VoLe II. Num. IV* N dar-lhe sufficíente calor , apparece por fim uma cria outaniça , se bem que t esperamos , naõ contra-feita , ou aleijada. E como naõ serà assim se o nutrimento que lhe dava sangue , e vida tem diminuído quasi metade ? Como nao será assim , se de quatro centos e vinte e tantos vasos por onde recebia sustancia , estaõ entu- pidos quasi duzentos ? Esta falta de alimento atra- ia-Ihe por tanto a existência, e obstrue-lhe a circula- ção , e os vasos traspiratorios ; de sorte que nao obstan- te desenvolver-se por fim e quiçá com perfeição , sua vida será mui curta, nem talvez passará do segundo se- mestre ; nao podendo sua organizaçaõ , por isso mesmo que he robusta , soífrer uma carência de sustento vi- gorativo , que lhe consolide as partes organicas , até o estado de puberdade. Morrerá, pois, uma criança ! Que remedio?! Morrerá depois de ter visto a luz com to* das as suas partes perfeitas. Eis o que pódem affian- çar seus engendradores ; fazendo só a sua debilidade com que o parto se demore por mais aígum tempo , dara que nao appareça um aborto. Aliqzãsque maio fiíit zisus In illo , exclamou AJidoro: Tirar-se-á o proveito de nunca mais se tentarem obras desta natureza , confiando na curiosidade e contribuição dos Spectadores. Ninguém se proponha a produzir filhos sem ter paõ que lhes dar* ©u sem ter a coragem de os prostituir , obrigando-os a andar pedindo esmola por esse mundo de Christo. Quem tiver o nobre orgulho de querer valer sopeio cuidado que toma na perfeição de suas concepções , e na obser- vância de uma conducta rigorosa , ha-de se ver acabru- nhado em todas as suas caizas , e achar tropeços em to- das as suas tentativas. Nao ha duvida , disse Filippe ; nós vivemos num (*) Apparentamente este modo de expressar he me- taphotico. O que Alberto queria dizer he , que no i.° volume havia 428 Subscriptores , e no z.° ha 211, ( *95 ) tempo @m que o espirito naó deve trabalhar em ou- tra coiza senão no modo como se combina , e poderá levar a eífeito uma calumnia, uma denuncia &c. &c. e o homem espirituoso que naó for humilde ( servil ) , e prendado ( delator ) mui poucos de seus projectos ve- rá vingar : tudo lhe ha-de morrer nas mãos. Henrique naó pôde deixar de saltar uma rizada a este pedaço de moralidade — E que têm isso com o Compilador ? dis- se Henrique — O que têm ? Tornou Filippe ; o Com- pilador he uma macjauia c amplexa , que paia se por em andamento precisa nada menos que destas pequenas ba* gatélas — * sustento 5 vestido , e calçado dos Redacto- tes ; casas para habitarem > viverem, e dormirem — tin- ta , pennas, e papel para o escreverem — salarios aos Compositores, Impressores , e Dono da Imprensa — * papel para se imprimir — moços para o distribuírem &c. Scc» — e sem haver quem contribua para estas minu- dencias com os seus 2400 reis por cada seis numeros,* nem ha côdea , nem maotéo , nem çapatos , nem Im- prensa , nem papel : -quando aquelles taes humildes , e prendados íque se pozerem a escrever de vita et moribus haõ-de achar tudo isso sem as taes contribuições. Mas Isto (continuou Filippe) he uma especie de magica preta que os nossos mingoados taientos nunca seraõ ca- pazes de aprender. Tenho pena de havermos trazido á vida o Com- pilador , disse Merciano , porque principiava a gostar de algumas galantarias deste pequeno , nem sei que fos- se mal recebido em publico ; e causa do vê Io morrer na infanda. Paciência exclamámos todos. AU qiâscjue ina- lo fult usas in illo ) tornou a dizer À-lidoro. Nao to di - %»ia eu ^ gritou Nicoláo* N s C 196 ) tyrannia. » La soif de comníander enjante les Tijrans, Os defensores da Tyrannia, especialmente os das classes privilegiadas , depois de exhaurirem todos os re- cursos de sua mesquinha lógica para persuadir aos nés- cios que a Monarchia absolut3 he o melhor dos Gover- nos , e o unico que pode felicitar aos homens , appoiaó* se fortemente na maxima absurda de que de outro rno - do naô póde haver estabilidade no Governo ; miserável ar- gumento ! Naô ha cousa mais variavel e incerta do que uma Monarchia absoluta ; e só um Governo guiado por uma boa Constituição , e com vigilantes e aturados ze- ladores da sua observância póde ser durável , e ventu- roso. A experiencia dos séculos nos demonstra esta ver- dade : observemos as Monarchias absolutas que têem existido , e notemos a estabilidade que têem tido , e a felicidade que delias tem resultado ao genero humano: comecemos pelas obscuras historias dos Babilônios e As- sírios. Os fragmentos que nos restaô daquelles tempos barbaros sufncientemente nos mostraó a continuada fluc- tuaçaõ dos Povos segundo variava o caracter de seus Tyrannos. Os Reis daquelles tempos viviaó mais co- mo feras nos bosques, do que como homens reunidos em Sociedade : seguiaõ o exemplo de Nenibrot o pode- roso caçador , A força era a lei ; o forte opprimia o fraco ; assim Beloc acabou com a raça de Nino. Arba- ces dividio o Reino conservando só a Media.; Merodac se fez Rei extinguindo a raça de Beloc. Nabucodonosor como uma torrente destruidora arrasou os Reinos de Jerusalem , Egypto , e muitos outros; e sua raiva naó teve limites , até que sua soberba o igualou ás feras; e á morte de JBaltasar o Império Assírio desappareceo in- ( m ) teiramente.' Estes grandes Reis faraó absolutos; nenhu- ma estabilidade pode achar-se em seus reinados a naó ser a da soberba, da tyrannia, da idolatria, da cruelda- de , e de todo o genero de maldades em que sempre forad constantes. Examinemos outras historias , e veremos que as coizas variavaó sempre segundo as paixões dos domina- dores , isto he , dos tyrannos. Em quanto viveo Faraó t que havia recebido serviços assignalados de Jozé , os Is- raelitas forad bem tratados ; seu Successor feroz , e de cidido a extermina-Jos , attraío sobre si , e sua Naçaó o extermínio. Onde quer que tem prevalecido o poder il- limitado , arbitrário, e despotico, se tem visto sempre os mesmos effeitos assoladores, Quando os Satrapas da Pérsia persuadirão a Dario que ostentaria seu poder man- dando que ninguém pedisse nada a Deos , ou aos ho- mens por espaço de trinta dias, senão a elle mesmo» Daniel , o melhor, e o mais sabia dos homens daquel- le tempo , teve que ír á gruta dos Ledes , e a mesma sentença e sorte recaio sobre os perversos Conselhei- ros. Aman encheo de enredos os ouvidos de Assuero, e todos os Judeos forad condemnados ao suppiicio: des- coberta sua iniquidade obtiveraô licença os perseguidos de acabar com Perseguidores, Os israelitas em quanto tiveraõ Reis absolutos estiverao sugeilos aos mesmos males , e a pagar sempre com seu sangue os caprichos do despotismo , e da tyrannia., Possuido Saul das fú- rias , isto he , entregue a suas paixões , matou os Sacerdotes , perseguio a David , e esteve a ponto de matar a seu proprio filho: matou os Gabaonitas ; e nun- ca cessou de inventar meios de opprirnir ao Povo , até que milhares de envolta com elle 8 e com seus filhos 9 acabarad na jornada de Geiboé. Nenhum Rei achamos que igualasse a David , e com tudo , a seu arbitrio at- trahio sobre si , e sua Naçad a guerra civil , e a peste. Quando as mulheres domioarad o coraçad de Salomaò , a terra se vio cheia de idolos , e o Povo acabrunhado ( 198 ) com tributos intoleráveis: a loucura de Roboaó causou damnos que nunca poderão ressarsir-se : dominando seus Successores , o Povo prostituio suas adorações , con- forme ao capricho do que mandava ; e nenhuma outra estabilidade ofxerece sua historia alérn de sua crueldade e guerras civis, como se nao tiohaó visto em outras Nações. Em novecentos annos existirão nove Dinas- tias , sem que nenhuma subisse ao Trono senaõ pela usurpaçaó e extincçaó da geraçaõ anterior; o que tudo acabou com a escravidaõ das tribus que ainda hoje ser- ve de assumpto. Quem quizer mais provas desta verdade pode bus- ca-las na Historia de Alexandre de Macedonia , e seus Successores : este Priricipe dotado daquellas virtudes que pódem formar um Rei perfeito , ás quaes , mais que i sua fortuna , attribue Plutarco suas Conquistas , parece que devia servir de excepqaõ ; porém sua vontade foi Jei. Entregue á embriaguez para comprazer com sua manceba infame, queimou o palacio mais magnifico do Mundo : a uma leve sugestaô de alguns Eunucos pro- tervos , matou o melhor @ o mais amavel de seus ami- gos ; seu valor sem igual s nao podendo subsistir sem 3 virtude, desappareceo logo que foi preguiçoso, vaó , supersticioso e cruel, Nao foraó melhores seus Succes- sores, Depois de matarem sua mai , mulher ? e filhos, voltarao sua furia contra si mesmos , e retalhando o Reino deixarao por herança a seus descendentes suas espadas tintas com seu proprio sangue , incapazes de re- sisti r ao valor Romano , que os reduzio á dura escra- vidão. Assim que os Romanos perderão aquella liberdade que tinha nutrido suas virtudes , seus louros , nao só se murxaraõ , mas se converterão em cadêas : morto julio Cesar no Senado, Roma vio com dor assassinados os seus mais respeitáveis Cidadáos , pára fundar sobre seus cadaveres a Monarchia absoluta. Augusto subio ao So- J30 pela morte de Antonio , e corrupção dos Soldados : ( m ) morto elle , oy fosse naturalmente , ou pelos artificio* de sua espoza 5 seu filho Tiberio lhe succedeo no Im- > perio : em seu reinado soífreo o mizero Povo os eífci- tos de sua crueldade e lascivia. Igual felicidade esperi- snentou , reinando Caligula , Cláudio , Nero , Galba, Cton, e Vitelio, todos constantes em seus excessos e perfídias. O reinado de Vespasiano , posto que mais suave , nad lavou o sangue que derramou para sua elevaçao ; e cs | benefícios que recebeo o genero humano das virtudes de Tito , se compensarão com usura com os vicios abo- mináveis de seu irmão Domiciano, que nad tardou eoi atormentar aos viventes com sua crueldade , rapina, las- civia , e toda sorte de crimes. Por sua morte , respirou o affiicto Mundo, e os ho- mens poderão cultivar a virtude 9 e ser felizes nos rei- nados de Nerva , Trajano , Àntonio , Aurélio 5 e algum outro \ mas voltando o poder ás mãos de Comoao , Eliogábalo , Caraçala , e outros taes 9 só a obscuridade , e as baixezas erad a salva guarda dos Cidadãos. Em quanto o gosto do Governante era a lei , a segurança pessoal dependia de seu genio ou temperamento, e ain- da sua própria existência dependia do furor , ou tole- rância dos Soldados: uma facçaó , cu uma batalha de- cidia da sorte do Mundo, As coisas nad se emendarão rmsitp quando os Im- peradores se fizeraò Christaos : uns para favorecer os Or* thodoxos abusaraô de seu poder , outros sustentando aos Arrianos perseguiaô aos Orthodoxos com a mesma furia que o tinhaó feito os Pagãos : alguns retrocederão , e se fizeraõ mais ferozes inimigos dos Christaos que seus maiores perseguidores. O Mundo se dividio , e soffreo tantos males pe!a perguiça , ignorância , e cobardia de seus Chetes como havia padecido antes por sua fereza e iniquidade , até a dissolução total do Império. Tal deve ser sempre a sorte de todo o Povo que se curva ao jogo de um Monarca absoluto ; e assim o* C 200 ) cjue debaixo de um Governo popular tinhaõ conquista- do desde o Eufrates até ás Ilhas Britânicas, os que, quando livres destruirão os reinados de Asia , Egypto Macedonia, Numidia, e muitos outros, foraò facil pre- za de Naqóes barbaras, e desconhecidas , quando desap- pareceo de seu hemisfério a doce e encantadora aura da liberdade , e se sugeitaraõ á arbitrariedade de um ho- mem. Os Povos dominados por Monarcas absolutos terão suas fases segundo os vicios , ou virtude de taes Prín- cipes, ou de seus favorecidos; mas nunca será estável* para elles a felicidade. Só as Monarchias moderadas por leis sabias, onde uma Representação Nacional , como Corpo Soberano e Legislativo, vigia sobre o cumprimento das leis, con- tendo ao Príncipe, ou mais antes a seus Ministros, e a seus Súbditos nos limites prescritos , he só onde ha- verá estabilidade ‘ de governo, de virtudes, e de pros- peridade. Os ignorantes servis advogados do despotismo , attribuírao esta doutrina , segundo o seu costume , a Voltaire ou a Rousseau. Coitados , como se enganaò I saibaf) para sua cQjnfusaõ £ se de tanto saõ capazes ) estes miseráveis reptis que estas verdades naò saõ mo- dernas .* dias têem pelo menos duzentos annos : saõ de tim generoso ínglez , de uma família exclarecida íilho de uin dos principaes Pares do Reino; porém ini- migo accerrimo dos tyrannos , jT amante dos homens e de sua liberdade. Por e 1 1 a pugnou toda a sua vida , e por dia se sacrificou gostoso, e subio ao patibulo , victima das iniquidades dos déspotas, e de seus adula^* dores- ( 201 ) 'Blcntot pour subsister , la Noblesse sans bien Troava V art d’ emprunter , et ne rendre rien m dialogo. Mercúrio 5 um Duel lista Inglei , e um Selvage da Ameri- cd Septentrional. ■j \ 0 DuelUsta . Mercúrio, a barca de Caronte está da outra banda da Stige. Permitte-me , em quanto ella nao chega, que me entretenha um pouco com este Selva- ge. Que estranha catadura ! Nunca vi uma figura desta especie ; oh , como he brusco ! Dizei-me , Senhor , que nome he o vosso ? Oiço que fallais Inglez. Selvage. Sem dúvida ; eu o aprendi na minha in- fância com os Inglezes da Nova-York , onde estive por alguns annos, Mas antes cjue eujosse homem 9 voltei aos meits bravos Compatriotas , os famosos Mokawques ; depois tendo sido indignamente enganado por um de vossos Inglezes na compra de uma porção de Rum , foi Sal a aversaõ que lhes tomei , que nunca mais me fiei delles. Com tudo eu , e toda a minha Tribu os ajuda- mos na guerra contra a França onde fui ferido mortal- mente : mas acabei contente , porque os meus vence- rão , tendo antes de morrer degolado com a minha ma- chadinha sete homens, e cinco mulheres com seus me- ninos, Fiz mais algumas sortidas maiores em outra guer- ra. He por minha bravura que adquiri o nome de Urso sanguinário , pelo qual fui conhecido. DuelUsta . Oh, Sr. Urso sanguinário, eu vos respei- to infinitamente , sou vosso muito humilde servo. Po- rém , sabei que eu, me chamo Batalha 9 e sou muito conhecido no Mundo. Sou fidalgo por nascimento , jo- gador , e Duellista de profissão , mas tudo como homem de honra. Tenho matado homens grandes esgrimadores , em duellos honrosos 5 mas nunca me envileci matando mulheres nem crianças. / ( 202 ) Selvtige. Tal seria o vosso methodo de fazer a guer- ra ; cada Naçaõ tem seus usos ; mas concluo do vosso ar ameaçador , e da ferida que vos vejo no peito , que tátnbem, assim como eu, fostes ferido em algum con- flicto. Admira-me , que vossos inimigos vos naò tenhaô arrancado a pelle do craneo , e os cabellos ! Duellista. Fui morto em um duello. Um amigo me emprestou algum do seu dinheiro. Demorei-me alguns aiinos sem lho pagar; o que lhe causou grande falta , por cujo motivo mo pedio. Tomei aste peditorio pór uma affronta muito grande, e p©r isscf lhe enviei um Cartel. O logar foi indicado em Hyde-Park. Meu con- trario naô sabia esgrimir , e eu passava a este respeito pela melhor coisa de Inglaterra. Dei-lhe^pois tres ou quatro botes , mas a final eíle me atacou com tanto fu- ror que me fez perder a continência , naô podendo pri- va-lo de que, com uma estocada me atravessasse o cor- po. Morri no dia seguinte como homem de honra ,*isto he , sem dar puerilmente mostra alguma de remorso , ou de arrependimento : meu inimigo me seguio logo porque o seu Cirurgião declarou as feridas mortaes. Cor- reo a noticia de que sua mulher também acabou de dôr , e que seus filhos depressa tocariaô a ultima mizeria. Quanto a mim estou bem vingado , pois que isto faz minha consolaçaô. Pelo que toca a mulher, eu naô a tinha , pois sempre aborreci o cazatfiento : minha ami- ga achará recursos bastantes , porque e!Ia he bella e af- favel , e meus filhos iráò á caza dos expostos. Selvage. Mercúrio , eu naô quero passar na barca com este mizeravel. Elle tem tanta maldade que assas- sinou seu Compatriota, seu proprio amigo: declaro-vos absolutamente que oaõ passo com elle; irei a nado; pois que o faço também como um pato. Mercúrio. Passar a Styge a nado ! Sabes o que di- zes ? isso naô he possível , e mesmo que o fôra , he contrario ás leis de Plutaô. He preciso pois passar na ba rca , e no entanto estar quieto. ( 203 ) Selvage. Oh ! nao me falJes de leis ; eu sou um Selvage # que me importaõ as leis ! Fazei esse discurso a este Inglez ; ha leis em Inglaterra e com tudo vós ve- des que elle, como nobre , as tem desprezado; porque ellas ja- mais "lhe teriaó permittido matar seu Compatriota, e seu amigo em tempo de paz; e porque? por lhe pedir o pagamen- to do dinheiro que pronta e amigavelmente lhe havia em- prestado» Por desgraça minha sei que os Inglezes saó um Povo barbaro ; mas nunca tanto que autorisem estes horrores. Mercúrio. Vós discorreis muito bem contra elles mas , em qualidade de assassino, como póde isso re- voltar-vos tanto, vós que tendes matado mulheres dor- mindo, e meninos no berço? Selvage ., Jamais o fiz senaó a meus inimigos : e nunca a meus Compatriotas ; e menos ainda a meu ami- go. Tomai , levai minha tanga na barca , naó consin- tais que esse assassino se sente sobre ella, ou ao me- nos a toque, Se isso acontecesse , eu o queimaria logo no fogo que vejo acolá em baixo. Vamos i estou resol- vido a passar a nado. Mercúrio , Pois que tu estás impertinente, eu te tiro toda a tua força tocando-te com meu Caduceo» » i\gora , nada se pódes. §elvage. Oh , que poderoso encantador ! Torna-me a minha figura , e eu prometto obedecer-te. Mercúrio. Eu ta concedo. Mas guarda-te de fazer bulha , e faze o que te mando. VuelUsta. Mercúrio , entrega-mo , que eu o farei discreto. Caó de Selvage , porque te envergonhas da minha companhia? Naó sabes, que, pela minha Nobre - za tenho entrado nas melhores Companhias de Ingla- terra : Selvage . Sei que es um patife. Naó pagaste o que devias : assassinaste teu amigo , que te emprestou seu dinheiro, só porque eile to pedío ! Tira-te da minha vista , ou te lançarei na Styge. Mercúrio. Alto lá ! Nada de violência , assim o man- do; falla-lhe com socego. Selvage. Que remedio , senão obedecer-te. Muito bem, meu Senhor, poderei ao menos perguntar- vos qual foi o raro merecimanto que vos introduzio nas beilas Companhias Inglezas ? Que sabieis vós faser ? DuelUsta. Meu Senhor , nunca fui mais do que um fidalgo jogador e Dueilista , como já vos disse. De res- to, eu tinha boa meza ; comia mais que nenhum Inglez ou Francez. Selvage. Comer ! Vós nunca comestes o fígado de lim Francez , a perna , ou espadua. Isso he que he bo- cado exquisito , eu tenho comido mais de vinte , e minha mulher passava em toda a America Septentrio- nai pela melhor cozinheira de carne humana. Ousareis vós ainda comparar vossa meza á minha ? DuelUsta, Eu dançava superiormente. Selvage • Sim ! aposto as orelhas , se dançares mais nem melhor do que eu. Posso dançar ura dia inteiro, e a Dança guerreira melhor que nenhum outro de mi- nha Naçaó. Vamos , começa ; que he isso naó te mo- ves ? estás direito como uma estacai Tocou-te acaso Mercúrio com a sua vara? Envergonhas- te de mostrar- nos tua má figura ? Se Mercúrio mo consente , fazer- te-ei dançar de uma maneira que nunca aprendeste. Sa- bes ainda fazer mais alguma coisa, miserável fanfarraó? DuelUsta . Oh Ceo ! será preciso soffrer tudo isto ! Como tirar partido deste patifaó ? Eu naõ tenho , nem es- pada , nem pistola , e mesmo que fôra permittido á al- ta qualidade, de um Lord jogar o murro , sua sombra pa- reçe mais forte duas vezes que a minha. Mercúrio. He preciso responder ás suas perguntas. \ os assim o qmzestes travando conversação com elle. fíe verdade que he um Selvage incapaz de polidez , mas dizer-vos-á verdades que tendes de ouvir no Tribunal de Rhadamanto. Pergunta o que sabeis mais, além da arte de comer e dançar ? ( 20 ? ) Daelllsta , Eu cantava admiravelmente. Sdvage . Sim ! pois bem ; canta-nos se és capaz t a Cançaò da morte , ou a da Carga do inimigo. Eu te de- safio a