3 I U (CJcr*''C'C*2^ ?c • ( ^ ^ J ' ”' '• 4 «l 3> v Çnf ^^c^r is ' l • , - , /° e ^- <^5t '/ *3 - • 3sr>3 3 Kiyy í> <íí^ /d // ^ / 1 y ^ ^ t e^CttO 0t/rS S%/& e<^*n / 7 ^ «-~ *'*-- — Zr> y ^u^ ’. ^ y ^ S ^ pccsiY- 1 ** oCL- e^Ce^r' c^t-e^f <£-*»»- ^ _. ll <5 |f* ■ f> f A~s éky&s ^ / yy M /sryb*~ <*-- % <- / ! "p-f ? yP/wGi y (J:'/****^'**#^*-' *6~- Sje^Or S f / / . /*- ^ J^no/^rr- f^yf~ c ^^cc/yí-T!, . / / • C Ãu«-* ^ eu* «£*•* 71p**-y ) ’.*l9+ 0 • - { ttfrmykX, péy tim ' 1 ' ''^ * ****** } ~\0 Ç^^yy*sJ y ^' ^ e/s A* ee^r^) j£- ^ • - ' ( jrtvíH-iw ,M<*W S*4*v*Jj 2% b ■ - <&. ^o Yp . v / lo U - 1 ' y ,b^ i.y :t frjr-' tZc*/ ■ CmO ,. ** /t jLk ÍTsíUrW’' 4 a- - . - j ~ T V 4 b A LA Áj , - 2 .*^ ç*V.if y,v - • h - . T Jt* ; V ©t£*‘t _• - &.£.. -*~- X >., . "'■' * v '- " ■ fyOU* - b -a*. *^*.J,UT $C • <• .-<• > âtt; >,”, 0 - CW»' * 1 fU eP. ^r V lí \ % - r. Iz-m * hz I , p ' I' ^pt.çyc - r.ü-^Wf t ~r. £« n? } CARTA SEGUNDA D O COMPADRE DE BELEM AO REDACTOR D O ASTRO DA LUSITANIA DADA Á LUZ PELO COMPADRE DE LISBOA. Abranda-tbe a redea . . . Abranda-Jbe a rede a . . . Conselho de meu Mestre o Snr. José Da- níiel no seu entremez da Arte de Tourear. K W~ &*■*- «&<<% T“iv LISBOA:’ N. ■ HA OFFIC. DE ANTONIO RODRIGUES CALHARDO,' Impressor do Conselho 'de Guerra. Com licença da Conmissaõ de Censura, 1821, 3 Sr. Compadre. 2\ecebi a sua carta de 13 do corrente, e naõ posso dei- xar de agradecer-lhe o mimo dos últimos Jorna es , que se tem impresso em Lisboa. Para hum gotosé naõ ha rhelhòf remedio , e certo que o unico prazer que tenho agora , he lêr estes papeis , porque me consola já ver o grande cabe- dal de seus authores. Gs Portuguezes , meu Compadre , sao homens para tudo : o que lhes faltava era hum Governo , que os podesse fazer felizes,, respeitando sua liberdade , porque elles sem dúvida saõ capazes de gozar delia com juizo , e discrição , a pesar dos incendiários , que procuraô encaminha-los para o mal , empregando para isso* escritos insidiosos. Deixe passar mais alguns dias, -e conhe- cerá os homens dignos., vérdadeiros amantes da sua Pátria, que até agora viviaõ ou Calados , ou na obscuridade , por temerem ós cffeitos da tyrannia , e do despotismo, Naõ me foi possível ainda lêr todos os números do fios 50 Astro , que se mostra hum pouco enfadado comrriigO j porque lhe respondo dè chalaça , diz elle: ora , meu rico Compadre, como havia eu escrever em taes matérias, ea ; tal Senhor ? Políticas , Economias., Morai , Governos, e outras frioláras desta natureza , saõ o seu entretenimento , em que elle parece escrever com tanto desembaraço , co- mo Ajudante de cartorio a tirar do processo. Quasi que já cheguei a desconfiar , de que elle compõe o seu Jornal quan- do esgaravata os dentes ; servindo-lhe talvez de passatem- po ao fazer do chilo , c deixando para as horas socegadas escrever era matérias mais profundas nas quaes se expraia- rá sem dúvida seu genio creador , porque a qualidade dd original faz, no meu entender, o primeiro merecimento deste sublime Escriptor. Eu pobre Diabo , que nao digo senaõ. trivialidades , graduado em Doutor orelhudo depois de ter sido estudante de cabresto , que poderei fazer ao pé de hum sabio de tal ordem ? Respondo na minha lingua , e vou trapaceando o meu bocado. Sirvo-me por tanto de idéas caseiras, que saõ o patrimônio daquelle que he falto de íitteratura. E como desde que