cantar? Que esperas ? começa* Ei-lo mudo. Mer- cúrio , elle he um mentiroso ; naô nos tem dito senão patranhas ; oh ! eu vo-lo rogo , deixai-me arrancar-lhe a Jingua. Duellista . A mim , mentiroso ! ah ! e que naò pos- sa eu vingar-me ! . . . Que aflfronta para um Fidalgo da raça dos Batalhas ! Ah ! esta he a verdadeira condem - naçaô . Mercúrio . O lá, Caronte , vinde, tomai posse des~ tes dois Selvages . Minos decidirá até que ponto um pô- de escusar-se de suas mortíferas incursões pela barbaria de sua Naçaô. Mas que poderá o Inglez allegar em seu favor ? O uso do duello ? tanto peor para elle ; esta pés- sima escusa naô tem aqui logar. O espirito que o tem levado a matar seu amigo , naô foi certamente o da honra , foi sim o das Fúrias , e he. preciso que elle as vá soffrer. Selvage. Se he preciso punir seus crimes , entre- guem-mo. Sei optimamente $ arte de atormentar; oh l pela minha tanga , eu começo por este pontapé. Duellista, O , minha (jualidade , nainha honra ! a qut vileza estás condemnada 1 A primavera £ Continuada da pag 112 5 II , 6 Vol. ) Fragrante perspectiva eis manda á Musa, A belleza que tem ostentar toda ; Mas quem póde pintar como natura ? Nas vivas criações da phantasia Póde esta estremar tintas , como aquella ? Com arte inimitável mistura-las , Perder umas nas outras , como vemos N'um só botaõ abrindo ? Se naõ póde Suster a phantasia o grato empenho, A lingua que fará ? Onde achar termos De tintas taõ diversas , tantas côres , E cuja força , quasi dando vida , Desse olio fino mm bafeje a Jyra, Dessa fragante essencia enexhaurivel , Q’em continuas torrentes nos rodeia ? Inda que sem successo agrada o empenho. Vinde , vós Virgens! Vós Mancebos, vinde í Vós , cujos corações extasis sentem D um refinado amor ! E tu, Amanda , Obra das Graças , gloria do meu canto , . Tu que és o proprio amor ! Vem com teus olhos Sempre modestos , meigos , e serenos, Esse olhar mudo, que trespassa as almas, Aonde envolto da razaõ no lume O coraçaõ sensível se descobre , E a viva phantasia fulgurando. Ah vem í Agora em brozeguins de roza i 9 O vergonhoso Maio vai passando ; Vamos colher no matutino orvalho Inda virgens as flores que rebentão , Para ornar teus cabellos entrançados , ( 2©7 ) E o lindo seio que lhe exalta os brilhos. Olha o valle sinuoso como espalha Prodigo os bens que a rega lhe confere: Repara , como o lírio todo em viço, Ribeiro occulto embebe , que entre e relva Lá se vai deslizandoj ou como veste Em linda profusão as ribanceiras. O passeio estendamos r onde sopra LPentre o faval em flor naquelle campo Á fresca viraçaõ? Naò pôde a Arabia Um perfume ostentar mais grato, e doce; Que os sentidos encanta , a alma arrebata : Nem de teus passos he o prado indigno , I)e flores cheio , cheio de verdura , Ba natureza, incúria; vasto, inculto, Onde da arte affectada a descoberto Solta ao olho extasiado mil bellezas # Aqui a activa cuidadosa abelha Ferve em milhões , o néctar preparando : Em redor , atravez , fervido Povo Pelo ar brando revoa ; à flor se agarra, O tubo lhe introduz , por elle chupa A pura essencia , a sustancia etheria : Com aza a u dada muitas vezes Se lança ao camarçaõ que purpurêa; Vôa outrora onde o tymo amareleja, Que de doces despojos as carrega. O apurado jardim eis abre á vista l)os alegretes seus as perspectivas : No verde labirinto arrebatado, Confuso , distraído o olho vaguêa ; E ora se estende pela escura rua , Que as arvores assombraõ , onde apenas, Do dia uma só nodôa cae nas trevas : Outrora topa o curvo firmamento ; Agora o rio que aos pulinhos corre. Ora o lago que as virações encrespaõ* O bosque que escurece todo em roda, O coruchéo que ao longe salta ás nuvens A Serra etheria, o peíago distante. O PASSARINHO. De distante ninho. De clima distante. Pobre passarinho , Inveja do amante. De Armania delicias # Disfructas sem pejo ... * Lá vaó mais caricias 1 Lá vai mais um bejo ! Porém *tu naó prezas , Quanto gozas louco ; Bejos e finezas, Para ti saô p^pucoí E mais ( insensato ! ) Terias recreio. De andar entre o mato, Que estar-lhe no seio. Nem pódes medrar , Nem eu desgraçado ; N * E â‘ ’ftôr i n ve j ar , Tu por invejado. Meu ciume è tanto , Que quero, se o posso. Ir dar-te quebranto Torcer-te o pescoço : Mas sem que nos custe, à sorte mudemos. Faça-se um ajuste, Em que ambos ganhemos. Vai livre voar , No clima nativo , Deixa-me o logar; Eu vou ser cativo. UZPit&j SOBRE O CELIBATO, Dcpoinllons mm lei d' tine naine Jieriê. Naus nalssons 3 noas vlvons potsr la SoèiètêS Chama-se em linguagem comrmjm e ôrdinaria ^ Ce- libato o estado voluntário de uma pessoa que podendo cazar-se o naó faz. Tem-se e conhece-se por cefibátaHâ toda a pessoa que vive espontaneamente fora do esía« do de cazadob Ainda que algumas pessôas tivessem vivido ilõ Ce- libato , e mesmo em uma perfeita e perpetua continên- cia , isto mó adqlirava. Um vicio de temperamento ou de caracter moral t podia levar a escolher um tal írene* ro de vida que , no curso ordinário das coisas i está taó pouco de acordo com o voto da natureza t e com o bem , aò menos apparente -^ da humanidade; toas que $0* ded^ades numerosas se tenhaó feito disto uma lei s que !ii ui tas pessoas se tenhaó ligado para olhar este estado eoirso preferivel mesmo ao mais casto cazamento * Ire o qpe jamais deixará de admirar e mesmo de s 11 r prender um Phiiosòpho que naó está ainda familíarisado com m extravagancias ^ e absurdos da razaó humana. Um autor moderno querendo dar-nos uma historia critica do Ce« libato $ aflSrma com uma confiança infundada , que esta genero de vida be taó antigo' como o Mundo, taã ex- tenso como o Mundo ò e que durará tanto quanto o Mundo* Tres assersóes que naó podem ter sentia a me- nos que se nao tenha por Celibato * todo aquelfe tem- po , que uma pessoa * qualquer que ella seja ^ passa sem se cazar ; sem dúvida os filhos naó nascem cazados ; — o tempo da viuvez he uma interrupção do cazamento; mas ninguém se lembrou ainda de chamar Celil>» r n , & estes periodos durante os qtraes se naó be cazado ; naó 3 ® chama tal senaó a um estado permanente que qual- Vou 11 Num, ilt O { 210 ) quer prefere , ou mesmo he obrigado a preferir ao ca** zamento , ainda que o tenha podido efPectuar. Ora de- baixo deste ponto de vista , naô he certamente verda- de que o Celibato seja taò antigo como o Mundo. Quando se provasse, que o estado da innocencia de Ádaô, e de Eva tenha consistido na abstinência dos prazeres physicos do cazaniento , que a prohibiçaÔ de co- mer do fructo da arvore da sciencia , naô tenha sido senão a de gozar um do outro , que por consequência seu peccado nao consistisse senão no gozo furtivo e pre- maturo de seu sexo , havido antes de ter para isso rece- bido a permissão de seu Criador, como alguns autores tèem avançado , sem provas sufücientes ; toda a pessoa de boa fé , isto he desprevenida * naô verá outra coisa neste facto , senaÔ que Deos quiz que estes dois pri- meiros humanos vivessem por algum tempo em conti- nência como pessoas nao cazadas , posto que destinadas para o serem; naô para os condemnar ao Celibato, mas por uma parte para lhes ensinar a regular seus pen- samentos , e para os sugeitar ao império da razao , e por outra para lhes fazer comprehender que a seu res- peito, a união dos sexos nao devia ser» como entre os brutos, um act© sem reflexão g puramente physico , de- pendente do unico instincto , de nenhuma consequência moral » e que nao estaria sugeito a alguma regra de or- dem , de deceneia , a alguma circunstancia de tempo, de logar , e de relaçaô; mas sim que. el la seria um acto importante , o sello de uma união intima e reflectida 9 a fonte de uma relaçaô morai e interessante para elles 9 e para sua posteridade s um gozo agradave! , mas sugei- to a regras de ordem , de beni&cencía , e de virtude destinadas á procreaçaô de filhos fracos e impotentes ao principio , que elles deveriaõ nutrir , e conservar cui- dadosamente para os substituir , quando elles mesmo* cessassem de viver , que seriao obrigados a educar con- junctaménte , e instruir por suas lições, forma-los em uma vida sabia por seu exemplo ; que por consequen** ( 211 ) th gste acto que Deos submettla desde o principio a uma lei , e fazia depender de sua permissão , era uma origem de relações , e de obrigações moraes de üma grande importância. I Acaso Adaõ e Eva poderiaõ elles crêr que fossem chamados para viver no Celibato , por este mesmo Criadoif jQue tinha dito , riaó he bom para o homem estar só ^ e qat tinha criado uma mulher para o acompanhar c ajudar Jiel * mente ? por este mesmo Deos » por este mesmo Crea* dor que tendo-os formado macho e femea os havia cha* imdo expressamente para o physico do casamento 5 tan- lo como para a uniaó moral , dizendo-lhes ? crescei t muU tiplicai , ç enchei a terra ? O homem naõ foi pois cha« mado para viver só 9 pois que a sabedoria eterna tinha decidido que este estado de solidão naõ era bom ; nem para vi ver em continência , porque ei la cham$ o homem e a mulher para povoar a terra* Algumas memórias nos assegurao que Adaõ e Eva tdveraõ por muito tempo no Paraiso sem se conhece- rem ; que depois de seu peccado , passarsõ cem annos em penitencia, privando-se um do outro* tudo isto he taÕ gratuito como affirmar também que Abel passara toda a sua vida no Celibato ; nós naõ temos expressão algu- ma do autor sagrado que atteste > nem menos que tal di- ga. Antes pelo contrario , os escritos de Moyses e dos Frophetas nos conduzem sem interrupção a concussões as mais oppostas á estima pelo Ceiibato. Tudo , nestes escri- tos sagrados , nos pinta o cazamento como um estado res- peitável para o qual os homens saõ chamados pelo Creador ; © Celibato , e a esterilidade como expondo á aífronta , e ao desprezo. Os grandes homens , as mais santas personagens , Reis , Sacrificadores , Frophetas , homens favorecidos com revelações , nos saõ todos representados comocazados , e se entre estes tem havido a!guns\que naõ catassem , ti- les naõ fcraÕ louvados por terem vivido no Celibato. Se a filha de Jephté he sacrificada , ou sómente consa- grada a Deos 9 de modo que ngõ pertencesse a nenhum O a % ( ) homem , como sendo santa para o Eterno, o autor sa- grado naò nos representa sua sorte como honrosa , di- gna de estimação , ou de utilidade ; antes pelo contrá- rio elle a pinta enfadonha e affiictiva , Jephté seu pai está por isto em desespero , e sua filha vai com suas companheiras chorar a desgraça em que se vê de ser condeinnada a morrer virgem ; tanto o Celibato era tam- bém então olhado como um estado deshonroso e de af- fronta, Um irmão solteiro, devia esposar a viuva da seu kmaô , se elle tinha ficado sem filhos*, tanto se" es- ta va persuadido que o destino dos homqns^ e das mu- lheres era o de cazarem , e procrearem iilhòs.^I^enhiirrí cargo , nenhuma coadicçao , era autorisada para fciegar*se a este fim gera! da humanidade , e , se no tempo em que o summo Sacerdote era chamado a suas funcçóes solenines , devia sepaiat-se de sua mulher, isto naõ era senão por pouco tempo, e taó sómente pelo temor das manchas legaes que podia contrahir concorrendo com el- Ja. Os Doutores Judeos que têem estudado com solici- ta atíençao suas leis , e resumido as tradições de sua Naçaó , concordaó todos em representar o cazamento 9 naõ sómente como um estado preferível a tedos os res- peitos a q Celibato ; mas ainda como urna obrigacaó stricta para todo o homem que por impossibilidade physica se naó achava capaz delle . quaesquer que fossem sua condíqaó , logar ou emprego ; e se naò têem ensi- nado que esta obrigaçaõ respeitava também ás mulhe- res , elles têeoi dito qoe foi porque ellas saó natural- mente dispostas a cazar-se , e~ também porque as naó têem querido autorisar a sair dos limites do pudor na pesquiza de um marido, Taes têem sido, e taes saó ainda as ideas dos Judeos ; ideas colhidas em seus livros sagrados, onde ninguém encontrará uma expressão , um conselho , um exemplo , um elogio em favor do Celi- bato. Naó foi senaó nos últimos tempos da Republica de Israel que se vio uma seita de Judeos abraçar o Celi- ( nj ) bato. Muitas pessoas desta Naça', para subfcra:r-se ao furor perseguidor de Aíkiocb Epiphanes , se retiráiaó para os desertos, e . alli se déraõ á vida contemplativa. Entre estas pessoas conhecidas cosp o nome de Esse. Aos houve algumas que . leváraó o gosJ:,cxdo retiro até ao fa- natismo , distinguindo-se das nut^s por urna austeri- dade de vida quasi incrível 9 e farão conhecidas pelo no- me de Therapeutas 3 que significa Purificadores ou Mé- dicos. Persuadidos de que os vícios , e os cumes de sua *Naçaõ tinhaó inflammado contra ella a cólera celeste 3 que os abandonava ao furor de seus inimigos , pensáraò que a diais dura penitencia era o único meio de se san- tificar 5 e de applacar a justiça divina. Ei i es em conse- quência destes princípios , se deraõ a mortificar os sen- tidos , negando-lhes todos os divertimentos sem excep- çaõ , para domar todas as suas paixões f evitando tudo o que podia 'lisongea-las , renunciando a todo o prazer, e fugindo em fim a tudo quanto podia dar- lhes motivo ou ao menos idéa de alegria. Vivendo como Eremitas, naõ bebiaõ senão agua , seu sustento se limitava a er- vas , naõ exerciaõ profissão alguma ; renunciayaõ do mes- mo modo ao cazamento', e v iviaô em uma perfeita e absoluta continência. Tampouco 5 ao que parece , pela relaçaõ de Josepho , e sobretudo de Philon f consta que elles cressem que o Celibato fosse em si mesmo prefe- rível ao cazamento ; rnas sim por se persuadirem que devian , por penitencia, privar-se de todo c prazer, renunciar a tudo o que podia procurar-lhes , ou inspi- rar lhes sentimentos agradaveis * ou deleitáveis 9 e para poderem entregar-ss mais e melhor á contemplação , e ao estado da santidade , de sorte que se naõ poderia ale- gar seu exemplo em prova do merecimento do Celiba- to sobre o cazamento A historia das outras Nações , seja do Oriente , se- ja do Occidente naõ nos fornecerá mais exemplos que â dos judeos , proprios para autorisar a preferencia que algumas pessoas daó ao Ceimato sobre o cazamento. Com â ( ai4 ) effeito nos tempos os mais remotofc , ftsss r s fnofrumfcftA tos desfigurados pelas fabulas religiosas, que encontra- mos nós de proprio para estabelecer que os hbm'enl olhassem o cazamento como um estado menos perfeito 9 menos santo, menos estimável que o Celibato? A maior parte dos Deoses do Paganismo eraõ cazados : se Diana fica virgem ella cbtém para isso a permissão de Júpi- ter , porque ella teme naó só as dores do parto , mas foe apaixonada em extremo pelo exercício da caça , as- sim nos bosques como nas montanhas ; mister pouco Compatível com o estado e occupaçóes de uma mulher cazada. Palias ama a guerra e os combates, idoUtra sua liberdade , teme por isto depender de um marido ; por isto mesmo permanece virgem. Vesta he a única de qug Os Mythologistas failaó de modo que deixa logar a sup« pôr que ella esçolheo o Celibato por gosto que tinha pela virgindade ; mas a maior parte dos autores enten* dem a Vesta virgem , como sendo uma divindade natu- ral * debaixo de cujo nome , se honrava o fogo , que se Jhe mantinha perennemente como o alimento o maifc isento ríe toda a mistura ; e com effeito era o objecto constante do tempo daqueila Deosa ; Deosa porque esta virgem na 6 era senaó uma aílegoria destinada para re- presentar este elemento. Porque houve uma outra Ves- ta , segundo dizem , mulher de Urano 3 e mãi de Sa- turno, Por isto , e por todos os outros exemplos qu@ temos de nymphas, ou de filhas que s-ao louvadas por sua castidade , ou que tcem antes querido morrer do quò dei- xar-se deshonrar, ellas naó saõ representadas como fazen- do voto do Celibato , mas sim como virgens castrtS que preferirão a morte á affronta de se abandonar a quem naó era seu marido : tudo o que os autores nos dizem a este respeito naó contem , nem importa senaó o elo- gio do pudôr. Naó he pois do Celibato como diz Mr. Moriíi , mas sim da castidade que se póde e deve di- zer , que ellas foraó martyres. Com tudo tem havido , e ha ainda certas Naçóes { aiy ) «ntre as quaçs existem ordens de pessoas que se votaô ao Celibato. Tal he nas Índias, entre os Brachmanes , Uma seita de Gymnosophistas , conhecida debaixo do nome de Hylobienos , que levaó mais longe ainda as aus- teridades que os Therapeutas de que falíamos, vivendo como selvagens nos bosques, andando nus, cobrindo-^ se apenas com a cortiça das arvores, Nao se cazaõ , vi- vem na continência, e privaçaò de todos os sentidos: invento, como se diz, de Phyiosofos que abraçavaõ es- te genero de vida , para poderem applicar-se com me- nos distracçad á investigação da verdade ; mas isto mes- mo nao quer dizer que eíles louvassem os merecimen- tos do Celibato , e desprezassem o cazamento. Havia também, segundo se conta, na Thracia , uma seita de Philosophos ou Religiosos que renuociavaõ ao cazamen- to; mas he taò pouco o que sabemos a seu respeito 9 que nada podemos concluir de seu exemplo. Ha ainda hoje , em diversos Paizes , outra casta de Religiosos ou mais antes de fanaticos impostores , que vivem no Ce® Jibato sugeitos a austeridades taô cruéis que muitas ve- zes ficao em duvida as relações que delias daõ os via- jantes. Talvez que com mais razaó se podesse alegar em favor do Celibato, o exemplo de alguns discípulos de Fythagoras que se gloriavaò deste estado ; mas sobre is- to ha uma reflecçaó que muito naturalmente se apre- senta áquelies que conhecem .1 historia do coraçaó hu- mano , e que nao tem escapado ao autor celebre do Es» pirlto das Leis : a maior parte dos homens, diz elie , ambicionaõ attrair sobre si as attenqóes de seus con- temporâneos por coisas que os distinguaõ com vantagem dos outros homens, e que os elevaô sobre elles, sendo isto sempre pela apparencia de alguma virtude. Em to- dos os tempos se tem esperado da sabedoria , que ei la moderaria as paixões. Um sabio vivendo na sociedade , praticando nella tranquiliarheiite , e com alegria (com- panheira inseparável da verdadeira virtude) as virtudes solidas e reaes de um bom Gidadaõ , he pouco notado ? pouco attendido ; parece pelo contrario que nada fa z clc oirScil ; inas aquelie. que se offerece como superior ú sensibilidade ordinari-a dos homens , que parece des- conhecer as paixões , que se nega absokitamente ás jn» c 1 inações mais fortes da natureza humana, que soíTre sem se queixar, o que seus semelhantes temem mais , e supportaó com menos paciência , que se priva volun- tariamente , e sem suspirar, daquillo que os homens de- sejaõ com mais ardor , e buscaõ com mais ancia, pa- rece cestamente ter-se elevado acima da humanidade 7 pelo qoe conciliará seguramente os respeitos, e mesmo a veneraçaó da multidão. < E naõ he este o principio destas privações afifeetadas , -destas abstinências estrondo- sas, tao gabadas , e admiradas entre as diversas ordens de pessoas , que o Oriente venerou em outro tempo * e respeita ainda corn tanta estupidez ? i Naõ he tam- bém muitas vezes o orgulho , e o fanatismo, algumas Vezes mesmo a velhacaria amais bypoenta que têem si- do as origens impuras destas abstinências de que as so- ciedades humanas naõ teem tirado proveito argum , por- que naõ têem tido sobre os costumes , nenhuma in- fluencia favoraveí ? l Naõ saõ pois, partindo destes- prin- cipros , bem submeterdes á mesma censura tantos faná- ticos anacoretas , stelitas insensatos , Celibatários inú- teis ao Mundo, ou mais antes perigosos seductores ?  que coisas se naõ ah^.ança a orgulhosa ambíçaõ , lo- go que a «mperstiqaõ lhe presta suas armas , e lhe as- segura o successo ? A estas diversas ordens de Celibatários , de que a antiguidade nos tem íornecido exemplos (que dasgraça- damente naõ he preciso mendigarmos), mas que todos se privao do cazamento sem alguma obrigaqaõ de esta- do , ou de profissão , he preciso ajuntar aquelles que pelas funcqões religiosas de que estaó encarregados, vi- vem por esse titulo em continência, e se abstêem do cazamenío. Do que fica dito^parece que no princinio , e nos ( «7 ) Sernpos mais remotos , a virgindade , ou o Celibato ab- soluto naô era um tequisito entre' os Ministros da Re- ligião. Os Rgypcios forao dos primeiro», ou ao menos dos mais antigos Povos, que se persuadirão que o com- mercio entre os esposos os manchava , que se oppunha a que um Sacerdote podessç convenientemente appiicar- se ás ceremonias religiosas nos Templos de suas divin- dades. Mas em nenhuma parte os autores de que te- mos íaliado lhes attribuem , nem o Celibato , nem a castraçao : sua constituição naô lho permittia ; eiles eraó como os Levitas entre os Judeos ; uma família separa- da que o Celibato teriü em pouco tempo anniquilado : todo o Sacerdote devia ser da raça Sacerdotal , todo de-° via pois cazar-se ; mas quando lhe tocava sua vez de oíTiciar , eiles deviaò por algum tempo , isto he por tanto quanto durava o officio , separar-se de suas mu- lheres ; e para previnir toda a indecência a este respei- to , se deitavao , segundo se conta, sobre certos vege- taes , e bebiaó licores proprios para calmar os movimen- tos da concupiscência , e extinguir seu fogo. Tomavao precauçdes muito escrupulosas para previnír toda a ou- tra mancha corporal , taes como o tocar em qualquer m©rto , o encontro de certos animaes , a vista de uma fava. ... O respeito soberano devido á divindade , toi o fundamento razoave! destas precauções para conseguir a pureza corporal de tudo o que era empregado em seu serviço. Esta pureza foi ao principio exigida nao por s i mesma , mas como emblema sensível da pureza moral que os olhos corporaes nao veem. Os costumes , o gos- to do século , os prejuizos recebidos , decidirão de todas as apparencias de pureza ; e tudo o que uma pessoa -de- licada tivesse olhado como immundo , tudo o que a ti- vesse desgostado , devia ser com cuidado afastado do Culto religioso. Daqui a origem das abluçôes , as puri-, ficaçôes , as aguas lustraes , a abstinência do vinho , e de todo o guizado que produzisse máo haíito ; o cui- dado de nao tocar nada do que pertencia a uma mulher r ( 218 ) fftenstruada , a abstinência dos prazeres do cazamento t e de toda a luxuria. Relatívamente ao vinho, e aòs prazeres do ambr , uma pzaõ tnoral se ajuntava ás ra- 2oes physicas pa r a a exigencia desta abstinência , quan- do se tinha que dar á divindade um Culto solemne por sacrifíçios de expiaçaõ , ou que se lhe devia fazer iniciar em os mysterios de alguma divindade. As ceremonias requeriao do sacrificante , ou do candidato, um exame de sua conducta , actos de penitencia pelas faltas de que eííe se confessava, um coraçaó contricto , e consagra- do. A abstinência dos prazeres , p dos motivos de ale- gria que distrahissem o espirito , e contentassem o cora- çaõ , vinhao a ser também uma condição essencial nes- tas circunstancias ; mas nada disso importava a necessi- dade do Celibato, e de uma abstinência perpetua. O comportamento dos Judeos a este respeito foi também o da maior parte das Nações idolatras como fi- ca dito. Foi entre os Povos do Oriente , que se esta- beleceo , e inventou o renunciar para sempre ao caza- mento por motivos religiosos. Nestes climas ardentes onde a irtiaginaçaó se escalda , Philosofos contemplati- vos pozeraõ sua gloria em resistir , ao menos apparen- temente, ás inclinações mais fortes, e mais doces da natureza; elles quizeraó persuadir que sendo mais per- feitos , mais se assemelharsao aos Deoses. O Povo õs admirava sem poder imita-los , mas concebia uma alta fdéa da sua virtude. Por outra parte a Poligamia passa- va a excesso , e o ciume que he delia uma consequência inseparável , ievaraó estas Nações voluptuosas , que juí- gavaõ seus Deoses por si mesmas , a crer que o que uma vez era consagrado ao seu Culto, naõ podia nun- ca mais ter outro uso , outra applicaçaõ. Daqui na Pér- sia estas virgens , ou mulheres que uma vez votadas ao Culto do Sol deviaõ até á morte permanecer no Celi- bato o mais rigoroso. Daqui estes Sacerdotes da Deosa da Syrla que deviaõ castrar-se a si mesmos. Todavia naõ parece que entre tantas Nações , o Celibato fizesse ( *19 ) h®nra por si mesmo , e que na Sociedade civil , se es* Êimasse um homem, ou uma mulher Celibatários coai preferencia ás pessoas cazadas , quando estes Cenbata- rios naõ tinhaõ outro titulo para a estima pública sena© â abstinência do cazamento , isto he o desprezo por uma das primeiras vistas do Creador a respeito do homem* Entre os Egypcios , ainda que a abstinência dos prazeres do cazamento fosse necessária aos Sacerdotes , pelo tempo que eraÒ chamados a sacrificar , com tud© íiaõ tinhaõ nenhuma ordem Sacerdotal que fosse obriga* da a viver no Celibato , nem taí genero de vida se exi- gia de pessoa alguma naquelle Reino, como um dever de estado, ou de profissão, nem u ti 1 5 nem religiosa; £ e como teria isso tido logar , se os Sacerdotes Egyp* cios o eraõ por nascimento ? Eíies nàsciaõ de familia Sa~ cerdota! , e ninguém , que naõ fosse filho de Sacerdo- te , podia pertender este logar ; eraõ em tudo como os Levitas entre os Judeos , naó saíao das outras fainilias | como obriga-los ao Celibato? Isto tem sido um gr a 11* de erro avançado por alguns escritores , e sustentadò por outros parciaès com vistas de interesse. Entre os Gregos , os Sacerdotes tinhaõ a liberdadè de se cazar , como se nos conta dos Hierophantes de Athenas , que dormíaõ sobre certas ervas , e bêbiao d& Certos licores , para apagar o fogo concupiscènte , mas disto naõ se colhe que eíies vivessem no Celibato , maè $im , e taõ sómente , como já está dito & quando deviaÓ èxercer suas funcções se abstinhaõ com todo o ligòt de quanto os podia manchar , e bem assim as mulhe- res que pertendiaõ ser iniciadas , passavaõ pelas mesmas provas , usando das mesmas precauções , também só pe- lo tempo de sua iniciaçaõ ; e se em alguns Templos , e para certas ceremonias , era preciso detenninadamen- te empregar o serviço das virgens , as que alli se occu- pavaõ naõ eraõ chamadas ao Celibato , mas sim livres para poderem cazar-se acabada a ceremonia. Naó havia alli senaõ as que , com o nome de Fytlwnisas , davaõ os ( 220 ) Oracuio», as quass parecia terem-se votado a uma per- petua virgindade. Entre os Rorwanos , as Vestaes sós eraõ obrigadas a viver no Celibato, e a manter sua virgindade intac- ta, mas isto sómente pelos trinta annos que durava seu serviço no Templo : eilas entravaÓ alji ordinariamente aos seis annos de sua idade ; os dez primeiros de sua vida neste Collegio , eraõ empregados em aprender o seiviço da Deosa ; occupavaó-se deíle como Sacerdoti- sas durante os dez annos seguintes; e no curso dos dez últimos , eraõ obrigadas a instruir as moças noviças , e depok -desta tarefa tinhaõ a liberdade de tornar a en- trar no Mundo, e cazar-se. He verdade que muito pou- cas se aproveitavaõ desta liberdade ; acostumadas a um viver socegado, a terem em Roma como Vestaes o lo- gar mais honroso 5 gozando dos mais lisongeiros privi- Jegios , queriaõ antes conservar-se como estavaõ. Ha bastante apparencia de que foi do Oriente que Nu- ma recebera a idea desta instituição. Vesta era o fogo servido pelos Persas : etta virgem era o emblema deste elemento respeitado sem^gistura , e pela mesma razaõ o serviço desta divindade^fSi confiado a virgens. Nenhuma ordem de Sacerdotes em Roma era cha- mada pelo estado a ser Celibataria , todas podiaõ cazar- se , e o summo Sacerdote de Júpiter conhecido pelo no- me de Flamçn Blalls , naõ somente podia , mas devia ser cazado ; elle naò podia repudiar sua mulher, e deixar seu posto se enviuvasse , mas sim |ransmitti-!o a utn Successor. Faíla~se de um Collegio de virgens mantido pelos Oauieses ; mas isto he muito obscuro , e incerto ; quan- to aos Druidas , elles naõ eraõ Celibatários. Parece pelo que acabamos de referir dos autores mais estimados , como suas idéas de limpeza corporal % emblema da pureza da alma , a persuasaõ de que era preciso estar preparado de innocencia moral representa- da pela. pessoa de uma virgem, e a obrigaçaõ de se ( 221 ) privar do prazer , quando se fazia penitencia de um cri- me que cumpria expiar por um sacrifício para obter del- le o perdão , parece , digo terem sido as causas que in- troduzirão no Culto entre as Nações antigas , estas abs- tinências , estas purificações, a presença, e o serviço d@ virgens nas ceremonias religiosas. Mas, naó parece por nenhum monumento que o Celibato fosse per si mes-* mo preferível ao cazamento ; mesmo nos Ministros dos Altares , o que naõ era senão como emblema , como uma figura allegorica que se exigia de algumas ordens re- ligiosas como a das Vestaes em Roma , ou as Sacerdo- tisas do Sol entre os Persas, Se da Religião passámos í Política nós acharemos muito menos argumento ainda em favor do Celibato nos costumes das Nações antigas, cujas leis nos saó conhe- cidas» Nada mais severa que as leis de Licurgo contra Celibatários: todo o emprego lhes era prohibido , ne- nhum logar distincto lhes era concedido nas Assembléas do Povo; naõ podia assistir a estas festas onde a mo- cidade de ambos os sexos, á Ja^edemonia, dançava pu- Mi camente ; naõ tendo por ertura senaõ a castidade pública, que be sempre filha u a pureza , e innocencia dos costumes. Os moços naõ eraó obrigados a levantar-se na presença de um velho Celibatário, porque, podia dizer o moço , que este máo Cidadaõ naõ tinha dado a vi- da a ninguém , e , que quando elle fosse velho , naõ podia retrfbuir o cortejo. Elies eraõ , em fim, publica- mente levados em procissão nus, no rigor do inverno, em roda da praça pública pelos officiaes da Cidade , que açoiíando-os para os fazer andar , cantavaõ canções in- sultantes compostas contra elies; as mulheres vinhaõ lambem insultados , e era assim que se indemnisavaõ da falta commettida contra a natureza, que importava o mesmo que contra ellas. Pfataõ queria que todo o homem fosse cazadò ao menos da idade de $$ annos , e que adfeelles que pas- sassem deste termo no Celibato , Fossem despoja- ( 22 2 ) dos , e declarados incapazes de todo , e qualquer ern« prego. Pelo fim da Republica Romana , os costumes tavaõ excessivamente corrompidos , e as leis naó erao melhor respeitadas : os Pvomano3 começaraõ a desgostar-* se do cazamento , e a preferir-lhe o Celibato. Seu gos- to depravado pelo deboche de toda a especie , lhes feí desprezar os laços legítimos do cazamento, e a conduc? ta irregular das Damas Romanas enraizou nelies este gosto destruidor da sociedade , e dos bons costumes. A estes motivos se ajuntaraó a indolência , a preguiça % o amor ao ocio , o temor dos embaraços de família , e © trabalho de educar os filhos. O prazer de serem lison- geados , e prevenidos por todos os corações interessa? dos, que buscavaõ ter parte na herança de pessoas ri- cas , levou muitos a fugir daquillo que podia dar-lheS herdeiros naturaes : tal foi o ruinoso , e impoliüc© sys- tema das adopções. Plínio queixa-se de que em seu tempo se tinha por motivo de crédito, e de autoridade o naõ t@r filhos. Is- to he o que Seneca confirma em sua consolaçaõ a Mar- eia. He incrivel atéqiíe ponto , por estas .cwlpaveis razões 9 ©s Romanos augmentaraõ o gosto pelo Celibato, o des- prezo do cazamento 5 e o temor de terem espoza , ou filhos» Os mais sábios Magistrados fízeraõ já no tempo da Republica , os maiores esforços pada impedirem es- ta desordem destruidora. Impoz-se , e fez-se pagar mul- tas aos Celibatários; assinou-se prêmio aos cazados que tivessem filhos. M. Furio Camillio, censor no anno de 4?o de Ro- ma , e G. Ceei lio Metello Macedonico no de 622 , usa- raõ da maior severidade para constranger os Celibatários a cazar-se. Juíio Cesar distribue terras a vinte mil Ci- dadãos que tinhaõ filhos, renova, e augmenta as leis a este respeito , mas com pouco successo ; de ta? modo se deo a corrigir o Celibato que uma morte prematura © arrebatou. Em fim Augusto põe tudo em acçao par^ ( 223 ) Secundar , e encher vistas taó sabias , e convenientes tendentes a destruir o Celibato ; seus esforços foraó qua- si inúteis; e pelo anno de 750, os Cavalleiros Roma- nos naõ se envergonharão de se ajuntar para She pedi- rem publicamente a aboliçaó destas leis contrarias ao Ce- libato , e tanto em favor do cazamento- Augusto, bç verdade que as modificou, mas contemporisando , e es- passando a graça com diversas delongas: foi por esta occasiaÓ que elle pronunciou estas bellas orações que os historiadores nos conservarão* Também publicou a lej. commum no direito romano conhecida com o nome dç Lei J tilici e Pa pi a , que ordenava entre outras coisas , quç cm caso de concurrencia para um emprego , o preten- dente cazado preferisse a qualquer outro que o naõ fos- se ; que de dois Cônsules, aquelle que tiver mais filhos prefira sempre ao que os naõ tem; os que têem filhos herdarão com preferencia aos Celibatários, Em Roma tres filhos, na ítalia , e nas Províncias quatro, isentavaÕ o pai de toda a imposiçaõ pessoa! , e de toda a outra obrigaçaõ de tutela, Estes Legisladores tinhaõ compre- hendido que o numero de Súbditos fazia a sorte de um estado, que o deboche, e o Celibato destruía os costu- mes e a populaçaõ , e que, pelo contrario, o cazamen- to lhe era essencialmente favoravel, Roma tomou esta liberdade pela mais triste experiencia ; o mal se aug- menta até i mina total deste Império , que vê seus Ci- dadãos anniquilar-se pelo effeito do deboche, e do des- prezo pelo cazamento. Os Estrangeiros tomaraò o Jogar dos Romanos , e plantaraõ em Roma os vícios que de- I viao em fim accelerar a ruina deste edifício enorme. Em logar do que tem-se sempre vist© o respeito pelo caza- mento ser inseparável dos bons costumes , e procurar de concerto com elles a prosperidade dos Povos , des- te bem estar , que he o uniço fim das sociedades. O vo- to da natureza nos leva á uniaó conjugal , o sentimen- to procurando o physico , todo o coraçaõ naõ corrom- pido deseja o moral ; por isso o fim da existência da ( 224 ) humanidade se consegue , e os dois sexos achaõ sua sa« tisfaçnõ nesta união regular e estável ; os filhos nascem e saó educados ; as gerações se augmentaõ , e succedem % o Estado se fortifica; a sociedade vê nascer a abundan- Cia; e a felicidade domestica , fructo de costumes pu* ros , produz a felicidade pública: Qiielle joie cn e ffet , cjuelle doucçut extrême l De se vôir caressé d' une Epouse quon aime : Taes têem sido os principio$ incontestáveis sobre os quaes os mais sábios Legisladores , e as NaÇões mais esclarecidas têem fundado suas leis contra o Celibato 3 t em favor do cazamento. Diversas pessoas haviaõ , como o temos visto , en -* carado o Celibato , suífocando a voz da natureza , oti afastando sua inclinação do fim para que seu autor a tinha imprimido ; em uní, a superstição que disfarça em virtude o que naõ he delia senaõ um emblema a! le- goríco , ou em outros a preguiça, a indolência , o de- boche, a avareza , os ntáos costumes que produze?» a índifferença , e esta ô desgosto pelos prazeres inoocen- tes. l Quem acreditará que a pbilosophia mesma tens contribuído para isto ? Uma falsa philosophía que isolando o homem , lha faz buscar uma pretendida perfeiçaÔ ; e aonde ? em uma sciencía esteril » em uma contemplação que o separa de si mesmo e de seus semelhantes , tornando-o insensi- veí , e frio á sociedade , â quem elle deve tudo , e pa- ra quem nasceo todo , leva os discípulos de Thales , dç Fythagoras , de Democrito , de Plataõ , de Zeno Cicio * de Epicuro , a preferirem o Celibato ao cazamento , de-* baixo do pretexto de que deve abandonar-se aqui i 1 o que di&trae muito o philosõpho , que o obriga a occnpar-se muito de seus sentidos, e dos negocios da vida, aquii- lo em fim que p impede de entregar-se todo ao estu- do da sabedoria , e ás meditações profundas da phíloso- phia« Continuar-se-á* ( ) '*&\ VIAGENS D £ UM FILOSOFO HINDU* Traduúào de wn Mànuscripto Hindu , Observações de Bcn~Hoam , filho de Fum. — . Nas- cí nas vastas pianicies| que cercaõ as sagradas 'margens do Ganges , e desde a mais tenra infancia se notou em íBim uma disposição liberal, e contemplativa. Meu pai era um Bramin da primeira ordem , univefsalmente res- peitado por causa de sua piedade e juizo : o De os Vishnou o tinha particularmente favorecido, Tres de seus filhos tinhao sido devorados pelos Jacarés do sagrado Pvio , dois haviaó tido a honra dê ser esmagados debaixo das ro- das do carro de Jaggernaut ; e elíe mesmo esperava todos os dias igual aita. Quanto a mim , devo confessar que cu era suíficientemence Atheista para naõ mostrar decidida aversao a ser pulverizado , naõ chegando a conceber co- mo um Bramin podia entrar melhor no Ceo com os ossos quebrados , do que com o cõrpo todo inteiro. Ha- via-se porém ouvido a sagrada Vacca expressar contra- ria opinião , e por consequência era eu enganado .eoí minhas conjecturas. A medida que avançava em annos * foi meu enten- dimento tornando-se mais maduro , e as péâs que a su~ perstiçaõ me havia lançado cairaõ como o frücto do Pia- lano. A religião dos Bramins , ao mesmo tempo que me edificava , também muitas vezes me divertia ; ob» servava eu que 5 naõ obstante ter a base emanado da Divindade , o resto do edifício éra evidentemente obrâ do homem ; e ainda que naõ sentisse repugnância em adorar Vishnou, naõ tinha com tudo inclinação a es- tender os meus respeitos á sua Vacca, Cãnçado por fim de infructuosas conjecturas' , resoívjJme a viajar, e no caso de nao descobrir melhõr -• religião , continuar na crença de meus pais^Esta intençaõ/foi^acelerada pela seguinte cifcunstaÃua :* andava eu um dia passeando Vs>£ t II* Nvk. III, .p ( 22 6 ) c«m meu pai nas praias do Ganges , quando um Jacaré enorme , que estava escondido entre os canaviaes , sal- tou do seu escondrijo , e se lançou a braços sobre o meu companheiro. Naó pensando no perigo , corri em seu soccorro , e com alguma dificuldade o tirei das gar- ras de seu voraz inimigo. Cbamaraó-me por isto Athêo. Nomeou-se um Concilio de Pundits instruídos , e fui excommungada como Faria , ou homem impuro. Igual- mente foi meu pai induido. no anathema -da familia „ e em ordem a recuperar seu caracter foi obrigado a dan- çar fandangos de devoção suspenso no ar por uma fa- texa que lhe metcerao nas costelas , e a ser por fim piedosamente reduzido a pó na seguinte festividade de^ Jaggernaut. já eu disse que tinha a mais heretica aver- saõ ao martyrio , e pela influencia destes sentimentos deixei o Paiz dos fiíndus , com uma pressa verdadeira- mente libertina. Na tarde da minha partida quando es- tava meditando no Templo de Visbnou t fui atacado des um profundo sono. O Ceo pareceo todo em fogo, e no meio da luz , e do esplendor , chegou-se a mim um Giendover : « Vishnou ( disse elle ) determinou punir-te » por teres a ousadia de salvar teu pai , e de ridicu- » lizares o rabo da Vacca. Estás condemnado a eter- » nas transmigrações em quanto nas tuas viagens pe« )) lo Mundo naò descobrires um amigo que desinteres- » sadamente tome para si , a tua sorte. » Desap pa- receo ; eu acordei % e puz-me a caminho da minha expe- dição. Depois cie infinitas fadigas , cheguei a Roma na vespera de uma grande festividade. Um Frade pergun- tou-me se eu cria na i n Fallibil idade do Papa , respondi peia negativa i ao que fui ameaçado de Ser mettido nos cárceres da Inquisição. Havendo sempre tido aversaò ao encarceramento , pedi-lhe seu conselho e ajuda. A pa- lavra co isel/io pareceo ter um effeito magico ; conduzio- me com muitas expressões dè contrição , ao Convento dos Bencdictinos , e entreteve-me com uma profunda dissertação acerca "dos quatro mil Martyres que dançava© na cabeça de um alfinete sem tropeçarem uns nos ou- tros. Um Irmão leigo do mesmo Mosteiro insistio que dançavao sobre a ponta de uma agulha. O Frade retor- quio , e cravou uma faca no corpo do seu argumenta* tivo opponente, Foi por consequência condem nado por assassino, porém dizendo aos