andei em Coimbra me ficou esfe geito para as gracinhas, metro sempre que posso, a minha colherada ; mas já ser sabe , á escolástica , porque V. m. bem conhece , que Deos naó repartio os talentos igualmente. Seguirei com tud# o conselho de meu Mestre -, dizendo agora menos cha- laças. Abrandarei a redea , e veremos o potro como mar- cha , e o toiro como investe. Sua Comadre chama-me. Ha dias que a vejo muito meiga, e carinhosa commigo: que quererá ella , meu Com- padre ? Vou fallar-fhe, e acabar a carta. Se. houver tem- po mandarei também outra dirigida ao nosso Astro para se imprimir j mas naó. se esqueça V. m. de lhe remeuer lo* go hum exemplar, porque me parece que elle se queixa, com razaõ , de lhe terem faltado com esta cortezia na pri- meira: epor ventura me magoaria muito , que isso aconte- cesse agora, dado que este senhor se mostra cada vez mais civil , e mais attencioso commigo., Sou . De V. m. Compadre, e amigo sem reservai 0, Impostor 'verâtiâeiro . Belém 15 de Janeiro de 1821. P. S. O Inverno apparece já com eara menos melancólica: venha V. trw aqui jantar hum dia, e conversarei mos hum pouco sobre os negocios do tempo. Como naó tenho vagar , he facil escapar-me alguma expressão , qu-e deva ser explicada: tomeV. m. por isso o trabalho denotar os lugares, que for preciso esclarecer. 5 Sr. Reâactor do Astro da Lusítania. M eu Amigo e Snr. ! Deixei a V. m. no sen N.° 18, pretendendo despertar o nosso Portugal , que continuou a dormir depois de ter acordado , como V. m. taõ judiciosa"; mente notou. Os annos y e as moléstias chegáraó este po-~ bre velho ao ultimo estado de abatimento ; ea naó ser aD gum cáustico r que V. m. lhe applica de vez em quando em seu Jornal, tornaria elle a cahir para naó se levantar mais. Faz V. m. muito bem meu Amigo , trate delle , deste enfermo desamparado, de que ninguém cuida, nem se lembra. 4 s receitas de V. ra. haõ de pô-lo- a andar. Eu tenho querido continuar as minhas bumiiias sobre as suas historias ■; mas esperava que V. m. respondesse á minha primeira carta , para lhe agradecer ao mesmo tem*! po os seus obséquios , porque eu já contava com os bons termos , de que V. m. havia de usar comigo ; porem coma vejo que V. m. pretende livrar-se do incommodo , que lhe causaõ as minhas noticias , do mesmo modo que os doentes* de áreas , que ás pinguinhas vaõ alliviando , mudei, de pla- no , e resolvi-me a dançar como V. m. for tocando. Se- guirei por tanto como sombra o seu Astro , cada vez mais luminoso , e mais radiante ; e aos meus filhos , netos , e successores deixarei em morgado, (que bem poderá exis- tir, creio eu, com as suas ideas liberaes de reforma) o cuidado de responderem a V. m. , quando V. m. for servi^ do acabar; já que eu naó poderei viver tanto, que chegue a ver o fim de tudo o que V. m. tem para me dizer. Leio sempre com grande consolaçaó minha estes seus discursos sobre os Poderes , Authoridades , populaçaõ , &c. é com efieito saõ cousa pasmosa ! Delles faltarei agora principalmente. — O meu barbeiro , que he homem ami- go , como V. m. , de se metter em tudo (eomaldito qua- si sempre embica no que naô entende!!) disse-me ha pou- cos dias, que muitos dos seus freguezes notavaõ a manifes- ta variedade de estilo, que se observa nos escritos deV m. , pretendendo que alguns delles naó sejaó obra sua , porque em nada se parecem com aquelJes , que naô podem