Juizes que elle só tratara de vingar a causa da religião , teve a permissão de bei- jar o artelho do Papa, e continuar, como costumava, seus exercícios na santa causa. Enfadado de uma reli- gião que permitte aos seus membros matar-se impune- mente uns aos outros, e conhecendo que afora esta edi- ficante especie por nenhuma outra coisa se matavac* determinei deixar a Italia , e dirigi meus passos á Hes- panha. Á Côrte estava celebrando um auto de fé, quan- do aiii cheguei. Quatorze desgraçados eraó conduzidos com o devido decoro para o logar do patíbulo , e os grandes Inquisidores , depois de os terem beijado um a um accenderao afifectuosamente a fogueira. No fim do Te Deum ( porque o tribunal sempre conclue com um psalmo) voltei á Praça de Madrid. Um Cavalíeiro bem parecido me pegou do braço , e depois de me olhar cosn attençaò me perguntou , qual era a minha opinião a res- peito daquella scena. Eu disse-a com cautela; porque tinha instinctivamente tanta aversaó ás ardentes visitas de uma fogueira , como ás garras de um Crocodilo. Po fortuna era elle da minha opinião, e persuadio-me com muitas provas de aífeiçaó , a que eu fosse habitar tm sua caza : « Meu bom amigo ( me disse uma tarde ) vós y> fallais de deixar Hespanha ; dai-me occasiaõ de vos » dar algum bom conselho antes de partirdes. Amo-vos » como irmaó , e tudo farei para promover vossos in- » ter esses. Fallai , como posso eu servir-vos ? » — Es- bulhado em afifeiçao , apertei-ihe a maõ , e lhe fui dan- do indícios de me faltar dinheiro, concluindo a historia com o modesto peditorio de cèm duros. O meu amigo jmmediatamente me fez vêr a porta da rua, e eu des- P £ cí as escadas com mais pressa , em consequência de ttr~ tas reconimendaçóes , que sentia alii por perto das na* degas. Logrado nas minhas tentativas de buscar um ami- go y ou ao menos um companheiro , determinei tentar fortuna entre os Turcos. A Sublime Porta estava então envolvida em guerra com os Mussulmanos da Arabia» A origem da controvérsia era curiosa. Um Mahometano de Bagdad havia escrito um profundo tratado sobre o Alcorão, em que forcejava por provar que Mahomefe naõ trazia calções quando foi trasladado ao nono Ceo* Os Domores de Constantinopla asseveravaõ ao contra- rio que elle tinha um Vestido de seda azul com guar- nições de tafetá 3 no preciso momento da sua jornada. À consequência foi uma guerra com a Arabia *, e a ín~ fortunosa circunstancia dos calções occasionou a morte de alguns milhares. Quando cheguei a Constantinopla , vi dois homens batendo- se violentamente. Observando que eu os olhava ao passar , chatmraõ-me para arbitro da sua queréla. A questaõ em disputa era — que ida- de tinha o burro de Mahomet s quando morreo de diar- rhea ? Eu observei que a idade nada fazia ao caso , uma vez que a besta actualmente tirvha morrido. A isto ima- ginaraó que estava delles mofando 5 deixaraõ-se da ques- taõ 3 e jimtaraõ-se ambos a dar-me pancadas como se o meu corpo fosse o verdadeiro caminho para o Ceo* O Iman da Mesquita que por acaso ía passando áquel- Je tempo , inquino as circunstancias da bulha, e ao di- zer-se lhe que eu havia fallado irreverentemente do bur- ro do Propheta , condem nou-me a ser bastonado com um vergai h o na sola dos pés. (( Ai ! exclamei eu quan* do saí da Turquia , como poderei ter esperanças de achar um amigo entre aquelles que naó concordaó na sua própria religião. » Como naõ achasse Navio algum senaó para Portu- gal , embarquei para Lisboa , e até com muito gosto pois que me havia escapado vér esta celebre Cidade $ ( 21 9 ) quando estive na Kespanha , tendo-a ouvido elogiar por muito rica , muito religiosa , e muito commerciante : e quando entre os ricos e Gommerciantes naõ podesse achar um arnigo (o que realmente seria caso novo) contava sempre poder encontrado entre os religiosos. Ao" che- gar estava-se celebrando a festividade da inauguraçaó da Patriarcal. Introduzi-me entre o Povo, e assim fui caminhando para o grande Templo, Eu naõ via senão oiro, e brilhantes no Templo * nas carruagens, e na cabeça das damas: porém observando a multidão qua- si toda descalça , e mal trajada , suspeitei que a rique. za deste Paiz era absorvida só pela Côrte , e pelos Re- verendíssimos Patriarca , Principaes , Monsenhores , Ge- raes , Provinciaes , e Guardiães , que na verdade estavaó todos muito luzidos, e anafados. Acabou-se a ceremo- nia; e como naõ me propozesse a descobrir amigos en- tre taõ esplendidos senhores , mandei-os a todos os dia- bos , e saí com a muitidaõ. Além desta, tive olpcasiaõ de participar de muitas outras festividades da Metropo- íe : com tudo minha total ignorância dos costumes na- cionaes me involveo de primeiro em alguns incidentes burlescos. Uma noite ao recolher-me, encontrei na rua uma rapariga que me beijou com a mais affectuosa fa- miliaridade , e me perguntou se eu tinha hum coraçaõ : « Aflfavel e benigna gente, (exclamei eu mentalmente) até para os estrangeiros vós evidenciaes a generosidade da mais viva amizade. » A minha apostrophe íoí to- davia interrompida pela approximaçaó da ronda , e con- sequente fugida da minha beila aventureira , a qual , se* gundo depois entendi, era nem mais nem menos, que uma Sacerdotisa de Chypre da mais accessivel virtude. A circunstancia de eu ser estrangeiro , a particula- ridade de minhas maneiras , e a inteira ignorância do meu dialecto , me fizeraõ por algum tempo objecto da mais considerável curiosidade ás sociedades do tom, — Á Condessa de ******* fui eu mostrado com umara-. rídade do tempo : e fui mais de uma vez convidado por ( 230 ) um Livreiro para publicar a relaçaá de minhas viagens com o meu retrato no frontispício. Justamente , como eu esperava , a compJeta frieza dos altos círculos depressa me desgostou. (( Nunca encontrarei um amigo nesta porçaó da sociedade » observei eu a um Filosofo da Rua da Barroca. O bello Mundo he na verdade o peor clima para prosperarem amizades particulares. AlJi acha- reis mil protestos, misturados de insinceridade ; religião connexa com hypocrisia ; superstição encadeada com a mais determinada estupidez. Os Leitores podem obser® var , que nas minhas pesquizas para achar um amigo sempre attendi á grande origem de suas qualidades cons- tituintes — religião assazonada pelo entendimento, e refinada pela caridade ; porque achei sempre , que aon® de falta a devoção do coraçaõ , morre a sentimento da amizade. Na Turquia, na Hespanha , e na Itaüa ha- via eu descoberto que a superstição era a alcunha , a, giria da religião , o que ao depois me fez desistir da vãa errspieza de procurar um amigo. Porém para continuar o fio da historia : n uma partida a que fui convidado por especial empenho de muitas pessoas de distincçap > introduzirau-me pela primeira vez a um Cavalleiro an- ciao da mais insinuante apparencia» Era elle piedoso sem ser methodista* e possuia o espirito da religião sem se cobrir com a sua mascara. Muito me agradaraò as suas maneiras , e depressa tomei por elle grande amizade. Dis- se me uma tarde as circunstancias da sua vida. Tinha sido um rapaz da moda , contractado a cazar com a fi- ^ha de um amigo. Naõ obstante , na vespera do seis cazamento, Amélia, que assim se chamava a noiva , te- ve prohíbiçao de se corresponder com o amante. Urn Padre Caetano, parece, havia-se introduzido na famí- lia, e tinha convertido o coraçaô do pai por meio de suas insinuações : persuadio-o entre outros absurdos , a fazer sua filha freira ; pois que o cazamento era urn es- tado peccaminoso , um laço armado por Satanaz para apanhar almas airédias. O pai convenceo-se * e Amélia ■■■— ( 23 * ) foi compellida a abandonar seu amante para sempre. « Nós nos encontraremos no outro Mundo, (disse eh » la na sua ultima e tocante carta), e esta esperança ^ console nossos espiritos. » Falhou , com tudo , nes* te caso , pois a pobre rapariga em breve estalou de ma- goa. O pai chegou-se ao tumulo com impenetrável du- reza , e cantou um par de psalmos em memória da de- funta. A isto chamou elle glorificar a Divindade ; e em a noite do funeral foi jogar o Gamaó com o Caetano, dando louvores a Deos por nao ser como os outros ho- mens ou mesmo como a filha , de coraçao sensivel e aífec- tuoso (( A que insania ( notou o meu amigo ao concluir está pathetica narrativa) naõ nos conduz a superstição. » Havia ainda pouco tempo que eu tinha contraído amizade com este interessante caracter, e já ó tinha imaginado como o amigo que devia livrar a minha al- ma da condemnaçaõ de Visbnu; eis senão quando mor* reo , e mais uma vez me deixou em desolaçad. Acom- panhei-o em seus últimos momentos ; e satisfiz-lhe ao peditório de o enterrar na sepultura de Amélia. Eu o vi metter na cova e orei a Deos pelo repouso dos dej- funtos. Virá um dia. em que eu vá repousar na estreita morada , mas aonde achar um amigo que chore pelo finado Hindu ? Mais alguns dias , talvez algumas horas , e o seu nome nao será já lembrado : ha-de ser sacrificado á furia de Vishnu por causa da ímpia ternura para com seu pai ! À morte deste amigo me fez desgostar do-Paiz, e embarquei para Londres. A primeira pessoa que se me apresentou na figura de amigo, foi um Filosofo da mais cynica , e, apparentemente sincera, disposição. Já eu tinha visto muito Mundo para me snrprehender sua im- moderada lingoagem , porem Imaraviíhou-me o odio que mostrava para com as mulheres. Parecia estremecer ao vê-las , e muitas vezes se retirou a um quarto vizi- nho , para estar livre, segundo dizia , da sua impertinen- te gralhada. Era elle na verdade em Filosofo genuino * para sua penetraçaó nenhuma sciencia era profunda em demasia , nenhuma sorte de methaphysicas Insondável * faltando sempre «da aptidaõ armoniosa da criaçaõ , e dl universal consentaneidade das coisas. » Naõ obstante uma tarde ao vkita-lo para maior edificaçaõ achei-o* n uma postura , algum tanto embaraçada ; estava senta- do com uma rapariga sobre os joelhos , e ao vêr-se descoberto termelmçnte se confundio. Tive pena de interromper taõ innocentes recreáçõesitas ; e assim dei- • xe j, ° Fiiosofo » arranjar « a aptidaõ armoniosa da cria- çaõ , e a universal consentaneidade das coisas » com a sua querida amantetica. Tinha eu quasi resignado a esperança de descobrir amigo em Inglaterra quando o acaso me lançou no mejó. da seita dos Methodistas (*)- Elles faliavaÕ tanto e tã^largamente da virtude da caridade, e dos princí- pios geraes da benevolencia , que quasi me deixei pes- car da sua apparente bondade. Attraío-me particular- mente um sugeito; era elle pregador de grande nomea- da , e parecia um milagre. Tinha morrido um dos da «ua Congregação e no seguinte Domingo fez aos que lhe sobreviverão um discurso cheio de compunção , desen- volveo um catalogo de todos os que havjao perdido amigos ; espraidu-se muito nas vantagens da resigna- ção , e citou Job como exemplo da paciência , e heroi- co soffrimento. No dia immediato fui convidado a jan- tar com elle , em ordem a termos alguma salutar con- versação sobre a virtude da abnegaçaõ. Á hora de jan- tar veio o cozinheiro desculpar-se por ter deitado a per- der um rodovalho. O Sacerdote se enraiveceo perfeita» Se!ta f •spreguíçaraô por entre os seixos , murmurando como quando na minha menenice eu escutava o seu susurro * e o homem, sómente o homem, estava mudado. Havia partido a communicar com o espirito das pretéritas ida- des , e as mesmas flores que tinha plantado em vida, flucfcuavaó agora sobre o seu leito da morte. Ao desembarcar , procurei os meus parentes , e achei que tinhaó descido a estreita morada * e que eu havia ficado sozinho sobre a terra. Havia particularmente um amigo , ao qual em dias mais afortunados ardentemente me unia a mais viva amizade. Visitei sua outrora paci- fica habitaçaõ — era uma ruina juncada de silvas. Ne- nhum som me deo as boas vindas, quando me appro- xmrei , e a voz que já me fôra tao agradavel , estava agora no silencio da sepultura. Pedi que me mostrassem a sua cova para sobre a relva que a cobria , offerecer preces a Vishnu. Foi-me mostrada, e resolvi passar allí o resto dos meus dias. Longo tempo tenho agora vivido em solidão, che- gando se vai a hora em que o meu nome naó será mais lembrado; porém naó , eu nunca serei inteiramente es- quecido , se esta breve relaçaó de minhas aventuras ex- citar a curiosidade , ou comrniseraqaõ do genero huma- no. Principiei a vida corn ardente sensibilidade em bus- ca de um amigo. De minha elegante religião, assim co- mo na sinceridade com que ella he reverenciada pelos Bramins , imaginei que todas as religiões erao igual- mente puras , todos os devotos igualmente sinceros. Fui porém enganado nas minhas conjecturas» Fantasiei que só se podia achar amizade unida com a piedade y quando aliás ella se naó acha nem unida nem desuni- da. Ao prosegüir em busca -de affeiçaó 3 fui fascinado por um enthusiasmo deslocado. Eu deveria ter apren- dido a conhecer os homens pela historia dos Séculos * t naó idear loucamente um modelo de excellencia , me« ramente suggerido pela ardência de minhas sensações. Assim teria entaõ achado um amigo po Benedktino, I ( 237 ) üo Hespanhal , no Mahometano , no Methodista , e mesmo no vespeiro litterario ; e todos poderiamos vi- ver muito tempo , sem uma vez descobrirmos que os nossos princípios religiosos eraõ diametralmente oppos- los. Mas assim acho-me sozinho sobre a terra ; um des- graçado no meio da felicidade. Todos que me cerca o vejo tranquillos, e só eu naó posso gozar tranquiliida» de. O pobre Indiano sáe pela manhaa , e ao curvar-se debaixo do pezo do trabalho canta alegre, e volta á noi- te para o seio da felicidade domestica; em quanto eut para quem a natureza abria o livro da sabedoria , e a quem a experiencia franqueou seus thesoiros , sou des- graçado na posse destes thesoiros. No meu Paiz nataf naÓ, nunca acharei um amigo; a minha sensibilidade exige muito em demasia : e aonde ha hi um homem que possa tolerar superioridade ? Ainda mais alguns dias , ainda mui poucos dias , e para mim começaráó as transmigrações que me estaó re- servadas. O poderoso Avatar descerá com a pompa do trovão e do rdampago, e pedirá em nome de Vishnu a satísfaqaó de sua desmesurada vingança. Talvez ao oc« cupar a alma de outro animal , eu desfrute a tranquil- Jidade que até qui nunca experimentei. Em Aguia , po- derei revoar magestosamente pelo meio das nuvens , dos raios do Sol beber a luz , e dos tufóes do vento co- lher diversão Em Leviathan poderei pular nos vastos abysmos de Oceano , ou em Liaó rivalizar a voz do tro- vão. Porem naó; eu deverei ser sempre o aborrecido — o odio do genero humano, e talvez em figura de Vi» fcella, ainda virei a servir de petisco ao Methodista que perdeo o rodovalho ; ou na apparencia de alguma lin- da dama, dar aos Stoicos occasiaó para se estenderem K sobre a armoniosa aptidaó da criaçaõ , e a universal consentaneidade das eoisas. # ( ) v^ N° i. COSTUMES SINGULARES, E CEREMONIAS DE VARIAS NAÇÕES. Os Babilônios tinhaó uma lei , seguida também pe- los Henetos , Povo Illirico , e julgada por Herodotus uma das melhores 5 a qual ordenava , que quando as raparigas chegassem á idade nubil , deviaò apparecer a certo tempo numa praça onde igualmente se reunião todos os mancebos. Er ao entaô vendidas em hasta pú- blica , sep^rando-se primeiro a mais formosa. Logo que esta era arrematada, punhaó-se as outras á venda, se- gundo os gráos de belleza de cada uma. Os Babilônios ricos se emulavaó em dar lanços peias mais lindas , qug se entregavaõ a quem mais dava. Porém como. os mance- bos que eraò pobres naò podiaò aspirar a terem mulhe- res bonitas , contentavaò-se com as mais feias que ti- nhaó uma certa porçaó de dinheiro; porque quando o pregoeiro tinha acabado de vender as formosas , man- dava buscar a mais feia de todas , e perguntava se al- guém a queria levar com uma pequena sornma de di- nheiro. Assim passava ella a ser mulher daquelle que era mais facil de contentar ; e deste modo se vendiaó as mais formosas , dando-se do dinheiro que ellas produziaó na venda , os dotes ás mais feias , e ás que tinhaó al- gum defeito physico, Um pai naõ podia cazar sua filha a seu arbítrio , nem se consentia áquelle que a compra- va leva-la para caza , sem dar fiança de que havia de com ella cazar. Mas depois da venda, se os dois con^ trahentes naõ agradavaõ um ao outro , mandava a lei 9 que se restituísse o dinheiro da compra. Os habitantes de qualquer de suas Cidades tinhaó a permissão de com- prar mulheres nestes leilões. Entre os Cretenses era também o cazamento dos ( *39 > homens moços regulado p^las leis. Os mancebos já em estado de cazar naó tínhaó licença para o fazer como queriaó — nao se deixavao entregar aos impulsos de uma paixaõ , que tantas vezes nos extravia naquella seria uniaó. Ao formarem o contracto do matrimonio , nao craó seu objecto , nern as riquezas , nem o prazer — - esses illusorios fantasmas que muitas vezem trazem a discórdia, a indiflferença , e o arrependimento. Em ver- dade , um Cretense nao cazava para si , mas para o Es- tado. Os Magistrados tínhaó o direito de escolher os mais fortes e mais bem-feitos moços, e de caza-los com as mulheres que mais lhes assemelhassem em constitui- ção e figura , a fim de que uma uniaó matrimonial bem proporcionada viesse a produzir posteridade robusta, al- ta , e bem-feita, cujos poderes physicos podessem fa- zer honra á Naçaõ , defende-la, atterrar-Jhe os inimi- gos só com a sua presença ; e conquista-loS e reduzi- los a sugeiçaó com a sua força e valor. Pelas leis dos Francos só era permittido 3 cada ho- mem ter uma mulher , e aqueile que a deixasse por ca- zar com outra , era rigorosamente punido. O laço que ©s unia era indissolúvel , e a mulher inseparave! do ma- rido : seguia-o á guerra; o campo era sua Patria; e do campo he que os exercitos faziaõ recrutas. Rapazes nas- cidos e criados no meio do estrondo das armas , ave- zados aos perigos , e já Soldados , íaó preencher o lo- gar dos velhos t mortos. Cazavaô a seu turno , como nos informa Sidonio Apoliinario, que ao descrever os festejos dados no campo de CJodioíi , em razaó de unri cazamento , nos diz , que um lindo mancebo , pelo qual entende um Franco , tinha cazado com uma linda mu- lher ; e que os Soldados celebraraó suas núpcias com danças Scythicas e guerreiras. O marido sustentava a família com as suas excur* çóes , e com os despojos que lhe cabiaó em quinhão do Paiz inimigo. Na sua volta , as castas caricias da mu* fter amplamente compensava© ao guerreiro as fadigas ( 240 ) <]ue tinha soffndo* Sua querida maó lhe curava as feridas ‘ que havia, recebido' na peleja, e sua obediência e doçurl dava tai encanto ao consorcio , que durava tanto quanto as suas vidas, Esta uniaó era fundada em perfeita subor- dinação. Os Francos daquelles remotos tempos eráo se- nhores absolutos em suas cazas : podiaó dar a morte â «uas mulheres quando estas se afastavaó de seu dever ; e he para admirar , que se um Franco matava a mulher num transporte de cólera , as leis sómente o puniaõ com $ prohihiçaõ de por algum tempo trazer armas. Em consequência desta autoridade absoluta, as mu- lheres eraõ inteiramente dependentes dos maridos , e os respeitavaô como a seus soberanos senhores. Uma mu- lher , nas Formulas de Marculphus , fallando a seu ma- rido 3 usa de termos taó submissos como os de um es- cravo : (( Mon epoux , et mau seigneur ; moi votre hum - hle servante . » O costume de tomar mulheres sem do- te , coniribuia para esta dependencia ; e talvez nossos antepassados, mais artificiosos, e mais politicamente egoístas da que aquelles que agora os reputaó barbaros , julgaraó que cazando , sem serem peitados para cazar f seria um necessário contrapezo ao orgulho das mulheres: preferiaó uma escrava pobre e trataveJ , a uma senhora fica a imperiosa , ou a um tyranno domestico. He cer- to que os Francos, quando se dispunhao a cazar , era como se comprassem suas mulheres , tanto pela doaçaó que lhes faziao , e que