deixar de 6 ser conhecidos por parto da sua penna : mas eu desenga- nei-o de que tudo he de V. m. , e lhe pertence por algum titulo ( i ) com pequenas differenças sómente ? e huma del- ias he esta. — Quando V. m. escreve como Político con- sumado , que he ; quando entra na indagaçaô da natureza dos poderes , da Soberania , &c. &c. tudo enraó he mages- toso, digno dos objectos , e escripto com aquelle sangue frio , que he proprio da madureza , e da reflexão : mas quan- do V. m. responde ao Compadre , ou a outros túnicas seme- lhantes, perde as estribeiras , como lá dizem -, porque na® está mais na sua maõ : e quando falia destas ignorâncias, e erros do Governo ! Entaó Deos nos acuda ! naó ha' re- medio ; ha de zangar-se por força , porque isso he do seu genio ; visto que o bem da Patria naó lhe consente fallar nos males delia sem commoçaó de espirito ; e as expres- sões entaó devem ser mais azedinhas como parece mui na-» tural. — Ora o .acido lançado na tinta ha de fazella des- maiar mais necessariamente. Creio que V. m. concorda nestes princípios. Eu ouvia dizer muitas vezes a estes? a quem nada, ©u muito pouco agrada , que V. m. parecia escrever o seu Jornal sem plano., e sem systema ; e que, esquecendo-se de o conduzir a hum fim verdadeiramence utíl , naó se di-> visava nelle mais do que- hum desejo immoderado de em- pregar o fel da satyra, porque ha muita gente que folga Me ouvir prégar á custa dos outros 4 mas eu defendi sempre ■ã- V. m. ., dizendo, que naó podia ser? porque V. m. tem' trabalhado sobre o nosce te ipsnm , e aquelle que deseja de- veras conhecer-se , e lida para o conseguir , como V. m. diz ., que tem lidado ( 2 ) naó se deve suppôr, que tenhã ( i ) O de compra , por exemplo. Hum Palre , a quem notáraó que prégára hum sermaõ , que naõ era seu , rèspon- de.o =: venhaõ comniigo a casa do Livreiro, que 0 vendeo , e ouvirão que me custou meio tostão. =: C 2 ) Veja-se o N.° 22 do Astro , aonde o Reiactor affir- hia que costuma fazer .este exame de consciência ? o qual po- derá servir-lhe talvez p2ra confessar os peccados , porque para a emenda na 5 lhe vejo gtito. Mota do Compadre de Lisboa. r 7 por fim senão regular suas acções, de modo qtfe naõ of- fenda seus semelhantes , e muito menos atacando-os , e in* juriando-os com palavras descompostas , porque isso , sobre ser contrario á moral , cuja falta de ensino , e de praticâ V. m. com tanta razaõ lamenta , he de mais pouco decen- te , e muito digno de se estranhar a hum homem , que de- seja passar por bem educado, e eu naõ me persuado, de. que naõ' veja o que- vai na sua casa aquelle , que tanto es^ preita a dos outros# — Nesta paute póde pois V. m. ficar descançado , porque eu fiz as vezes de bom amigo, e fui GedeaÕ a seu respeito. Hé- verdade, que hum objecto taõ vasto, ehum acon* tecimento de tal ordem , e por tal modo conduzido , como tem sido nossa revolução , podia- dar a qualquer Jornalista boa occasiaõ de empregar seus talentos elitteratura , mos- trando as utilidades que devem esperar-se desta nova ordemp de cousas; procurando convencer aos que receaó perder s de que elles vaõ antes ganhar pela combinaçaõ do systema administrativo, o qual he de suppôr que melhore a sor- te de todos , fazendo fiòreeer ainda os vastos campos da- prosperidade pública , ha muito tempo incultos , e abandona-?, dos. Alguns discursos hem feitos concorreriaõ , e muito po- derosamente, para os Gabinetes da Europa (com quem assás nos importa ganhar bom nome) se convencerem de. que nossos- desejos saõ de homens , que procuraõ ser livres , respeitando sempre o Throno, o Altar , o Direito Públi- co , e o das Gentes. — Far-lhes-hia ver , que nossos prin- cipios saõ de melhorar , e naõ de destruir. — Que a mo* deraçaõ , ea suavidade , glorioso tymbre de hum Governo justo e illustrado , haõ de acompanhar sempre as medidas empregadas nas operações economieas das reformas , que forem necessárias. — E que finalmente a nossa conducta: póde servir de exemplo e modelo aos Póvos do Universo, que quizerem regenerar-se; porque em nossa revolução naõ separámos ainda, nem as ideas moraes das: idéas liberaesy nem a Justiça da Pólitica. . ( 1 ) (i) Era bem para desejar, que alguns dós nossos Jorna- listas se convencessem das aetuaes circunstancias, e pólitica y. m. j Sr. Astro , podia bem -desempenhar tudo isto se quizesse , porque Deos lhe fez presente dos talentos ne- cessários ; e até podia fazer mais , que era rechear alguns desses discursos com a exposição (desgraçadamente, bem faciJ ) de nossos erros em administraçaó , das causas del- les, dos remédios, que devem applicar-se aos males , que raó enormemente pczaõ sobre nós. — Este trabalho nos a- .proveitaria , iíluminando os qpe devem regenerarmos , e era obra digna de hum Jornalista, amante do seu credito í e dq da Naçaõ para quem escreve. Em verdade hum Por-, tuguez , a quem tanto berra na alma o bem da sua Patria r como V. m. quer inculcar j hum homem, que. na ó precisa- ria d’Espirito Santo para figurar no respeitável Congres- so de nossas Cortes , e alardeia bastante capacidade para situaçaõ em que nos achamos. — Importa-nos sempre muito, mas agora mais que nunca, o adquirir e conservar a boa Vontade dos Gabinetes Estrangeiros ; e sendo esta huma ver- dade, que de certo conhecem todos, naõ póde deixar dé magoar o coraçaõ de hum verdadeiro Portuguez , o íêr ent algtms Periódicos nossos formaes 'ataques aos Soberanos da Europa, que mais influencia podem ter na sorte delia. Nem basta, que isso fosse eseripto em papeis de outras Nações $ cada hum a responde per si; cada huina tem suas vistas e re- lações Diplomáticas , e ainda que as épochas políticas dos Estados se designaõ algumas vezes pela linghagem, que elles adoptaÕ , he sempre cem tqdo preciso convencer , de que o. 'pinto nunca ha de cantar tao alto como o gallo. — Qualquer, indiscrição póde leVar-nos a huma situaçaõ bem desagradá- vel. A regularidade , a moderaçaõ , e a suavidade de nos- sàs medidas tanto no interior , como cóm os Estrangeiros tem- nos chegado até aqui sem trabalhos , e sem ivcommodos ; e que males naõ podem seguir-se se nos desviarmos dcse caminho , e vai buscar hum author estrangeiro para nos chimpar as suas pa- lavras por exrenso , e daqui poderia eu tirar muitas con- clusões ( porque também sou muito concludente como V. m.) porém tirarei só esta , e he, que tendo sido o Direito Feu » dãl direito do Reino , segundo V. m. quer sustentar , os nossos Juris-consultos © passar ao em claro , e naó tratáraõ (!) Há' cã muito Jesuita , meu Amigo! Até se achaõ a cada passo dos de quarto voto , e V. m. naÕ fez ainda profis- são nem do primeiro! ( 2)1 O desenfreado desejo de depremir as obras alhêas, nasce de ordinário de huma devorante inveja, que