devia passar aos filhos , como pelos prezentes que lhes davao , e aos seus parentes mais chegados. Assim a mulher obtinha o dote, naó do pai , mas do marido. Ercninoalde, Maire do Palacio no reinado de Cio- yis II. , comprou a uns piratas uma rapariga de exqui- sila belleza chamada Bandour 5 ou Baltide , que depois deo em cazamento áquelle joven Princípe , e de escra- va que era a fez consorte de um Rei. Devemos porém observar, que a historia lhe faz a honra de nos infor* mar ? que por todo o tempo em que esteve no throno # ( 24X ) oonca ella se esqueceo de que tinha sido encrava ; e tendo depoh da morte de Ciovjs tomado o habito , seu es- pirito totalmente se purificou de objectos mundanos , e de paixaõ pela grandeza, parecendo esquecer-se de teç sido Rainha. Entre os Gaulezes , quandò o pai pretendia eazar uma filha , dava um banquete para que convidava gran- de número de Povo , até mesmo os estrangeiros. No fim do banquete chamava-se a filha , e dos convidados escolhia para marido aqtielíe a quem offerecià agua. Lo- go que o noivo recebia o dote delia , ajuntava a este igual som ma sua própria; todo este dinheiro então era por elles empregado como ambos julgavao melhor ; e os lucros eraõ postos de parte. Quando algum delles morria , o capital e o seu producto ficava para o so- brevivente. Os maridos tinha© jus de vida e morte so- bre suas mulheres e filhos, Nos primitivos séculos da simplicidade as próprias Frincezas eraô affeitas ao trabalho em consequência de uma laboriosa educaçao. Naô desdenhavaó occupaçóes que agora se considera© baixas e aviltantes, pois taes occupaqóes andavaõ associadas com as suas primeiras ideas. Nausicae t filha de Âlcinôo Rei dos Pheacos , teve ordem para lavar os seus vestidos , e fazer todos os ne- cessários preparos para o seu cazamertto. A Princeza im~ mediataménte appareeeo no quarto do Rei seu pai , aon- de a mãi estava sentada ao pé do lume , com as cria- das a fiarem láa em redor delia. Nausicae pedio uni car- ro ao pai para lhe levar a roupa ao rio em que a de- via lavar. Alcinôo mandou aprontar o carro com uma parelha de mulas. A roupa de Nausicae foi-se buscar á sua cama. a , e metteo-se no carro. Também se man- dou pôr alli, por ordem da mãi , um cesto com o seu jantar , e urna bilha de vinho. Nausicae metteo-se oo carro , eonduzio-o ao rio , ou ao legar em que haviaó Ianques de lavar. As mulas fora© tiradas do carro * & V&i* Ui Num, III, Q ( 242 ) largadas a pastar nas margens do rio em quanta a rou- pa se tirava do carro e se lavava. E no tempo em que se enxugava , a Princeza pôz-se a jantar. Solon prohibio dar dotes em cazamento , conceden- do ás noivas trazer só tres vestidos , e algum trem de pouco valor. Sua intençaõ era , elevar os cazamen- tos de um commercio interesseiro e desprezível , a uma uniaó honrosa para o augmento da especie humana — » a um estado humano e agradavel — a uma amizade t' r terna e doce. Dionysio 9 Tyratmo da Sicília, em razaó da reve- rencia que tinha por esta connecçao armoniosa , deo a seguinte resposta a sua mãi , quando esta lhe pedia que a catasse com um mancebo de Syracusa : — « Para me J) fazer senhor de uma Cidade, tenho eu podido forçar » as suas leis ; porém naó posso forçar as leis da na- » tu reza , para fazer com que cazamentos desiguaes se« » jaó toleráveis aos dois contrahentes. )) O costume de se queimarem as mulheres Indianas juntamente com o corpo dos maridos , traz sua origem 9 segundo urna passagem em Diodoro Siculo, do crime de uma mulher , que tinha envenenado o marido. No antigo Egypto era permíttida a polygamia , ex- cepto aos Sacerdotes que naó podiaó ter mais de uma mulher ; e , ou esta fosse escrava ou livre eraó seus filhos reputados legítimos, e gozavaó da liberdade corro direi- to de naturalidade. As horas da refecçaó estaó singularmente mudadas em pouco mais de dois séculos. No reinado de Francjs* co L da França , costumavaó dizer Lever a cinq ? dmer a neuf Souper a cinq y coucher a neuf Tait vivre d'ans nonante c neuf O Rei de JVlonomotapa está cercado de Poetas e Músicos , que o adulaó com estes lisonjeiros epítetos li Senhor do Sol e da Lua, Grande Magico, e Grande Ladraõ ! O Rei de Arracan assume os seguintes títulos : imperador de Arracan; Possuidor do Eiephante branco ; e dos dois Brincos ; e em virtude desta possessão * le- gitimo herdeiro de Pegu e Brama ; Senhor das doze Pro* Vincias de Bengala , e dos doze Reis que lhe mettem a cabeça debaixo dos pés» Continuar-se-á, l£>>Ví5h BOSQUEJOS ÁCERCA DA SUISSA E DO RHIN. Extraídos do Jornal manuscrito de um Viajante moderno * ^ Apenas se poderá imaginar uma perspectiva mais diversificada 9 mais fértil , e ao mesmo tempo, mais ma- gestosa do que a das vizinhanças de Genebra. Fm par- te alguma tem a bem succedida industria desenvolvido maior assiduidade na cultura — em parte alguma tem a natureza desdobrado maior sublimidade ou variedade na cor, posiçaõ , ou altura das montanhas em redor. Al- gumas têem ella formado em Pyramides 5 Torres, ou Agulhas ; outras em arredondados zimborios , ou exten- sas cadéas, Algumas tem coberto de verdura ^ outras de gelo eterno. Aqui tem ella eriçado seus lados de ponta* gudos rochedos , acolá vestido-õs de selvas fluctuantes ; êm toda a parte , e em todo o momento do dia , mu- dando , e modificando seu aspecto pelas mais singula- res succéSsoes da luz e da sombra. Ajunte-se a esta ma- gica scenâ um extenso lago , uma corrente a serpentear t um vasto e rápido rio, alegres campos taó perfeita- rnente cultivados como jardins, vinhedos carregados de uvas , os mais âgradaveís passeios , os mais deliciosos sítios , e então se poderá formar uma idéa adequada de Genebra ç seus suburbios. Poderá depois disto $ur- prehender-nos o enthusiasmo que os naturaes sentem pelos seus lares ? ou os inextinguíveis prestígios que to- ( 244 ) dos os Viajantes encontrão neste encantado e encanf^ dór faíz ? Seria falta de gosto para quem se acha em Gene- bra deixar de vizitar Ferney , Aldêa inteiramente des- conhecida antes que Voltaire ]he desse sua presents celebridade. Ao chegar alli, fiquei como absorto do aceio universal das cazas que menos parecem habitações de Camponezes do que de Lavradores opulentos. Saõ ellas pela maior parte obra do admirado Patriarcha # que to- mou particular deleite em animar a industria , e pro- mover as commodidades dos Artistas que alli estabele- cera. Depressa os effeitos do seu patrocínio se desen- volverão no augmeoto da prosperidade e populaçaõ da sua Aldêa favorita * que , á sua morte em 1775 contava já oitenta cazas , e mil e duzentos habitantes , quando ape- nas continha oito choupanas ao fixar alli sua residência. A entrada para o Castello he por meio de uma Alameda de choupos , na extremidade da qual á maá esquerda ha uma pequena Igreja» bem telhada * sem campanario , e do mais simples estilo de architectura^ Na fronteria está esculpido *— « Deo erexit Voltaire . 3$ O Castello he um quadrado singelo , sem decorações. Ao vizita~lo mostrou-se-me o quarto da cama do Filoso- fo 5 e que assim como o saíaõ contíguo , Mr. de Eude s áctual proprietário , tem deixado no mesmo estado co- mo quando Voltaire vivia , com o mesmo gosto e li- beralidade. A camara he extremamente mediana, orna- da com um cenotaphio de porcelana , a que está unida uma pequena taboa com esta epigraphe — (( Soa esprit est partout , maU soa coeur est ici. Entre grande numero de medíocres pinturas e gravuras que vestem as pare- des , notei retratos de Milton e Newton. No centro de um hosquete de Freixos, Olmos, e Abetos para alem do jardim ha um insignificante monumento de madeira cercando uma prancha de mármore gravada com estas palavras — (( Mes manes sont çonsplós puisijue wpn cocup e s t milieu de vouu » ( M9 ) O te^aço no Jardim commanda a mais extern# e variada perspectiva. Ao Nascente os Alpes ; ao Poente õ Jura; mas que diferença entre as duas vistas 1 o Ju- ra parecia em distancia meramente uma cadéa extensa e riad interrompida , sem que seu mais alto pico exce- da , 5:000 pés : o golpe de visía contrario era único. Á direita o grande e pequeno Saleve ; ao diante dcllcs os chamuscados Brezon e Véfgi ; á esquerda os frondo- sos Voirons , o arredondado cume do Buet , e Aiguiile cTArgentières ; no centro a enorme pyrarnide de Mole ; t para a parte do Orízonte uma terrífica cordilheira de serras , sobre que o Monte Branco , eleva seu mages to- so zimborio. Mil vezes vi eu este espectaciilo , e ou- tras tantas o admirei.com o mesmo transporte como á primeira vista. As cores que a neve assumia a esta ais- tancia eraõ singulannente diversificadas; numa parte de tinta escura e fusca , n/outra cinzenta ou parda ; numa terceira reffectiaò a mais scintillante alvura. O Sol rodeado de nuvens levemente evaporando , estava agora a escõndér- se por detraz do Jura. Seus últimos raios ferindo oblíqua- mente as montanhas fronteiras produziaõ um effeito aLém do alcance da imaginaçaò ; e que , também debalde, ten- taria retratar ou a penna ou pincel ; em fim era uma scena encantadora que só existio por um momento , e que se desvaneceo com o planeta do dia. Quasi uma lesoa distante de caza principiei a dirigir para eila os meus passos ; quando , ao chegar ás margens do lago, a noite estava serena, e clara, ligeiros e azulados va„ pores , espalhados na distante superfície da agua , fluc- fcuavaò ao longo das faldas do sobranceiro precipício ; as estrellas brilhavaó com fulgor naó manchado ; e a lua # elevando-se em silenciosa magestade por detraz das mon- tanhas esparzia uma torrente de semi-mortos raios pe- la extensão do lago , cuja desencrespada expansaó reflec- tia os tenues raios que tremulavnÕ na sua aupefficie. Pa- recia repassar a natureza o socego da morte , interrompido sô pelas desfalecidas e prolongadas notas de uma trombeta ( ui ) Franceza exhibidas da praia opposta , e soando como s memória dos prazeres que já passaraó , agradaveis e sau- dosos á alma. Tudo emprestava sua tranquilla influen- cia i?os deleites da tarde ; — deleites os mais puros e suaves ; naó deixando ao coraçaõ nada a dezejar , nem ferida de que se resentisse» Ao volver para caza , absorvido nas varias reflexões que a scena fazia nascer , de repente me veio á idé* que eu tinha passado uma hora em Ferney , occupado só na contemplaçaõ dos circundantes attractivos da na- tureza , sem uma vez pensar no seu primeiro proprie- tário. E donde, perguntei a mim mesmo, provém es- ta callosa insensibilidade para com utn homem taó al- tamente celebrado? — He "que » memória daquelle ho- mem immortal , se bem que associada com tudo que ha de grande e glorioso no Mundo mental, he ainda inca. paz de excitar uma sensaçaò branda e terna» A curiosi- dade só foi o motivo de minha viáita a Ferney , e a sua gratificaçaó a unica que me induzio a demorar-me alli tanto tempo. Porém houvesse Voitaire unido ás masculinas qualidades da alma, os sentimentos moraes do coraçaõ, houvesse elle temperado o orgulho do Fi- losofo com a humildade do ChristaÕ ; entaõ um encan- to secreto revoaria em roda daquelle sitio, e aili me deteria como voluntário cativo.- com pezar eu me te- ria arrancado daquelle logar ; e a saudade da minha par- tida só seria amaciada pela anticipaçaÓ de que ainda outra vez eu vizitaria , e de novo admiraria aquelle in- teressante sitio. Tal he o triunfo do genio quando com- panheiro da virtude í * *********** ^.^ Coppet , a uma iegoa de Ferney, deriva seu prin- cipal interesse das lembranças associadas de seu ultimo dono , Madame de Staél ; e profundo deveria ser em ver- dade o interesse que infunde um espirito como o dei- la. Em qualquer ponto de vista que se considere , naó se lhe póde negar assento na primeira classe das mu- # v ( 247 ) Ifieres celebradas. Desde o momento em que os primei- sos tenues raios da sua estrella fulguraraõ sobre o Ori- zonte, até o periodo da sua total extincçaó, a sua vi- da, offereceo muitas e tocantes vicissitudes , — c sua consideração fornece muitos mananciaes de reflexão pa- ra ser de todo naó mençionada. Madame de Staél entrou em tenra idade na sua carreira litteraría, e isto a um tempo em que a influen- cia do pai 9 a gerarchia do marido, os dons da fortuna, e as dissipações do mundo lhe franqueavaõ o facü go- zo de todos os prazeres. As « Lcttres sur Rousseau » forao seu primeiro ensaio» Uma mulher de vinte annos emprehendeo a delicada tarefa de pezar os méritos de Jean Jacques , e 5 em muitos logares , o panegyrista, € o objecto elogiado iicaraõ a nivel. Alguns annos de- pois , produzio e 1 la sua Dejfense de la Reine » no pro- prio momento em que a desgraçada Maria Antoinette estava debaixo dos golpes dos seus assassinos. Forao to- davia as « Reflections sur la paix interieure )) que ueíaó a primeira forte indicaçap da previsão politica , e habili- dade que depois a fizeraò taõ celebre. A este período tornou-se Madame de StacI nociva aos que entaõ gover- navaõ a Náo politica da França; em consequência do que foi exilada , e , durante aquelle exílio , escieveo muitas obras que lhe deraó taõ distincto logar no Mun- do litterario. Em 1797 publicou o seu (( Essai sur l in- jlnence des passions )) obra incompleta , cujo plano lie defeituoso em razaõ de ser muito vasto , mas que he uma inexaurível mina de ideas nervosas e justas. Em l8op saio da imprensa (( Delphine » ; e pouco depois & Corinne )) que todo o Mundo tem lido, e # ao íêr * tem admirado como um elegante bosquejo do Paiz mais interessante da Europa. Em 18 rt appareceo a sua obra i( De VAllemagne » em que desereveo um Povo morai porque he instruído, e instruído porque goza de uma liberdade raras vezes infringida. Elogia alii uma circula çaõ de iiUeraU^ía independente e iliiniitada V e mostra % ( *4* ) ' s f j mesma convicçaó , de que o genio , se m tal lí. berdade, naó póde existir. Esta obra foi Supprimida p,- lo Cjoverno Francez» Naó obstante cultivar ella deste modo os ferreis campos da Iitteratura , durante «m exiliò do seu Paiz natal , e das bem-queridas scenas da sua mocidade , seu eoraçaS naô era com tudo insensível a esta privacaõ ; ella lutou nobremente contra o fado, porém sentio to- da a sua amargura. Dividio o tempo em viajar por va- rias partes da Europa, onde sua brilhante reputaçaó lhe assegurou sempre uma cordial boa-vinda ; e em vizitar frequentemente seu pai , que amava quasi com adora- çao. Que vista poderia ser mais interessante do que a de M. Necker e sua filha ? Um , trazendo comsigo ao re- tiro as mais dignas recordações , e a mais pacifica segu- rança de ter sempre satisfeito seus deveres públicos , — a outra , lançando raios de genio , talento , e energia chamava sobre si todas as affeiçóes , referia todas ao"pai como seu oráculo director , existia só para lhe agradar e ajuntava aos attractivos de uma conversação sempre fluente, o maior fervor da piedade filial. De tal pai foi tal filha privada em uma das suas excursões; Voltou com a possível brevidade, mas já tarde; e, carregada de afflicçaõ , taõ sincera quanto r - zada , de tudo a fez esquecer esta só perda. Os últi- mos tres anrsos da sua vida, Madame de Staei pôde tc- davia passa-los naquella França que taõ excessivamente amava. Tudo concorreo a recompensa-la de seus passa- cios infortúnios. A justiça do Rei lhe restituio o sagra- oo deposito que M. Necker tinha confiado i tutela da Naçao. Um filho, que herdou e prezou todos os senti- mentos de sua mái ; uma filha, que estava felizmen- te unida a um homem de representação e influencia ; — amigos, que durante suas adversas circunstancias se ha- viaõ mostrado capazes de participarem da sua prospe- I idade ; — todos se reunirão em redor delia. Ainda mo- ça, tinha ella razaó de esperar u:m longa contjnuaçaS c M9 y destas foenqsos 9 quando a morte , depois de cinco me* zes de sofrimentos , a foi arrancar daquelles cuja feli- cidade eila tinha cimentado; e de cujas afeições elia dispunha. Madame de Stael unia a um entendimento profun- do a mais "viva sensibilidade , e as mais ardentes sensa- ções. Pensava com vigor , e sempre expressou o que pensava; porém nem sempre pensou com justeza; e por isso algumas vezes suas expressões ofenderão. Mui frequentes vezes suas paixões lhe subjugaraõ o entendi- mento ; e com o coraçaõ sempre aberto aos ardentes dictames da benevolencia , com sentimentos abundando em boa vontade e affeiçaõ para com aquelles de quem experimentara as mais insignificantes attenções , e cujos sentimentos faziaõ honra á natmeza humana, se fossem moderados pela prudência; rica de todas as qualidades .que poderiaó conciliar estima , de todos os dons men- taes que poderiaó excitar admiração , tem ella com tu- do deixado apos si muitos inimigos , e assim também muitos amigos Possa a sepultura esconder seus defei- tos , tanto quanto aquelles que a amavaõ prezaô suas virtudes , e possaõ aquelles que atassalhava© sua vida respeita- la agora na morte ! * ********** *** Depois de um intessante passeio de tres dias fora de Genebra , o meu amigo e eu entrámos no valle de Chamouny. Este pequeno districto , que oferece % união dos mais singulares phenomenos , e dos mais to- cantes contrastes, tem já exhaurido o tempo, e os ta- lentos de um sem número de viajantes. Alguns, con- duzidos pelo anciòso espirito da investigaçaõ , e pro- funda pesquiza , téem traçado as mais be 1 Ias e doutas pinturas ; outros , lançando fora as pêas da sciencia , e dando inteiro campo á imaginaçaõ téem pintado suas varias bellezas com o calor do enthusiasmo : e naõ obs- tante téem todos eíles ficado muito áquem do seu ob- jecto a Me assim que a natureza , imprimindo nas suas ( * 5 ? ) obras o augusto cunho da magnificência téem drcuns- cripto a estreitos limites as descriptivas faculdades do homem, A cada paSso eíla fere, assombra, e confunde seus olhos: nem outra alguma homenagem requer mais do que muda e inexpressiva admiraçaõ. O vai Je de Chamouny tem quasi cinco legoas de comprido , sendo sua largura media, duas milhas. He ma- tizado de prados e campos , regado todo pelo Arve , e de todos os lados , excepto ao Sul , cercado de altas montanhas. As neveiras , a que elle , e o Monte Bran- co , devem especialmente sua celebridade , amostraõ-sc em continua successaô A primeira que descobrimos foi a de Pacounay 5 de todas a menos considerável ; um pouco mais adiante desce a de Boissons, e termina en- tre os campos ; em distancia vê-se a sinuosa neveira des Bois entrando dentro do fértil valle. Estas estupen- das neveiras , os sombrios pinhaes que as bordão, os so- berbos rochedos de granito que as coroaò , os muitos picos das serras, que apenas a vista pôde seguir por en- tre as nuvens , e sobre os quaes o Monte Branco ele- va sua magestosa cabeça, formão uma das mais subli- mes scenas que o espirito humano póde conceber. Desviámo-nos um pouco da estrada com o hm de vizitar a neveira des Boissons , collocada tres quartos de lego a a nossa direita. Depois de subirmos por algum tempo um carreiro alcantilado e escabroso, a neveira se apresentou directamente á nossa frente. For entre os escuros pinheiros sobre que pendia , discernimos suas 3 nnumeraveis pyramides de uma alvura deslumbrante , e por fim chegando á base em que eíla repousa numa superfície quasi nivelada, escalámos as muralhas de pe- dras soltas e terra ( chamada na linguagem do Paiz Moraiue ) que tinha despejado fóra , @ nos achámos no seu leito de gelo. Naõ julgo possivel traçar em papel a correcta idea da forma e natureza de uma neveira — cumpre vê-la para bem a conceber. Muitos escritores concordaõ em compara-la ao Oceano, ou a una lago ge- (*y O lado de repente, quando agitado por uma terrivel tor- menta; porém esta definição offerece objecçóes , pois que a consequente associaçaõ de idéas deve necessária e paturalmente conduzir-nos a suppôr que uma neveira he orízontai , coisa que naõ tem fundamento algum. Imaginemos nós uma serra elevada , ingreme e co- berta de neve, de cujo tope caem mui vastas e fun- das torrentes, as quaes , lolando-líie pelos lados , acar- retao comsigo espantosos pedaços de pedra , e montóes çle ruinas : imaginemos agora estas torrentes , pela for- ça dos ventos, e pela sua mesma arrebatada quéda „ agitarem-se ao mais alto gráo de violência , arremeçan- do suas vagas á altura de quarenta ou cincoenta pés e trazendo sobre suas encarapinhadas cabeças largas mas- sas de granito. No meio desta confusão , imaginemos uma omnipotente inaó mudar repentinamente toda a tumultuosa scena r , em solido gelo , conservando ainda sua perturbada fórma , e entaó se poderá conceber a na- tureza e aspecto de uma neveira. A neveira dos Koissons tem ultimamente causado muita inquietação ao bom Povo de Chamouny , em ra- zaô de sua perceptível avançada, e que mesmo chega a um pé por dia. No anno de 1820, porém, esta omi- nosa marcha cessou , nem he de esperar que taó depres- sa a reassuma, NaÔ he de esperar 9 disse eu ! Devemos estar seguros que nao , pois que os vizinhos adoptaraò $ como indubitável preservativo , cravarem defronte do gelo , um grande Crucifixo de páo , o qual ameaçando asperamente o inimigo que se approxima , parece dizer- lhe « Até aqui podes tu chegar , mais adiante naó„ » — Quanto naô póde a superstição ! A rvossa excursão a Montanvert e Mar de Glace, foi muito interessante , e grande additamento de pra- zer colhemos da sociedade de uns nobres Russianos que acompanhámos. Saímos do Hotel de L 'Union ás sete horas da manhãa , num dos mais belios dias de que < ) íiaja lembrança em Chamouny, acompanhados de ©it 0 gu.as, numero necessário em consequência de irem as damas montadas em mulas. Dá-se a uma elevada serra o nome d e Mantanvert , coberta de pastigos , e confinan- o com a neveira des Boa. A estrada atravessa o valle em direcção obliqua , e logo sobe por uma mata de pi- nneiros e abetos entrecortada de tres fundos barrancos effeito do desgelo passado, e canaes para o futuro! Adiante da ponte de Caillet , onde he costume descan- çar por alguns minutos durante a subida, o caminho he excessivamente fragoso, e já intransitável em mulas; aqui pois, as nossas lindas companheiras des, nontaraá de suas cavalgaduras , e , com o soccorro dos «uias sU- biraô lentamente a pé. Em duas horas e me, a depois que haviamos saído do Hotel , chegámos ao cume de Montanvert , onde um pequeno edifício nos deo com- mod idade de almoçar carne fria e vinho que os criados traziaõ. Ha al!i um livro onde aquelles que sobem a ser- ra teem liberdade de inscrever seus nomes com algum pensamento appropriado; ceremonia que religiosameiv e observámos. O valle de Chamouny havia já desappare- c 'do, mas, em seu logar , outrp vaie, naõ m nos ex- tenso, e bordado de altas rochas de granito, se esten- dia a nossos pés; era elle de gelo , e chamado o ft]„ ■e Glace 1 Ao vér taô desusado espectáculo era impos- sível naõ vir á lembrança a bella descripçaõ que Um- te hz do inferno de gelo ; Perch i ml tolsi e vidimi davcmte •E sotto i pie dl un lago ? che per gielo *Avea d vetro e no/t d*acqua semblante „ &1 Tempo aproveitado . Quando Voítaire fez a sua ulti- ma vizita a Paris , um autor novo , com mais vaidade do que merecimento , julgou-se obrigado a pagar seus íespeitos ao Nestor da litteratura , e ao ser introduzido fallou-Ihe assim. « Grande homem , eu venho hoje sau- dar-vos como a Homero; ámanhãa vos saudarei como a Sophocles ; no outro dia como a Plataó. )> — Vol- taire o interrompeo dizendo-lhe: (( Pequeno homem, eu sou muito velho ; naõ podereis vós pagar todas es* sas vizitas num dia? » ( *í6 > Assassínio e Suicídio . Prégan do um Sacerdote contra emprestar dinheiro com mura , affirmou que isto era tao grande peccado como o assassinio. Algum tempo depois foi ter com um seu freguez a pedir-lhe empres- tadas vinte moedas. (( Que í disse o outro, depois de terdes declarado que emprestar dinheiro com usura eia tao máo como assassínio? » — <( Eu naó entendia , dis- se o Parroco , que vós me emprestásseis dinheiro com usura , mas sim grátis < » — « Isso , replicou o fre- > sefria na minha opinião tao máo como suicídio , A pena. Jozé IL Imperador da Allemanha , viajan- do incognito poisou n’uma estalagem dos Paizes Baixos * onde fazendo bom tempo, e estando a caza toda occu- pada, dormio numa caza no pateo , depois de ter cea- lo um pouco de presunto e ovos , pelos quaes , e pe« a cama pagou quasi o valor de seis tostóes. Poucas ho- as depois , chegando um da comitiva de S. Magesta- ie , o estalajadeiro pareceo affiigir-se por naõ ter conhe- cido o seu hospede. Que! homem, (disse um dos iríados ) S. Magestade está acostumado a estes precal- f os , e nunca mais se lembrará disso. » — « Fie mui- to provável (replicou o estalajadeiro) porém eu nun- ca me esquecerei de ter tido um Imperador em minhaf* Caza , e fazer-lhe só pagar seis tostões» Graça Algerina . Sendo um Fraocez feito escravo por um Algerino este lhe perguntou o que sabia fazer* A resposta foi , que eIJe estava acostumado a uma vida sedentária « Bem , disse o Pirata , mandar-te-ei fazep tunas calças de pennas , e te porei no choco. » Distincçaô própria, Taylor , Poeta Inglez fez pre~ sente ao Rei Díogo de um livro quando S. Magestade saia da Missa, O Duque de Richmond disse ao Poeta — ® C Taylor , onde aprendeste a criaçaa de dar ao Rei ( 257 ) ixm livro sem ajoelhar ? )) Ao que eífe respondeo (( Mi- lord j agora dou , quando pedir , entaô ajoelharei . Sociedade . O Marquez dei fa Scallas , Fidalgo Italia- no * querendo dar um banquete, seu Mordomo o infor- mou, de que estava alli um peixeiro com um peixe muito bom , e exquisito , porém que pedia por elle um preço mui desusado — « Na <5 quer dinheiro , porém insiste em que se lhe deem cem correadas nas costas. » O Mar- quez stupefacto, mandou-o entrar; mas elle persistin- do no peditorio , para o satisfazer, ordenou que se lhe desse a pedida doze , recommendando que naó lhas car- regassem muito. Quando acabou de receber cincoenta açoites, gritou — « Parai ahi ! Tenho um socio 9 com quem ajuster de lhe dar metade do preço porque ven- desse o peixe : he o porteiro de V. Excellencia , que me nad deixava entrar sem aquella condição. <( He qua- si desnecessário accrescentar r que o porteiro , teve o seu quinhão, e que o homem, recebeo o verdadeiro va- lor dp seu peixe. Si/mptomas curáveis . Um homem rico mandou cha- mar o Medico, que tomando-lhe o pulso, lhe pergun- tou — Come berd , Senhor? Sim , Senhor , ( disse o paciente. ) Dorme bem ? Durmo. Entaô. (disse o Medico) algum remedlg lhe darei 9 para lhe tirar tudo isso . Sic vos non vobis.^ Em uma noite muito escura, ía passando um homem cégo com uma lanterna na maó. Cí Como sois louco ;*( lhe disse um sugeito que o en- controu) Que beneficio-vòs pôde fazer essa luz? » Ao que elle respondei», com muita pachorta , « Trago esta lan- terna , naó parã-me alumiar á mim*, mas para prevenir , q. e algum veldévinps como tu, venha dar-me encontroes a Voz*. II, UI. B. ( 2j8 ) Vantagem da corteúa . Numa batalha curvando-se por acaso um Official , passou-lhe por cima da cabeça uma baila de canhaô , que foi matar um Soldado que lhe estava na retaguarda ({ Bem se vê ( disse o OfBeial ) que a gente nunca perde por ser eortez. Reproche brando . Pouco antes da Revolução Fran- eeza^ embebedaraõ-se em Liso uma chusma de Inglezes , os quaes saindo para a rua , fizeraÕ toda a quaiidade de insulto á gente que encontrarão, Na maohãa seguinte o Com mandante Francez , em logar de os tratar com a aspereza que merecia a sua conducta , mandou-lhes o se- guinte delicado reproche. M faz os seds compri- mentos aos Senhores Inglezes. Tem a hõnra de lhes pedir que nao se incomrnodem em corrigir algum dos habitantes desta Cidade que os insultem ou offendao ; podendo estar certos de que a pessoa que os tratar com falta de respeito 5 será castigada severamente. C ah iça do Clero , « Quanto custa (disse um rústico) que estes Parrocos ?ecebaõ a decima parte de todos os nossos prbductos ' » — « A decima parte (disse o ou- tro ) a vigésima tomariao elles , se podessem » Sfmptom de civiUsaçoo. Havendo o viajante Stuart naufragado n ma praia desconhecida , onde depois de terem andado elle e seus companheiros muito tempo sem verem creatura alguma , por fim com grande satis-* façao descobrirão um homem suspenso n J uma forca. — i( O prazer (diz este viajante) que taó agradavef vista nos causou naõ pode descrever-se ; pois que nos fez convencer que estávamos num Paiz civilisado. » Galantaria Turca. Uma dama lançava em rosto a um Embaixador Turco , o conceder a religião de Ma- hornet a um homem ter muitas mulheres, S. Excellen- * i u „ . I ■ m ( 2 S9 ) th' respondeo — * « Madama , isso era necessário para que nós podessemos achar em muitas , as prendas - que estaó concentradas em V. Excel lenda. Amor proprlú , Pedindo uma pessoa um favor , cf- firmou no seu memorial que elle fazia este pedirorio-, inais por amor do Ministro do que por seu proprio in- teresse — <í Ao Supplicante ha-de ser sem dúvida pro- veitoso** porém , a vós, Senhor 5 ha-de se-lo dez vezes mais ; elle redundará em vossa gloria , elle mostrará a todo o Mundo que V • Excellencia sabe premiar o mere - reclmento . » Sentimento nobre. Alguns Cortezáos representavad ao Imperador Sigismündo a imprudência da sua conduc- ta ; pois que em vez de destruir os inimigos que ven- cia , mandava-os cheios de favores , e os repunha em situaçaõ de lhe poderem causar dam no ; ao que elle res- pondeo — « Nad destruo por ventura os meus inimi- gos, quando os faço meus amigos? » 0 amor he cêgo. Sendo uma mulher apanhada por seu amante , nos braços de um rival # negou o facto de que elle era testemunha ocular. (í Gomo! (disse elle) sois capaz de tal impudência ? » — • <( Pérfido homem (exclamou a dama) agora vejo que já me naó amais; dais mais crédito ao que vedes, do que áquilío que eu vos digo. }> Aposta ganha. Um Cavalleifò muito vaidososo de sua pessoa , estava-se disto vanglpreando , quando um da companhia observou ({ Vós alardeais de bem-feito com essa perna taó torta!» — * Aposto ( disse o outro ) que vòu mostrar-vos outra peor na companhia? )) — íí Está apostado , respondeo o primeiro. Elle ganhou a aposta faze-ndo ver — a outra sua perna, )) C 260 ) N,° 7, f variedades Sobre Sclencias , Agricultura % Historia 5 Antiguidades , Wel Dívida Nacional da Inglaterra K Mr. Lafond Lade- bat , numa estimável obra a respeito das finanças , tem-se divertido em fazer alguns cálculos curiosos acer- ca da enorme dívida da Gram-Bretanha. MostFa elle que aquelía dívida passada a bilhetes de libra esterlina cada um , e postos unidos uns aos outros, elles cobririaó o espaço de 4516 legoas qua- dradas ; — em guineos , faria uma linha de 10:000 le- goas ; — reduzida , a farthíngs ( moeda que correspon- de quasi ao nosso cinco réis) sendo possível fazer dei- las sete columnas , chegariaõ í Lua. — Para transportar esta divida de uma para outra parte , a razaó de qua- renta arrateis por homem , sendo em oiro , seriaò pre- cisos 3 74-5 3 1 homens; — em prata* mais de cinco milhões ; — e em cobre, mais de 262 milhões de pes- soas» Para conta-la, a razao de cem guineos por minu- to , occupar-se-ía uma pessoa 27 annos. Sociedade Astronômica de Londres . Lêo-se ultima- mente uma carta de Mr. Gauss a respeito de um mui- to simples invento para um Farol , em operaçóes geo- deticas , o qual pode ser visto a mui grande distancia. Esta maquina nada mais he do que um espelho com- mum reflexivo de um sextante; tendo quasi duas pol- egadas de comprido e quasi poliegada e meia de largo * montado de tal maneira que sempre re flecte os raios Solares a um ponto dado em distancia, naõ obstante o movimento do Soí. Ao instrumento, assim montado chama elle (( um Meliotrope »: e a luz reflectida era taô forte que a dez milhas de distancia dava fulgor (dema- siado para o telescópio de theodoüto , e foi preciso cobrir uma parte do espelho. A 2$ tpilhas, ã luz pa- ( ) rccia uma linda estrella, mesmo estando umã parte co- berta de nevoa e chuva ; e a 62 milhas de distancia era suíücientemente fulgurante para um sinal. De facto, o unico limite , que apparece ao uso deste bello instrumen- to , he aqueile que provém dá curvatura da terra. Preservação de objectos anatamicos . O Dr. Macartney da Universidade de Dublin , tem por algum tempo em- pregado a soluçaô de nitro e pedra hume para preser- var preparações anatômicas, Achou que ella preserva a natural apparencia do corpo mais completamente do que os espíritos , ou outro algum fluido usado até agora. As proporçóes da pedra hume e do nitro , e a força da so- lução , requerem ser variadas conforme as circunstancias ; e em ordem a impregnar inteiramente as preparações anatômicas , deve-se por algum tempo renovar occasio- nalmente o licor. A solução possue tantas faculdades antisépticas , que as substancias animaes , inda as mais pútridas e offensivas , ficaõ por dia perfeitamente li- vres de fétido , em poucos dias. Academia Franceza. A Sociedade de Medicina oífe- receo dois prêmios para 1822 e 1825 pelas melhores memórias sobre os seguintes objectos: — Symptomas ? causas , e tratamento da moléstia conhecida pelo nome de febre cerebral , ou hydrocephalica : — Segundo : as al- terações mórbidas de que se achaô indícios na viscera abdominal , saõ causa , effeito t ou complicação destas doenças ? O Atheneo de Medicina deo o anno passado a se- guinte questaô para se decidir em Agosto de 1822; — determinar pela experiencia e observação , a acçao d a camphara sobre o corpo, primeiro em estado de saude ? depois em estado de doença , e deduzir as qualidades therapeuticas daquelle remedio. Roma. Mr. Ba® , célebre Cbymico , natural de Pér- gola , nos estados da igreja, acha-se agora aqui. Rece- beo do Vice-Rei do Egypto um presente de ioo:coo cruzados , e o titulo de Bei 5 por ter descoberto o me- ( z6i ) tíiodo <íe produzir salitre, sem intervençaó do fogo, e só pelo calor do Sol. Antes desta descoberta cadl quintal de salitre custava ao Vice-Rei dez cruzados que por este methodo estaõ reduzidos a um cruzado. A Fa- brica erecta por Mr. Baffi no grande largo de Memphis forncceo o anno passado, j: 500 quintaes de salitre. Do mesmo Chymico sabemos que o Vice-Rei mandou bus- car 2:00c Negros do interior da África , que ao presente estaõ disciplinados i moda Europea. Utilidade dos Soldados em tempo de paz. Os Milita- res Suecos estaõ empregados desde a ultima paz , em serviços muito uteis ao seu Paiz. Mais como legiões Romanas do que como os actuaes exercitos dos Sobe ra- aios da Europa , empregaõ o tempo em fazerem estra- das puolicas 5 que virão a ser a admiração da Posterida- de, Têem também aberto novos canaes , feito Rios na- vegáveis , e erigido fortificações em redor de muitas Praças O número de dias em que têem sido emprega- dos nestas importantes obras montaraõ , durante os ul- tisnos sete annos , a 5:? 10:^14» He de notar , que os Soldados nunca estiveraõ em taõ perfeito estado da saiU de , como estaõ desde o principio destes trabalhos. França. Barcos de vapor. Estes Barcos têem tido o melhor successo em Bordeos. Quatro deiles fazem dia- riament* carreira a Laugon , indo pelo Rio acima até o ide chega a maré. Dois vaõ a Pauiüac , e mesmo no tempo dos banhos trazem Passageiros a Royan. Outro * construi do em Bordeos foi costear toda a praia desde aquePa Odade ao Havre, onde se emprega na passagem de Honfleur. Outro, construído no mesmo estaleiro, mandou-se para a Martinica para u$o daqueíla Ilha. <( * Hijalographo, Mr. de Cliochamp instructor da mocidade para o serviço da Marinha , em Toulon , inventou um instrumento chamado Hyahgrápho , que tira com extrema exactidaõ as figuras dos objectos na- turaes. Uma qualidade particular de tinta serve para im- primir no papei os desenhos traçados no vidro do ins- ! . ( 2 ^ ) trume-nto; e como a primeira impressão he mdelevel , pódem-se tirar muitas provas dando-lhe outra vez tinta. O Hyalographo também serve para muitas applicacõcs émthematicas. As obras executadas com tinta Hyalogra- phica parecem desenhos lyth-ographicos. Lltterainra Italiana. A lingua Allemaa continua a fazer consideráveis progressos na Italia , e particularmen- te na Lombardia. Mais de aco pupilíos a estudàó no Ly- ceo de Mdaô , e mais de 500 eiji outras escolas, ou li- ções particulares. O número de pessoas em Milão, ca- pazes de lêr obras AISemaas sobe a mais de $*oco. He o mais activo e zeloso delles Mr. Argenti , cujas obras condizem com seus pessoaes exercícios na disseminação da lingua Allemaa pela Italia. A conspiração de Fies- que acha-se traduzida em Alíemaò : as obras dramaticas de Kotzebue foraò também traduzidas em Modena; e cm Florença, continua a coiiecçaõ do Tbeatro Alíe- inaó a combinar a litteratura de ambos os Paizes. Gess- ner que os seus ingratos Concidadãos têem quasi es- quecido , he o favorito da mocidade da Italia * , assim como o he dos outros Paizes. Os Jornaes litterarios , que continuaô a preservar caracter na Italia saô a os OpuscuU de Bolonha : ll Glonmlc arcadico de Roma: Antologia de Florença; Giornalt ? t?«- ciclopedico de Nápoles : Giornale chimico de Pisa 7 e a Biblioteca Italiana de Milaó. O numero 12 da Antologia (Dezembro de 1821) contem muito interessantes arti- gos» taes como o retrospecto das melhores obras Fran- cezas em differentes assumptos da lei crimina! : Reflexões sobre os synonimos da lingua italiana — Um artigo sobre a lingua Romaica , ou Grego moderno — Üm ensaio político ácerta do Povo da nova írlespanha , Este Jornal , e muitos outros provaó que os Italianos fazem por adiantar-se , a par das mais civilizadas Na- ções , na marcha do entendimento, e no progresso das Sciencias e Artes. De algumas obras periódicas .e íoihe- fcos que algum tempo ha apparecerao em Nápoles^ e C 2Ó 4 ) especialmente, to spirho di vertiglne pareceria qtre es . a parte d* Itatia está retrogadando , e merece o re- proche que Jhe faz Lord Byron ; porém he bem sabi- do, que os domínios Napolitanos contcem grande nú- mero de espíritos filosoficos , q Ue se vêem obnVados a occultar seus sentimentos. Parece, porém, que a espe- cie de estudo predominante na Italia he a Iitteratura e erudição ; ao menos a maior parte das obras , publica- das na península , saó deste caracter. Também he cer- to, que muitos homens de mérito cuítivaó as Sciencias moraes e políticas, mas saÕ infelizmente obrigados a metter-se na chusma dos antiquários e traductores. O gosto dos Italianos para a tragédia , parece desenvolver- se mais e mais ; naõ passando até agora suas produc- çúes neste genero de serem mera imitaçaõ dos mode- los Gregos : defeitq em consequência do qual , eiles riaó poderão inspirar nos seus contemporâneos senaô mui pequeno interesse ; mas que dá sufficiente evidencia de que possuiaõ o mesmo talento para o Drama que para toda a outra qualidade da Iitteratura. Infelizmente , cir- cunstancias os privaraó de um Theatro e escola nacio- nal. A pezar destes obstáculos , têem as producçoes de Ricoboni e Goldoni sido recebidas em Paris com gran- de applauso , assim como as de Marteüi , Orsi , JVJaffei e muitos outros. Com tudo desde Alfieri , téem-se os mais distinctos Poetas Italianos entregue á especie na- cional do Drama adoptado por aquelle autor: devendo- se certamente confessar que a maior parte de suas obras encerrao grande mérito , exhíbindo sempre tendência a algum fim patriótico , a pezar dos quasi insuperáveis obstáculos com que têein a lutar. < Despeza em libras esterlinas da Gram-Bretanha por ij annos finalizando era 1820. Subsídios Despezasda Am. Civil* Militar • a ! Potências Div. e Cah c, estrangeir. < da amorüsaç. 