consome o cora-çaô dos maldizentes , e os faz chegar a hum estado bem pouco diverso dos cães damnados. — — Hum escripto he bom no seu todo 5 satisfaz ao fim , mostra o trabalho do seu Author , e seu talento ; mas porque desgraçadamente elle teve hum descuido em pequena cousa , ou ainda que o na5 tivesse, se se lhe attribue , morde-se tudo indistinctamente , porque desde logo tudo se tornou máo , e objeeto de raiva, e em consequência guarda-se hum silencio absoluto sobre as utilidades, e o merecimento da obra, e naÕ se falia sena5 no que nella pode dar occasiaÕ á satyra. Ouvi hontem a hum homem sensato fazer esta reflexaÕ , e elle accrescentou , que esta era a linguagem de alguns de nossos antigos Escríptores, os quaes se queixavaõ já desta desgraçada mania de muitos Portuguezes do seu tempo quererem á força achar máo tudo o que se faz na sua Patría. Notas do Compadre de Lisboa . 17 Üelle eòfffò Direito Patrío , <ôu ao mencs nenhum o defínto de modo que prestasse ; porque , sendo V. m. taõ defensor das cousas nacionaes ( Deos sabe o que V. m. he ! !) naõ era de esperar , que fosse buscar huma definição estrangeira , se cá houvesse definição , com que nos podcssemos reme- diar ( i ). Alarga-se V. m. muito,, para nos dizer depois, quaes €raõ as consequências da obediência do vassallo ao Snr. do feudo, e deixou no tinteiro, como era de razaõ , o expli- car-nos , em que consistia essa obediência ; o modo porque se dãva ; quando se dava; quem tinha obrigaçaó de a dar.; quaes eraó as formalidades , com que se dava , &c. & c. &c. Tudo isto tenho eu lido , que fazia huma parte muita ■principal dos direitos dos Senhores , e das obrigações dos feudâtrarios ; de sorte que, faltando alguma destas cousas, ou naõ havia feudo , ou era elle irregular. V. m. porém •disse só o que lhe fazia conta para applicar aos documen- los do Cartorio de Pendor ada , e de Pombeiro ( 2 ). A próva , que V. m. faz , de que houve Direito Feu- dal em Portugal , só porque na Òrdcnaçaõ do Reino se acha escrita em hum unico objecto a simples palavra s feudo 5 he, e deve ser para todo o mundo a mais coa- (O Meu Compadre naõ tem aqui toda a razaõ, porque póde ser que 0 Snr. JuIíq Claro , de quem o nosso Astro apro- veita a definiçaõ, tivesse earta de naturaíisaçaõ em Portu- sem o Compadre o saber, e nesse caso fica sendo a definiçaõ taõ Portugueza como a Torneira de Aíjubarrota. ( 2 5- Valha-me Deos com este meu Compadre! Vaõ-me desgostando muito as -suas reflexões ! G Snr. Astro discorre fcem. Nos documentos antigos acha-se hum , -ou outro encar- go semelhante aos dos feudos ; e por tanto concluio elle, e -eu çoneluo também, que entre nós houvera Direito uaÕ só Feudal , mas Fettdalissimo . Que importa que huma definiçaõ naõ possa com prehender , senaõ huma , ou outra qualidade da çousa definida-? .Hum burro tem orelhas; eu também as tenho ; logo eu sou burro. — Haverá por ahi alguém , que se atreva a negar esta conclusão ? O nseu Amigo e Snr. Àstrt de certo naõ. Notas do Compadre de Lisboa* 3 i8 Vincente , que V. m. podia produzir ; mas permitta-frfe y. m. , que eu faça aqui o meu reparo, porque me par e- ce que o pilhei rfhuma contradiçaõsinha. D a. V. m. Çe da bem) por demonstrada a existência do Direito Feudal com huma só palavra, que achou no Corpo do Diieito Pátrio, e nega a existência das Feiticeiras , achando no mesmo Cor- po naó digo huma palavra , mas hum titulo inteiro com seu preambulo , e tres §§ , dois dos quaes sao bastantemen- te estirados, e de bom tamanho, aonde se legisla sobre esta matéria em toda a sua extensaõ , e se castiga com morte ( como he de justiça ) o crime da feiticeria . por tanto tenha paciência , que desta vez o abatoquet. Agora naó tem V. m. que responder ( I ). , . . Se o facto de hum Donatario da Coroa mandado justi- çar por D. Joaõ II. pela culpa de. querer usurpar ajuns- dicçao Real , prova que houve Direito Feudal em Portu- gal , como V. m. diz em seu N.° 44 , também o tacto de Se terem enforcado salteadores, prova haver ainda neste "Reino direito de saltear estradas (2). As Cartas Regias da Abbadeça de Arouca , que V. m; acha de importância , fazem ver sómente que houve e ha neste Reino Donatários da Coroa com certos privilégios, regalias, e direitos proprios da mesma Coroa; porem que dahi se possa concluir a existência do Direuu Feudal , cotí- sa he que naó me parecia taõ manilesta , como V. m. nos «uer inculcar ; porque eu entendia , que Donatario da Lo- roa em Portugal, e Senhor de Feudo nos outros Paizes ot- ferecem differentes idéas , quando se trata de tallar com exáctidaõ ( 7 , ). ' " /i) Respondo eu por eile , Sr. Compadre. O Sr. Astro faliou no seu N.° 31 das feiticeiras , lobishmens , nulâgres , o, nutras frioleiras diz elle; e a Ordenaçao falia dos feiticeiros- ÍLopo ha diíferença como de macho para fe me a. V. m. , Compadre, veio agora buscar lã, mas foi tosquiado r Esta eonclusaô he exactissima. — O certo he quç meu Compadre, depois que lê ©s escnptos do nosso Astro , tem mais Lógica , Notas do Compadre de Lisboa . C> A Madre Âbfeadeça de Arouca exercitavamos^' couto 8 juristücçaS, e outros poderes, peio modo que em. Em seu N.° A& pretende V. m. inculcar o grande rtie- fcecimento , que teve nos dias 15 e 16 , e díZ que na -5 receia, perder a glorta desses dias: eu também penso como V. m. > porque com effeito V. m. tem a tal gloria ta© agarrada , que naõ será fácil .perdê-la ; e naõ supponho também qua a vá jo^ar. Mas alguém dirá (eu naó de certo) que V- m* 4 troco°destes grandes serviços, quer huma carta de segu- ro , ou hum salvo conducto para dizer o que lhe vier áca* beça a torto e a direito: e quer mais ainda do que isso* porque quer atacar , e insultai' todo o mundo , e quer que todo o mundo se cale , só porque V. m. falia. ( 1 > — Des- de o dia em que V. m. ganhou essa gloria , perdemos nos suas doações lhe foraõ concedi los sobre todos qs moradores do mesmo couto , ainda que alguns deites nao tivessem rece- bido do Mosteiro huma propriedade , porque lhe pagassem fo- ro , ou direito dominical 5 bastando habitar dentro -do termo , ou districto para viver nesta sujeiçaõ. — Ora sustentar & Sr Astro que ha feudo , sem se ver a concessão— de-huma pro- priedade em domínio utll , parece hum pouco chimerico pe- la própria definiçaÔ , que o mesmo Sr. nos deo tirada do seu hulio Claro ; e por tanto vou-me inclinando aaccreditar, que a grande e muito importante questaõ do tal Direito Feudal naõ tem sido por ora muito feliz pára o dito Snr. Asiro. Como porém elte continúa a escrever , e a iiiustrar-nos , vá-se en- tretendo nas suas experiencias , ô veja se consegue com effei- to levantar essa torre de bugalhos , porque he huma empreza di- cna da sua grande habilidade. Ha homens de paciência wowddm/í