1806 9:120:000 39:755:000 3 3:502:000 1807 8:080:000 40:282:000 3 5 :420:00o 1808 5:628:000 43:897:000 3:989:000 36:288:000 1809 10:237:000 46:244:000 1:250:000 57:875:000 1810 6:453:000 46:709:000 2:059:000 59:545:000 j8n 6:833:000 51:65 5:000 2:977:000 40:885:000 j8l2 12:572:000 ç 3:461:000 5:31 5:000 0 0 0 0 £ 1813 14:843:000 58:544:000 n; 394 ?ooo 47:144:000 1S14 14:736:000 6 3:687:000 10:024:000 48:901:000 1815 20:277:000 45:655:000 11:03 5:000 50:397:000 s8i6 1 5:900:000 27:732:000 1:731:000 54:230:000 1817 10:516:000 17:522:000 46:023:000 s8i8 9:930:000 16:445:000 46:849:000 1819 9:067:000 17:383:000 47:247:000 3820 9:352:000 16:714:000 48:920:000 Despe z* . Total. 82:377$ 83.782^ 89:802$ 95 :6 ° 4 $ 94 **$ 66 $ 102:340$ 114:552$ 131:825$ 1 57 -H 8 $ 127:364$ 99‘S93$ 73:061 $ 73:224$ 73 ^ 97 $ 74*9 POLÍTICA. Londres 5 de Junho. Chegarad-nos Gazetas de Cal- cuta, até 12 de Janeiro. — Noticias de Gôa, até 4 de Dezembro, mencionaó , que o Capitao General D. Ma- noel da Cainara , chegado ultimamente do Rio de Ja- neiro , havia alcançado ascendência sobre o Governo; e que os cinco Membros da Junta Provisional recentemen- te constituída tinhaó sido arrestados e postos em pri- zaô no momento em que tramavaõ a mesma sorte a S. Excel lene ia. D. Manoel tinha tomado posse do Pala- cio em Panguin com a approvaçaõ dos habitantes. No- va Junta se havia arranjado, de que o Governador era Presidente. O Jornal de Calcuta faz uma pintura de Gôa , que alcança a dois mezes depois da revolução pe- la qual foi deposto o Vice-Rei, e previa á co-ntra Re- ( 2 66 ) voltiçaó que restaurou a autoridade ao Governador. A força militar de Gôa e suas dependencias , regula-se em 4:000 homens , dos quaes só 200 saõ Europeos : para esta força ha tres Marechaes. Os soldos sao modicos , e os Soldados deploravelmente disciplinados. O Clero "de Gôa reputa-se em o número de 50®, e taó ignorantes que Iié uma miséria. Novci York $ de Maio . Receberaó-se em Philadel- phia Gazetas de Caracas até 6 de AbriL Uina delias in- titulada El Jnglo Calwnbiano , que se publica em Hes- panhol e ínglez contém a ultima mensagem do Presi- dente Monroe ao Congresso , com algumas observações do presente estado da guerra na Província de Coro , e em Puerto Cabeílo. Naó apparecem novos factos , po- rém o escritor prognostica confidentemente a breve ex- pulsão dos restantes Realistas do terreno da Républica. )) Taó debilitado, diz elie , lie o estado da força Hes- panhola que ou a victoria ou a derrota lhe deve ser igualmente fatal. Manterem-se no posto será em breve impossível: se avançarem, seraó destruídos. O que Mo- rillo naó pôde efFectüar com 12:000 Veteranos, será apenas tentado pelo desprezivei Moraíes com i:$oo va- gabundos sem coragem , batidos , e cercados de todas as partes pelas mesmas tropas que derrotarão o ultimo exercito Hespanhol no Campo de Carabobo. Londres $ 1 de Maio . Levamos hoje copiado das Ga- zetas de Madrid ( 19 do corrente} um curioso documen- to portuguez intitulado ({ Circular dirigida aos Minis- tros de S. Magestade Fidelíssima residentes nas Cortes Estrangeiras — C< Em verdade os Reis de Nápoles e Sardenha saõ fastidiosos ! — Era de suppôr que elles tivessem visto muita coisa cie interferencia estrangeira em caza , para se darem a regular a Còrte de Lisboa no que toca a escolha de Embaixador — Evening MaiL Lisboa 12 de Junho . Indicação do Sr. Borges Carnei- ro , lida na Sessão de hoje. « O Imperador Tito Vespasiano reputava perdido í 167 ) o dia em que naó fizesse algum bem ao Povo Romano : o nosso Ministério para solemnisar algum dia, naó du- vida fazer mal ao Povo Portuguez. Fecha-lhe nao só os tribünaes e audiências contra o disposto na lei de $ de Setembro do anno passado ; mas as Alfândegas mes- R10 , e as cazas de arrecadaçao , o proprio Terreiro do Trigo , contra a expressa prohibiçaó da Ordem das Cor- tes de 21 de Março do mesmo anno, deixando os mes- mos Lavradores com os seus generos , e barcos empa- tados no Tejo , e pagando alugueis de pousio : e gas- ta dos dinheiros públicos, prezumo , que 12:000^000 de réis ! Como assim? Authoridades aduladoras? Tanta actividade para estas vaidades , e tanta frouxidão , direi melhor , tanta connivencki para com os Contrabandistas dos Cereaes i Quereis vós solemnisar dignamente os dias natalidos de uma Princeza ? Fazei que nesses dias re- ceba o Povo benefícios ; que o seu despacho seja mais prompto ; e que os Empregados Públicos recebao * 2:000^000 de réis á conta de sêus retardados alimen- tos. O Povo abençoará entaó dias que lhe saó bem- faze j os. Para solemnisar uma Rainha taõ chara aos Por- tuguezes por suas virtudes foi necessário que as Côttes facultassem gastar-se 4 í 000 á & 000 r ^ s : a e ora P ara s0 ~ kmnisar a filha de quem acaba de insultar grosseiramen- te a Naqaó Portuguezà nas pttsoàs de seus represen- tantes, gastaó-se 12:000^000 d© reis sem necessidade de licenqa alguma!! Naó bastava equiparar esta solem- nidade á das festas Nacionaes ? Pois nesras naó se fe- chaó as Cazas de arrecadçao , nem vímos iíluminados á custa do Estado o Arsenal , as Alfândegas , e z% Embar- cações de guerra , com perigo de serem incendiados. Díz um sabiò escritor , que costumao os Cortezaos vol- tar-se para os Príncipes Successores da Corôa , e ado- ra-los como ao So! nascente. Por este theor vemos irem caminhando alguns lisongeiros do nosso teóipo , ate pas- sarem sem escrupulo por baixo de m.urrões accesos , e guarnições a postos , como debaixo de forcas, caudinas > ( 268 ) para irem protestar ao Príncipe uma obediência céga ; e omnímoda; e entregar se preciso fòr toda uma es- quadra e expedição a quem se apresenta em apparato hostil , para contrariar a vontade da Naçaó , e do Rei. Pois saibaó estes aduladores , que daõ as costas á Na- çaó e ao Rei para só voltarem a cara a quem algum dia lhes poderá fazer mercas , que a Naçaó lhes saberá voltar também as costas , e te-los na conta que mere- cem. « Proponho por tanto , que o Ministro respectivo do Governo da a razaò porque se infrigiraó as duas de- terminações das Côrfces acima citadas, e diga com que autoridade se despendeo tanto dinheiro público, que de justiça se devia aos Desembargadores da Supplicaçaò , c aos filhos , e viuvas dos empreiteiros do 'Palacio da Ajuda , a quem se naò paga a sua empreitada. » Lisboa 18 de Junho . Parecer da Commissaé encarre- gada da redacçao dos artigos adâicionaes para o Brazil. 1,0 Q ue n ° Kei'no do Brazil , e no de Portugal e Álgarves hajaõ dois Congressos , um em cada Reino , os quaes seraô compostos de Representantes eleitos pe- lo Povo na forma marcada pela Constituição. 2. ° Que o Congresso Braziliense se deverá juntar na Capitai , onde residir o Regente do Reino do Brazil , em cjuanto se naò fundar no centro do mesmo Reino uma nova Capital , e que deverá começar suas Sessões no meado de Janeiro. 3. ° Que as Províncias da Asia , e África Portugue- 2a , declararáõ a que Reino se querem encorporar , para terem parte da réspectiva representação do Reino a que se unirem. 4*° Que os Congressos ou Cortes Especiaes de ca- da Reino de Portugal , Algarve , e do Brazil legisfaráó sobre o Regimento Interior dos mesmos Reinos , e so- bre tudo o que diga especialmente respeito ás suas Pro- víncias , e teráó além disto as attribuições designadas no Capitulo IIX. do Projecto de Constituição , á exce- ( ) eepqaS das que pertencerem ás Cortes Geraes do Ira- perio Luso Braziliense. 5 o Q ue a sancçao das Leis feitas nas Côrtes Espe- ciaes do Reino do Brazil , pertencerá ao Regente do diso Reino , nos casos em que pela Constituição hou- ver logar a dita sancçao. 6.° Que sanccionada, e publicada a Lei pelo Re- gente em nome , e com authoridade do Rei do Reino- Unido 5 será provisoriamente executada; mas so depois de revista pelas Côrtes Geraes , e sanccionadas por El- Rei , he que terá inteiro , e absoluto vigor. 7. 0 Que em Portugal os projectos de Lei depois de discutidos nas Côrtes Especiaes, e redigidos na forma em que passaraõ j seraó' revistos pelas CôYtes Geraes ^ depois do que , e da devida sancçao Real em que ella tiver logar , he que teraô validade de Lei. 8.° Que na Capital do Império Luso Braziliense , além das Côrtes Especiaes do respectivo Reino se reu- nirão as Côrtes Geraes de toda a Naçaô , as quaes se- rão compostas de 5 o Deputados, tirados das Côrtes Especiaes dos dois Reinos , 25 de cada um , eleitos pela respectiva Legislatura , d pluralidade absoluta de votos» ç.° Começaraô as suas SesSÓes um mez depois d'© findas as Sessões das Côrtes Especiaes em Portugal , e duraraô estas Côrtes Geraes , por espaço de tres mezes 9 acabados os quaes dissolver-se-aó , elegendo antes , de entre si uma Deputaçaõ Permanente, como se acha mar- cado no fim do Capitulo X. do Titulo III. do Projecto da Constituição * á qual competirá as attribuições men- cionadas no dito Capitulo no que interessar á Naçaó cm geral. Io.° Que ás Côrtes Geraes pertence : s i.° Fazer as Leis que regulem as relações Com- merciaes dos dois Reinos entre si, e com os Estran- geiros. 2. 0 Fazer as Leis geraes concernentes á defeza do Rejno-Unido , e á parte Militar da Guerra } e Marinha» L° e discutir de novo as Leis passadas nas Còrtes Esp.eciaes , para que sendo approvadas , e sane- cionadas por El-Rei , continuem em seu vigor, e sen- do rejeitadas quanto ás do Brazil , se mande sustar a sua execuçaó. Este exame se reduzirá a dois pontos só- mente , que se naó opponhaó ao bem do Reino Irmão* e naõ offendaó a Constituição geral do Imperi©. 4«° Decretar a responsabilidade dos Ministros dos dois Reinos , pelos actos que directamente infringi- rem a Constituição , ou por abuso do poder legal * ou por usurpaçao no que taõ sómente toca á Naçaõ em geral. 5.° Teraó as attribuiçóes marcadas no Capitulo III. Artigo 97 do Projecto de Constituição , desde N.° i a 8. 6 o Fixar annuaimente as despezas geraes , e fisca- lizar as contas da sua receita , e despeza. 7. ° Determinar a inscripçaó , valor, lei, tipo, e dimensão das moedas , pezos , e medidas que seraó as mesmas em ambos os Reinos. 8. ° Promovera observação da Constituição, e das Leis, e geralmente o bem da Naçaõ Portugoeza. Art. n.° Que na Capital do Brazil haverá uma de- Jegaçaõ do Poder Executivo * que exercerá todas as at- tribuições do Poder Real , á excepçaõ das que abaixo vaõ designadas : esta delegaçaõ será confiada actualmen» te ao Successor da Ccjrôa , e para o futuro a elle , ou a uma pessoa da Caza reinante , e na sua falta a uma Regencia. / i2.° Que o Príncipe herdeiro, ou qualquer outra pessoa da famüia reinante, naõ seraõ responsáveis pe- los actos da sua administraçaõ , pelos^quaes responderão taõ sómente os Ministros. A regencia porém será res- ponsável da mesma maneira que os Ministros. Pelo Art. í $.° se mostra que naó póde o Regen- te apresentar Bispos , e Arcebispos ; prover os Jogares do Supremo Tribunal de Justiça; nomear Embaixado- res , Cônsules ? e Agentes Diplomáticos ; conceder Ti- ( ) tuíos : declarar gueira , ou seja offensíva , ou defensiva ; fazer tratados de Alliança , &c. 6tc. 14. ° Que no Brazil haverá um Tribunal Supremo de Justiça, formado da maneira acima dito, e que te- nha as mesmas attribuiçoes , que o Tribunal Supremo de Justiça do Reino de Portugal , e Algarves. 1 5 , ° Que todos os outros Magistrados, serão esco- lhidos segundo as Leis pelo Regente, debaixo da res- ponsabilidade do competente Secretario de Estado, Quan- to aos outros funccíonarios públicos , tratar-se-á nos mais artigos addicion&es. — Assinado pelos Srs. Fer- nandes Pinheiro , Ribeiro de Andrade , VúUla Barb&za # Jaim Cantinho , e Araújo Lmia» A Commissaò Çspecial encarregada de redigir o Programma para a composição do Godigo Civil julga ter Cumprido o seu dever , propondo o seguinte Programma. As Côrtes Geraes Extraordinárias e Constituintes da Naçad Portugueza estando bem persuadidas de que a paz e felicidade das Sociedades Civis está intimamen- te ligada com a bondade das Leis , porque ellas se re- regulao; e considerando , que as actuaes Ordenações do Reino , feitas ha muito mais de dois séculos , e n a u- ma época , em que Portugal gemia debaixo de um ju- gó estranho, pelos erros, e faltas de que abundaô , nao podem já hoje preencher o fim , para que foraó destinadas; o que he geralmente reconhecido por todos , e ha pouco servio de fundamento para se resolver a composição de um novo Codigo: julgarao, que nao po- diaõ no momento actnal da nossa Regeneração Políti- ca offerecer um campo mais vasto para o util emprego dos engenhos Portuguezes , senão convidando os nossos Juris-Consultos a comporem um Projecto do Codigo Civil ; o qual sendo feito com a perfeição de que taes obras saò susceptíveis , levará sem dúvida á mais remo- ta posteridade o nome de seus üiustres Autores, e nao só fará para sempre memorável a, época 9 em que vive- ( *7* ) mos ; mas será reputado como o maior beneficio , que as presentes Cortes promettem á Naçaó, quando já es- tão próximas a tocar a meta de seus importantes tra- balhos* E como he muito conveniente por uma parte naó entorpecer o fervor do engenho , sujeitando uma obra de semelhante natureza á cooperação sempre arriscada, e muitas vezes inútil de mtiitcs indivíduos de differen- tes talentos , estudos , e zelo do cumprimento de seus deveres, e por outra parte dar um incentivo aos sa- bios Juris-Consultos Portuguezes para se applicarem com o maior desvello na composiqaõ de uma obra , de que lhes ha-de resultar taó grande gloria , e á Patria conhe- cida utilidade : resolverão as Cortes annunciar os pré- mios , que hao-de obter os Autores do Projecto do Co- digo Civil : e as condições , a que se devem sujeitar pa- ra os obterem. i.° Todos os que quherem concorrer aos prémios propostos seraõ obrigados a apresentar um Projecto de Codigo Civil ás Cortes s que se baÕ de instai lar no i.° de Dezembro de 1824/ e logo no dia da sua installa- çaõ : os que concorrerem depois deste prazo naõ serão admittidos aos prémios. 2. 0 O Codigo será dividido em duas partes dis- tinctas : uma delias ha-de conter o Codigo Civil, a ou« tra o processo do Codigo Civil. Ambos estes compre- henderáô um systema luminoso da Jurisprudência , acoin» modado aos grandes progressos , que esta sciencia tem feito nas outras Nações , e ás circunstancias particula- res , tanto physicas , como moraes da Naçaó Portugue- za> As Leis do Methodo seraõ observadas em a obra , e cada um cios seus artigos será escrito com muita clare- za , precisão , e pureza de linguagem. A Legislaçaõ do novo Codigo ha-de ser conforme á actual Constituição Politica da Monitchia : e naõ se deve desviar do direi- to derivado dos costumes de longo tempo observados em a Naqaõ % excepto quando esse desvio se fundar em mo- ( *73 ) tivòs attendiveis , que serão declarados em breves Kn«* tas. Estas saõ as únicas restricções a que ficaõ sugeitoi os que concorrerem aos prêmios. 3. 0 As Cortes logo que tenhaó recebido os projec- tos do Codigo qut vierem a concurso nomearáó uma Commissaó de cinco Juris-Consultos dos mais acredí- tâdos no Reino tanto na theoria , como na prática da Jurisprudência , para os examinarem , e darem o seu pa- recer acerca delles em consulta, que deverá subir á$ Cortes 110 preciso termo de 60 dias , durando o quaí seraó dispensados os Commissarios do exereicio de to- do , e qualquer Oíficio Público. Nesta consulta seraó classificados os projectos , segundo a ordem do seu me- recimento, notando-se em cada um delles especial me Li- te as virtudes, e os defeitos notáveis em quanto, ao sys- tema, methodo , doutrina, e locuçaõ ; e escolhendo-se entre todos aquelle que parecer mais digno de se adop- tar , e sanccíonar como Leu 4. 0 Subindo a Consulta ás Cortes , estás a remet- teráõ a uma Commissaó do seu seio , a qual depois de examinar os diversos projectos , e 0 que ácerça delles se consultou exporá ás Cortes no termo de 30 dias $ se algum ha , que mereça o prémio ; qual elíe seja \ © se os dois , que se lhe seguem , ainda que de inferior merecimento devem ter a honra do acccsiit. A Com- missaõ deve entender, que um só indivíduo naó póde fazer uma obra taõ difficíl , izenta de defeitos ; e naó deve esperar , que esta agrade em todas as partes ao$ sábios , que a haô cie examinar , pot isso naõ faraó de- pendente a adjudicaçaó do prémio , de uma perfeíqaó quimérica, e sempre disputada; mas sim do mereci- mento real do trabalho considerado geral , e particular*» mente, a pezar de que tenha alguns erros, ou defeitos accidentaes ; e sobre tudo da sua aptidaó para ser ad- mittido , e sanccionado como Lei. Porém o projecto * que naõ tendo um merecimento relevante se distinguir som tudo na bondade do sysUma 9 do methodo, ©u da ÍVl, ll &VM, Ul S ( 274 ) doutrina , de maneira que delí e se possa tirar uma utili- dade real para a composição do novo Codigo 5 esse te- rá a honra do accesslt . As Côrtes depois de terem ouvido o relatorio da CdmíTíissáo , e de o terem discutido 9 adjudicaráõ o prémio áo projecto, que ó merecer, e declararáó quaes sao os dois 3 que merecem o accesslt , Logo que publi- carem este juizo faraó abrir as cédulas , em que estive- rem escritas as Epígrafes dos projectos para se annun- ciarem os nomes dos Autores premiados ; e^iandaráo queimar as outras cédulas , no caso em que se ofFere- cessem outrds projectos» As mesmas Cortes faraó pu- blicar pela imprensa as obras , que merecerão o prêmio 9 t o accesslt , e a consulta , e ralatorio que as censurá- fao ; e concedendo tempo bastante ao Autor do pro* jecto premiado para o poder emendar # o qual naó ex- cederá $ tnezes , daraó antes de se separarem as provi- dencias necessárias , para se ajuntar uma Deputaçaõ ex- traordinária, a hm da se discutir o projecto assim emen- dado. 6,° O prémio consistirá na quantia de trinta mil cruzados pagos em vinte annos pelo ^Xhesoiro Nacio- nal , numa pensaó annual de óooçfyooo féis % e tam- bém n 9 uma medalha de oiro do valor de 50^000 réis 3 qual terá de um lado a imagem da Lusitania , coroan- do com uma coroa de loiro , e ramo de oliveira ao Au- tor do projecto , cuja efhgie será alli gravada , e n o re verso a seguinte legenda * — Ao Autor do Codigo Civi Vortúguez* A Patria agradecida — O prémiado poderá tra- zer pendente ao cólo essa medalha nos dias de Festivi- dade Nacional. 7«° Cada um dos Autores dos dois projectos , que obtiverem o accesslt receberáó metade do prémio pecu- niário acima estabelecido , e pago por semelhante ma- neira. Sala das Côrtes 26 de Maio de 1822, — Francis- co Manoel Trlgozo de Aragaô Morato , Jozé Joaquim Fer - Xcira de Moura 9 AU^&nàrs Th9ina& dj Moraes S^rimnUf 9 > ( * 7 ? ) Jàzè Vaz Corrêa de $eãbva 9 Jozé Joacjàiní Rodrigues de Bastos. Serra Leòã 17 de Março.