Nota do Compadre de Lisboa. ( i ) Meu Compadre tem tratado sempre dos escriptos do Sr. Astro , mas nunca de sua pesso3. — Apezar de naõ o co- nhecer, naõ mostrou ainda também essa curiosidade, e mui» to menos a de saber de sua vida e costumes. - — O Sr. Astro porém, desde que vio a primeira carta de meu Compadre, entrou no empenho de o designar , e bem entendido para o refrescar como etle costuma. - — Nesse ponto entaõ naõ ha que dizer ; tem dado porpáos, e pof pedras , mas sempre debaixo do mesmo plano de personalidade. — A moderaçaõ deste g/o- rioso Redacror conhecesse com effeito a cada pa v so, ate no cuidado que mostra em descobrir as pestoas de quem falia 10 a paciência , porque V. m. depois que se Fe Z glorioso , tõZ* nou-se' inaturavel. — Eis-aqui o que dizem por essas lojas» e praças; e accrescentaõ , que V. m. neste seu plano des- empenha exactissimamente o daquelles , de quem reza a crônica, que desfazem com os pés o que íizeraó com a ca-- beça. Fecharei a abobeda , Snr. A str o , fallando da boa té £ com que V. m. responde ao que eu disse -sobre o peixe da Pederneira , porque V. m. mata-se por provar em seu N.°' 4 6 , que em Portugal o peixe paga mais do que dizimo; c esta sua btiga parece-se com a que teve certo sugeito com os moinhos de vento , e naó- póde deixar de merecer toda a çompaixaó , porque he por huma palavra sua , que V. m, podia bem deixar de dizer, se lesse com mais algum cui- dado o que os outros escrevem. — Olhe, Snr. Astro , venha cá, eu naó- ihe disse que o peixe paga só dizimo; este s& he seu , naó he meu. — Tome bem sentido, o só he seu , e naó he meu. — - Quando emescreyi aquelle artigo sabia , tao bem pelo menos como V. m. (porque quem quer o sabe em Portugal) que. o peixe paga pela maior parte direito real de pescaria , arrecadado ou pela Coroa , ou pelo Do- natário delia ; mas acabando eu no §. antecedente de fallac dos direitos dominicaes , competentes aos Senhorios , fazia- me Jiiho de clérigo se tornasse a repetir a mesma cousa , c logo.no §. seguinte, fallando destes direitos do peixe , que,, tem como os outros a mesma origem , a mesmo fundamem- to-, e a mesma natureza, porque tudo entra na classe de direitos dominicaes. Por tanto , e porque eu já me lembrar va, de que Vi m. havia querer pegar, escrevi com muita- prevenção, que o peixe da Pederneira paga dizimo,, senv excluir o mais,. injuriosa mente , porque costuma indica-las, ou pelas letras iniciaes dos seus nomes, ou de modo que até os cégos as po- dem ver. — Este Sr. , que assim observa as Ltis da caridade , da Religião, e da civilidade , he o mesmo que se queixa de meu Compadre o julgar por seus escriptos , respeitando c ua pes- soa! Naõ vai sahindo máo o tal Astro , que nos veio lá de ci • ma. O certo lie, que as revoluções, como as cheias, trazem de tudo!' Nota do Compadre de Lisboa*, 21 ' Adeos , Snr. Astro) fique V. m. com Deos , e pór ofS taaõ espere, carta minha , porque , como eu desejo que o meu Compadre venha jantar donimigo , hei de vèr , se se demora para- conversarmos , e por isso naó haverá occasiaõ de escrever a V. m. Tenha-me V. m. sempre na sua graça , e seja meu amigo , porque eu mereço-lhe essa fineza. — A pesar de naó ser grande avaliador de trabalhos litterarios , e de naõ poden almotaçar essas obras com a mesma exaçtidaõ , pres- teza , e laconismo com que V. m. nos deo seu juizo sobre o Manifesto da Naçao , também entendo alguma cousa de- letra, redonda, e vejo, que V. m. tem habilidade, e capacidade para ser hum dia bom escwj?tor de hum Jornal 9 e que de certo mereceria já a estimaçaó de seus concida- dãos , se naó fosse esse desejo immoderada de dizer mal ? e de o dizer de hum modo taõ offensivo , porque nem eu, nem alguém quer, queV. m. haja detrahir o testemunho de. sua consciência , nem que diga bem daquillo que lhe pare- ce mal. Critique , censure, diga quanto mal quizer , e lhe. parecer que he necessário dizer , ou com a mira no bem pú- blico , ou na satisfaçaó do seu capricho ; porque em fim; ,y.. m. he homem, e todos nós o somos.; porém saiba fa- zer isto, e ralhe sempre com modo, modo,, modo , modo . Também quero lembrar-lhe, que esta palavra bem pu- blico tem dado occasiaõ a fazerem-se grandes males , por^ que he huma arma , de que se servem com o mesmo pro- veito os tyranos da Patria, e os libertadores, delia ; e a V. m. naó he novo , que as nossas Leis , muitas das quaes fi» ; zeraó nossa desgraça, e nos chegáraó ao lamentável estado, em que nos vimos., tinhaõ , ou se dizia que tinhaõ esse Jim, Persuada as reformas moitrando a neçessidade e a utilidade delias ; mas nunca se esqueça de que a nossa re- generação até «agora tem sido , graças a Deos , singular na historia , e que devemos procurar , qye o seja sempre em tudo ; porém mui particularmente em conseguir , q s uç a fe- licidade dos que- ha®- de vir depois de nos naó seja com- prada á custa das desgraças,, e desventuras dos que vivem actualmente; porque esse tem sido sempre o escolho, em. que vaó naufragar aquelles, que se lançaó aos mares- tem- pestuosos de huma revolução» 11 Aproveitemo-nos de tao desgraçados exemplos , é pro- 1 curemos conduzir as cousas de modo , que façamos bem- dizer os dias 24 de Agosto , e 15 de Setembro , ainda por áquelles, que até agora os olháraó como fataes á sua exis- tência. Hoje ninguém deixa de estar convencido , de que va- lem menos seis alqueires de milho mal pagos , e vendidos a credito pelo preço de dois tostões , do que tres alqueires a cruzado , recebidos lo.go que se devem , e vendidos na oc- Casiaó em que se precisa de dinheiro. — Todo o caso está em descobrir o modo de segurar esses tres alqueires , e pro- curar-lhes sempre hum bom mercado ; mas para advinhac esse segredo naõ he preciso rr ás covas de Salamanca. Como vai fazer-se hum novo Governo , aqui lhe dei- xo, meu Amigo, esta historia para descargo de minha consciência; faça delia o üso que lhe parecer, porqúe V. m. ha de querer continuar a dar ao badalo , e os ares talvez Corraõ differentemente. — Hum Capateiro fallando da Lei dos Judeos exclamava =3 naõ ha Lei melhor ! Poder hutn homem ter mais de huma mulher! O certo he que Moy- ses foi o maior legislador do mundo ! — Sendo porém agar- rado , e levado á Inquisição gritava depois contra a Lei dos Judeos, e contra Moyses que a tinha feito, chamando-lhe nomes injuriosos. — Tornáraó a agarra-lo , e quando sabio perguntou-lhe hum visinho; e agora que dizes tu de Moy- ses. Desse Senhor , respondeo elle , nem bem , nem mah Kunca mais voltou á Inquisição , e acabou seus dias em socego. — SeV. m. adoptar os meus conselhos prometto , e juro, que naõ lhe direi mais chalaças , e que até -deixarei de seç a respeito De V. m* Lisboa 15 de Janeiro de 1821., Q Impostor Verdadeira»