- A 1 6 de Fevéreíro che- gou aqui a Náo íphigenia. Na sua viagem de Gambia f $?r Rohert Mendes , Cominandante desta Náo * des- pachou uma partida de Marinheiros em botes , para o fim de procurarem Navios de Escravatura em Eissagos e Rio Grande * cuja medida parece ter produzido na<5 pequeno elteito , pois que a 2 dê Março entrou appre- hendido peíos Botes um Navio Fortuguez com 175 Es- cravos já mettidos a bordo. He para lamentar que destas noticias se colhao pro- vas addidonaes de se ir augmontando o número de tfios de Escravatura que continuaó a despovOâr a des- venturada África, A Náo Thisdê que ha pouco chega- ra de cruzar a sotaventô , caio , em Gaünas , sobre a Barco Phccnix do Havre de Grace 5 e sobre o Brigue I/Rspoir de Nantes ; o primeiro commandado por MrV Duprie , o segundo por Philip Lempreur , Capitaõ de Fragata da Armada de S.fMagestade Christianissima , em cujos Navios de Güerra naquella paragem , se observá Uma extraordinária omissão de cóhibirem o tranco dós Escravos. Estes Navios esperavaó carregar Escravos em um ou dois dias ^ tendo já provisões de agua , e tendo as plataformas prontas para receberem suas vícti-* mas. Dois grandes Navios Hespanhoes, e dois Hollande- zes se tinhaô feito á vela carregados de Negros , antes de ter chegado à Gaünas o Thístle : naó se sabem os nómes y e destinos destes Navios ; seria com tudo um mó acabar se fossemos a particularisar os Navios que todos os dias navegaó daquelle logar^O GommandaHas do Thistle soube em Galinas , que duas Escunas de Corsários , com dois Navios Americanos apparentemen- te tomados por , ellas , íinbaó , durante o ultioio mez, vizitado aquelle Porto y e carregado grande numero de Negros» Este modo de obter carga naó he novo entre m Commerciafltefr de Elsravos ; elles saó , sçm exçep* S a ( *76 ) çao nenhmíia , verdadeiros piratas ; e he de esperar que naõ venha distante 6 dia em que as Potências da Eu- ropa, adoptando os princípios praticados pelos Estados- Unidos , os pronunciarão como taes. Ao deixar Gali- nas , o Commandante Hagar procedeo a TradcTown e alli achou que uma Escuna Hespanhola ^ com 150 Es- cravos a bordo , tinha saído para Havanna , poucos dias antes de sua chegada. Na Commissaó mixta Britanica e Portu^ueza , foi coftdemnada a i] de Março a Escuna Portugueza Conde de Villa Flòr 9 e julgados em liberdade todos os Escra- vos que tinha 2 bordo. Assegura-se que os depoimen- tos neste caso , iníeiramente confirmaõ as primeiras as- serções , a respeito da iniqua participaçaÓ das Autori- dades em Cacheo e Bissáo , no Pacto do Commercio da Escravatura tendo sido uma porçaõ de Negros embar- cados por ninguém menos do que o proprio Governador. Paris 21 de Junho . O Cordão Sanitario ainda dá que fazer ás imaginações dos nossos políticos. ' Geral- mente reconhece-se a necessidade que ha delie para pre- servar o nosso Território' do contagio que tem desola- do , e que ainda ameaça parte de Hespanha ; porém el- les naò pensão em outra coisa senão projectos hostis, e os movimentos das Tropas recentemente ordenados os confirmaó em suas ideas. Para e lies já naò ha meio termo : nada i declaráraó guerra , e fallaô de começar a sua campanha. Podemos dar a estes meus senhores al- guma informação , que talvez os induzirá a recuar a marcha. Passaraó-se ordens para a reparaçaò da nossa Ar- tilharia , naó só nos Pyrineos , como em todas as ou- tas partes ; uma disposição que abraça as fronteiras tan- to Orientaes como Aleridionaes , determinou que s-e aprontassem todas as armas. Em tudo isto nada ha que mantenha a suspeita dos espíritos inquietos , ou as es- peranças dos descontentes. A França , pelo que nós conjecturamos vai principiando a regular seu estado mi- litar. A França nao faz ataque algum i Independen- ( 277 ) cia de outra alguma Naçaõ 3 nem tem medo que ího façaõ a elJa. Podemos estar certos disto. — Moniteur. $n lo nica 6 de Maio. O nosso Governador , embria- gado com o successo de suas carnicerias acaba de de-* clarar que o Sultão, cujas ordens executa, estava fir- memente resolvido 'z naó soífrer de futuro, que Chris- tãos alguns existissem em parte alguma da Turquia Eu- ropéa. He por consequência prohibido occupar os Bis- pados vacantes , e vaó-se destruindo os Templos í pro- porção que elje entra mais pelo Paiz. Toda aborte de Commercio cessou aqui. Os fer- teis plainòs de Seres esraõ mudados em desertos , aban- donada a cultura do tabaco em Egia , e todos os Gre- gos , Búlgaros , e outros Christãos , tomaraõ armas, ou para conquistarem , ou para morrer. Paris 17 de Junho. O Moniteur tem duas ordens reaes , izentando o Marechal Duque de Albufera , e o Conde Belliard das restricçòes impostas pelo primeiro artigo do Decreto de 24 de julho, iBif , áquelles que deraõ juramento , e tomaraõ assento « na pretendida Camara dos Pares de Napoleaõ Buonaparte. » O Capitaó Valle, foi a dez do corrente executado um Toulon # conforme a sentença da Cour d 3 Assise daquella Cidade por convicção de ser um dos princi- paes agentes de uma conspiração contra o Governo. Bayonna 11 de Junho. A 8 do corrente um reforço de 2r $ o Infantes e 50 cavallos , bem armados , sairaõ dos subúrbios desta Cidade para se reunirem ao Exercito da fé em Navarra. O General Quesada ía á sua testa. Multipiicaõ-se as insurreições nas Províncias Bas« cas. Reina o maior desassocego em Bílbáo. Estaõ para marchar contra os insurgentes dois batalhões da guarni- ção ; receia-se, que durante a sua ausência os insur~ gentes daráõ um assalto á Cidade. Os rebellados de Navarra cainK) sobre um desta« camento do Regimenio de Toledo 3 e 0 obrigaraõ a fê- tirar-se. C 2 78) ■Predomina em Aragao grande agitaçaó , e esta Pro- víncia em breve seguirá o exemplo da Catalunha. Ga- .zctte de F rance, Muito obrigado ? Sr. Gazeteiro 5 pelo seu juizo, Londres 21 de Junho, ( Extraído do Evening Mail ) Recebemos um masso de Gazetas de Lisboa de 3 até g do corrente inclusive , mas debalde temos procurado fieilss detalhes de importância a respeito da conspira- ça 6 ultimamente descoberta , e frustrada. Achamos no Diário do Governo de 7 , um alto elogio ao Ministro de Justiça por sua vigilância , firmeza , e prontidão em desfazer os desígnios dos désaffectos 9 mas naô dá novas particularidades , porque possamos ajuizar da grandeza do perigo que ameaçava , ou dos meios específicos porque íoi evitado. As Còrtes continuaó a discutir os artigos da Constituição com tanta pachorra , que parece julga- rem s que fazer uma Constituição, he o mesmo que disfruta-] a ; pensando , como os Caçadores , que fazem consistir o seu prazer mais no exercício da caça , do Cjue na posse do que caçaraô. Por este vagar 5 e de- liberação mostrao ao menos 9 que naõ debatem entre os «obresaltos da violência , nem temem que os seus traba- lhos sejaõ interrompidos , ou por maquinaçao na Côr- lo 8 ou desaffeiçaó no Exercito. França, <{ » » 0 Jurnal des dehats do dia 16 do mez passado relata o seguinte ; O Barco de Vapor y Aarot % Manhtj 3 construído de ferro chegou a Paris no dia if r vindo de Londres com carga de alguma semen- te , e ferro fundido. Em 5 5 horas fez a viagem de Lon- dres a Ruao : saio deste uítimo Porto quinta feira d« manhãa , e chegaria a Paris na tarde do sabbado 5 se*? mó tivesse chegado a terra ao pé^de St» Audelys , em consequência de ter quebrado uma corda , e de ser de- tido pela multidão que em differentes partes vinhao 9 Bordo para o verem. He dificultoso appreciar correcta- mente o immenso maquinismo y e solidez deste Barco. Á construcçaõ das rodas que se projectaó só sete pás f ( 279 ) he a mais simples e engenhosa que nunca se tem usada em barcos de vapor. Ao subir peio Rio 5 nao andava tanto como os outros barcos de vapor , o que se attri- fone em parte á qualidade inferior do carvao que trazia % q em parte á johabilidade de pôr em movimento o seis mechanismo por falta da agua ^ desembarcou parte da Süa carga em St. Nichoias , e o resto entregou-a na fun- diqaò de Gharenton. Esta viagem será para sempre me- morável na historia da navegaçaõ , sendo a primeira ten- tativa que se fez para atravessar o Oceano em iun bar* co que nao fosse composto de páo. A em preza teve de** cididamente bom successo» Assim temos nós uma com- municaçaó aberta entre as duas grandes Capitaes da Eu- ropa 5 e que se realisa em muito menos tempo do que os mais segurds Navios Mercantes gastaó só para che- garem a Ruaó. Durante a viagem 5 nenhum açeidente oc* correo , nem a bordo se pôde descobrir que o movimeiv to do Barco differisse do mais seguro Navio que nave- ga os mares. Este Barco foi construído por Mr. Manbf , que intenta fazer Barcos da mesma natureza , a fim de navegar o Sena entre Paris , e o Havre, Lijmington 25 da junho» O sobrecarga do Navio Re» pulse 9 desembarcou aqui esta tarde vindo da China , & havendo-a deixado a 8 de Fevereiro passado , dia em que a Náo Topaze também de lá saio. O Governo Ghinez tinha mandado a bordo do Topaze um Manda- rim para vêr os homens que haviao sido feridos ; e por esta circunstancia julgava-se , que as ultimas diíferenças em breve se acommodariaò amigavelmente. O Kent , Navio da Companhia , tinha a bordo q tia si dois terços da carga , e daria á vela logo qué se recebessem de Pekúl algumas communicaçoes. Londres 2 6 de junho. Esta manhãa chegaraó Gaze- tas de New-Yoick que alcançaó a 27 do passado. A zz o Navio Mercante Endymion , chegou de Laguira áquel- Je Porto 5 com 14 dias de viagem > cujo Capitaó noticia que a Esquadra Patriota do bloqueio, consistindo de $ ( 28o ) Brigues c 6 Escunas > depois de ter por muitos dias fei^ 10 fogo sobre a Cidade , havia intimado á guarniçaõ que se rendesse , a resposta da qual se naõ sabia ainda quando o Endymion se fez á véla. Dizia-se em Laguira , que o General Hespanho! JYIorales , frustrado em todos os seus projectos ; e per- cebendo que estava a ponto de ser cercado , havia es-* capado 3 e chegado a Puerto Cabello. Isto notao(New- Yorck Evening Post ) he extremamente provável. Um dos mais acreditados Negociantes Inglezes , re- sidente em Constantinopla escreveo a seguinte terrível noticia. (( Muitos desgraçados Negociantes Gregos acaba raã. Os seguintes forao a iS do corrente degolla- dos em diíferentes partes da Cidade. — Hagi Stamati Psieho 3 Kanzuli Tranghiadi , Michele Vuro , Georgio Guletti , Georgio Marioloche , Michele Mitarache , Cons- tantino Clini , arrestados pela Porta quando se soube aqui a Revolução em Chio. — Theodore Rulli , G@o^ vanire Sepiiigi , Pemedíli Rodo Whacki , refens man- dados de Chio. — Theodore Ziib , ajudante de uma re* p^ptlçao Turca. Nos armazéns desta infeliz gente, pôz^ 11 § pello do Governo, e a Porta anda fazendo vigí- Jantgi pesquizas por outros quaesquer bens seus. Diz-se que a causa da sua destruição he ter-se interceptado uma correspondência entre elles , e os insurgentes de Chio* JLst® motivo he na minha opinião sem fundamento ; pois que esta gente haveria de certo deixado a Capital , c 0*- iv o muitos outros , se aquelle fosse o caso ; naõ teriaõ $|jado aqui 3 i testa de seus estabelecimentos , estenden- 4 o , em vez de encurtarem, suas transacçoes çoipmer» fiaes » Courier . Londres 24 de Junho, As Gazetas Francezas de quir^ fa feira confirmaõ a noticia que extraímos da Gaiette d& WvffltQ rfe quarta feira , acerca da apprehensaõ do Ge- p ra! Bertfion. Em todas ellas se acha inseria uma es-? peei© de paragrapho oficial , onde se diz que na tarde dp feira â o Ministro d» Guerra 3 Marechal Bei- I ( i8i ) ]uno , tivera uma audiência de S. 3YI. para lhe annun- ciar o acontecimento. O rebelde General , diz-se ter si- do apprebendido por um destacamento de Carabineiros, juntamente com dois dos seus cúmplices , perto da Tor- re de Saumur , scena da sua arrojada empreza ; de ma- neira que ou elle naõ tinha nunca saído daquelle couto, ou vendo-se acoçado , tinha repentinamente voltado pa- ra elle. Que fez a Policia , e os Militares por todo aquelle tempo ? Na Gamara dos Deputados, quarta feira, Mr de Bourienne lêo um parecer da Commissaó a respeito dos Direitos de Alfandega, e muitos membros inscrevera^ os seus nomes, tanto a favor , como contra o projecto de lei que fecha o parecer. Depois suscitou-se um renhido debate sobre duas indicações, calculadas talvez a excitar sensações partida- rias , e conflictos políticos , a saber — um projecto de Jei para restabelecer o Seminário de Chartres , e outro para demolir a Caza da Opera. Mr, Lameth abrio a dis- cussão opponde-se á primeira parte. Este Seminário ti- nha sido abolido no tempo da Revolução, e converti- do em quartéis, e um Tribunal civii. Era pois a me- dida proposta fazer novos edifícios para estas duas ul- timas coisas, e restabelecer ao antigo a Caza Religiosa» Mr. de Lameth tomou occasiaõ , oppondo-se i propos- ta , de censurar amargamente o espirito fanatico , e su- persticioso ao presente animado pela Côrte , e f@z par- ticular alluzaõ da criaçaõ de um Convento de Freiras no Jargo do Temple , aonde o maior palacio e o mais beilo jardim de Paris tinha sido occupado pelas Frei- ras. O illustre membro procedeo a mostrar, que em to- das as partes da França os Conventos supprimidos pe- Ja lei se iaõ levantando pelo favor da Côrte com maior magnificência do que no tempo do antigo regimen ; e que a seita dos Jesuítas , que haviaõ sido lançados fo- ya dos Estados da Europa , como peste da Sociedade Europça s tinha voltado a regular a educaçaõ, e amea* ( 283 ) çar a França com a infecção de suas perniciosas dou- trinas. Mr. de Marcellus defendeo o projecto , fundando- se em que naó tendo sido alienado o edifício do Semi- nário , devia ser restituído ao seu antigo destino. « Quan- do a França desherdada pela Revolução (disse o Ora- dor) achou outra vez o seu Monarca, a Religião achou o seu Protector : e no Reinado de um Neto ds Henri- que IV. , deve a Basílica em que Henrique IV. foi co- roado , vêr dentro do seu Santuario a erecçaó do seu Throno Pontifical. » Continuou o i Ilustre membro a lamentar a queda dos Edifícios Sagrados , a ruina dos Templos , o descuido éíos Seminários, e a subversão dos monumentos religiosos. A demolição da Caza da Opera suscitou uma se- melhante discussão. He bem sabido que o Duque de Ber- ry foi assassinado neste Theatro , e sacramentado n J um quarto do mesmo Theatro. Por este motivo foi elle im~ mediatamente proscripto pela Côrte , e se edificou uma nova Caza de Opera á custa do público. O motivo pareceo de primeiro taó supersticioso , que nao se pôde claramente allegar , e o pretexto para a mudança do Theatro foi , estar elle vizinho á Livra- ria Real , que correria muito risco de se queimar se in- felizmente pegasse o fogo naquelle, Agora já se nao afe* fecta occultar o verdadeiro motivo ; e a musica , e dan- ça nao devem já ser diversões no logar onde se tinha commettido um horrível attentado , e executado um ri- to sagrado. Mr. Beausejour arguio contra este superstí-» Cioso absurdo , com extraordinário calor. (( Porque um Príncipe (disse elle) que amavamos, foi assassinado na- quelle iogar , teremos de punir pelo crime um monte de pedras inanimadas ? Nao he isto imitar a conducta cios agentes revolucionários que passáraõ ordens para se- lem demolidos os Edifícios de Leaò , só porque os ha- bitantes se oppunhaõ aos seus desígnios ? Quando Hen- rique IV. foi assassinado , demolimos por ventura toda ( ) a rua onde o crime se commetteo ? Quando se atten- tou á vida de Luiz XV. em Versailles , demoli© eile o Palacio para mostrar o horror da üttentada atroci- dade ? Lista das Leis , e Decretos » Carta de Lei que manda alterar algumas disposições do Alvará de 6 de Fevereiro de 3S21 que creou uma Relaçaõ em Pernambuco. — * Diário do Governo : 26 de Abril* Decreto de 18 de Maio de 1822 declara serem exe- quíveis todas as Graças e Mercês feitas por S. M. ain- da náõ cumpridas com tanto que naò encontrem , nem as Leis do Reino , nem os Decretos e ordens das Cor- nes. Diário do Governo ; I de J unho . Carta de Lei que para promover* a prosperidade do Commercio , e Agricultura das vinhas do Alto Douro — mande conservar a Companhia Geral das Vinhas do Al- to Douro. 17 de Maio. — Diário do Governo : 3 de Julho* Carta de Lei que dá nova fôrma aos Governos das Províncias da África 29 de Maio, - — Diário do Governo: % de Junho Carta de Lei que organiza a Secretaria das Cortes, 4 de Junho. — Diário do Governo : 14 de Junho. Carta de Lei que reduz ametade da sua actual im- portância , em beneficio da Agricultura as rações ou quotas incertas, estabelecidas pelos foraes, 5 de junho, — Diário do Governo : 18 de J unho „ Carta de Lei que regula a reforma dos bons re- guengueiros da Cidade de Xavira. 5 de Junho. — Diá- rio do Governo: 12 de Junho. Decreto de 9 de Junho — sobre a compra de Ou- ro ou Barra ou moeda Estrangeira. — * Diário do Gover- no : 21 de Junho, Carta de Lei que authoriza as Juntas Provisionaes do Brasil , a poderem extinguir certos tributos , &c. 9 de Junho, — Diário do Governo: 24 de Junho. x Carta de Lei que organiza as differentes Secretarias do Governo , e a do Concelho de Estado a 12 de Jm* jnho. — Diário do Governo: 25 de Junho , "Publicações noaas 5 JSfacionaes e Estrangeiras. Memória Histórica t e abreviada sobre a dacadencia ( 2*4 ) da Cirurgia em Portugal. Lisboa. 1820 — ico rck; Leituras juvenis e moraes traduzidas do Francez. t vol. 8 Lisboa 1822. — 520 réis. A todos os Periodistas de Lisboa, um amigo da ümao do Brasil: Lisboa 1822. Memória sobre o Celibato Clerical. — Lisboa 1822. Tres Odes feitas ao actual Corregedor da Comarcã de Portalegre. Lisboa 1822. O Conciliador Lusitano ou o amigo da paz, e uniaó periodico semana! — . Lisboa 1822 Uma palavra sobre o Padre Jozé Agostinho por um homem que nunca lhe failou — Lisboa 1822. Que he o Clero em uma Monarquia Constitucional Lisboa 1822 — * $20 réis. Constituclon e orgartizicion de los Carbonari , ó do- cumentos exactos de todo lo que concierne á ] a existên- cia, fin e origen d.e esta Sociedad secreta Madrid. — 1822. Viages de um Observador Espado] por ei medio dia de Ja Francia , condia historia de ias regiones y Ciudades que ha recorrido y dei estado de ias ciências, artes, agricultura; commercia y demas ramos de indus- tria 3 comparados con ios de Espana — Madrid 1822. Segunda parte de Ia Ojeada sobre la hacienda pu-, felica de Espana que trata dei segundo ano economico de 1821 — Madrid 1822. Manual médico-quirurgico 6 elementos de Medicina y cirurgia práctica — Traduzido dei Francez — ~ Ma- drid 1822. Nova teoria dos Marés, mostrando qual he a cau- sa immedíata desta fenomena que até agora tem escapa-* do os filosofos por: Capitao Forman. "R. N. Londres 1822. Illust rações históricas e criticas da vida de Lozen- 20 di Mediei- Por Guilherme Roseoe — Londres 1822. O Duellista , ou breve revista do principio , pro- gresso e practica dos Duellos. Londres 1822. Memoranda i Ilustrativa dos Mausoleos dos Egypcios» Londres 1822. Leitura sobre Architectura comprehendendo a histo- ria desta arte desde os primeiros tempos até hoje — • Por Díogo Elanes , Architecto. Londres 1822. Descripçad das antiguidades e outras curiosidades da Roma, Por 0 Rev« ( * 8 ; ) PREÇOS De Generos na Praça de Lisboa desde 8 de Junho até 29 de Junho de 1822 . Aruas-ardentes. 8 de Preços ) 1 5 de médios. 22 de 29 í/tf J unho . J unho . J unho J unho. Rio . . Pipa de 50 alm. 49000 49000 49OCO 49OOO Bahia ...» d. 4IOOO 4 5 000 + 5 000 4*000 Ilhas .... 22 alm, O O c* 52500 52500 525OO Algodão. Pernambuco . ar ratei 212 212 2 1 2 212 Ceará .... 197 *97 *97 *97 Bahia . . • • 1 d. 175 1 7 2 1 7 5 172 IVlaranhaò . . . . d. 177 147 *77 JVlinas . . . . d. 165 165 165 i6ç Pará . d. 165 165 165 165 Surrate . . . . . d. *35 ' 13 5 * 35 MS Bengala. . . . . d. 105 105 105 10J Arroz . Bahia, e Santos . quint. 6800 6800 6800 6800 Pará, e Maranhò . . d. 4400 4400 4400 4400 índia .... . d. 3 3 00 M°° 3300 3300 Assucar . Pernamb. Br. sortido arrob. 2225 21 $0 21 $0 21 $0 Rio d. d. í 900 1900 1900 1900 Bahia d. d. *775 1 7 7 5 *775 * 77 Ç d. Mascav. d. d. 1125 n 5 i 125 1125 Rio d d. d. I 200 I 10Ò 1100 1 100 Pernam. d. d. d. 1250 1 250 1250 1250 Azeite . Doce do Reino alnuide 3500 3500 3500 3500 De Peixe do Brazil d. 2550 2250 2)5 0 2550 De Peixe de fóra d. 2200 2200 2200 2200 Hacalháo . . . quintal 3700 3700 3400 35 * 0 Café. Do Rio . . • arroba 6 \ %de 15 de 22 de 29 de Sal Junho j unho J unho. Junho . Em Setúbal. . . . moio 1760 I760 1760 J760 Salitre de Bengala quinta] 9800 9800 9800 9800 De Malabar . • • d. 6200 6200 6200 6200 Tabaco . Em Rolos. . . arroba 39 °° 5900 5900 59^0 Folha. . d. I 4 $0 1450 I450 1450 Vinhos, de Lisboa Tinto . Lote do Brazil pípa 5 7 500 57500 57500 >7500 Branco . - . . . d. 62500 62500 62500 62500 Lote do Norte . . d. 95000 95000 9 5 000 95000 Bucellas . d. I 00000 i OOOOO 100000 1 00000 Carcavellos . . • d. 1 10000 I 10000 í í 0000 I I 000 o Porto .... r d. l I 00 or 1 í 0000 1 10000 1 10000 8 de 15 22 de 29 de Câmbios. Junho, J" unho. J unho J unho , Let . Din Let Din. Let | Dm Let . Dtn, Amsterd. 5 in, d. 44 — 43 44 42Í — * Cadix 15 d v- 2820 ! i 2800 2820 2800 — '2800 Gênova j m. d. 86 0 860860 860 860 1 - Hamburg. idem iH i í9 39 39 3 94 | Londres 30 d v 54 5 4 ! S2 -52 52 52 524 i 7 *f Madrid 15 idem 2880 ! 2 86o 2860 0 00 — 282c Paris 1 00 d. d 54Ó 540 540 5 40 — 5(8 Trieste 3 m. d 1 460 460 — 460 — . Veneza 3 idem 518 5 12 532 — Desconto de Pa- c. V. c. V. c. F. C, K pel moeda. *4 1 5 145 1 5 oê 14 *4 >4 Pezos duros Hes- panhoes. 840 845 84* 845 j8so 848 850 848 í